Améstris
Améstris | |
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Rainha da Pérsia | |
Busto de uma rainha aquemênida, possivelmente Améstris | |
Rainha-consorte do Império Aquemênida | |
Reinado | 486 – 465 a.C. |
Antecessor(a) | Atossa |
Sucessor(a) | Damáspia |
Nascimento | c. 519 a.C. |
Morte | c. 440 a.C. |
Cônjuge | Xerxes I |
Dinastia | aquemênida |
Pai | Otanes |
Mãe | irmã de Dario I |
Ocupação | rainha-consorte |
Filho(s) | |
Filha(s) | |
Religião | zoroastrismo |
Améstris ou Amástris (em grego: Ἄμαστρις ou Ἄμηστρις;[1] do antigo persa Amāstrī-, "mulher forte")[2] foi uma rainha aquemênida, consorte do rei Xerxes I e mãe de seu sucessor, Artaxerxes I. Ela é conhecida por sua má reputação entre os historiadores gregos, que a definem como uma mulher vingativa, ciumenta e notoriamente cruel.[3]
Améstris foi a primeira esposa de Xerxes I,[4] se tornando a mãe de cinco ou seis filhos dele. Em geral, Améstris é descrita como uma rainha severa e licenciosa que exerceu uma influência funesta na corte aquemênida. O historiador Heródoto a descreve como uma fúria reinante, representando a contraparte feminina do déspota oriental.
Biografia
[editar | editar código-fonte]A data e o local de nascimento de Améstris são desconhecidos. Ela era filha de um nobre persa, Otanes, um dos sete conspiradores que mataram o rei Gaumata em 522 a.C. Após este evento, Dario, o Grande ascendeu ao trono da Pérsia. De acordo com o historiador grego Heródoto (c. 480—429 a.C.), Otanes foi recompensado com um casamento diplomático: Dario se casou com a filha de Otanes, Fedímia, enquanto Otanes se casou com a irmã de Dario, que deu à luz Améstris.[3]
Améstris casou-se com Xerxes I, filho e herdeiro de Dario, o Grande. Quando Dario morreu em 486 a.C., Améstris, que então devia estar na casa dos trinta anos de idade, se torna a rainha-consorte de Xerxes I. Heródoto descreve a rainha Améstris como uma déspota cruel:
“ | "Fui informado de que Améstris, esposa de Xerxes, tendo chegado a idade avançada, rendeu graças ao deus que se diz estar sob a terra enterrando duas vezes sete jovens membros das mais ilustres famílias da Pérsia."[5] Histórias 7, 114 | ” |
Não está claro o que está por trás dessa estranha história, que parece fictícia. Até onde se sabe na religião persa sacrifícios humanos não eram permitidos. Por outro lado, o deus do submundo pode ser idêntico a Angra Mainiu , "o espírito hostil", que era o inimigo eterno do deus supremo Aúra-Masda.[3] Dado que a rainha Améstris é falada apenas por fontes gregas e que as guerras greco-persas ocorreram durante este período, é possível que essas acusações tenham sido usadas deliberadamente para manchar o nome de Améstris e dos persas em geral.[carece de fontes] Por outro lado, o sacrifício humano feito pela rainha poderia ser um antigo costume pagão revivido sob o estresse por causa da guerra ou da velhice.[6]
Améstris se tornou mãe dos filhos de Xerxes; o primeiro, Dario, seguido, dois anos depois, por Histaspes e Artaxerxes I, e duas filhas, Rodoguna e Amitis, que tinha o mesmo nome de sua avó.[7][a]
De acordo com Heródoto, Améstris era uma mulher muito ciumenta. Quando Xerxes voltou da guerra na Grécia, ele se apaixonou por Artainte, a esposa de seu filho Dario. Artainte não provou ser uma esposa fiel e teve um caso com o rei. Quando a rainha, que já suspeitava das traições do marido, descobriu o que estava acontecendo, ela resolveu se vingar.[8] Ela foi tolerante com Artainte, mas despejou sua ira contra a mãe totalmente inocente, a esposa de Masistes, que ela considerava a maior culpada no caso. Ela esperou pelo banquete anual organizado no aniversário do rei, um dia em que nenhum de seus desejos poderia ser rejeitado.[b] A rainha exigiu que a mãe de Artainte fosse entregue a ela. Xerxes cumpriu com relutância o seu desejo, agindo como se fosse um brinquedo nas mãos de sua esposa. A vingança horrível e igualmente sem sentido de Améstris foi dirigida contra a mãe de Artainte, que sob ordens da rainha foi torturada e mutilada: seus seios, nariz, orelhas, lábios e língua foram cortados.[9] O pai de Artainte, Masistes, quando viu sua esposa mutilada decidiu se revoltar contra seu rei e irmão, mas não teve sucesso.[3] Esta história é rica em ficção e como um todo, sem dúvida, foi inventada pelo próprio Heródoto, mas deve ter tido um pano de fundo histórico, na medida em que alguma (desconhecida) disputa entre Xerxes e seu irmão terminou na queda de Masistes e sua família.[10][11] Jack Martin Balcer sugere que o massacre de Masistes e sua família fazia parte dos planos secretos de Améstris.[12]
