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FÁBRICA BHERING[editar | editar código-fonte]



A Bhering nasceu em 1880 quando Antonio José Ribeiro Bhering, mineiro de Uberaba, abriu uma indústria de chocolate, torrefação e moagem de café, a “Fábrica a Vapor de Chocolate”. A empresa ocupava três prédios na Rua Sete de Setembro, no Centro do Rio de Janeiro e chegou a ser fornecedora de chocolates da Família Imperial Brasileira. Ainda no século XIX, a Bhering foi uma das pioneiras na utilização de energia elétrica própria. Nos dias de Carnaval seu gerador iluminava as ruas de seu entorno. Essa forma avançada de marketing atraía grandes blocos carnavalescos. Em 1902, a fábrica foi desapropriada e indenizada para a abertura da Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco e dois anos depois, a Bhering se instalava na Rua 13 de Maio, 23. Com o falecimento de seu fundador em 1905, a viúva vendeu a Bhering para Darke David de Oliveira Mattos em 1917. Nos anos 30, a empresa fabricava e processava cerca de 300 produtos (café, chás, especiarias, massas, fermentos, molhos, confeitos e derivados de cacau). Nesta época, o Café Bhering enlatado à vácuo teve grande sucesso como pioneiro na exportação do produto industrializado para os Estados Unidos. Mas as vendas seriam suspensas mais tarde por pressão da indústria americana, o que levou o café a abastecer apenas mercados sul-americanos. As latas de fabricação própria, litografas, confeccionadas em folha de Flandres, eram também utilizadas em outros itens da Bhering. A produção chegava a 30 mil unidades diárias. Carro-chefe da empresa, o Café Globo sempre foi o produto líder no mercado nacional. O sucesso do produto pode ser creditado a arrojadas técnicas de venda e recursos publicitários até então pouco comuns, adotados por Darke David e seu filhos Jorge e Darke Filho. O slogan criado para o Café Globo – “Bom até última gota” – é utilizado até hoje. Foi da família também a ideia pioneira de usar um monomotor puxando uma faixa publicitária dos produtos Bhering pelos céus das praias cariocas e a realização de sorteios de prêmios em programas de auditório patrocinados pela empresa.

O CORDÃO DA BOLA PRETA[editar | editar código-fonte]

Algumas inovações da empresa deixaram marcas até na vida social do Rio de Janeiro. Para controlar desvios de mercadoria, um gerente da Bhering criou um sistema de fiscalização, que consistia em uma caixa contendo bolas brancas e pretas. No fim do expediente os funcionários sorteavam uma bola. A preta obrigava a uma rigorosa revista, o que os inspirou a criarem o Cordão da Bola Preta, até hoje um dos mais populares clubes da cidade, cuja sede ficava ao lado da fábrica. e ainda hoje se conserva. Com a construção em 1909 do Teatro Municipal em frente ao seu prédio, a Bhering, que já era uma das maiores produtoras de chocolate e café do país, passou a receber constantes reclamações dos frequentadores da casa. As 40 carroças de distribuição da fábrica, puxadas por dois burros cada, incomodavam as platéias devido ao dejetos dos animais na via pública. Ao mesmo tempo, a Rua 13 de Maio já não comportava mais o intenso tráfego de veículos da cidade e precisava ser alargada. Depois de 30 anos no local, e pela terceira vez, a Bhering foi obrigada a instalar uma nova fábrica, mais ampla e moderna que atendesse também à sua expressiva produção. O endereço adequado e estratégico para a distribuição dos produtos era a Rua Orestes, 28, no bairro de Santo Cristo, região com um extraordinário potencial de crescimento e desenvolvimento. Mas antes de implantar a nova fábrica, seus dirigentes viajaram a Hamburgo (Alemanha) para comprar máquinas arrojadas de uma fábrica de chocolate sob liquidação e adquiriram os equipamentos que desejavam. O prédio de seis andares da fábrica alemã era amplo, relativamente novo, construído em estrutura metálica e seria demolido e vendido como ferro velho. Como o valor do imóvel era mais baixo que um similar de concreto armado no Brasil, os proprietários da Bhering resolveram arrematá-lo também. O edifício foi desmontado, embarcado, descarregado no Porto do Rio e reconstruído no local onde se encontra até hoje. O resultado foi um belo edifício com uma área superior a 15 mil metros quadrados. A grande vantagem da construção é que a estrutura metálica suporta com segurança as pesadíssimas máquinas de fabricação de chocolate, como três refinadeiras com mais de duas toneladas, cada. No passado, as indústrias de chocolate e café exigiam imensos e pesados equipamentos para se obter a qualidade desejada dos produtos. A fábrica da Bhering tinha o maior torrador contínuo do mundo que trabalhava 24 horas com um único operador por turno. O seu perfeito funcionamento produzia pontos de torra dos cafés rigorosamente iguais. O custo dessa máquina era tão elevado que apenas duas unidades foram fabricadas no mundo.

