Guerra Civil nas Ilhas Salomão

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Guerra Civil nas Ilhas Salomão

Mapa das Ilhas Salomão
Data 1998 - 2003
Local Ilhas Salomão
Casus belli Tensão entre Guadalcanal e Malaita.
Desfecho
Beligerantes
Ilhas Salomão Governo das Ilhas Salomão

Apoiado por:

Malaita Eagle Force

Apoiado por:

  • Outras milícias desorganizadas
Isatabu Freedom Movement

Apoiado por:

  • Outras milícias desorganizadas
Comandantes
Allan Kemakeza

Snyder Rini
Manasseh Sogavare
Derek Sikua
Danny Philip
Gordon Darcy Lilo
Nick Warner
Peter Noble

Sekove Naqiolevu
Jimmy Lusibaea Harold Keke
Forças
Ilhas Salomão

~1.150 policias

RAMSI 7400 soldados

1700 policias
Desconhecido Desconhecido

A Guerra Civil nas Ilhas Salomão, habitualmente referida como tensão étnica (em inglês: The Tensions), foi caracterizada principalmente pelo combate entre o Movimento de Libertação Isatabu (também conhecido como Exército Revolucionário de Guadalcanal) e a Força Águia de Malaita (Malaita Eagle Force; ou Marau Eagle Force).

Antecedentes[editar | editar código-fonte]

Crise de migração[editar | editar código-fonte]

De 1970 a 1999, a população das Ilhas Salomão cresceu 254%, com Malaita representando 30% da população do país em 1999, bem como Guadalcanal e Província Ocidental com 15% cada.[1] A extração de madeira durante o período da década de 1990 foi a maior exportação das Ilhas Salomão, com a Província Ocidental fornecendo 51% de todas as exportações de madeira, Guadalcanal entre 10-12% e Malaita apenas 6%.[1] Recursos mal distribuídos entre as províncias levaram a uma diferença acentuada entre a população e as receitas de exportação.[1] Foi essa distribuição desigual que levou a uma crise migratória na capital de Honiara, à medida que as pessoas procuravam trabalho a partir do início dos anos 1980. A violência aumentou em 1998, devido ao desagrado das pessoas com a forma como o governo distribuiu as receitas de exportação e as crescentes diferenças culturais domésticas entre as províncias.

Ambiente político[editar | editar código-fonte]

Após a eleição de Bartholomew Ulufa'alu como primeiro-ministro em 1997, a situação no país começou a deteriorar-se. As tensões entre os malaios que migravam para Guadalcanal e os nativos dessas ilhas começaram a aumentar. A situação era tensa e as milícias começaram a se formar para cuidar dos interesses de seus respectivos grupos étnicos. As mais relevantes foram o Movimento de Libertação Isatabu do lado do povo de Guadalcanal e a Força Águia de Malaita do lado dos malaitianos. Em última análise, as tensões mergulharam o país em uma espécie de guerra civil.[2]

Conflito[editar | editar código-fonte]

Primeira fase[editar | editar código-fonte]

No final de 1998, os militantes da ilha de Guadalcanal começaram uma campanha de intimidação e violência contra colonos de Malaita. No início de 1999, as tensões entre os habitantes de Guadalcanal e imigrantes vindos da ilha vizinha de Malaita, levaram a confrontos violentos.[3] O Exército Revolucionário de Guadalcanal, mais tarde conhecido como Movimento de Libertação Isatabu, exigia um governo federal para a ilha de Guadalcanal e a alteração de seu nome para Isatabu,[4] começando a realizar ações terroristas contra os malaitanos de áreas rurais, com a intenção de forçá-los a deixar suas casas. Cerca de 20.000 malaitanos fugiram e se mudaram para a capital (Honiara) ou para a ilha de Malaita.

