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Morgado de Santiago: diferenças entre revisões

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O [[Lista de morgadios em Portugal|Morgado de Santiago]], ou Sam Thiago (grafia arcaica), foi um [[Morgado|morgado]] em Portugal instituído no [[século XVIII]] por Domingos Gonçalves Lopes, vereador maior de Vila do Conde, senhor da [[Casa de Sam Thiago|casa de Santiago]] e de outras propriedades foreiras no termo de [[Custoias (Matosinhos)|Custóias]], [[Matosinhos]]. Todos os restantes ocuparam o posto de [[Capitão-mor|Capitão-Mor]] da [[Leça do Balio|Baliagem de Leça]] da [[Ordem Soberana e Militar de Malta|Ordem de Malta]].
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Ainda assim, [[Mário Teixeira de Carvalho]], no [[Nobiliário Sul-Riograndense]], afirma que o Morgado de Santiago havia pertencido "aos [[Duque de Aveiro|Duques de Aveiro]], que procedem de [[João II de Portugal|D. João II]]" {{Carece de fontes2||soc|data=junho de 2017}}.
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O morgado foi uma forma de organização familiar que criava uma [[linhagem]], consistindo de regras de sucessão de [[Título nobiliárquico|títulos]] e propriedades com fins de perpetuar o nome e o suficiente estatuto económico-social do ramo principal de uma família.
O morgado foi uma forma de organização familiar que criava uma [[linhagem]], consistindo de regras de sucessão de [[Título nobiliárquico|títulos]] e propriedades com fins de perpetuar o nome e o suficiente estatuto económico-social do ramo principal de uma família.

Revisão das 22h00min de 12 de junho de 2017

O Morgado de Santiago, ou Sam Thiago (grafia arcaica), foi um morgado em Portugal instituído no século XVIII por Domingos Gonçalves Lopes, vereador maior de Vila do Conde, senhor da casa de Santiago e de outras propriedades foreiras no termo de Custóias, Matosinhos. Todos os restantes ocuparam o posto de Capitão-Mor da Baliagem de Leça da Ordem de Malta.

Não obstante, Mário Teixeira de Carvalho, no Nobiliário Sul-Riograndense, afirma que o Morgado de Santiago havia pertencido "aos Duques de Aveiro, que procedem de D. João II" [carece de fontes?].

O morgado foi uma forma de organização familiar que criava uma linhagem, consistindo de regras de sucessão de títulos e propriedades com fins de perpetuar o nome e o suficiente estatuto económico-social do ramo principal de uma família.

Titulares

Domingos Gonçalves Lopes, instituidor, vereador maior de Vila do Conde, filho de José Gonçalves Lopes, e casado com D. Ana Maria do Espírito Santo Dias, filha do capitão João Dias da Silva, familiar do Santo Ofício, senhor da casa de Santiago, e de sua mulher, D. Luísa Martins.

1. José Gonçalves Lopes, 1° morgado, capitão-mor da Baliagem de Leça, senhor das casas de Santiago e Alvarelhos, capitão de Santa Maria de Avioso, detentor de vários prazos e foros em Matosinhos, Santo Tirso, Vila do Conde, Guimarães e Custóias, de privilégios, como o das tábuas vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira de Guimarães, etc. Casou com D. Ana Maria Joaquina de Jesus da Silva, senhora do prazo das Azenhas da Barca da Trofa, propriedade foreira do Mosteiro de Landim, filha do capitão das Ordenanças e cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada Manuel da Silva Guimarães, rendeiro principal das rendas, dízimas e sanjoaneiras da Baliagem de Leça,  e de D. Antónia Maria Martins, senhora das Quintas do Rio e da Devesa, em Ramalde[1][2].

Uma sua irmã, D. Ana Maria Joaquina, foi casada com o capitão José Caetano de Sá Tinoco, cavaleiro da Ordem de Cristo, FCA por alvará de 22.11.1783, morador na Quinta da Neta, na rua do Bonjardim, solar de sua família, na freguesia de Santo Ildefonso, Porto.

2. Domingos Gonçalves Lopes, 2° morgado, filho do anterior, capitão-mor da Baliagem de Leça, senhor da Casa de Alvarelhos. Fidalgo de Cota de Armas, por carta de brasão de 7 de Outubro de 1807 (um escudo partido: I - Lopes, de João Lopes, II - Silva; timbre dos Lopes e, por diferença, uma brica de prata com uma banda de vermelho). Casou com D. Margarida Rosa de Araújo, filha de Joaquim Joaquim António Gonçalves de Araújo e de sua mulher, D. Lourença Maria da Conceição da Costa.

