Cruz de São Damião

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Cruz de São Damião
Autor Desconhecido
Data Século XII
Técnica Pintura a óleo sobre madeira de nogueira[1]
Dimensões 1,90m × 1,20m 
Localização Basílica de Santa Clara de Assis

A Cruz de São Damião, também conhecida como Cruz de São Francisco de Assis, é uma obra de arte pintada no século XII por um monge siríaco da região da Úmbria, Itália. A pintura é de estilo românico, sob influência oriental e siríaca.[2]

Atualmente a obra se encontra sobre o altar da Basílica de Santa Clara, localizada na cidade de Assis, protegido por vidro. Em 2016, a obra ficou, temporariamente, em exposição na Igreja de São Damião, local onde foi vista pela primeira vez por Francisco de Assis, em 1205.[3]

História[editar | editar código-fonte]

A obra da cruz de São Damião foi inspirada no Evangelho segundo João e teria sido criada no século XII, por volta do ano 1100, por um monge siríaco na Úmbria, região central da Itália.[4]

Reza a tradição católica que, por volta de 1205, Francisco de Assis, em crise espiritual, entrou na igreja de São Damião, localizada na cidade de Assis, Itália, ajoelhou-se diante do crucifixo para orar e teria ouvido a voz do Cristo crucificado lhe dizendo: "Francisco, vai e repara minha casa que está em ruínas". Imediatamente Francisco saiu pela cidade de Assis pedindo pedras para as reformas. Pessoas da região começaram a auxilia-lo.[4] Tal cena foi registrada pelo pintor italiano Giotto di Bondone na pintura Milagre do Crucifixo, de 1297-1299, localizada na Basílica de São Francisco de Assis, em Assis.[5]

Milagre do Crucifixo. Giotto di Bondone (1297/1299)

O Crucifixo permaneceu na Igreja de São Damião até que as Irmãs Pobres de Santa Clara, em 1257, levaram-no consigo à, então, nova Basílica de Santa Clara. Elas o guardaram no interior do coro monástico durante séculos. No ano de 1938, a artista Rosaria Alliano restaurou o Crucifixo e o protegeu de deteriorações. Desde 1958, ele está sobre o altar, ao lado da capela do Santíssimo, da Basílica de Santa Clara protegido por vidro.[1]

Oração[editar | editar código-fonte]

Oração que Francisco de Assis fez ante o crucifixo de São Damião[6]:

"Altíssimo e Glorioso Deus,
iluminai as trevas de meu coraçao.
Dai-me uma fé reta, esperança certa e caridade perfeita.
Sentimento e conhecimento, Senhor,
a fim de que eu cumpra o Vosso santo
e veraz mandamento. Amém."

Versão em latim[7]:

"Summe et gloriose Deus,
ilumina tenebras cordis mei.
Et da mihi fidem rectam, spem certam et caritatem perfectam.
Sensum et cognitionem, Domine,
ut faciam tuum sanctum et veraz mandatum. Amem"

Descrição[editar | editar código-fonte]

Cópia da obra no interior da Igreja de São Damião
Igreja de São Damião

A obra foi pintada em um pano colado sobre madeira de nogueira. Possui 1,90m de altura, 1,20m de largura e 12 cm de espessura.[8] E pode ser considerada como um ícone, devido a sua densa simbologia teológica.[9]

O ícone contém traços de influência oriental, identificados pelo pedestal sobre o qual estão os pés de Cristo pregados separadamente; e siríaca, identificada pela barba de Cristo; a face circundada pelo emoldurado dos cabelos; a presença dos anjos e a cruz com a longa haste segurada na mão, por Cristo.[1]

A obra contém 33 figuras, sendo: 2 imagens de Cristo, 1 mão do Pai, 5 figuras maiores, 2 figuras menores, 14 anjos, 2 pessoas nas mãos de Jesus, 1 menino pequeno, 6 pessoas ao fundo da Cruz e 1 galo. Além disso, também existem 33 cabeças em torno da cruz, dentro das conchas, e 7 ao redor da auréola.[10]

