Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus
A Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus S/A foi um complexo cimenteiro pioneiro no Brasil. A fábrica era localizada no bairro de Perus, na zona noroeste da cidade de São Paulo. A empresa foi fundada em 1924 e a fábrica foi inaugurada 26 de junho de 1926.[1]
Até a sua venda em 1951 a empresa era subsidiária da Lone Star Cement co., empresa dos EUA que à época era líder no setor.[2] É considerada a primeira empresa de cimento portland no Brasil, embora tenham havido experiências anteriores que não lograram êxito.[1]
Foi fundada por um consórcio envolvendo o grupo canadense Drysdale & Pease(70% do controle acionário) e sócios brasileiros minoritários, dentre os quais o político Sylvio de Campos (filho de Bernardino de Campos e irmão do presidente do estado Carlos de Campos) que foi figura central para o sucesso do empreendimento, sendo o primeiro presidente da Cia.
A localização da empresa era estratégica, por diversos fatores:
- Ficava na capital paulista, que à época estava se desenvolvendo, demandando muito cimento.
- Já existia uma indústria caieira instalada na região, sendo possível aproveitar parte da infraestrutura, tal como a Estrada de Ferro Perus-Pirapora, um ramal ferroviário que ligava as jazidas localizadas na região de Água Fria, atual centro de Cajamar, até a estação Perus da São Paulo Railway (ferrovia que ligava o Porto de Santos ao oeste paulista). Sylvio de Campos também era acionista das caieiras e da linha férrea.[1][2]
- A linha férrea possibilitava acesso fácil ao óleo utilizado para alimentar os fornos.
- Ficava vizinha à jazida calcária conhecida como "Grupo São Roque",[1] que estende-se do estado de São Paulo, desde a região de Perus e Caieiras, até o estado do Paraná.[3][4]
- Estava próxima da Usina Hidrelétrica Edgard de Sousa, a primeira usina hidrelétrica paulista, do grupo Light, cujo advogado era Carlos de Campo. Isso facilitava a alimentação dos equipamentos utilizados no processo de produção do cimento.[1][2]
Em 1951 foi adquirida pelo Grupo JJ Abdalla, um conglomerado industrial, agrícola e financeiro. Em 1964 José João Abdalla teve seu mandato de deputado cassado por corrupção. Em 1965 descobertas sobre as práticas fraudulentas do Grupo Abdalla levaram a abertura de um inquérito que averiguou, em 1969, que todas as 32 empresas não recolhiam quaisquer impostos. Em decorrência disso, em 1973, acompanhando a ordem judicial de falência, a Cia Perus teve decretada a intervenção federal. Em 1974 a Cia Perus, as pedreiras e a ferrovia foram confiscadas pela União para cobrir parte das dívidas. Em 1979 o Sítio Santa Fé (fazenda de reflorestamento utilizada para alimentar os fornos da Perus) também foi confiscado, sendo que uma parte foi utilizada para criar o Parque Anhanguera e outra parte se tornou o Aterro Sanitário Bandeirantes, o "Lixão de Perus".[2] Na década de 1980 outro terreno que pertencia à Cia Perus foi desapropriado para a construção do Parque Estadual Villa-Lobos, contudo, uma série de falhas e omissões no decorrer do processo permitiram à família Abdalla obter direito a uma indenização bilionária, a maior já paga na história do país.[5]
No começo dos anos 1980 a Cia. Perus voltou para a iniciativa privada através de um leilão realizado pela União, na qual o único lance foi dado pelo Consórcio Chohfi-Abdalla.[2]
Com a urbanização do entorno, a fábrica passou a sofrer pressão dos moradores por conta da poluição causada pelo pó de cimento, dezenas de tonelada eram despejadas na atmosfera por ano, causando o desabamento de telhados de casas em bairros próximos à empresa. O forno ainda em funcionamento tinha mais de 30 anos e, para evitar paradas para manutenção, o Grupo Abdalla havia optado por não instalar os filtros. Em 1980, após pressão popular e cobrança do poder público, a fábrica desativou o Forno número 4, deixando de fabricar o clínquer, matéria prima do cimento portland, para comprá-lo da Indústria Santa Rita, se dedicando apenas à moagem e ensacamento. Quando a Santa Rita foi comprada pela Votorantin, o preço do clínquer se tornou inviável. Por fim a fábrica encerrou suas atividades em 1986.[2]
A Cia. Perus se tornou conhecida também por ter sido palco de uma greve não-violenta que durou 7 anos, entre 1962 e 1969, a Greve dos Queixadas.[2]
Desde os anos 1990 grupos culturais e movimentos sociais de Perus querem construir um centro cultural na região.[6]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ a b c d e Chaves, Marcelo (2005). Da periferia ao centro da(o) capital: perfil dos trabalhadores do primeiro complexo cimenteiro do Brasil. São Paulo, 1925-1945 [dissertação de mestrado]. Campinas: UNICAMP. 285 páginas
- ↑ a b c d e f g Siqueira, Élcio (2001). Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus: contribuição para uma história da indústria pioneira do ramo no Brasil (1926-1987) [Dissertação de Mestrado]. [S.l.]: UNICAMP. 230 páginas
- ↑ Pinto, Henrique (2012). PROVENIÊNCIA E AMBIENTE DE SEDIMENTAÇÃO DO GRUPO SÃO ROQUE COM BASE NA QUÍMICA DE ROCHA TOTAL E DATAÇÃO U-Pb DE ZIRCÕES DETRÍTICOS [Tese de Doutoramento] (PDF). São Paulo: Instituto de Geociências da USP. 370 páginas
- ↑ Juliani, Caetano. jan/dez 1995. «Revisão da litoestratigrafia da Faixa São Roque/ Serra do Itaberaba(SP)». Revista IG 16. Consultado em 21 de outubro de 2020
- ↑ «Folha de S.Paulo - Justiça: São Paulo vai pagar R$ 1,38 bi por terreno - 04/01/2002». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 3 de novembro de 2020
- ↑ Jeronymo, Vanice (2016). Conflitos, impasses e limites na preservação do patrimônio industrial paulista: o caso da “Perus” (CBCPP) [Tese de Doutoramento] (PDF). São Carlos: Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP de São Carlos. 280 páginas