Curadoria digital

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Data Centers são centros de processamento de dados capazes de armazenar conteúdo digital. Servidores da Wikimedia Foundation.

Curadoria Digital pode ser definida como um conjunto de técnicas que visam preservar um material digital. Também engloba todas as atividades envolvidas na gestão de dados, desde o planejamento até sua criação, passando pelas boas práticas de digitação, na seleção dos formatos e na documentação, com o intuito de garantir o seu arquivamento e preservação para posterior reúso.[1]

Utilidade[editar | editar código-fonte]

Curadoria digital é geralmente relacionada ao processo de criação e desenvolvimento de repositório de dados para consultas atuais e futuras realizadas por pesquisadores, cientistas, historiadores, estudiosos e empresas.[2]

Curadoria digital corporativa[editar | editar código-fonte]

O aumento da utilização de dados nos meios comerciais e financeiros (como por exemplo em business intelligence, gestão de relacionamento e gestão de cadeia logística), causou um aumento drástico na sofisticação das infraestruturas de dados corporativos. Muitas empresas estão começando a utilizar a curadoria digital para melhorar a qualidade da informação em seus processos operacionais e estratégicos, porque se observou que muitas decisões podem ser afetadas por causa de dados incompletos ou errados. Essa gestão tem a finalidade de permitir o acesso a dados precisos e fiáveis que podem ser rastreados a fim de garantir sua credibilidade.[3]

O Gartner estimou que mais de 25% dos dados críticos nas 1000 maiores empresas do mundo estão defeituosos, imprecisos, incompletos ou duplicados. A incerteza sobre a validade dos dados ou a ambiguidade na sua interpretação podem ter efeitos significativo nas operações de negócios, principalmente no processo de tomada de decisão.[4]

Plataformas Digitais Participativas[editar | editar código-fonte]

Outra vertente do conceito é a ideia de Plataformas Digitais Participativas, que permitem que um Curador da Plataforma crie um ambiente de autogestão entre os participantes. Teríamos, nessa direção, três possibilidades de Curadoria Digital:[3]

  • Curadoria Digital de decisões - voltada para tomada de decisões coletiva (Ex. Vote na Web e Eu Voto);
  • Curadoria Digital de regras - voltada para debates sobre textos (Ex. o próprio Wikipédia);
  • Curadoria Digital de trocas - voltada para trocas de produtos e serviços (EX: Uber, Estante Virtual, Aplicativos de Táxis).

A Curadoria Digital, nessa vertente, implicaria o uso das Plataformas Digitais Participativas, com uma avaliação de cada registro, membros, ações por parte dos participantes, através de ícones de participação, tais como estrelas, curtir/não curtir, comentários, regulados por Algoritmos Sociais Inteligentes.

Aspectos[editar | editar código-fonte]

Curadoria digital implica:

  • Coleta de ativos digitais;
  • Fornecimento de busca e recuperação de ativos digitais;
  • Certificação de confiabilidade e integridade do conteúdo;
  • Continuidade e comparabilidade semântica e ontológica do conteúdo;

Desafios[editar | editar código-fonte]

Os mais significantes desafios enfrentados pela curadoria digital são:[5]

Obsolescência e evolução do formato de armazenamento[editar | editar código-fonte]

Em comparação, o arquivamento de ativos analógicos é notavelmente de natureza passiva, muitas vezes limitado a simplesmente garantir um ambiente de armazenamento adequado. A preservação digital requer uma abordagem mais proativa. Os artefatos de importância cultural de hoje são notavelmente transitórios por natureza e propensos à obsolescência quando as tendências sociais ou tecnologias dependentes mudam.[6] Esta rápida progressão da tecnologia ocasionalmente torna necessário migrar acervos de ativos digitais de um formato de arquivo para outro, a fim de mitigar os perigos de obsolescência de hardware e software que tornaria o ativo inutilizável.[7][8][9]

Taxa de criação de novos dados e conjuntos[editar | editar código-fonte]

