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Hino da Restauração

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Hino da Restauração
O Primeiro de Dezembro de 1640
Hino da Restauração
Capa da primeira edição da peça 1640 ou a Restauração de Portugal, 1861

Hino patriótico português
Letra Francisco Duarte de Almeida Araújo e Francisco Joaquim da Costa Braga
Composição Eugénio Ricardo Monteiro de Almeida, 1861

O "Hino da Restauração", é um hino patriótico português composto em 1861, por Eugénio Ricardo Monteiro de Almeida, para a peça teatral 1640 ou a Restauração de Portugal.[1]

De grande popularidade, chegou até aos nossos dias a ser tocado nas comemorações oficiais do 1.º de Dezembro, sobretudo, a partir de 2012, como parte final do Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas, em Lisboa.

História[editar | editar código-fonte]

O antigo Teatro da Rua dos Condes, onde pela primeira vez se executou o Hino da Restauração

A peça de teatro 1640 ou a Restauração de Portugal, fruto da parceria dos dramaturgos Francisco Duarte de Almeida Araújo e Francisco Joaquim da Costa Braga, estreou-se no Teatro da Rua dos Condes, em Lisboa, a 29 de Outubro de 1861, dia do aniversário de D. Fernando II. A estreia foi um sucesso, na qual os autores foram chamados quatro vezes ao palco, e prolongou-se com enchentes extraordinárias nas récitas subsequentes. O estrondoso êxito de bilheteira fez com que outros teatros disputassem os direitos da sua representação, como o Teatro Baquet no Porto, e o teatro de Braga. A repentina e precoce morte de D. Pedro V em Novembro daquele ano fez com que se sugerisse a suspensão dos festejos do 1.º de Dezembro nesse ano; apesar disso, a Restauração de Portugal subiu à cena no Teatro da Rua dos Condes naquela noite, com redobrado sucesso. O semanário portuense A Independência relatou que "às palavras — Viva o Rei! — com que termina o drama, ergueram-se todos os espectadores dos camarotes e da plateia, repetindo o viva com respeitoso entusiasmo. O teatro estava cheio a transbordar."[2]

Uma das fontes de fascínio do público teriam sido as composições musicais, catorze ao todo, compostas por Eugénio Ricardo Monteiro de Almeida, das quais se destacou a que viria a ser conhecida como o "Hino da Restauração"; peça com que a representação encerrava em apoteose, no quadro que representava a aclamação de D. João IV.[2] Para acompanhar esta cena, antes de compor uma música nova, Monteiro de Almeida teria feito diligências para encontrar música própria da época, mas infrutiferamente. Mais tarde, viria a publicar este hino que compôs, sob o título "O Primeiro de Dezembro de 1640".[3] A partitura foi vendida com êxito e executada por inúmeras bandas, já fora dos teatros,[2] fazendo sucesso enquanto canção patriótica, sobretudo no contexto da onda anti-iberista do século XIX português.

Inauguração do Monumento aos Restauradores, em 1886

A sua importância era tanta, que chegava mesmo a haver desacatos quando alguns dos espectadores não davam mostras do devido respeito quando era executado publicamente: há notícias de grande agitação no Teatro D. Luís em Coimbra, na noite do 1.º de Dezembro de 1868, quando três indivíduos permaneceram sentados e com a cabeça coberta quando se interpretou o Hino da Restauração e o auditório dava vivas à independência (após vozearia e pateada da plateia, os transgressores tiveram que retirar-se da sala); no 1.º de Dezembro de 1869, o escritor Luís Augusto Rebelo da Silva viu-se alvo de acusações de meia Lisboa, nos cafés e nos jornais, por não se ter mantido de pé durante a entoação do Hino da Restauração no Teatro de São Carlos, e viu-se obrigado a retratar-se em carta aberta no jornal Gazeta do Povo pela sua "inocente distracção".[2][1]

Em 28 de Abril de 1886, o Monumento aos Restauradores em Lisboa foi inaugurado pelo rei D. Luís e pelo Príncipe D. Carlos, ao som do Hino da Restauração.[4]

Letra[editar | editar código-fonte]

A letra original, de 1861, é a seguinte:[1]

A letra actual não corresponde a esta original, tendo sofrido algumas adaptações já durante a República com o objectivo de, por um lado, simplificar a linguagem e, por outro, expurgar da letra alusões régias de acentuada carga monárquica que soariam desenquadradas nas celebrações do feriado no novo regime.[1]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c d Ribeiro e Castro, José (2012). 1 de Dezembro, Dia de Portugal. Portugal: Principia. pp. 81–82. ISBN 9789897160721 
  2. a b c d Pereira, Maria da Conceição Meireles (2004). Faculdade de Letras da Universidade do Porto, ed. A pena em vez da espada: teatro e questão ibérica. Literatura e História – Actas do Colóquio Internacional. II. Porto. pp. 71–101. Consultado em 7 de Julho de 2024 
  3. Pimentel, Alberto (1885). A Musa das Revoluções: memoria sobre a poesia popular portugueza nos acontecimentos politicos. Lisboa: Viuva Bertrand & C.ª sucessores Carvalho & C.ª. pp. 85–87 
  4. «Inauguração do monumento aos restauradores da independência de Portugal». O Occidente. IX (265). 98 páginas. 1 de Maio de 1886. Consultado em 8 de Julho de 2024