Batalha de Candespina

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Batalha de Candespina
Guerra Civil Leonesa
Data 26 de Outubro de 1110
Local Fresno de Cantespino, Espanha
Desfecho Vitória aragonesa e portuguesa
Beligerantes
Coroa de Leão Coroa de Aragão
Condado Portucalense
Comandantes
Pedro Gonçalves de Lara
Gomes Gonçalves
Afonso I de Aragão
D. Henrique de Portugal

A Batalha de Candespina foi um encontro armado que se deu a 26 de Outubro de 1110 e opôs as hostes galegas, castelhanas e leonesas de D. Urraca de Leão e Castela às do seu marido, o rei Afonso I de Aragão, este apoiado pelo conde de Portugal D. Henrique de Borgonha.

A batalha saldou-se numa vitória para D. Afonso e D. Henrique.

Contexto[editar | editar código-fonte]

As relações entre D. Afonso e D. Urraca encontravam-se tensas desde Junho de 1110.[1] Em Agosto D. Urraca concedeu importantes privilégios a Diego Lopez de Haro, senhor de Álava, Biscaia e Nájera, em cujos domínios a rainha começou a reunir tropas contra o seu marido. Contava com apoio de sectores importantes da nobreza leonesa, castelhana e galega, entre estes últimos o conde Pedro Froilaz de Trava, que aspirava ao poder sobre a Galiza.[2] Defendiam os direitos ao trono de Afonso Raimundes, futuro Afonso VII de Leão, filho de D. Urraca, ameaçados pelo casamento entre D. Urraca e D. Afonso.

A isto se somava a possível relação amorosa entre D. Urraca e Gomes Gonçalves. Toda esta facção, castelhana, leonesa e galega, levantou-se em rebelião contra o rei de Aragão, que viam como um intruso, pelo que propagaram uma imagem muito negativa do Batalhador, que mais tarde se reflectiu nas crónicas leonesas, como a Crónica Compostelana, cujo objectivo era a exaltação do bispo de Santiago Diego Gelmírez, que em 1111 abraçaria a causa da rebelião contra o rei aragonês buscando a expansão da sua diocese, o que levou ao estatuto de arcebispado que se estendia por grande parte de Leão, Portugal e actual Extremadura Espanhola.

Por outro lado, Bernardo de Toledo, arcebispo primaz de Espanha, recebeu em Sahagún, na presença dos bispos de Leão e Oviedo, cartas do Papa nas quais declarava a nulidade do casamento de Afonso I e Urraca sob o pretexto de um consanguinidade distante e ameaçada excomungar ambos se não cumprissem os seus desejos.

Gerou-se assim um ambiente hostil contra o rei D. Afonso de Aragão, que ameaçava uma autêntica guerra civil entre partidos que se opunham fundamentalmente pelas ambições de poder feudal e que obtinham o apoio da população insatisfeita devido a um período de escassez, que poderia gerar meios de subsistência com base na agitada vida de campanha e nos despojos de guerra, apoiando uma facção ou outra.

Perante esta situação, D. Urraca liderou um partido rebelde contra o seu marido e reuniu em Burgos as forças de importantes prelados e magnatas leoneses, castelhanos, portugueses e galegos, entre cujos líderes podemos citar o conde Pedro Ansúrez, Fruela Díaz e Rodrigo Muñoz, comandados por Gomes Gonçalves e Pedro Gonçalves de Lara, cujas acções seriam decisivas na batalha.

Afonso I, por sua vez, logrou obter o apoio de D. Henrique de Borgonha, o conde de Portugal, um dos mais poderosos vassalos de D. Urraca. É possível que este achasse a rainha D. Urraca excessivamente poderosa, pois tomou o partido de D. Afonso após lhe ter sido prometido uma porção do território que lhe deixaria ao comando de toda a parte ocidental, ou seja a Galiza e Portugal.[3] Este encontrou-se em França na primavera de 1110, a contratar mercenários.

