Aldeia urbana
Aldeia indígena urbana ou aldeia urbana é um território indígena localizado em contexto urbano no Brasil.
A primeira aldeia urbana do Brasil, a Aldeia urbana Marçal de Souza foi ocupada em 1996 e oficializada em 1999.
História
[editar | editar código-fonte]A presença de pessoas indígenas nas cidades não é um fenômeno recente. Ao longo do período colonial, muitas cidades brasileiras surgiram nas proximidades de aldeamentos indígenas.[1] Assim, a relação entre povos indígenas e contexto urbano existe desde o século XVI. Todavia, ela foi acentuada durante o século XX.[2]
Migração indígena
[editar | editar código-fonte]Desde o século XVI, migrações indígenas ocorriam de forma intencional e temporária. Os principais motivadores dessa migração eram a comercialização de produtos,[3][4] e práticas culturais (veja-se o Gwatá guarani).[5]
No século XIX, o processo de extinção dos aldeamentos indígenas, junto à política assimilacionista da Coroa Portuguesa, resultou no aumento da migração forçada desses povos.[6]
Ao longo do século XX, com a invasão de territórios indígenas nas áreas rurais das fronteiras do Brasil (especialmente com a marcha para o Oeste) houve um aumento migração indígena forçada para as cidades. Durante a ditadura militar brasileira, o processo de expulsão de povos indígenas de suas terras e a sua assimilação forçada às populações urbanas foi uma prática comum.[7]
Na década de 1990, depois da Constituição de 1988, a migração passou a ser majoritariamente motivada pela busca de emprego e educação. Assim, aldeias urbanas foram fundadas para possibilitar o apoio mútuo entre essa população migrante, que demandava manter seus modos de vida, à despeito da migração.[7][8]
Contradições
[editar | editar código-fonte]Estudiosos apontam como as aldeias urbanas sofrem de um abandono sistemático do poder público: carecem de infraestruturas básicas, como saneamento, saúde e educação. Assim, apesar de se localizar dentro ou na proximidade das áreas urbanas, as populações dessas aldeias não gozam igualmente de direitos cidadãos, o que reflete em sua marginalinalização e precarização.[9][3]
Lista de aldeias urbanas no Brasil
[editar | editar código-fonte]Nome | Etnias | Estado | Cidade | Ano de criação |
---|---|---|---|---|
Marçal de Souza | Terena | Mato Grosso do Sul | Campo Grande | 1999[10] |
Água Bonita | Terena, também guarani, cadiuéu e Kinikinawa | Mato Grosso do Sul | Campo Grande | 2001[10] |
Darcy Ribeiro | Mato Grosso do Sul | Campo Grande | 2007[10] | |
Tarsila do Amaral | Mato Grosso do Sul | Campo Grande | 2008[10] |
Referências
- ↑ Almeida, Maria Regina Celestino de (2013). Metamorfoses indígenas : identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro 2a edição ed. Rio de Janeiro, RJ: [s.n.] OCLC 881325934
- ↑ Nunes, Eduardo Soares (2010). «Aldeias urbanas ou cidades indígenas? Reflexões sobre índios e cidades». Consultado em 6 de agosto de 2022
- ↑ a b Paes Leite Mussi, Vanderléia. 2011. Questões indígenas em contextos urbanos: outros olhares, novas perspectivas em semoventes fronteiras História Unisinos, vol. 15, núm. 2, mayo-agosto, 2011, pp. 206-215.
- ↑ «Revista Rua - O indígena e a cidade: panorama das aldeias urbanas de Campo Grande/ MS». www.labeurb.unicamp.br. Consultado em 6 de agosto de 2022
- ↑ Barcellos, Augusto Cândido de. 2018. Gwatá: etno-história, profetismo e migração Guarani. Dissertação de mestrado (Ciência das Religiões). Vitória: UNIDA.
- ↑ Almeida, Maria Regina Celestino de (2010). Os índios na história do Brasil 1a ed ed. Rio de Janeiro: FGV-Fundacio Getulio Vargas. OCLC 697677804
- ↑ a b SASTRE, PATRICIA MARTÍNEZ (25 de outubro de 2015). «Índios urbanos: buscando as raízes longe da natureza». El País Brasil. Consultado em 7 de agosto de 2022
- ↑ «Aldeias urbanas: a difícil missão de viver na Capital e manter a cultura». midiamax.uol.com.br. 20 de abril de 2018. Consultado em 7 de agosto de 2022
- ↑ Guerra, Vânia Maria Lescano; Costa, Laura Cristhina Revoredo (5 de dezembro de 2017). «Aldeias indígenas urbanas: fronteiras discursivas e percursos identitários». RUA (2): 335–350. ISSN 2179-9911. doi:10.20396/rua.v23i2.8651146. Consultado em 6 de agosto de 2022
- ↑ a b c d Batistoti, Aleida Fontoura; Latosinski, Karina Trevisan (30 de maio de 2019). «O indígena e a cidade: panorama das aldeias urbanas de Campo Grande/ MS». RUA (1): 329-356. ISSN 2179-9911. doi:10.20396/rua.v25i1.8655545. Consultado em 18 de agosto de 2022