O custo cada vez menor e a prevalência crescente de categorias totalmente novas de tecnologia levaram a um fluxo crescente de novos conjuntos de dados.[10] Eles vêm de fontes bem estabelecidas, como empresas e governo, mas a tendência também é impulsionada por novos estilos de sensores que estão sendo incorporados em mais áreas da vida moderna. Isso é particularmente verdadeiro para os consumidores, cuja produção de ativos digitais não é mais restrita ao trabalho. Os consumidores agora criam faixas mais amplas de ativos digitais, incluindo vídeos, fotos, dados de localização, compras e dados de rastreamento físico, apenas para citar alguns, e os compartilham em faixas mais amplas de plataformas sociais.[6]

Além disso, o avanço da tecnologia introduziu novas formas de trabalhar com dados. Alguns exemplos disso são as parcerias internacionais que alavancam dados astronômicos para criar “observatórios virtuais”, e parcerias semelhantes também alavancaram dados resultantes da pesquisa no Large Hadron Collider no CERN e do banco de dados de estruturas protecas no Protein Data Bank.[11]

Amplo acesso e busca flexível e variada[editar | editar código-fonte]

A curadoria de objetos digitais não se limita a ativos digitais estritamente natos. Muitas instituições se empenharam em esforços monumentais para digitalizar acervos analógicos em um esforço para aumentar o acesso às suas coleções. Exemplos desses materiais são livros, fotografias, mapas, gravações de áudio e muito mais.[6] O processo de conversão de recursos impressos em coleções digitais foi sintetizado até certo ponto por bibliotecários e especialistas relacionados. Por exemplo, o Digital Curation Center é considerado um "centro de especialização líder mundial em curadoria de informações digitais" que auxilia instituições de pesquisa de ensino superior nessas conversões.[12]

Comparabilidade de definições semânticas e ontológicas dos conjuntos de dados[editar | editar código-fonte]

A ausência de coordenação entre diferentes setores da sociedade e da indústria em áreas como a padronização de definições semânticas e ontológicas e na formação de parcerias para a administração adequada de ativos resultou em uma falta de interoperabilidade entre as instituições e um colapso parcial na prática de curadoria digital do ponto de vista do usuário comum.[13] O exemplo de coordenação é o Open Archival Information System (OAIS).[13][8]

O Modelo de Referência OAIS permite que profissionais e muitas outras organizações e indivíduos contribuam com os esforços dos fóruns abertos OAIS para o desenvolvimento de padrões internacionais de informações arquivísticas em acesso de longo prazo.[14]

Subestimação dos custos do trabalho humano[editar | editar código-fonte]

As ferramentas modernas de planejamento de programas frequentemente subestimam a quantidade de custos de mão de obra humana necessária para a curadoria digital adequada de grandes coleções. Como resultado, as avaliações de custo-benefício geralmente mostram um quadro impreciso tanto da quantidade de trabalho envolvida quanto do verdadeiro custo para a instituição, tanto para resultados bem-sucedidos quanto para fracassos.[6]

O conceito de custo na área de negócios seria mais óbvio. Variedades de sistemas de negócios estão funcionando para operações diárias. Por exemplo, os sistemas de recursos humanos lidam com contratação e folha de pagamento, os sistemas de comunicação gerenciam e-mail interno e externo e os sistemas de administração lidam com finanças, marketing entre outros. No entanto, os sistemas de negócios nessas instituições não são projetados inicialmente para a preservação de informações de longo prazo. Em alguns casos, os sistemas de negócios são revisados ​​para se tornarem sistemas de Curadoria Digital para preservar as informações da transação devido à consideração de custos. O exemplo de sistemas de negócios são os aplicativos Enterprise Content Management (ECM), que são usados ​​por pessoas designadas do grupo, como executivos de negócios, clientes para gerenciamento de informações que dão suporte aos principais processos organizacionais. No longo prazo, transferir conteúdo digital de aplicativos ECM para aplicativos de Curadoria Digital (DC) seria uma tendência em grandes organizações, nacional ou internacionalmente. O aprimoramento dos modelos de maturidade de ECM e DC pode agregar valor às informações que requerem dedução de custos e uso extensivo para modificações posteriores.[15]