Na obra, Jesus não está pregado na cruz, embora esteja com as feridas, mas em pé sobre ela com os olhos abertos e com uma auréola dourada em volta de sua cabeça ao invés de uma coroa de espinhos. Imediatamente acima de sua cabeça está a inscrição em latim: IHSNAZARE REXIVDEORV, onde IHS é o nome de Jesus em grego; Nazare significa "de Nazaré", Rex significa "rei" e Iudæoru, "dos judeus". Inscrição esta, própria do Evangelho segundo João.[1]

Acima da inscrição, está a representação da ascensão de Cristo envolto em um círculo vermelho e empunhando uma cruz dourada, como um cetro, e sendo recebido por 10 anjos, 5 deles com a mão estendida, enquanto, no ponto mais alto da pintura, a mão direita do Pai o abençoa.[11][12]

Em torno da cruz há ornamentos caligráficos que podem significar a videira mística (João 15:5). Na base da cruz há algo que parece ser uma pedra – o símbolo da Igreja.[10] Ainda na parte inferior, o preto da pedra, segundo alguns estudiosos, representaria o limbo ou Inferno, para onde Jesus teria descido antes de sua ascensão.[12]

À direita do corpo de Cristo, aparecem as figuras de Maria e João. À esquerda do corpo, estão Maria Madalena, Maria de Cleófas (as duas primeiras testemunhas da ressurreição) e um centurião. Maria, João, Maria Madalena e Maria de Cleófas possuem auréolas em volta de suas cabeças[12] Sobre os ombros do centurião aparece a cabeça de uma pessoa em miniatura, cuja identidade ainda é discutida por estudiosos: poderia ser o filho do centurião, curado por Jesus (João 4:50) ou um representante da multidão ou ainda, o próprio autor da pintura.[1]

Em tamanho bem menor encontra-se Longino, soldado romano que trespassou o lado de Jesus com uma lança, e Estefânio, que, segundo a tradição, ofereceu a Jesus uma esponja encharcada com vinagre após Ele ter dito “tenho sede” (João 19:28).[8]

Na parte inferior onde estão os pés de Jesus, a pintura original encontra-se muito deteriorada, contudo é possível ver seis santos. Estudiosos afirmam ser Damião, Rufino, Miguel, João Batista, Pedro e Paulo, todos patronos de igrejas das vizinhanças de Assis.[1][8] Ao lado do joelho esquerdo de Jesus está um galo, que representa a negação de Pedro.[12]

Sob as mãos de Jesus, há dois grupos de anjos, com as mão apontando para o crucificado, conversando sobre a cena. E à direita da cruz está o bom ladrão, chamado tradicionalmente Dimas; à esquerda está o mau ladrão.[8][12]

O formato tradicional da cruz foi alterado para permitir ao artista a inclusão de todos aqueles que participaram da Paixão de Jesus Cristo.[8][10]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f Crucifixo de São Damião - Portal dos Franciscanos
  2. Crucifixo de São Damião - Aleteia.org
  3. Cruz de São Damião volta "para casa" após oito séculos - Rádio Vaticano
  4. a b San Damiano Cross - University of St Francis. (inglês)
  5. Legend of St Francis: 4. Miracle of the Crucifix - Web Gallery of Art
  6. Oração - Portal dos Franciscanos
  7. Oração diante do crucifixo - Portal dos Capuchinhos
  8. a b c d e Crucifixo de São Damião - Cantodapaz.com
  9. San Damiano Cross and the Gospel of John - Franciscan Pilgrimages (inglês)
  10. a b c A Brief Explanation of the San Damiano Crucifix - St. Pio Fraternity (inglês)
  11. The Story of the San Damiano Crucifix - Monastery Icons.com (inglês)
  12. a b c d e The San Damianno Cross - Marian University (inglês)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]