Heródoto não oferece uma explicação convincente para fazer com que Améstris se vingasse da esposa de Masistes e isso cria algumas especulações. É possível que a rainha tenha considerado a esposa de Masistes como um perigo iminente para seu poder, alguém que pode tentar tirar vantagem da tendência de Xerxes ao prazer sexual. A paixão de Xerxes por Artainte seria extinta um dia, mas o poder e privilégios de Améstris ainda estaria em jogo. Nesse caso, ela só usa sua filha Artainte com intuito de tirar vantagem de Xerxes. Nesse pensamento a vítima de Améstris não é inocente. A mutilação desumana da esposa de Masistes assegura enfaticamente o castigo de uma vítima e também o enorme poder de quem o impôs. Acima de tudo, a rainha consegue se livrar da esposa de Masistes e, ao mesmo tempo, destrói uma séria ameaça à sua autoridade.[12]
Xerxes foi assassinado em 465 a.C., sendo sucedido por Artaxerxes I. Dario, filho mais velho de Xerxes, foi acusado injustamente de envolvimento no assassinato de seu pai e foi executado por seu irmão Artaxerxes. Améstris continuou influente após a morte de seu marido. Durante o reinado de seu filho Artaxerxes I (r. 465–424 a.C.), seu outro filho, Aquêmenes, foi morto por rebeldes egípcios.[c] Eles e seus aliados atenienses foram derrotados pelo general Megabizo, filho de Zópiro, que ofereceu condições aos rebeldes para encurtar a guerra. De acordo com o historiador Ctésias (que não é conhecido por sua confiabilidade, mas é nossa única fonte), Améstris ficou furiosa porque Megabizo não havia punido os assassinos de seu filho.[3] Inconformada, a rainha-mãe pediu ao rei Artaxerxes que os entregassem, mas ele não permitiu sua vingança. Após cinco anos, de tanto importunar o rei, este acabou cedendo, e Inaro, líder da revolta egípcia, foi crucificado e cinquenta gregos foram decapitados.[13] Isso provavelmente ocorreu em 449 a.C.[2]
Megabizo era casado com Amitis, filha de Améstris com Xerxes. Em uma caçada, Megabizo deixou o rei Artaxerxes muito irritado porque este havia matado o leão antes dele, e o condenou a ser decapitado, mas, por intercessão de Améstris e Amitis, ele foi banido para a Armênia. Após cinco anos, Megabizo retornou, e por intercessão de Améstris e Amitis, foi perdoado pelo rei.[14] Após a morte de seu marido, Amitis sofreu de uma leve enfermidade e o médico Apolônides de Cós foi chamado para atendê-la, e eles se apaixonaram. Amitis contou isso para a sua mãe, que por sua vez, condenou o médico a dois meses de tortura como punição. Depois que Amitis morreu, o médico foi enterrado vivo.[15] Zópiro, filho de Megabizo e Amitis, morreu durante o cerco de Cauno atingido por uma pedra. Améstris, avó de Zópiro, mandou crucificar Alcides, o habitante de Cauno que havia jogado a pedra.[16]
Documentos da Babilônia datados do reinado de Artaxerxes I, referem-se a certas propriedades como "a casa da mulher do palácio". Esta mulher anônima pode ser a rainha-mãe Améstris ou Damáspia, esposa de Artaxerxes.[17] Améstris morreu na velhice provavelmente por volta de 440 a.C.[18][3]
Árvore genealógica
[editar | editar código-fonte]Histaspes | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Dario I 522–486 a.C. | Uma filha | Otanes | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Masistes | Xerxes I 486–465 a.C. | Améstris | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Artainte | Dario | Histaspes | Artaxerxes I 465–424 a.C. | Aquêmenes (?) | Rodoguna | Amitis | |||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Na Bíblia
[editar | editar código-fonte]O livro bíblico de Ester é um romance histórico, que narra o destino da diáspora judaica no século V a.C. sob Assuero (ou seja, Xerxes I). A trama do romance se passa na corte aquemênida em Susã. A rainha Vasti, esposa de Xerxes, recusa-se a comparecer a uma recepção dada por seu marido perante seus convidados e, como resultado, é privada de sua posição como rainha, e substituída pela judia Ester.[19]
Alguns identificam Vasti com Améstris, explicando o nome Vasti como uma corruptela de Améstris ou como um título.[20] No entanto, outros identificaram Améstris com Ester, já que ambos nomes são foneticamente mais compatíveis.[21]
A principal incongruência entre a identificação de Améstris e Ester é a suposta paternidade da primeira, pois os historiadores gregos (Heródoto e Ctesias) citam um tal Otanes (ou Onofas) como pai da Rainha. No entanto, Robert L. Hubbard propôs uma teoria interessante baseada na interpretação da transcrição grega sobre essa passagem (Histórias VII:61); embora tenha sido transcrito como "pai de Amestris", na verdade o escrito diria "filho de Amestris (não a esposa de Xerxes)", apontando que o pai da rainha nunca foi revelado.[22]
Na cultura
[editar | editar código-fonte]- Améstris é uma personagem da ópera Serse, de Georg Friedrich Händel.[23]
- Améstris é o nome de um país no anime Fullmetal Alchemist. Xerxes também aparece como o nome de um país.[carece de fontes]
- Améstris (assimilada como Vasti) aparece na série A Rainha da Pérsia, da RecordTV, interpretada pela atriz Camila Rodrigues.[24]
Notas e referências
Notas
- ↑ A epítome de Fócio do texto de Ctésias não deixa claro se Amitis era a avó materna ou a avó paterna de Amitis.