Responsáveis pela curadoria digital[editar | editar código-fonte]

Os desafios enfrentados pela curadoria digital são realizados por:

Ciclo de vida[21][editar | editar código-fonte]

  • Conceitualização: concepção e planejamento da criação de conteúdo, incluindo a definição de métodos de captura e armazenamento.
  • Criação ou recepção: produção de conteúdo atribuindo metadados administrativos, descritivos, estruturais e técnicos; metadados de preservação também podem ser adicionados no momento da criação; receber conteúdo, de acordo com políticas de coleta, de criadores de conteúdo, outros arquivos, repositórios ou data centers e se necessário atribuir metadados apropriados.
  • Acesso e uso: garantia de fácil acesso a conteúdos públicos e privados pelos usuários.
  • Avaliação e seleção: avaliação e seleção de conteúdos digitais que requerem preservação atendendo normas, processos e requisitos necessários para o procedimento.
  • Disposição: se desfazer de conteúdos não selecionados para preservação, atendendo normas estabelecidas.
  • Backup: transferir conteúdo digital para um arquivo confiável e realizar o backup, atendendo normas estabelecidas.
  • Preservação: ações que garantem a preservação e identificação do conteúdo;
  • Reavaliação: avaliação e seleção adicional para conteúdo já avaliado;
  • Armazenamento: manutenção dos dados de forma segura dentro dos padrões pré-definidos;
  • Transformação: criação de novo conteúdo a partir do original.

Curadoria Digital e a Explosão Exponencial de Dados[editar | editar código-fonte]

Curadoria digital é uma alternativa para organização de informações relevantes como um filtro em meio ao crescimento exponencial de geração de dados.[22] Desde 2007, a quantidade de dados produzidos pela sociedade em rede deixou de ser suportada pela capacidade de armazenamento disponível para o seu arquivamento. Em 2005 foram produzidos 150 exabytes de dados, diante de 1750 exabytes estimados para 2011.[23] Redes sociais e aparelhos móveis são os principais artefatos utilizados pelos usuários para crescimento no número de dados armazenados na rede a cada minuto.[24]

Curadoria Digital como Mecanismo de Controle[editar | editar código-fonte]

Curadoria Digital se caracteriza como um modo humano de administrar o fluxo de conteúdo digital em contraposto aos filtros automáticos gerados através de algoritmos.[25] Redes sociais ou outros sistemas de informação que organizam os dados de acordo com o perfil de seus usuários, passam dessa forma a exercer o controle sobre o que o usuário pode consumir de informação apresentando apenas um tipo específico de conteúdo. Nesse cenário, quem consome passa a ter uma postura passiva e deixa de lado a postura ativa e aleatória de descoberta de conteúdo oferecido pela curadoria digital.[26]

Exemplos de ferramentas de Curadoria Digital[editar | editar código-fonte]

Uma das especialidades da Curadoria Digital é a Curadoria de Conteúdo, que utiliza as seguintes ferramentas:[27]

