Jacinto Palma Dias

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Jacinto Palma Dias
Nascimento 11 de Outubro de 1945
Castro Marim
Morte 11 de Setembro de 2020
Nacionalidade português
Filho(a)(s) Dinis Dias e Rosa Dias
Ocupação Investigador, professor, escritor, agricultor

Jacinto Palma Dias (Castro Marim, 11 de Outubro de 1945 - 11 de Setembro de 2020) foi um investigador, professor, escritor e agricultor português.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Primeiros anos[editar | editar código-fonte]

Nasceu em 11 de Outubro de 1945, na vila de Castro Marim.[1]

Segundo um relato do próprio sobre os seus tempos de estudante, primeiro frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa e depois mudou-se para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.[2] Durante a sua permanência em Coimbra esteve ligado a vários indivíduos e associações contra a ditatura nacional, tendo sido um dos estudantes que liderou a greve aos exames na Faculdade de Letras em 1969.[2] O regime reprimiu violentamente o movimento estudantil, tendo vários participantes sido suspensos e outros incorporados nas forças que combatiam na guerra colonial.[2] Jacinto Palma Dias refugiou-se no estrangeiro, primeiro em Bruxelas, onde chegou no Outono desse ano, tendo assistido às aulas de Pierre Verstraeten (fr)[2] e Gilles Deleuze. Em 1973, concluiu a licenciatura em História na Université VIII de Paris.[2]


Carreira profissional


Após a conclusão do curso, ficou em França, onde trabalhou como investigador.

Voltou a Portugal em 1975, na sequência da Revolução de 25 de Abril de 1974, tendo leccionado como professor de Linguística na Escola do Magistério Primário de Faro em 1975/76, e como professor da disciplina de História nas Escolas Secundárias de Vila Real de Santo António e de Tavira entre 1977 e 1984. Proponente e Sócio fundador do Café-Concerto “Lábios Nus”, no início da década de 80, espaço emblemático e vanguardista, na área das artes, em Faro. Foi um importante investigador da história e do período contemporâneo do Algarve, tendo sido pioneiro no estudo e análise de elementos decorativos da arquitectura popular algarvia, devolvendo a importância e visibilidade às platibandas [3] como parte da cultura material e da identidade algarvias no seu livro “O Algarve Revisitado”, cuja edição esgotou a nivel nacional. Ficou conhecido principalmente pelos seus esforços contra a progressiva descaracterização da região [4], tendo sido um acérrimo defensor da cultura, do património e da natureza algarvias[5] . Sócio fundador e membro da Direcção da Associação dos Amigos do Algarve, co-organizou, em 1990, a primeira exposição sobre a cultura algarvia em Nova York, sob o título “O Algarve invisível” no departamento de Antropologia de The City University of New York, sob curadoria de Cristiana Bastos. Foi considerado uma grande figura na cultura algarvia[6] . Em 2007, participou num documentário sobre o poeta algarvio João Lúcio Pousão Pereira, produzido pela Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão e pela Ecoteca de Olhão, onde discorreu sobre a arquitetura do Challet de

Olhão, construído pelo poeta. Em Setembro de 2016, foi um dos autores convidados durante a inauguração da exposição de artes plásticas Peregrinação a partir dos painéis de São Vicente na Fortaleza de Sagres. Jacinto Palma Dias foi também um dos pioneiros da agricultura biológica, em Portugal e no Algarve, tendo implementado a partir da década de 80, pomares de figueiras em linha na Quinta da Fornalha, de albricoques na Fazenda (S. Bartolomeu do Sul), de abacateiros no Padre Filipe (Altura) e de Alfarrobeiras. Construiu 5 barragens (Eucaliptos, Pinheira, Lagoa Velha, Rio Seco e Aroucas), uma

das quais é actualmente muito frequentada lúdicamente pela população do concelho de Castro Marim. Ainda na década de 80, foi sócio fundador e membro da Direcção da Frusoal – Frutas do Sotavento Algarve, Lda, integrou a direcção da Cooperativa de Produtores de Leite de Vila Real de Santo António e fundou a URZE – associação de agricultores biológicos. Nos anos 90, reformulou a exploração pecuária de vacas leiteiras para o modo de produção biológico, inaugurando em Portugal a produção e comercialização de leite biológico, na altura distribuído pelo Pingo Doce.