Enquanto isso, a Força Águia de Malaita foi criada em resposta para defender os interesses dos malaitanos. O governo não teve escolha a não ser procurar a ajuda do Secretário-Geral da Commonwealth. Em 28 de junho de 1999, chegou-se ao Acordo de Paz de Honiara. O governo reformista de Bartholomew Ulufa'alu esforçou-se para responder às complexidades do conflito em evolução. No final de 1999, o governo declarou estado de emergência de quatro meses. Houve também uma série de tentativas de reconciliação, mas sem sucesso. Apesar de uma aparente resolução do conflito, os problemas permaneceram e em junho de 2000 a violência irrompeu novamente violando o acordo de paz.

Em 5 de junho de 2000, a Força Águia de Malaita conseguiu invadir o parlamento com a ajuda de vários tanques; Ulufa'alu foi sequestrado e, embora fosse um malaita, foi alegado que ele não estaria fazendo o suficiente para proteger os interesses de seu povo.[5] Ulufa'alu posteriormente renunciou em troca de sua libertação. O primeiro-ministro Bartholomew Ulufa'alu, foi então, deposto[6]. Em 30 de junho, o parlamento elegeu por uma margem estreita Manasseh Sogavare - que já havia sido ministro da Fazenda no governo de Ulufa'alu mas posteriormente se juntou à oposição - como novo primeiro-ministro. Sogovare criou uma Coalizão para União Nacional, Reconciliação e Paz, que estabeleceu um programa de ações para tentar resolver o problema étnico, melhorar a economia e difundir os benefícios do desenvolvimento de forma mais equitativa. No entanto, o governo Sogarave foi extremamente corrupto e suas medidas levaram a uma deterioração da economia, da lei e da ordem.

O conflito foi causado principalmente pelo acesso à terra e outros recursos, e as revoltas e combates centralizaram-se na capital, Honiara. As mortes foram estimadas em centenas e cerca de 30.000 deslocados, principalmente malaitanos. Por causa dos combates, a atividade econômica de Guadalcanal foi profundamente afetada. Tal situação levou a um colapso da economia.[7] Os funcionários públicos não receberam salário durante meses em um período e reuniões do governo tiveram que ser mantidas em segredo para evitar intervenções dos senhores da guerra. As forças de segurança foram incapazes de restaurar a ordem e muitas de seus efetivos se aproveitaram para tomar partido de um lado ou de outro.

Em outubro de 2000, o Acordo de Paz de Townsville, [8] foi assinado pela Força Águia de Malaita, membros do Movimento de Libertação Isatabu e do governo das Ilhas Salomão. Imediatamente após, foi assinado em fevereiro de 2001 o Acordo de Paz de Marau pela Força Águia de Malaita, pelo Movimento de Libertação Isatabu, pelo Governo Provincial de Guadalcanal e pelo governo das Ilhas Salomão. No entanto, um importante líder militante de Guadalcanal, Harold Keke, recusou-se a assinar o acordo, causando uma cisão com os grupos. Posteriormente, os signatários do acordo liderados por Andrew Te'e juntaram-se com a polícia dominada pelos malaitas para formar a "Força de Operações Conjuntas". Durante os próximos dois anos, o conflito deslocou-se para a costa de Guadalcanal com as Operações Conjuntas tentando sem sucesso capturar Keke e seu grupo.

Segunda fase[editar | editar código-fonte]

Em julho de 2003, o Governador Geral das Ilhas Salomão, com o apoio unânime do Parlamento, pediu ajuda internacional para resolver o conflito. O governo aprovou uma lei para dar amplos poderes às tropas internacionais.