3. D. Rodrigo Gonçalves Lopes, 3° e último morgado, filho do anterior, comendador em Portugal, e cavaleiro da Ordem de Isabel, a Católica, em Espanha[3]. Vice-cônsul do mesmo Estado em Matosinhos e Leça do Balio[4]. Senhor da casa de Santiago e das quintas do Souto, da Glória; e de São Félix de Picoutos, onde passou a residir habitualmente, por herança de seu tio Rodrigo Gonçalves Lopes, capitão, falecido em 1837, solteiro, por sua vez por herança de seu tio Domingos Gonçalves Lopes, doutor pela Universidade de Coimbra, casado com D. Maria da Silva e Sousa Félix, filha de Manuel da Silva e Sousa Félix, senhor da quinta de São Félix de Picoutos e de D. Mariana de Sousa. Casou com D. Joaquina Augusta Vaz Preto Lopes e Silva, da qual teve uma única filha, D. Maria da Glória.

A Casa de Sam Thiago, ou Casa de Santiago, é um solar edificado em meados do século XVII, em Custóias, no concelho de Matosinhos, outrora parte do morgadio e do vínculo de Sam Thiago, pertencente à família Gonçalves Lopes. Magnífico exemplo da arquitectura civil desde período e do poder económico que algumas famílias conseguiram alcançar nessa época, a casa de Sam Thiago é um dos imóveis mais belos e emblemáticos da freguesia de Custóias. O conjunto arquitectónico, outrora parte de uma grande quinta rural, é rodeado por belos jardins e possui uma casa senhorial e uma capela privada anexa às dependências, dedicada a São Tiago.

A casa nasceu a partir de um terreno que pertencia ao Bailiado de Leça e que em 1604 era conhecido pelo nome de Meio Casal de Justa Gonçalves. Nesta época, era constituída por uma exploração agrícola de boas dimensões, com casa de sobrado, cozinha, aidos e celeiro. Aparece na posse de João Dias da Silva. Com o casamento de sua filha D. Ana Maria Dias com Domingos Gonçalves Lopes, é instituído o regime de morgadio. José Gonçalves Lopes, o filho do casal, tornou-se capitão-mor da Baliagem de Malta e administrador da Casa, Morgadio e Vínculo de S. Thiago. Casou-se com D. Ana Maria de Jesus da Silva, filha do Capitão das Ordenanças Manuel da Silva Guimarães e de D. Antónia Maria Martins, senhores das Quintas do Rio e da Devesa, em Ramalde.

Em 1804, ainda pertencia à família Gonçalves Lopes, quando Domingos Gonçalves Lopes (II), filho do anterior, também capitão-mor e administrador da casa, apresenta às instâncias régias um Processo de Justificação de Nobreza com o fundamento de que era descendente das antigas casas da nobreza do Reino, tais como os Silvas, Lopes, Dias e Martins, sendo autorizado o uso de respectivo brasão[5]. Ainda hoje podemos apreciar a pedra de armas alçada sobre o portão principal, em curiosa forma elíptica, no qual estão representadas, no campo esquerdo, as armas dos Lopes, de João Lopes (palmeira e um corvo de asas estendidas pousado nela), com uma brica de prata e, no campo direito, as armas dos Silvas (um leão armado lampassado).

Durante o cerco do Porto, entre 1832 e 1833, pernoitou por diversas vezes na casa o rei D. Miguel, cujas tropas absolutistas se encontravam nestas redondezas.

Apesar da extensão dos bens patrimoniais, tais como as Quintas do Souto, em Leça do Balio, de Alvarelhos e Guidães, da Glória, no lugar da Ermida e de São Félix de Picoutos, o morgado de Sam Thiago entra em decadência, o que vai obrigar a venda da propriedade, até aqui cabeça do morgadio, em 1850, à abastada família portuense Pestana da Silva, que ainda hoje a conserva.

Quinta de São Félix de Picoutos

Infelizmente esta quinta já não existe. Dela só resta a Capela de São Félix.