Proprietário de salinas tradicionais em Castro Marim, foi o primeiro produtor a enviar para a Nature & Progrès o sal para análise ( 1996), indicando assim o caminho para a Certificação de Qualidade do sal e flor de sal do Algarve. Esta acção contribuiu decisivamente para a revitalização das salinas tradicionais no Algarve, que dinamizou como Sócio fundador e Presidente da Tradisal – Associação dos Produtores de Sal Marinho Tradicional do Sotavento Algarvio (1998). Foi responsável pela publicação de vários ensaios e livros sobre a região do Algarve.[3] A sua primeira obra, “O Algarve Revisitado”, foi lançada em 1994, com fotografias de João Brissos, sendo dedicada principalmente ao tema das platibandas algarvias. Publica depois a obra “A metáfora da água, da terra e da luz na mitologia do Algarve arcaico” em 1999. Já no séc. XXI, publica “O Algarve em 3D”, que versa sobre a Arquitectura, Gastronomia e Biodiversidade no Algarve, tendo sido apresentado a 8 de Maio de 2015, numa cerimónia na Casa do Sal, em Castro Marim, e encontra-se igualmente publicado numa tradução Inglesa sob o título: “The Algarve - An amazing journey through Architecture, Gastronomy and

Biodiversity”. Em 2016, publica “Portugal antes de Portugal “(2016), uma obra que recupera a importância da cultura moçarabe na formação da história e cultura portuguesas. Segue-se-lhe “Estéticas e Inestéticas no Algarve contemporâneo” em 2017, “A Caravela Portuguesa” em 2019, e “Algarve Manifesto”, cuja segunda edição foi lançada em 2019. Colaborou igualmente para os periódicos Jornal do Algarve[5], Barlavento, e Jornal Expresso destacando-se os seus artigos de opinião sobre a corrente artística do Modernismo no Algarve.[3]. Foi ainda letrista da banda Cool & Zeus, composta por António Cavaleiro, Michael Agostinho, Iuri Maló, Filipe Ferreira e Vítor Afonso.

Falecimento[editar | editar código-fonte]

Faleceu em 11 de Setembro de 2020, devido a uma doença oncológica.[3] O velório teve lugar em São João de Deus, em Lisboa, tendo o corpo sido depois cremado no cemitério do Alto de São João.[3]

Referências

  1. «Até sempre Jacinto!». Postal do Algarve. 12 de Setembro de 2020. Consultado em 12 de Dezembro de 2020 
  2. a b c d e «Jacinto Palma Dias: Coimbra sem travões». Esquerda. 14 de Novembro de 2020. Consultado em 12 de Dezembro de 2020 
  3. a b c d e «Faleceu Jacinto Palma Dias, escritor e historiador do Algarve». Barlavento. 12 de Setembro de 2020. Consultado em 12 de Dezembro de 2020 
  4. RODRIGUES, Hugo (12 de Setembro de 2020). «Morreu Jacinto Palma Dias, o pensador que revisitou o Algarve». Sul Informação. Consultado em 12 de Dezembro de 2020 
  5. a b REIS, Fernando (12 de Setembro de 2020). «Faleceu Jacinto Dias um dos mais proeminentes pensadores algarvios». Jornal do Algarve. Consultado em 12 de Dezembro de 2020 
  6. GOMES, Neto (19 de Setembro de 2020). «Remate certeiro: Faleceram Jacinto Palma Dias e Deodato Pires». Jornal do Algarve. Consultado em 12 de Dezembro de 2020 


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