Zé Arigó

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Zé Arigó
Nascimento 18 de outubro de 1921
Congonhas
Morte 11 de janeiro de 1971
Brasil
Cidadania Brasil
Ocupação mediunidade, sensitivo, cirurgião
Causa da morte acidente rodoviário

José Pedro de Freitas (Congonhas do Campo, 18 de outubro de 1922 (ou 1921) — 11 de janeiro de 1971) foi um médium brasileiro. Era conhecido como "José Arigó" ou simplesmente "Zé Arigó".

Desenvolveu suas atividades espirituais em Congonhas durante cerca de vinte anos, tornando nacional e internacionalmente conhecidas as cirurgias atribuídas a um espírito que denominava Dr. Fritz.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude e matrimônio[editar | editar código-fonte]

Um dos oito filhos do sitiante Antônio de Freitas Sobrinho, nasceu na Fazenda do Faria, a cerca de seis quilômetros de Congonhas. Os poucos recursos da família apenas lhe asseguraram os estudos até à terceira série do atual Ensino Fundamental, no Grupo Escolar Barão de Congonhas.

Em 1936, aos quatorze anos de idade, ingressou na Companhia de Mineração de Ferro e Carvão, posteriormente denominada Ferteco Mineração S/A e hoje incorporada à CVRD, onde trabalhou até 1942. Neste período ganhou o apelido que o acompanharia toda a vida: "Arigó", que tanto é uma gíria para ingênuo, bobo ou matuto, quanto um apelido dado aos trabalhadores que construíam estradas de ferro e engenhos[2]. Nomeado servidor do IAPTC, atual INSS, trabalhou na função pública até ao fim da vida.

Em 1946, então com vinte e cinco anos de idade, desposou Arlete André, sua prima em 4º grau, época em que deixou a casa dos pais. Da união nasceram seis filhos: José Tarcísio, Haroldo, Eri, Sidney, Leôncio Antônio e Leonardo José.

O início do trabalho mediúnico[editar | editar código-fonte]

Por volta de 1950, Arigó começou a apresentar fortes dores de cabeça, insônia, percebendo visões (uma luz descrita como muito brilhante) e uma voz gutural (em idioma que não compreendia) que o fizeram acreditar encontrar-se à beira da loucura. A situação perdurou por cerca de três anos, durante os quais visitou médicos e especialistas, sem melhorias.

De acordo com seus biógrafos, certo dia, em um sonho nítido, a voz que o atormentava foi percebida por Arigó como pertencendo a um personagem robusto e calvo, vestido com roupas antigas e um avental branco, supervisionando uma equipe de médicos e enfermeiros em uma grande sala cirúrgica, em torno de um paciente. Após o sonho ter se repetido por várias vezes, o personagem apresentou-se como sendo Adolph Fritz, um médico alemão desencarnado durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), sem que tivesse completado a sua obra na Terra. Embora não pudesse compreender o idioma, compreendeu a mensagem que o personagem lhe dirigia: Arigó fora escolhido como médium pelo Dr. Fritz para realizar essa obra. Outros espíritos, de médicos e de enfermeiros desencarnados, os auxiliariam. Ainda de acordo com os seus biógrafos, Arigó acordou desse sonho tão assustado que saiu correndo, nu, aos gritos, ganhando a rua. Parentes e amigos trouxeram-no de volta ao lar, onde chorou copiosamente. Procurados, os médicos procederam a exames clínicos e psicológicos, sem encontrar nada de anormal, embora as dores de cabeça e os pesadelos continuassem. Até mesmo o padre da cidade tentou auxiliar, efetuando algumas sessões de exorcismo, sem sucesso.

Desesperado, sem encontrar uma saída, certo dia resolveu experimentar atender ao pedido do sonho: encontrando um amigo, aleijado, obrigado ao uso de muletas para andar, Arigó ordenou-lhe de súbito que largasse as muletas. E, arrancando-as com as próprias mãos, ordenou em seguida ao amigo que caminhasse, o que ele fez, continuando a fazê-lo desse dia em diante.

