James Francis Carney

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James Francis Carney
Nascimento 28 de outubro de 1924
Chicago
Morte 1983
Honduras
Residência Honduras
Cidadania Honduras
Alma mater
Ocupação teólogo, padre
Religião Igreja Católica

James Francis Carney (Chicago, 28 de outubro de 1924 - desaparecido em El Aguacate, Olancho, 16 de setembro de 1983), conhecido como Padre Guadalupe Carney, foi um padre jesuíta estadunidense, detido desaparecido em Honduras enquanto acompanhava uma coluna da insurgência daquele país.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Depois de servir no Exército dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, ingressou na Companhia de Jesus como noviço em 1948. Em 1955, viajou como missionário para Belize, onde permaneceu por três anos. Em 1961 foi ordenado sacerdote e destinado à missão jesuíta nos departamentos de Colón e Yoro, em Honduras, áreas onde a maioria da população vivia em condições de extrema pobreza.

Em 1973, obteve a nacionalidade hondurenha por naturalização. Carney procurou aproximar-se dos seus paroquianos e compartilhar as limitações da sua vida quotidiana. Assim, com autorização de seus superiores, viveu em uma casa feita de folhas de manacá que havia construído no setor Guaymas, departamento de Yoro.[1] Em 1978, fundou o Movimento de Cristãos pela Justiça na cidade de El Progreso, cujo objetivo era: “incorporar cada dia mais cristãos na luta pela paz autêntica em Honduras”.[2]

Seu trabalho pastoral com os camponeses e sua simpatia pela teologia da libertação fizeram com que a Junta Militar chefiada pelo General Policarpo Paz García o privasse de sua carta de naturalização e o expulsasse para a Nicarágua em novembro de 1979. Em 1980, publicou uma carta aberta aos movimentos sociais hondurenhos, denunciando a ilegalidade de sua expulsão.[3]

Enquanto vivia na Nicarágua, Carney conheceu o Dr. José María Reyes Mata, líder hondurenho do Partido Revolucionário dos Trabalhadores Centro-Americanos de Honduras (PRTC-H), uma organização insurgente que buscava a derrubada do regime militar em Honduras. O Padre Carney concordou em prestar acompanhamento pastoral a uma coluna do PRTC-H, que entrou em território hondurenho vindo da Nicarágua em julho de 1983, embora se abstivesse de portar armas, limitando-se ao trabalho de capelão.[4]

O governo hondurenho afirmou que o padre Carney morreu por falta de alimentos juntamente com os outros membros da coluna guerrilheira em setembro de 1983, mas dados recolhidos por organizações de direitos humanos indicam que ele foi detido e "desaparecido" em 16 de setembro daquele ano por membros do Batalhão 3-16,[5] a unidade de inteligência do Exército de Honduras que era assessorada por especialistas da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos.[1][6]

Durante os anos posteriores ao seu desaparecimento, os familiares do Padre Carney e organizações de direitos humanos promoveram pesquisas nos arquivos de segurança nacional dos Estados Unidos, com o objetivo de esclarecer o papel do aparato de inteligência estadunidense na repressão dos opositores políticos nas Honduras. Um relatório dos arquivos desclassificados obtidos através desses esforços foi publicado em 1997.[7]

Referências

  1. a b «A 33 años de su desaparición forzada, la lucha del Padre Lupe sigue vigente» (em espanhol). Radio Progreso. 16 de setembro de 2016. Cópia arquivada em 3 de janeiro de 2018 
  2. «Padre Guadalupe». www.codeh.hn (em espanhol). Comité para la Defensa de los Derechos Humanos en Honduras 
  3. Carney, Guadalupe (13 de maio de 1980). «CARTA ABIERTA A LAS ORGANIZACIONES POPULARES DE HONDURAS» (em espanhol). Revista Honduras Laboral. Cópia arquivada em 23 de abril de 2017. Tres amigos abogados hondureños vinieron a ofrecerme sus servicios para pedir la nulidad del Acuerdo No. 360 de la Junta Militar de Honduras cancelando mi carta de naturalización. ¡Ojalá que todos ustedes sigan respaldándome en la lucha para recuperar mi nacionalidad hondureña! Soy hondureño desde el fondo de mi ser. Ningún decreto de ningún gobierno puede quitarme mi deseo de ser hondureño y de amar a Honduras y a su pueblo como mi verdadera patria. Estoy seguro que, con la ayuda de Dios regresaré para acompañarles a ustedes en la gran lucha para nuestra liberación.  
  4. «Padre Guadalupe sigue vivo en la lucha del pueblo por la tierra» (em espanhol). Radio Progreso. 12 de setembro de 2014. Cópia arquivada em 3 de janeiro de 2018. Es verdad que él viajaba con la columna guerrillera pero lo hizo como capellán ya que como manifestaba “si los ejércitos represores tienen un capellán con mucha más razón estos hombres patriotas merecen también uno”. 
  5. «La CIA en Honduras y la desaparición forzada». Reporteros de Investigación (em espanhol). 24 de dezembro de 2017 
  6. «De los sacerdotes, religiosos y religiosas amigos del P. Guadalupe Carney al pueblo e Iglesia hondureños...». Cedema 
  7. Leo Valladares y Susan Peacock (1997). «En búsqueda de la verdad que se nos oculta». nsarchive2.gwu.edu