LUXO E DECLÍNIO[editar | editar código-fonte]

Para atrair os consumidores de renda elevada, a Bhering abriu em 1934 uma luxuosa bombonière no centro do Rio: a Casa das Damas. A loja dispunha de vendedoras poliglotas, telefones, penteadeiras e uma confortável sala de repouso. Em 1938, a empresa começou a enfrentar problemas financeiros, direcionando seus negócios para o café. A Bhering chegou a deter mais de 50% do mercado no Rio de Janeiro até o inicio da década de 1960, embora o produto também fosse vendido em todo o país. A linha de chocolate, após a Segunda Grande Guerra, perdeu lentamente sua posição no mercado nacional ante concorrência das multinacionais do setor que se instalavam no país. O então presidente, Jorge Bhering de Mattos, filho de Darke David, recusou-se, em nome da qualidade de seus produtos, a permitir o uso de gordura hidrogenada – matéria-prima oito vezes mais barata que o cacau – no fabrico de doces, setor que enfrentava competição acirrada. Em 1954, ás vésperas da primeira colheita, da maior lavoura de café do mundo, a do Paraná, sofreu a chamada “geada negra”, e foi quase toda destruída se não tivesse tido uma poda radical. A colheita seguinte foi incalculavelmente maior e superou 40 milhões de sacas. Foram compradas e retiradas do mercado mais de 30 milhões de sacas que somadas aos excedentes das duas safras posteriores superaram 90 milhões de sacas. O destino do estoque colossal e inexplorável deveria ser a tradicional queima, dessa vez proibida pela ONU sob pena de o Acordo Internacional do Café, a salvação da cafeicultura mundial, não ser aprovado. A solução foi a de vender o café excedente a preços largamente subsidiados para consumo interno, principalmente das classes C e D, as maiores consumidoras. Até então, existiam no país apenas 200 torrefações. Mas, ao mesmo tempo em que o Governo vendia seu café para as torrefações por Cr$ 20,00, pagava ao produtor Cr$ 100, 00. Como o produto era rigorosamente o mesmo, surgiram subitamente mais de três mil torrefações para comprar o café do Governo e revendê-lo ao próprio Governo. Foi o escândalo do século. Uma máquina fantástica de fiscalização foi montada para coibir o abuso, mas poucas torrefações foram fechadas e a quase totalidade passou apenas a torrar o café e vendê-lo em grão, sem moagem, para quitandas, mercearias e padarias a preços muito baixos. E elas através de moinhos de fubá, passaram a moer o café na hora da venda ao cliente, em qualquer quantidade e embalá-los em saquinhos ordinários de papel. Daí surgiu um novo e fantástico negócio. Durante a moagem, o café perde mais de 80% do seu aroma que é extremamente volátil e envolve todo o ambiente. Por isso, as pessoas passaram a comprá-lo, não só pelo seu perfume, mas por ser bem mais barato que o pacote empacotado industrialmente. O produto embalado foi abandonado e o comércio, inclusive, deixou de comprá-lo. Assim, indústrias tradicionais, como a Bhering, desativaram seus parques industriais e quase todas se recusaram a competir com grãos apenas torrados, em um negócio de baixa rentabilidade, predatório e primitivo. A Bhering desativou o seu torrador contínuo, um dos dois maiores do mundo, e sua empacotadora Hesser, totalmente automatizada, e que era o maior orgulho da indústria alemã, virou peça de museu. “O slogan do Café Globo, “Bom Até a Última Gota”, mudou para “O Café Moído na Hora” – o “genérico” do café industrializado. A maioria do parque nacional da indústria de café, mesmo os seculares, encerrou suas atividades e as pequenas que sobreviveram passaram a ser artesanais.