Após o anúncio do envio de 300 agentes policiais e 2000 tropas da Austrália, Nova Zelândia, Fiji e Papua-Nova Guiné para Guadalcanal[9][10], o senhor da guerra Harold Keke declarou um cessar-fogo por fax em uma cópia assinada do anúncio do primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Allan Kemakeza. Keke ostensivamente lidera a Frente de Libertação de Guadalcanal, mas tem sido descrito como bandido saqueador com base na isolada costa sudoeste (Weather Coast) de Guadalcanal. [11]

Em meados de julho de 2003, o parlamento das Ilhas Salomão votou por unanimidade a favor da proposta de intervenção. A força internacional começou a se reunir em um centro de treinamento em Townsville. Em agosto de 2003, uma força de paz internacional, conhecida como a Missão de Assistência Regional para as Ilhas Salomão (RAMSI) e Operação Helpem Fren, ingressou nas ilhas. Atua, desde então, como uma força policial provisória e é responsável por restaurar a lei e a ordem no país.[9] As forças de paz foram bem sucedidas na melhoria das condições de segurança do país em geral,[2] incluindo a intermediação da rendição do famoso senhor da guerra Harold Keke em agosto de 2003.

Consequências da guerra[editar | editar código-fonte]

Nessa época alguns analistas consideraram o país como um Estado falido[12] No entanto, outros acadêmicos argumentaram que ao invés de ser um "Estado falido", é um estado sem forma: um estado que nunca foi consolidado após décadas desde a independência [13].

Em 2009, o governo estabeleceu uma Comissão da Verdade e da Reconciliação, com a assistência do arcebispo sul-africano Desmond Tutu, para "abordar as experiências traumáticas das pessoas durante o conflito étnico de cinco anos em Guadalcanal".[14][15]

A partir de então situação se estabilizou, mas o país enfrenta sérios problemas econômicos, desmatamento e malária.[2] Assim, a RAMSI seria oficialmente dissolvida em junho de 2017; embora desde 2013 os soldados já estivessem se retirando.[16][17]

Referências

  1. a b c Scales, Ian (2007). «The Coup Nobody Noticed: The Solomon Islands Western State Movement in 2000». The Journal of Pacific History. 42: 187–209. doi:10.1080/00223340701461643 – via JSTOR 
  2. a b c Solomon Islands: Restoration of law and order by regional intervention force allows for the return of the displaced. reliefweb. 18 de março de 2004.
  3. «UE estuda um reforço no apoio internacional às Ilhas Salomão». Correio do Brasil. 28 de julho de 2003 
  4. John Houainamo Naitoro, Solomon Islands conflict: demands for historical rectification and restorative justice., 2000, Asia Pacific Press at the Australian National University.[1] Arquivado em 21 de setembro de 2009, no Wayback Machine.
  5. "PM taken hostage in Solomon Islands", The Guardian, 6 de Junho de 2000
  6. Australian and New Zealand seek to impose settlement on Solomons conflict
  7. «Solomon Islands - Charting the Pacific - Places». ABC. 2005 
  8. Untitled Document Arquivado em 10 de fevereiro de 2011, no Wayback Machine. at www.commerce.gov.sb
  9. a b «Cruz Vermelha restabelece presença nas Ilhas Salomão». Folha Online. 24 de julho de 2003 
  10. «Australia formaliza su despliegue de tropas en las Islas Salomón». lavanguardia.com. 22 de julho de 2003 
  11. «First troops head for Solomons». CNN.com. 21 de julho de 2003 
  12. Solomon Is: Failed State or Not Failed State? Arquivado em 10 de novembro de 2003, no Wayback Machine. 29 de outubro de 2003. Pacific Magazine'.'
  13. Pillars and Shadows: Statebuilding as Peacebuilding in Solomon Islands, J. Braithwaite, S. Dinnen, M.Allen, V. Braithwaite & H. Charlesworth, Canberra, ANU E Press: 2010.
  14. «Solomon Islands moves closer to establishing truth and reconciliation commission». Radio New Zealand International. 4 de setembro de 2008 
  15. "Archbishop Tutu to Visit Solomon Islands", Solomon Times, 4 de fevereiro de 2009
  16. «Final Solomon Islands infantry rotation returns home». Australian Defence Department News 
  17. «Solomon Islands at a crossroads as Australian-led assistance mission bids farewell». ABC NEWS. 28 de junho de 2017 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]