A partir de então, uma força que Arigó reputava como "estranha" passou a utilizar-se de suas mãos rudes para manejar instrumentos também rudes, em delicados procedimentos cirúrgicos, no atendimento a enfermos e aflitos.

O caso do Senador[editar | editar código-fonte]

Entre os casos de personalidade atendidas por Arigó por volta de 1950, relaciona-se o do futuro Senador Carlos Alberto Lúcio Bittencourt, então candidato a Deputado Federal e para a eleição de Getúlio Vargas para a presidência da República pelo PTB. Diagnosticado como portador de câncer nos pulmões, os médicos haviam recomendado ao candidato a imediata cirurgia, de preferência em hospital estadunidense, embora com poucas esperanças. Optando por adiar a cirurgia para depois da campanha eleitoral, em visita a Congonhas conheceu Arigó, que havia sido líder sindical. Impressionado com o seu carisma, ele convidou Arigó para juntos irem a Belo Horizonte para um comício. Aceito o convite, ficaram hospedados juntos no mesmo hotel. Segundo o relato do próprio, já estando recolhido ao leito em seu quarto, preocupado com a sua condição de saúde, percebeu a porta que se abria, e um vulto, que parecia ser de Arigó, entrando e acendendo a luz. Era realmente Arigó, como constatou, que se aproximava com uma navalha na mão. Assustado, o ele tentou levantar-se mas sentiu-se dominado por uma prostração que o fez cair, adormecido, sobre o leito. Na manhã seguinte, ao acordar, constatou que o seu pijama estava cortado nas costas, sujo de sangue já seco. O tumor cancerígeno fora removido e, como confirmado mais tarde, segundo o futuro senador relata, encontrava-se plenamente restabelecido.

A prática mediúnica e a pesquisa científica[editar | editar código-fonte]

Apesar de possuir desenvolvida mediunidade, Arigó possuía formação católica tradicional, e seu nome, a rigor, não se associa formalmente nem ao Espiritualismo nem ao Espiritismo. Apesar da desaprovação da Igreja Católica (com quem, entretanto, não criou inimizades) e das autoridades civis, Arigó fundou uma clínica à Rua Marechal Floriano, em Congonhas, onde chegava a tratar, gratuitamente, até duzentas pessoas por dia, oriundas da região e dos diversos Estados do país, da América do Sul, da Europa e dos Estados Unidos. À época, Congonhas chegou a estar ligada a Buenos Aires (Argentina) e a Santiago do Chile (Chile) por linha de ônibus direta e regular.

Entre as dificuldades de ordem legal enfrentadas pelo médium, destaca-se o processo instaurado em 1956 pela Associação Médica de Minas Gerais, sob a acusação de prática de curandeirismo, e pelo qual foi condenado a quinze meses de prisão (1958); entretanto, teve a sua pena reduzida à metade e não chegou a ser preso, uma vez que recebeu indulto do então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, cuja filha também havia sido atendida pelo médium, sendo-lhe diagnosticados dois cálculos renais. Anos mais tarde, responderia a novo processo, sendo condenado a 18 de novembro de 1964.[3] Desta vez, tendo compreendido o que era um indulto, recusou-o, sendo detido por sete meses em Conselheiro Lafaiete (MG), pelo exercício ilegal da medicina. Continuou a prática mediúnica mesmo dentro dos muros do presídio, tendo retornado a Congonhas com prestígio ainda maior.[4]

Nessa época, o estadunidense Henri Belk, fundador de uma fundação para pesquisa de fenômenos paranormais, acompanhado por Andrija Puharich (ou Henry K. Puharich), especialista em bioengenharia, deslocaram-se até Congonhas, acompanhados por dois intérpretes da Universidade do Rio de Janeiro e por Jorge Rizzini, conhecido pesquisador espírita brasileiro, para iniciar uma pesquisa com Arigó (1963). Na ocasião, o Dr. Puahrich teve extraído um lipoma de seu cotovelo esquerdo, em um procedimento indolor que consumiu apenas cinco segundos, executado com um canivete comum. A incisão de menos de 5 centímetros, com pouco sangue, não inchou, conforme documentado nítidamente em filme (a cores) por Rizzini, vindo a cicatrizar completamente, sem infecção.

