Conversão de S. Paulo (Bruegel)

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Conversão de S. Paulo
Conversão de S. Paulo (Bruegel)
Autor Pieter Bruegel
Data 1567
Técnica Pintura a óleo sobre madeira
Dimensões 108 cm × 156 cm 
Localização Museu de História da Arte em Viena

Conversão de S. Paulo é uma pintura a óleo sobre madeira de 1567 do mestre flamengo da Renascença Pieter Bruegel, que representa o episódio bíblico da conversão de S. Paulo descrito nos Atos dos Apóstolos, o quinto livro do Novo Testamento.

A obra está assinada e datada no canto inferior direito num pedregulho: BRVEGEL M.D.LXVII (BRUEGEL 1567). Está actualmente no Museu de História da Arte em Viena.[1]

Alguns críticos têm sugerido que a cena pintada por Bruegel se refere a eventos contemporâneos, especialmente à passagem dos Alpes pelo exército comandado pelo Duque de Alba em 1567, quando se dirigia com um total de 10.000 homens para os Países Baixos para aniquilar as revoltas holandesas.

Descrição[editar | editar código-fonte]

O Capítulo 9 dos Atos dos Apóstolos começa com o relato da conversão de Saulo, até aí um temido perseguidor dos que acreditavam em Jesus, quando seguia na estrada de Jerusalém para Damasco. A um dado ponto da viagem, Saulo/Paulo é encadeado por uma forte luz do céu, cai do cavalo e ouve a famosa pergunta de Jesus: «Saulo, Saulo, por que me persegues?» (Atos 9:4), o que levou depois a que Paulo se convertesse ao cristianismo.

Bruegel ao ilustrar o texto bíblico talvez esteja também a salientar a necessidade de fé e a condenar o pecado do orgulho.[2]

Mas face às perseguições e contra-perseguições da Reforma e da Contra-Reforma, a história da Conversão do apóstolo Paulo pode ter um outro significado. Bruegel apresenta o exército de Paulo a caminho Damasco em trajes seus contemporâneos e os soldados com armaduras e armas do século XVI. O próprio Paulo tem um gibão com capuz usual no tempo do pintor. Bruegel passou por Itália e conhecia pelas obras de arte e documentos as roupas usadas no período inicial do cristianismo, pelo que a sua intenção ao representar aquela cena bíblica com roupas da sua época era salientar a relevância do tema para a perturbação social que então se vivia.

Bruegel situa a cena numa passagem de montanha íngreme, entre penhascos íngremes e picos afiados, que um grupo de soldados a cavalo e a pé tenta a custo ultrapassar. Tudo expressa uma idéia de verticalidade, desde as coníferas às montanhas recortadas, e às lanças e bandeira, até atingir uma nuvem escura à direita. O corte de alguns objectos a partir do bordo superior (como a bandeira do lado direito), amplifica o sentido de espaço que é mais desenvolvida em altura. Para a esquerda, onde se desenvolve a garganta da montanha com as figuras minúsculas, ele abre um vasto panorama, distante e embaçiado pela névoa.

Provavelmente, a colocação por Bruegel da conversão de Paulo no alto de uma passagem de montanha ladeada por pinheiros foi sugerido por uma gravura de 1509 de Lucas van Leyden.[3]

E tal como em Caminho do Calvário e em Pregação de João Baptista[4], Bruegel coloca as figuras principais a meia distância, quase perdidas no meio da massa de pequenas figuras e atrás dos soldados e cavaleiros elegantes em primeiro plano. Esta era uma técnica habitual do Maneirismo que se destinava a provocar no espectador o apuramento da sua visão em busca do tema principal.

Enquadramento histórico[editar | editar código-fonte]

Filipe II de Espanha, o filho do imperador Carlos V, no verão 1559 após a guerra vitoriosa contra a França nomeou a sua meia-irmã Margarida de Parma, flamenga de nascimento, como governadora-geral das dezassete províncias dos Países Baixos. As províncias, que tinham grau relativamente elevado de independência, receberam assim como governador um nobre local.

Logo, porém, irrompeu a disputa sobre a reorganização das dioceses e das leis sobre hereges contra os protestantes ainda com origem no reinado de Carlos V. Os líderes nobres por razões estratégicas favoreceram o Calvinismo que teve uma propagação radical, tendo os seus apoiantes criado uma teocracia. No auge, em agosto 1566, ocorreu uma iconoclastia de seis dias, durante o qual mais de quatro centenas de igrejas foram devastadas. Em resposta, Filipe II destituiu a sua meia-irmã e nomeou Álvarez de Toledo (Duque Alba) como o novo governador.

Inicialmente o novo governador, mediante uma acção sanguinolenta conseguiu parar a revolta, mas (entre outras coisas) a introdução de impostos elevados impulsionou de novo os motins, e o início da Guerra dos Oitenta Anos de que acabou por resultar a divisão dos Países Baixos Espanhóis (as dezassete províncias) em dois países, um a sul católico - a Bélgica, e outro a norte protestante - os atuais Países Baixos.

História[editar | editar código-fonte]

A obra foi adquirida por Ernesto, Arquiduque da Áustria em 1594, tendo depois passado para a colecção imperial com Rodolfo II de Habsburgo.[1]

Galeria de detalhes[editar | editar código-fonte]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Nota sobre a Obra no Museu de História da Arte em Viena [1] Arquivado em 4 de março de 2016, no Wayback Machine.
  2. Cf. Pietro Allegretti, Brueghel, Skira, Milano 2003. ISBN 0-00-001088-X (em italiano)
  3. Compare com a gravura de van Leyden em the Metropolitan Museum of Art, thirdmill.org.
  4. Ver O Sermão de S. João Baptista em Wikimedia Commons.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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