Fuga para o Egito na arte

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Rembrandt - Fuga para o Egito

A Fuga para o Egito e o tema correlato do Descanso na Fuga para o Egito têm sido uma inspiração recorrente para numerosos e afamados artistas no campo[1][2] da arte cristã. A iconografia é muito variada embora tenham sempre elementos comuns.

A cena figurada da ¨fuga¨, propriamente dita, é a mesma, basicamente, em todas as representações: a Virgem Maria com o Menino Jesus no colo montada em um burrico e seu esposo São José os conduzindo a pé. A cena do descanso comporta várias interpretações e composição de personagens, mesmo porque esta paragem não é narrada nos escritos bíblicos, tal como a anterior o é. As cenas do ¨descanso¨ normalmente são uma pintura de paisagem.

As obras retratam a viagem bíblica do recém-nascido Jesus Cristo, juntamente com a Virgem Maria, sua mãe, e São José, seu esposo, conforme descrito no Evangelho de Mateus (Mateus 2:13–23). O Evangelho descreve a fuga da Sagrada Família como resultado de uma visão de um anjo, que disse a José para levá-los para o Egito, já que o Rei Herodes, o Grande tinha a intensão de matar o menino (Mateus 2:13). Segundo os relatos bíblicos, o Rei Herodes mandou matar as crianças que teriam aproximadamente a idade do Menino Jesus em um episódio conhecido como Massacre dos Inocentes. O evangelista Mateus afirma que a Sagrada Família permaneceu no Egito até a morte do Rei Herodes quando então voltaram para a Galileia e se estabeleceram em Nazaré.

Fuga[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Caravaggio - Descanso na Fuga para o Egito - Galeria Doria Pamphilj, Roma

A Fuga para o Egito era um assunto popular na arte, mostrando Maria com o bebê em um burrico, liderada por José, tomando emprestada a iconografia mais antiga da viagem nas representações bizantinas. No entanto, José às vezes está segurando a criança em seus ombros[3]. Antes de cerca de 1525, geralmente fazia parte de um ciclo maior, seja da Natividade, seja da Vida de Cristo ou da Vida da Virgem Maria.

O Evangelho de Mateus contém a única referência bíblica à Fuga para o Egito. E, no entanto, a partir desse início lacônico, uma extensa iconografia desenvolveu-se, inspirando muitos artistas, desde o século VIII até o nos dias atuais.

A arte tem sido um elemento integral da identidade cristã desde a Antiguidade Tardia[4]. O catolicismo medieval, por exemplo, valorizava relíquias e peregrinações para visitá-las e era comum que Igrejas e obras de arte específicas fossem encomendadas para honrar os santos e a Virgem Maria.

Apesar dos movimentos iconoclastas, o magistério da Igreja Católica, por exemplo, valoriza as imagens e representações artísticas de diversas naturezas. O Catecismo da Igreja Católica explicitamente refere ao assunto em um de seus parágrafos:

    • §1160 – A iconografia cristã transcreve pela imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura transmite pela palavra. Imagem e palavra iluminam-se mutuamente.

Naturalmente, portanto, que na Civilização Ocidental Cristã, em que a Igreja teve influência tanto religiosa quanto política e cultural, as imagens e símbolos religiosos tenham adquirido grande destaque. E natural, também, que os grandes artistas destes períodos tenham se debruçado sobre temas do cristianismo.

São João Damasceno expressou-se da seguinte forma enaltecendo as produções artísticas que causavam nele profundo enlevo (CIC §1162):

    • A beleza e a cor das imagens estimulam minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo do campo estimula meu coração a dar glória a Deus.

Obras temáticas relacionadas[editar | editar código-fonte]

Descanso[editar | editar código-fonte]

Murillo - Descanso na Fuga para o Egito

Tal qual a cena da Fuga para o Egito, as representações do Descanso na Fuga para o Egito são muitíssimo retratadas na História da Arte. Embora não exista nenhuma referência nos Evangelhos sobre tal evento, evidentemente que, em uma viagem tão longa tenham havido inúmeras paragens, mas não há descrição de nenhuma ocorrência nelas. A liberdade artística, então, se fez mais presente, sendo notável nas obras que a figuram.

Nas representações do descanso são frequentemente adicionadas nas obras diversos personagens que nas figurações da fuga, simplesmente, não participam do cenário. As figurações da fuga são mais sóbrias que as do descanso, nas quais os artistas se permitiram mais liberdade de expressão.

Em duas obras de Murillo, por exemplo, podemos notar estas diferenciações: na obra sobre a fuga (Fuga para o Egito), restritamente, o cenário é sóbrio e não há personagens adicionais; na obra sobre o descanso (Descanso na Fuga para o Egito), ele apresenta personagens adicionais.

Uma tela de Caravaggio retrata um anjo tocando violino - um instrumento que nem sequer existia ao tempo dos acontecimentos ocorridos - para a Sagrada Família em descanso (Descanso na Fuga para o Egito (Caravaggio)).

É bem possível, então, que os artistas tenham se contido no que é o relato bíblico, explicitamente, e tenham expandido suas interpretações em um acontecimento que não faz parte das Sagradas Escrituras, mas parte de uma tradição.

Obras temáticas relacionadas[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p. 9.
  2. BOURDIEU, Pierre. As Regras de Arte. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
  3. Terrier Aliferis, L., "Joseph christophore dans la Fuite en Egypte", Zeitschrift für Kunstgeschichte, 2016
  4. Distinctively Catholic: an exploration of Catholic identity. Daniel Donovan 1997 ISBN 0-8091-3750-X pp. 96–98