Bispo do Rosário: diferenças entre revisões
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Na noite 22 de dezembro de 1938, despertou com alucinações que o conduziram ao patrão, o advogado Humberto Magalhães Leoni, a quem disse que iria se apresentar à [[Igreja da Candelária]]. Depois de peregrinar pela rua Primeiro de Março e por várias igrejas do então Distrito Federal, terminou subindo ao [[Mosteiro de São Bento]], onde anunciou a um grupo de monges que era um enviado de Deus, encarregado de julgar os vivos e os mortos. Dois dias depois foi detido e fichado pela polícia como negro, sem documentos e indigente, e conduzido ao [[Hospício Pedro II]] (o hospício da Praia Vermelha), primeira instituição oficial desse tipo no país, inaugurada em 1852, onde anos antes havia sido internado o escritor [[Lima Barreto]] (1881-1922).<ref>{{citar web|url=http://www.saraivaconteudo.com.br/Materias/Post/10423|título=Lima Barreto, entre o hospício e o cemitério|autor=Bruno Dorigatti|data=27 de setembro de 2010|publicado=Saraiva|acessodata=21 de novembro de 2012}}</ref> |
Revisão das 18h25min de 8 de outubro de 2013
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/9d/Arthur_Bispo_do_Ros%C3%A1rio.jpg/230px-Arthur_Bispo_do_Ros%C3%A1rio.jpg)
Arthur Bispo do Rosário (Japaratuba, Sergipe, 14 de maio de 1909[1] ou, segundo outras fontes, 16 de março de 1911[Nota 1] – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 5 de julho de 1989[1]) foi um artista plástico brasileiro.
Considerado louco por alguns e gênio por outros, a sua figura insere-se no debate sobre o pensamento eugênico, o preconceito e os limites entre a insanidade e a arte, no Brasil. A sua história liga-se também à da Colônia Juliano Moreira, instituição criada no Rio de Janeiro, na primeira metade do século XX, destinada a abrigar aqueles classificados como anormais ou indesejáveis (doentes psiquiátricos, alcóolatras e desviantes das mais diversas espécies).
Biografia
Natural de Japahghfgvratuba, Sergipe, Arthur Bispo é descendente de escravos africanos, foi marinheiro na juventude, vindo a tornar-se empregado de uma tradicional família carioca.
Na noite 22 de dezembro de 1938, despertou com alucinações que o conduziram ao patrão, o advogado Humberto Magalhães Leoni, a quem disse que iria se apresentar à Igreja da Candelária. Depois de peregrinar pela rua Primeiro de Março e por várias igrejas do então Distrito Federal, terminou subindo ao Mosteiro de São Bento, onde anunciou a um grupo de monges que era um enviado de Deus, encarregado de julgar os vivos e os mortos. Dois dias depois foi detido e fichado pela polícia como negro, sem documentos e indigente, e conduzido ao Hospício Pedro II (o hospício da Praia Vermelha), primeira instituição oficial desse tipo no país, inaugurada em 1852, onde anos antes havia sido internado o escritor Lima Barreto (1881-1922).[2]
Um mês após a sua internação, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, localizada no subúrbio de Jacarepaguá, sob o diagnóstico de "esquizofrênico-paranoico".[3] Aqui recebeu o número de paciente 01662, e permaneceu por mais de 50 anos.[4]
Em determinado momento, Bispo do Rosário passou a produzir objetos com diversos tipos de materiais oriundos do lixo e da sucata que, após a sua descoberta, seriam classificados como arte vanguardista e comparados à obra de Marcel Duchamp. Entre os temas, destacam-se navios (tema recorrente devido à sua relação com a Marinha na juventude), estandartes, faixas de misses e objetos domésticos[3]. A sua obra mais conhecida é o Manto da Apresentação, que Bispo deveria vestir no dia do Juízo Final. Com eles, Bispo pretendia marcar a passagem de Deus na Terra.
Os objetos recolhidos dos restos da sociedade de consumo foram reutilizados como forma de registrar o cotidiano dos indivíduos, preparados com preocupações estéticas, onde se percebem características dos conceitos das vanguardas artísticas e das produções elaboradas a partir de 1960.
Utilizava a palavra como elemento pulsante. Ao recorrer a essa linguagem manipula signos e brinca com a construção de discursos, fragmenta a comunicação em códigos privados.
Inserido em um contexto excludente, Bispo driblava as instituições todo tempo. A instituição manicomial se recusando a receber tratamentos médicos e dela retirando subsídios para elaborar sua obra, e museus, quando sendo marginalizado e excluído, é consagrado como referência da Arte Contemporânea brasileira.
Notas e referências
Notas
Referências
- ↑ a b «ARTHUR BISPO DO ROSARIO – BIOGRAFIA CLÍNICA» (PDF). Abpbrasil. 20 de outubro de 2001. Consultado em 5 de julho de 2011
- ↑ Bruno Dorigatti (27 de setembro de 2010). «Lima Barreto, entre o hospício e o cemitério». Saraiva. Consultado em 21 de novembro de 2012
- ↑ a b «Rosário, Arthur Bispo do (1911 - 1989)». Itau Cultural. 23 de outubro de 2008. Consultado em 21 de novembro de 2012
- ↑ Rodrigo Correia (7 de setembro de 2012). «Paciente 01662: a arte que transformou o manicômio e a visão sobre o louco». Encena. Consultado em 21 de novembro de 2012
Bibliografia
- Almeida, Jane de; Silva, Jorge Anthonio. Ordenação e vertigem / Ordering and vertigo. São Paulo: CCBB/Takano, 2003.
- Burrowes, Patricia. O Universo segundo Arthur Bispo do Rosário.
- Hidalgo, Luciana. Arthur Bispo do Rosário O Senhor do Labirinto. Ed Rocco.
- Kato, Gisele. O artista redentor. São Paulo, Revista Bravo!, 2003.
- Lázaro, Wilson. (org.). Arthur Bispo do Rosário - Século XX. Cosac Naify.
- Seligmann-Silva, Márcio. Arthur Bispo do Rosário: a arte de enlouquecer os signos. Artefilosofia, nº 3, julho.2007, pp. 144–158. (Instituto de Filosofia, Artes e Cultura - IFAC-UFOP).
- Silva, Jorge Anthonio. Arthur Bispo do Rosário - Arte e loucura.
- Diversos. A vida ao rés-do-chão. Artes de Arthur Bispo do Rosário. Ed. Sete Letras.