Francisco Alves (livreiro)

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Francisco Alves
Francisco Alves (livreiro)
Nome completo Francisco Alves de Oliveira
Nascimento 1848
Cabeceiras de Basto, Portugal
Morte 29 de junho de 1917 (69 anos)
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Ocupação livreiro

Francisco Alves de Oliveira, mais conhecido por Francisco Alves (Cabeceiras de Basto, 1848Rio de Janeiro, 29 de junho de 1917) foi um livreiro e autor luso-brasileiro, considerado um pioneiro no mercado editorial do país. Veio para o Brasil jovem e sem recursos, estabelecendo-se no Rio de Janeiro, onde depois de algum tempo fundou a Livraria Alves, que chegou a ter filiais em três estados, editando com sucesso obras didáticas.

No testamento deixou seu patrimônio para a Academia Brasileira de Letras,[1] com a obrigação que fosse utilizado na distribuição de prêmios literários e pedagógicos que incentivassem a propagação do ensino primário no Brasil.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Vindo para o Brasil aos quinze anos de idade no ano de 1863, fixou-se no Rio de Janeiro onde em 1854 seu tio Nicolau Alves[nota 1] fundara a "Livraria Clássica", da qual o sobrinho viria depois a ser o proprietário e colocaria seu próprio nome na fachada.[2] Foi inicialmente empregado do tio, depois seu sócio e, finalmente, sucessor.[3]

Alves era um entusiasta da geografia e arqueologia, tornando-se sócio efetivo da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro em 1888. Com o nome de F. d'Oliveira, junto ao sócio parisiense Júlio Monteiro Aillaud publicou uma série de atlas; chegou a preparar um "Atlas Geográfico do Brasil", que seria lançado no centenário da independência em 1922, mas a morte em 1917 interrompeu o projeto.[1]

Dirigiu o empreendimento literário entre 1882 a 1917, ano de sua morte.[2]

Na coletânea de artigos biográficos reunidos pelo professor e editor Aníbal Bragança em 2016, o título da obra "Rei do Livro" faz segundo Marcello Rollemberg "uma brincadeira" com o epíteto dado ao "outro" Francisco Alves, cantor, considerado o "Rei da Voz".[nota 2] O organizador do livro declarou, ali: “Ele, contrariamente ao que era habitual entre os editores de seu tempo, no Brasil, estabelecia contratos de edição, em que o interesse dos autores era respeitado, reconhecia-lhes o valor de seu trabalho, remunerando-os dignamente, mesmo para os padrões atuais”.[2]

Legado[editar | editar código-fonte]

A Revista da Semana, falando de seu testamento, registrou que deixara “uma fortuna calculada em mais de 8.000 contos”.[3] No documento Alves registrou, dentre suas últimas vontades: “Deixo tudo o que possuo à Academia Brasileira de Letras, enquanto ela existir, e, se deixar de existir, à Santa Casa de Misericórdia desta Capital, com as seguintes obrigações: 1ª não alienar os imóveis; 2ª converter em apólices da Dívida Pública Federal as quantias que receber de meus testamenteiros; 3ª fazer, de cinco em cinco anos, dois concursos, um sobre o melhor modo de divulgar o ensino primário no Brasil; outro sobre a língua portuguesa, dando de prêmio às monografias que obtiverem os primeiros lugares dez contos de prêmio a cada uma; as que obtiverem o segundo lugar cinco contos de réis a cada uma e as que obtiverem o terceiro lugar, três contos de réis a cada uma”.[4]

Francisco Alves praticamente monopolizava a publicação das obras didáticas na época, como registrou a Revista da Semana: “fornecedor quase exclusivo dos livros colegiais adotados nas escolas primárias, secundárias e superiores” e, apesar da fortuna amealhada, nunca abandonara “os hábitos modestos em que foi criado, vivendo para o seu negócio, não faltava quem o considerasse um avarento, destituído de sensibilidade. Entretanto, esse homem tenaz, laborioso, autoritário, era capaz de dedicações fervorosas (...) o seu testamento veio, enfim, revelar a grande figura moral que se ocultava nesse comerciante meticuloso”.[3] Entretanto, já em dezembro de 1917 sobrinhos questionaram judicialmente o testamento do milionário, arguindo judicialmente a Academia que, então, pretendia alienar todos os bens e converter o produto em títulos da dívida pública, e pedindo o sequestro dos bens.[5]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • BRAGANÇA, Aníbal (org.) Rei do Livro: Francisco Alves na história do livro e da leitura no Brasil, Edusp, São Paulo, 2016, 352 pág
  • MONIZ, Edmundo. Francisco Alves (Livreiro e Autor). Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2009 (Download)
  • Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro: Encyclopaedia Britannica Editores, 1966. Vol. 1, p.294.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas e referências

Notas

  1. Na grafia da época, Nicoláo Alves.
  2. Embora o crítico Marcello Rollemberg faça essa associação, a Revista da Semana declarou, em notícia de sua morte em 1917, que: "Francisco Alves, a quem um jornalista chamara recentemente o rei dos livros... (itálicos no original),[3] o que dá o epíteto de "rei" do livreiro como anterior ao do cantor, cuja carreira profissional só teria início no ano seguinte.

Referências

  1. a b José Carlos de Macedo Soares (1942). «A identificação do livreiro Francisco Alves». IBGE (Revista Brasileira de Geografia). Consultado em 14 de dezembro de 2023. Cópia arquivada em 18 de agosto de 2022 
  2. a b c Marcello Rollemberg (19 de setembro de 2016). «Livro analisa trajetória da Editora Francisco Alves». Jornal da USP. Consultado em 14 de dezembro de 2023. Cópia arquivada em 22 de abril de 2017 
  3. a b c d «Francisco Alves lega a sua fortuna à Academia Brasileira de Letras». Revista da Semana. 7 de julho de 1917. Consultado em 14 de dezembro de 2023 
  4. «Os milhões do livreiro: a importante questão contra a Academia de Letras». A Rua (131): 6. 15 de maio de 2018. Exemplar disponível na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil 
  5. «Os milhões do livreiro Francisco Alves». A Rua (331): 4. 3 de dezembro de 2017. Exemplar disponível na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional do Brasil 
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