- ↑ Reinhold Bichler assume que Heródoto pode ter inventado essa tradição festiva. Heleen Sancisi-Weerdenburg, por sua vez, discorda.
- ↑ De acordo com outra versão, Aquêmenes era irmão de Xerxes I e não de Artaxerxes I.
Referências
- ↑ «A Dictionary of Greek and Roman biography and mythology, Abaeus, Amae'sia Se'ntia, Amastris». www.perseus.tufts.edu. Consultado em 15 de junho de 2021
- ↑ a b «Amestris» (em inglês). Encyclopaedia Iranica. Consultado em 16 de junho de 2021
- ↑ a b c d e f «Amestris». Livius.org. Consultado em 14 de junho de 2021
- ↑ «Otanes». Livius.org. Consultado em 18 de junho de 2021
- ↑ Heródoto, Histórias, Livro VII, Polímnia, 114 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ M. Boyce, “ACHAEMENID RELIGION,” Encyclopædia Iranica, I / 4, pp. 426-429; uma versão atualizada está disponível online em http://www.iranicaonline.org/articles/achaemenid-religion (acessado em 10 de julho de 2021).
- ↑ Ctésias de Cnido, Pérsica, texto em epítome por Fócio, Biblioteca de Fócio, 24 [em linha]
- ↑ Heródoto, Histórias, Livro IX, Calíope, 109 [pt] [el] [el/en] [ael/fr] [en] [en] [en] [es]
- ↑ «HERODOTUS ix. TIGRANES AND THE BATTLE OF MYCALE». iranicaonline.org (em inglês). Encyclopaedia Iranica. Consultado em 19 de junho de 2021
- ↑ «Masistes». iranicaonline.org (em inglês). Encyclopaedia Iranica. Consultado em 19 de junho de 2021
- ↑ thehistorianshut (11 de janeiro de 2018). «The Wrathful Tale Of Amestris, Wife Of The Persian King Xerxes». The Historian's Hut (em inglês). Consultado em 18 de junho de 2021
- ↑ a b Deligiorgis, Konstantinos. «HERODOTEAN AMESTRIS, SOPHOCLEAN DEIANEIRA AND A LETHAL GARMENT». LITERATURA 58.3 pp. 7-17. Consultado em 19 de junho de 2021
- ↑ Ctésias de Cnido, Pérsica, texto em epítome por Fócio, Biblioteca de Fócio, 39 [em linha]
- ↑ Ctésias de Cnido, Pérsica, texto em epítome por Fócio, Biblioteca de Fócio, 43 [em linha]
- ↑ Ctésias de Cnido, Pérsica, texto em epítome por Fócio, Biblioteca de Fócio, 44 [em linha]
- ↑ Ctésias de Cnido, Pérsica, texto em epítome por Fócio, Biblioteca de Fócio, 45 [em linha]
- ↑ Brosus, pp. 127, 129.
- ↑ Ctésias de Cnido, Pérsica, texto em epítome por Fócio, Biblioteca de Fócio, 46 [em linha]
- ↑ «BIBLE i. As a Source for Median and Achaemenid History». iranicaonline.org (em inglês). Encyclopaedia Iranica. Consultado em 21 de junho de 2021
- ↑ «Esther 1:9 Commentaries: Queen Vashti also gave a banquet for the women in the palace which belonged to King Ahasuerus.». biblehub.com. Consultado em 21 de junho de 2021
- ↑ «If Achashverosh is Xerxes is Esther his wife amestris?». thetorah.com. Consultado em 21 de junho de 2021
- ↑ «Vashti, Amestris and Esther 1,9 by Robetr L. Hubbard». proquest.com. Consultado em 21 de junho de 2021
- ↑ Deutsche Oper am Rhein: Xerxes (lançado em 2015), a book containing information on the opera itself as well as on a contemporary production
- ↑ «Perfil oficial de A Rainha da Pérsia revela características de Améstris: 'Sedutora e perspicaz'». Record. 19 de junho de 2024. Consultado em 27 de julho de 2024
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Brosius, M: Women in Ancient Persia, 559-331 BC, Clarendon Press, Oxford, 1998.