A Batalha[editar | editar código-fonte]

Deu-se a batalha enquando D. Urraca se encontrava em Burgos.[4]

Discute-se o desenrolar dos acontecimentos e a única coisa que se sabeao certo é que Alfonso I de Aragão obteve uma nítida vitória. Admite-se que as dissensões internas do contingente que se opõs ao Batalhador terão influenciado este desfecho. Segundo Rodrigo Jiménez de Rada, autor de De rebus Hispaniae, Pedro Gonçalves de Lara comandou a vanguarda do exército leonês e fugiu logo após o início da batalha, deixando o exército leonês em desvantagem e Gomes Gonçalves pereceria em combate. Foi morto por D. Henrique em pessoa.[5]

Afirma a tradição castelhana que Pedro Gonçalves de Lara abandonou a luta assim que esta começou, porque competia pelos favores da rainha com Gomes Gonçalves, suspeito de ter relações com Urraca I. O conde de Lara traiu o seu rival para ser capaz de permanecer o único favorito da rainha.[6]

Consequências[editar | editar código-fonte]

A vitória de Afonso Batalhador, ainda que avassaladora, não teve grandes consequências.

O conde D. Henrique mudou de ideias relativamente à sua aliança com D. Afonso pois proclamou-se a favor de D. Urraca a seguir à batalha, quando vieram ao seu encontro alguns homens de D. Urraca a oferecerem-lhe melhores recompensas e mais território caso se juntasse à rainha. Receberia a cidade de Zamora e o castelo de Ceia.[7] O volte-face do conde de Portugal divulgou-se rapidamente e os aragoneses recuaram para Penhafiel, fortaleza dita impregnável, que foi cerca por D. Henrique e D. Urraca mas sem successo.[8]

Embora tenha resultado numa breve trégua entre as facções rivais, a revolta contra o rei aragonês recrudesceria com a tomada de partido do bispo de Santiago de Compostela, Diego Gelmírez, no ano seguinte, e com a proclamação do infante Alfonso Raimúndez como rei de Leão, com todo o esplendor que a sede de Compostela era capaz.

Após contínuas oposições e inúmeras dificuldades, o rei aragonês acabaria por renunciar ao trono de Leão, ao título de imperador (que herdara de Afonso VI) e, em última análise, à possibilidade de uma união dinástica entre os reinos de Leão e Aragão que poderia ter constituído uma união imediata da maior parte da Espanha cristã (apenas os condados orientais dos Pirenéus foram deixados de fora, legalmente sob vassalagem de França).

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Luis García de Valdeavellano (1968), Historia de España, vol. 1, pt. 2, pp. 401-402.
  2. Lema Pueyo, op. cit., pág. 264.
  3. Bernard F. Reilly (1982), The Kingdom of León-Castilla under Queen Urraca, 1109–1126, (Princeton: Princeton University Press), 358 and n7, segue a narrativa das Crónicas anónimas de Sahagún que afirmam ter Afonso e depois D. Urraca obtido a aliança de D. Henrique ao oferecer-lhe uma porção do reino, citando José María Lacarra (1947), "Dos documentos interesantes para la historia de Portugal," Revista Portuguesa de História, 3:291–305.
  4. Reilly 1982, 74.
  5. Bernard F. Reilly (1998), The Kingdom of León-Castilla under King Alfonso VII, 1126–1157 (Philadelphia: University of Pennsylvania Press), 168.
  6. Lacarra, op. cit., pág. 50.
  7. Reilly, 75.
  8. Reilly 1982, 75.

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • LACARRA Y DE MIGUEL, José María, Alfonso el Batallador, Zaragoza, Guara, 1978. ISBN 84-85303-05-9.
  • LEMA PUEYO, José Ángel, Alfonso I el Batallador, rey de Aragón y Pamplona (1104-1134), Gijón, Trea, 2008. ISBN 978-84-9704-399-1.