Em 1968, dois outros médicos estadunidenses chegaram a Congonhas para complementar as pesquisas: os Drs. Laurence John e P. Aile Breveter, da William Benk Psychic Foundation. Mesmo sem ter alcançado uma explicação conclusiva para o fenômeno, comprovaram que a prática do médium não comportava ilusionismo ou feitiçaria, declarando que 95% dos diagnósticos do médium eram corretos e que, as operações realizadas com um canivete, sem qualquer assepsia, só eram possíveis devido à sua sensibilidade, explicável apenas à luz da parapsicologia.


Arigó morreu em 11 de janeiro de 1971, em um acidente de carro na rodovia BR-040.[5]

A técnica[editar | editar código-fonte]

Incorporado, Arigó utilizava-se de facas e canivetes para extrair em rápidos procedimentos, quistos e tumores. As incisões eram pequenas, se comparadas aos procedimentos cirúrgicos praticados à época, muitas vezes menores que o material por elas extraído. Por vezes, durante a intervenção, Arigó ditava uma receita, datilografada por um de seus assistentes, para ser entregue ao paciente.

Notas

  1. «Arigo | Psi Encyclopedia». psi-encyclopedia.spr.ac.uk (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2018 
  2. «Arigó». Michaelis On-Line. Consultado em 17 de setembro de 2021 
  3. Franco, José (1964). «O feitiço contra o feiticeiro: Zé Arigó na prisão». www.memoriaviva.com.br. O Cruzeiro. Consultado em 4 de junho de 2018. Cópia arquivada em 23 de fevereiro de 2018 
  4. Sobre esse período ver ainda PIRES, 1998.
  5. «Linha Direta - Zé Arigó». Globo.com. Consultado em 16 de agosto de 2021 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • CARNEIRO, Victor Ribas. ABC do Espiritismo (5a. ed.). Curitiba (PR): Federação Espírita do Paraná, 1996. 223p. ISBN 85-7365-001-X
  • COMENALE, Reinaldo. "Zé Arigó", oitava maravilha. Belo Horizonte: Ed. Boa Imagem, 1968. 208p. il. [tradução de Enrique Martin Blanco; prefácio de Chico Xavier]
  • FULLER, John Grant. Arigo: surgeon of the rusty knife. New York: Thomas Y. Crowell, 1974. 274p. [prefácio por Henry K. Puharich, MD] ISBN 0690005121
  • NUÑEZ, Sandra. A Pátria dos Curadoresː Uma História da Medicina e da Cura Espiritual no Brasil. São Pauloː Pensamento, 2013. 216p.
  • PIRES, J. Herculano. Arigó: vida, mediunidade e martírio (4a. ed.). Capivari (SP): Eme, 1998. 193p. ISBN 8573530499
  • RENAULT, Frank. Médiuns, Espíritas e Videntes: seus segredos e poderes. Rio de Janeiro: Editora Tecnoprint S/A, 1984. 112p. il.
  • OLIVEIRA, Leida Lúcia de. Arigó, O 13o. Profeta. São Paulo: Mythos Editora, 2010. 184p. ISBN 978-85-7867-056-6.
  • OLIVEIRA, Leida Lúcia de. Cirurgias Espirituais de José Arigó, Belo Horizonte: AME Editora, 2014. 512p. ISBN 978-85-63778-30-7

Ver também[editar | editar código-fonte]