GRUPO BARRETO ASSUME A BHERING[editar | editar código-fonte]

Depois de quase 60 anos dedicados à Bhering, em 1974 a família Mattos vendeu seu controle acionário ao Grupo Barreto, dono da Café Solúvel Brasília. A idéia inicial do Grupo era adquirir somente o direito da comercialização do Café Globo no mercado internacional. O nome “Globo” é de fácil compreensão nas línguas inglesa, francesa e espanhola. O produto tornou-se um grande sucesso e conquistou inúmeros prêmios, sendo hoje conhecido em quase todos os mercados mundiais de café, como a Rússia. O Café Globo foi um dos patrocinadores das Olimpíadas de 1980, em Moscou, e foi o primeiro a entrar na China. Entre 1986 e 1991, a Bhering enfrentou, além da concorrência, o Plano Cruzado e a praga “vassoura-de-bruxa” que destruiu toda a produção de cacau da Bahia. De maior produtor de cacau do mundo, o Brasil passou a ser mero importador. Em 1995, a linha de produção da Bhering foi reduzida de dez para seis produtos: pimenta e canela, Bala Toffee, Bala Boneco, Chocolate em Pó, Choco Malte e Café Globo – solúvel, granulado e capuchino. As máquinas foram transferidas para a fábrica de café solúvel em Varginha, Sul de Minas. Posteriormente, tais produtos, com exceção do café solúvel, foram terceirizados para que suas marcas que se tornaram lenda no mercado fossem preservadas. No inicio da década de 1990, como 90% das escolas públicas do país não tinham merendeiras nem equipamentos de cozinha, o Governo, mediante concorrência pública, passou a comprar e distribuir a alimentação escolar em forma de produtos desidratados, de fácil preparação e consumo. A Bhering decidiu entrar nesse novo mercado, produzindo alimentos desidratados como ovo, feijão, banana, chocolate, carne, leite etc, acrescidos de vitaminas e sais minerais, de acordo com as necessidades de cada região do país. Foi um dos maiores programas de alimentação escolar do mundo, atendendo quase 40 milhões de crianças. Mas a partir de 2003, o programa substituiu os desidratados por produtos naturais, produzidos na área de cada escola pública. Sob o novo formato, os alimentos, antes entregues pelo Governo a cada escola, foram trocados por verbas proporcionais ao número de alunos e repassadas aos municípios.

FÁBRICA DE ARTE A TODO VAPOR[editar | editar código-fonte]

Depois de mais de 125 anos de atuação ininterrupta, a Bhering teve de encerrar sua atividade industrial e decidiu voltar-se à prestação de serviço em sua área de 15 mil metros quadrados, criando dois departamentos: Studio e Locação. O Studio, a exemplo da antiga Cinédia, se dedicaria à locação de espaço para o cinema, novela e fotografia. Quase semanalmente, a Bhering é ocupada para filmagens ou ensaios fotográficos e em suas dependências já foram gravadas várias cenas de novelas das TVs Globo e Record. Artistas e diretores das produções deixam seus autógrafos no quadro de “Celebridades”, criado para documentar a memória da nova fase da fábrica. O Departamento de Locações começou locando áreas para pequenas indústrias e depósitos. Até que, espontaneamente, a Bhering começou a receber propostas de locação de artistas, cada qual com uma necessidade de espaço, em busca de espaços de diversos tamanhos e aluguéis acessíveis. Como a maioria dos locatários não tinha muito recursos, a decisão foi de que cada um ficaria responsável pela arquitetura de seu espaço. O custo da obra seria dividido igualmente, ficando a parte da Bhering a ser descontada mensalmente, em parcelas, nos aluguéis. Rapidamente foi ocupado quase todos os espaços do prédio da antiga fábrica; hoje são cerca de 79 locatários entre várias atividades artísticas. O sonho da fábrica era assemelhar-se ao “October Red” existente em Moscou, também originário de uma antiga fabrica de chocolate. Contudo, seriam necessários e urgentes vários investimentos: banheiros adequados, áreas de alimentação, um auditório para palestras e cursos especiais além de uma galeria para exposições. Quando tudo estava caminhando bem, um oficial de Justiça trouxe à fábrica um mandato de despejo de todos do prédio num prazo de 30 dias. Foi descoberto, no entanto, que a ação tinha sido um equivoco da Fazenda Nacional, que a ação era improcedente. Só agora, a empresa está normalizando sua situação e procurando retomar a implantação de seu projeto inicial. Contudo, em sua nova atividade, a Bhering já pode afirmar que colheu resultados importantes nos seus departamentos de locação e eventos, como a participação anual em grandes eventos culturais no Rop de Janeiro, como o Art-Rio e a Semana de Design.