Ilha Vozrojdenia
Vozrojdenia (em russo: Возрождения: 'Renascimento') era a principal das ilhas no interior do Mar de Aral. Em decorrência do desvio dos rios que alimentavam o Mar de Aral (Amu Darya e Syr Darya),[1] ocorreu uma drástica redução do nível das águas do Mar de Aral, e a ilha tornou-se uma península. Atualmente é um território dividido entre Cazaquistão e Uzbequistão.
Produção de armas biológicas
[editar | editar código-fonte]Em 1948, um laboratório soviético secreto, destinado a testes de armas biológicas, foi construído em Vozrojdenia. Em 1988, centenas de toneladas de bactérias do antraz - o suficiente para destruir o mundo várias vezes - foram colocados em gigantescos recipientes de aço. Foi usada lixívia para descontaminar a carga letal, que, em seguida, foi despachada num trem para a ilha. Lá, soldados russos cavaram enormes fossos, despejaram a lama no solo e a enterraram.[2] A base foi abandonada em 1992 depois do colapso da URSS, com a desintegração do Exército Vermelho.[2][3]
Contaminação do solo
[editar | editar código-fonte]Em 1998, testes feitos com amostras do solo dos fossos, onde as bactérias do antraz haviam sido enterradas, mostraram que ainda havia esporos vivos - e potencialmente letais.[2]
É possível que nesse laboratório esteja na origem do antraz dos ataques biológicos ocorridos nos Estados Unidos, em 2001.[4][5] Missões científicas demonstraram que o local era usado para a produção, análise e eliminação de armas biológicas.[4][6]
Uma equipe dos EUA visitou a ilha após os ataques de 11 de Setembro de 2001, supostamente para descontaminar os aterros infectados sobretudo por esporos do Bacillus anthracis, bactéria causadora do antraz.[7] Na verdade, a missão do grupo era verificar se haveria ali algum tipo de arma biológica que pudesse cair nas mãos de terroristas .[8]
Quase todos os agentes responsáveis pelas doenças mortais testados em Vozrozhdeniye são rapidamente destruídos quando expostos à luz ultravioleta. O solo arenoso, a esparsa vegetação da ilha e as altas temperaturas, que chegam a 60°C no verão, reduzem drasticamente a possibilidade de sobrevivência dos microorganismos patogênicos. A exceção importante é o antraz, um esporo que sobrevive a todos os outros, podendo persistir no solo por um período muito longo. E, se quaisquer esporos atingirem os pulmões, a probabilidade de morte é quase sempre superior a 90%. Especialistas estimam que a descontaminação da ilha requeira mais de 40 anos.[8] A exposição aos esporos pode significar uma nova ameaça para uma população cuja condição sanitária já é precária. Resta saber quais das muitas das doenças que afetam a região são atribuíveis à pobreza e à degradação ambiental e quais podem estar ligadadas à sua herança biológica e química.[2]
Em 2002, através de um projeto organizado e financiado pelos Estados Unidos com a assistência do Uzbequistão, dez locais onde antraz foi enterrado foram descontaminados.[9]
Referências
- ↑ GlobalSecurity. Weapons of Mass Destruction (WMD) - Vozrozhdeniye Island
- ↑ a b c d Judith Miller. «Cold war leaves a deadly anthrax legacy» (em inglês). 2 de junho de 1999
- ↑ Don Knapp. «Anthrax 'time bomb' ticking in Aral Sea, researchers say» (em inglês). CNN, 22 de junho de 1999
- ↑ a b Mike Nartker. «Central Asian Countries Pose Proliferation Risks, Have Helped Strengthen Nonproliferation Agreements, Experts Say» (em inglês). Nuclear Threat Initiative (NTI), 6 de outubro de 2003
- ↑ Fred Weir. «From the cold war, lessons in combating anthrax» (em inglês). The Christian Science Monitor, 18 de outubro de 2001
- ↑ Gulbarshyn Bozheyeva, Yerlan Kunakbayev, Dastan Yeleukenov. «Former Soviet Biological Weapons Facilities in Kazakhstan: Past, Present, and Future» (em inglês). James Martin Center. Nonproliferation Studies (CNS)
- ↑ Global Securiy Newswire. «Uzbekistan: U.S. Team Arrives on Vozrozhdeniya» (em inglês). nti.org. Consultado em 6 de junho de 2010. Arquivado do original em 4 de março de 2008
- ↑ a b Welcome to anthrax island. Por Nick Middleton. The Guardian, 21 de abril de 2005
- ↑ Powell, Bill (16 de setembro de 2002). «Are We Safe Yet? For all the warnings, there hasn't been another attack. But the hard work of enhancing homeland security has only just begun. Here's what we need to do». CNN