Conquistar corações e mentes

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Um soldado do Exército dos Estados Unidos cumprimentando crianças iraquianas durante a patrulha durante a ocupação do Iraque em 2009.

Conquistar corações e mentes (em inglês: Winning hearts and minds) é um conceito ocasionalmente expresso na resolução de guerras, insurgências e outros conflitos, no qual um lado busca prevalecer não pelo uso de força superior, mas fazendo apelos emocionais ou intelectuais para influenciar os apoiadores do outro lado.

O termo "corações e mentes" foi usado pela primeira vez pelo general francês Hubert Lyautey.

O uso do termo "corações e mentes" para fazer referência a um método de trazer uma população subjugada para o lado da força ocupante, foi usado pela primeira vez pelo general e administrador colonial francês Hubert Lyautey como parte de sua estratégia para combater a rebelião dos Bandeiras Negras durante a campanha de Tonkin em 1895.[1] O termo também foi atribuído à estratégia de Gerald Templer durante a Emergência Malaia.[2]

A eficácia de "corações e mentes" como uma estratégia de contrainsurgência tem sido debatida.[3]

Uso[editar | editar código-fonte]

Reino Unido[editar | editar código-fonte]

O termo foi usado durante a Emergência Malaia pelos britânicos que empregaram práticas para manter a confiança dos malaios e reduzir a tendência de se aliar ao Exército de Libertação Nacional Malaio (MNLA), neste caso, dando ajuda médica e alimentar aos malaios e tribos indígenas.[4][5]

Uma crítica feita contra o conceito britânico de "corações e mentes" foi que "aqui fala-se muito em lutar pelos "corações e mentes" dos malaios, mas apenas obediência cega é exigida deles".[6]

No início da década de 1990, o historiador desafiou a noção de que os britânicos confiavam em estratégias de contra insurgência de corações e mentes; ele argumentou que a literatura existente minimizava ou obscurecia até que ponto os britânicos usaram a força.[7] Outros estudiosos, como David French, Ashley Jackson, Hew Strachan, Paul Dixon, Alex Marshall, Brendon Piers e Caroline Elkins, posteriormente reiteraram os argumentos de Newsinger.[8][2][7]

De acordo com a historiadora Caroline Elkins, os britânicos esconderam sistematicamente dados de suas violentas campanhas de contra insurgência.[9][2] As evidências documentais que ela descobriu no Quênia tornaram-se provas importantes em ações judiciais movidas contra o governo britânico no final dos anos 2000 e 2010.[10][11]

Rússia[editar | editar código-fonte]

De acordo com uma avaliação do cientista político da Universidade de Michigan, Yuri Zhukov, a Rússia tem respondido aos movimentos insurgentes e insurreições em larga escala desde a Revolução Bolchevique de 1917 com um modelo de contra insurgência diametralmente oposto à abordagem de "corações e mentes". Zhukov concluiu que "apesar dos sérios reveses no Afeganistão e na Primeira Guerra da Chechênia, a Rússia tem um dos registros mais bem-sucedidos de qualquer contra insurgente moderno."[12]

Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

O uso estadunidense da frase é provavelmente baseado em uma citação de John Adams, o patriota da Guerra Revolucionária Americana e segundo presidente dos Estados Unidos, que escreveu em uma carta datada de 13 de fevereiro de 1818: "A Revolução foi realizada antes da guerra começar. A Revolução estava nas mentes e corações das pessoas, uma mudança nos sentimentos religiosos de seus deveres e obrigações... Esta mudança radical nos princípios, opiniões, sentimentos e afeições do povo, foi a verdadeira Revolução Americana".[13]

Durante a Guerra do Vietnã, os Estados Unidos se engajaram em uma campanha de "corações e mentes". O programa foi inspirado pelo presidente dos Estados Unidos, Lyndon B. Johnson. Um de seus usos mais conhecidos da frase foi no discurso "Remarks at a Dinner Meeting of the Texas Electric Cooperatives, Inc." em 4 de maio de 1965. Naquela noite, ele disse: "Portanto, devemos estar prontos para lutar no Vietnã, mas a vitória final dependerá dos corações e das mentes das pessoas que efetivamente vivem lá. Ao ajudar a trazer-lhes esperança e eletricidade, você também estará desferindo um golpe muito importante para a causa da liberdade em todo o mundo".[14]

Uma campanha similar de "Corações e Mentes" no Iraque foi realizada durante a invasão e ocupação do Iraque a partir de 2003.[15]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Nota[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Douglas Porch, "Bugeaud, Gallieni, Lyautey: The Development of French Colonial Warfare", in Makers of Modern Strategy: From Machiavelli to the Nuclear Age, ed Peter Paret (Princeton University Press, USA, 1986), 394
  2. a b c Elkins, Caroline (2022). Legacy of Violence: A History of the British Empire (em inglês). [S.l.]: Knopf Doubleday. ISBN 978-0-593-32008-2 
  3. Hazelton, Jacqueline L. (2021). Bullets Not Ballots: Success in Counterinsurgency Warfare. [S.l.]: Cornell University Press. ISBN 978-1-5017-5478-4. JSTOR 10.7591/j.ctv16zjztj 
  4. Bartlett, Vernon (1955). «Report from Malaya». p. 109. One impressive result of this campaign has been the extent to which Malay women are now taking part in political and social affairs — something still very uncommon among a Moslem people. So much for official measures to encourage racial unity. But both General Templer and his successor, Sir Donald MacGillivray, have insisted time after time that Malayan patriotism cannot be imposed from without or from above; it must develop in the hearts and minds of the Malayans themselves. 
  5. Hembry, Boris (2011). Malayan Spymaster: Memoirs of a Rubber Planter, Bandit Fighter, and Spy. Singapore: Monsoon Books. 414 páginas. ISBN 978-981-08-5442-3. Although many believe the Americans to have coined the phrase [winning hearts and minds] in Vietnam .., I maintain that those words were first used simply as a throw-away remark by [Officer Administering Malaya] Del Tufoe (sic) while we were chatting informally prior to a Federal War Council meeting he chaired in November 1951 ... I repeated the phrase during the ensuing meeting 
  6. John Eber, Malaya's Freedom is Vital to Britain (1954), p. 14.
  7. a b French, David (2011). The British Way in Counter-Insurgency, 1945-1967 (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press. 5 páginas 
  8. Brendon, Piers (2010). The Decline and Fall of the British Empire 1781-1997. [S.l.]: Random House. 457 páginas. ISBN 9781409077961 
  9. Elkins, Caroline (2005). Imperial reckoning : the untold story of Britain's Gulag in Kenya. [S.l.]: Henry Holt. ISBN 0-8050-7653-0. OCLC 55884905 
  10. «Uncovering the brutal truth about the British empire | Marc Parry». the Guardian (em inglês). 18 de agosto de 2016. Consultado em 18 de setembro de 2022 
  11. «A Reckoning». www.chronicle.com. Junho de 2016 
  12. Zhukov, Yuri M. (2012). «Counterinsurgency in a non- democratic state: the Russian example». The Routledge Handbook of Insurgency and Counterinsurgency. [S.l.]: Routledge. pp. 293–307. ISBN 978-0-203-13260-9. doi:10.4324/9780203132609-32 
  13. Bernard Bailyn (1992). The Ideological Origins of the American Revolution. [S.l.]: Harvard University Press. p. 160. ISBN 9780674443020 
  14. «Remarks at a Dinner Meeting of the Texas Electric Cooperatives, Inc. | The American Presidency Project». www.presidency.ucsb.edu 
  15. ‘Hearts and minds’ key to US Iraq strategy, Andrew Koch