  • Twitter - informação em tempo real;
  • Paper.li - jornal personalizado online agregador de conteúdo;
  • Storify - mural de histórias de redes sociais;
  • Pinterest - lista de interesses visual de produtos;
  • Spotify - streaming de música através de listas personalizadas.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Curadoria digital: uma introdução - Portal do Bibliotecário». portaldobibliotecario.com. Consultado em 1 de abril de 2018 
  2. «What is digital curation? | DCC». www.dcc.ac.uk. Consultado em 27 de abril de 2021 
  3. a b E. Curry, A. Freitas, and S. O’Riáin, “The Role of Community-Driven Data Curation for Enterprises,” Arquivado em 23 de janeiro de 2012, no Wayback Machine. in Linking Enterprise Data, D. Wood, Ed. Boston, MA: Springer US, 2010, pp. 25-47.
  4. «'Dirty Data' is a Business Problem, Not an IT Problem, Says Gartner» (PDF). Newsroom. Press Release. 2 de março de 2007. Consultado em 27 de abril de 2021 
  5. «Digital Curation & Trusted Repositories: Seeking Success - Introduction». JCDL 2006 Workshop: Digital Curation & Trusted Repositories: Seeking Success. Consultado em 1 de abril de 2008. Arquivado do original em 10 de fevereiro de 2012 
  6. a b c d Council, National Research (22 de abril de 2015). Preparing the Workforce for Digital Curation (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  7. Higgins, Sarah (7 de outubro de 2011). «Digital Curation: The Emergence of a New Discipline». International Journal of Digital Curation (em inglês) (2): 78–88. ISSN 1746-8256. doi:10.2218/ijdc.v6i2.191. Consultado em 27 de abril de 2021 
  8. a b Paul Watry (novembro de 2007). «Digital Preservation Theory and Application: Transcontinental Persistent Archives Testbed Activity». The International Journal of Digital Curation. Consultado em 1 de abril de 2008. Arquivado do original em 15 de março de 2008 
  9. Higgins, Sarah (6 de agosto de 2008). «The DCC Curation Lifecycle Model». International Journal of Digital Curation (em inglês) (1): 134–140. ISSN 1746-8256. doi:10.2218/ijdc.v3i1.48. Consultado em 27 de abril de 2021 
  10. Ray, Joyce (2009). «Sharks, digital curation, and the education of information professionals». Museum Management and Curatorship. 24 (4): 357–368. doi:10.1080/09647770903314720 
  11. Beagrie, Neil (22 de novembro de 2006). «Digital Curation for Science, Digital Libraries, and Individuals». International Journal of Digital Curation (em inglês): 3–16. ISSN 1746-8256. doi:10.2218/ijdc.v1i1.2. Consultado em 27 de abril de 2021 
  12. «Digital curation Word History, Core Principles and Activities, Related terms, Challenges, The Free Encyclopedia». www.wikiy.org. Consultado em 27 de abril de 2021 
  13. a b «Wayback Machine». web.archive.org. 15 de março de 2008. Consultado em 27 de abril de 2021 
  14. A Lee, Christopher. (2011). Open Archival Information System (OAIS) Reference Model. 10.1201/b11499-56.
  15. Katuu, Shadrack. (2012). Enterprise Content Management and Digital Curation Applications Maturity Model Connections.
  16. «DCC | Because good research needs good data». www.dcc.ac.uk. Consultado em 27 de abril de 2021 
  17. «Home - Digital Preservation Coalition». www.dpconline.org. Consultado em 27 de abril de 2021 
  18. «DigCCurr 2007 homepage». ils.unc.edu. Consultado em 27 de abril de 2021 
  19. «African digital conference». stardata.nrf.ac.za. Consultado em 27 de abril de 2021 
  20. «International Journal of Digital Curation». www.ijdc.net. Consultado em 27 de abril de 2021 
  21. http://www.dcc.ac.uk/digital-curation/what-digital-curation
  22. «The data deluge». The Economist. 25 de fevereiro de 2010. ISSN 0013-0613. Consultado em 27 de abril de 2021 
  23. «Data, data everywhere». The Economist. 27 de fevereiro de 2010. ISSN 0013-0613. Consultado em 27 de abril de 2021 
  24. Tepper, Allegra. «How Much Data Is Created Every Minute? [INFOGRAPHIC]». Mashable (em inglês). Consultado em 27 de abril de 2021 
  25. «Cópia arquivada». Consultado em 27 de junho de 2012. Arquivado do original em 20 de julho de 2012 
  26. «Curadoria digital: eu guardo meu conhecimento nos amigos que o organizam». Todo conhecer é um fazer (em inglês). Consultado em 27 de abril de 2021 
  27. «Crunchbase: Discover innovative companies and the people behind them». Crunchbase (em inglês). Consultado em 27 de abril de 2021