Na descrição constante no Registo Predial, o comendador Dom Rodrigo Gonçalves Lopes, fez averbar em 1868 que a propriedade era composta pela parte urbana 'com casas nobres de um andar e casas térreas, cavalariça, cocheira, casas de celeiro, palheiros e mais oficinas de lavoura, além de aidos com seus cobertos e enxidos e a parte rústica um jardim com taça, com água de repuxo e de regar, hortas ajardinadas, um campo e um lameiro. É toda murada sobre si e tem também capela de orago de São Félix.

Os mais antigos registos desta quinta datam de 1718. É dado como proprietário Manuel da Silva e Sousa Félix, filho do Dr. Manuel de Sousa Félix, cónego prebendado da Sé do Porto, e de D. Mariana Coelho. Casou com D. Mariana de Sousa.

O falecimento de Manuel da Silva e Sousa Félix foi em 17 de Julho de 1779, tendo sido sepultado na sua capela. Por testamento, foi esta quinta doada ao Padre António Félix de Sousa e Bessa, seu filho.

Em 18 de Outubro de 1782, faleceu o Padre António Félix da Silva e Sousa Bessa, sendo sepultado na mesma capela e sucederam, por vocação legítima, suas irmãs Maria e Rita Angélica, ambas solteiras. Rita Angélica faleceu na quinta de Picoutos a 22 de Outubro de 1804. A sua irmã Maria teria casado com Domingos Gonçalves Lopes, doutor em Cânones pela Universidade de Coimbra, pois ele aparece como concomitante proprietário com as duas irmãs.

Por sua morte, foi herdeiro o seu sobrinho, Rodrigo Gonçalves Lopes, que também faleceu solteiro a 21 de Junho de 1837, tendo deixado a quinta ao seu sobrinho, o comendador D. Rodrigo Gonçalves Lopes, filho de Domingos Gonçalves Lopes, 2º morgado de Santiago.

D. Rodrigo Gonçalves Lopes casou com D. Joaquina Augusta Vaz Preto Lopes e Silva e comprou, na constância do seu matrimónio, o domínio directo a João Luís da Rosa, que, por sua vez, a tinha arrematado à Fazenda Nacional. O motivo desta transacção foi a extinção das Ordens Religiosas e o confisco das suas propriedades para a Fazenda Nacional, sendo depois vendidas em hasta pública.

Eram largos os bens que D. Rodrigo tinha em redor da sua quinta, sendo de destacar a quinta da Glória, situada nos limites dos lugares da Ermida e de Picoutos. A quinta da Glória foi doada a sua filha D. Maria da Glória Félix Vaz Preto Lopes e Silva para o seu casamento, mas com usufruto vitalício a favor do doador.

Devido as vissicitudes da vida, foi esta quinta leiloada, arrematada por Francisco António da Costa Braga que teve-a em seu poder durante 20 anos, até 1892. Foi vendida então por ele ao negociante Cassiano dos Santos de Almeida que tinha feito testamento com trinta anos a 27/12/1888 e que faleceu solteiro e falido na freguesia da Sé a 05/12/893. Em 1894, foi novamente arrematada em hasta pública por Joaquim Pedro de Resende que a vendeu, 4 meses depois, a António Cabral Borges. Em 1901, este vendeu-a a António Moreira Bessa, tendo entrado depois no património de Manuel Quelhas Lima, um dos 8 filhos de António Martins Lima e Amélia dos Santos Quelhas, casado com Maria Júlia Azenha Quelhas Lima. Em 1982, foi arrematada pela Câmara Municipal de Matosinhos; nas décadas seguintes o espaço da quinta, em torno da Capela de São Félix, foi urbanizado.

Ao longo do terceiro quartel do século XVIII até à primeira metade do século XIX, a capela serviu de local de sepultamento para as famílias Sousa Félix e Gonçalves Lopes, em cujas sepulturas se encontram as armas e epitáfios próprios de sua nobreza.

Referências

  1. Sanches de Baêna. Arquivo Histórico-Genealógico. [S.l.: s.n.] 
  2. Almeida Carneiro, Manuel (2003). Quinta do Rio. Porto: [s.n.] pp. 521–544 
  3. Cunha, Manuel (2014). Pedras de Armas do Porto. [S.l.]: Obra Diocesana de Promoção Social 
  4. Valdez, António (1855). Anuário Histórico, Biográfico e Diplomático. Lisboa: [s.n.] pp. p. 127 
  5. Laura Moreira, Alberto de (1960). Pedras de Armas de Matosinhos. Matosinhos: C.M. de Matosinhos