Jean-Noël Pancrazi

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Jean-Noël Pancrazi
Jean-Noël Pancrazi
Maghreb-Orient des Livres, Paris, fevereiro de 2018.
Nascimento 28 de abril de 1949 (75 anos)
Setif
Nacionalidade Francês
Ocupação Escritor
Principais trabalhos Tout est passé si vite
Prémios Prémio Médicis (1990)

Grande prémio de romance da Academia francesa (2003)

Jean-Noël Pancrazi (Setif, Argélia, 28 de abril de 1949) é um escritor francês.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude[editar | editar código-fonte]

Jean-Noël Pancrazi passou os primeiros dez anos de sua vida na Argélia, com seus pais e sua irmã. Seus anos de infância, transcorridos em paralelo à guerra de independência da Argélia (1954-1962), terão uma forte repercussão sobre sua futura obra[1],[2].

Ele mudou-se em 1962 para a França, e fez parte de seus estudos secundários em Perpignan, cidade de origem de sua mãe. Após concluir seus estudos no famoso liceu Louis-le-Grand em Paris, passou a frequentar o curso de literatura na Sorbonne. Em 1972, obtém o título de "agrégé" em Letras Modernas. Sua primeira obra, publicada no ano seguinte, é um ensaio sobre Mallarmé. Ao longo dos anos de 1970, trabalhou como professor de francês em um liceu na cidade de Massy.

Carreira literária[editar | editar código-fonte]

Le Vagabond, bar gay de la rue Thérèse à Paris.

Seu primeiro romance, La Mémoire brûlée, é publicado em 1979, pela editora Seuil[3]. Pouco depois, o público acolherá Lalibela ou la mort nomade (1981), L'Heure des adieux (1985) et Le Passage des princes (1988). Sua próxima publicação, Les Quartiers d'hiver, vem à luz em 1990, aos cuidados de Gallimard[4]. O cenário é o "Vagabond", um bar gay de Paris, no período inicial dos anos de difusão da Aids[5]. O romance conquista o prêmio Médicis[6]. Pancrazi prossegue em sua exploração do mundo da noite com Le Silence des passions agraciado com o prêmio Valery-Larbaud. Posteriormente, o autor fará um regresso sobre sua própria infância na Argélia, mais especificamente na cidade de Batna, no momento em que o país inteiro precipita na guerra civil em busca de sua independência. Em Madame Arnoul (1995), o enredo retraça a amizade entre um menino e sua vizinha, oriunda da Alsácia, região ao leste da França. Essa vizinha, que o garoto preza como uma segunda mãe, será acusada de se alinhar do "lado dos Árabes", pelo fato de ter protegido uma jovem argelina do assédio perpetrado por um militar francês: como consequência, ela será então "punida"[7]. Esse livro será agraciado com três prêmios: o Livre Inter, o Maurice-Genevoix, e o Albert-Camus. Posteriormente, o romancista presta homenagem a seu pai, cujos dias se encerraram na Córsega, em Long séjour (1998, prêmio Jean Freustié), e também à sua mãe, em Renée Camps (2001). Esses três livres compõem « uma trilogia de memória familiar »[8].

Em Tout est passé si vite (2003, grande prêmio de romance da Académie française), o autor traça o retrato de uma escritora e editora, sua amiga bastante próxima, num corajoso combate contra o câncer.

Suas estadias no Haiti e na República Dominicana vão lhe inspirar a matéria para dois romances : Les Dollars des sables (2006)[9] e Montecristi (2009), em cujas páginas denuncia um escândalo ecológico.

Em La Montagne (2012), Jean-Noël Pancrazi afronta lembranças guardadas durante muitos anos no mais completo segredo : a morte de seis jovens amigos, assassinados na montanha durante a guerra da Argélia[10]. O texto é coroado com os prêmios Méditerranée, Marcel-Pagnol et François-Mauriac.

Em Indétectable, romance publicado em 2014 (Gallimard), ele conta a vida de Mady, um imigrante ilegal oriundo do Mali, sem documentos em Paris há dez anos[11].

Jean-Noël Pancrazi é igualmente co-autor de Corse (2000)[12], em tandem com Raymond Depardon.

Recebeu o grande prêmio da Société des gens de lettres (SGDL), pelo conjunto de sua obra.

Desde 1999, é membro do juri do prêmio Renaudot[13].

Em 2013, foi realizado na Córsega um documentário sobre Jean-Noël Pancrazi, com o título de Territoires Intimes (filme dirigido por Renaud Donche, Televisão France 3)[14].

Jean-Noël Pancrazi é cavaleiro da Ordem Nacional do Mérito e cavaleiro da Ordem Nacional da Legião de Honra.

Obra[editar | editar código-fonte]

  • Mallarmé, ensaio, Hatier, 1973
  • La Mémoire brûlée, romance, Le Seuil, 1979
  • Lalibela ou la mort nomade, romance, Ramsay, 1981
  • L'Heure des adieux, romance, Le Seuil, 1985
  • Le Passage des princes, romance, Ramsay, 1988
  • Les Quartiers d'hiver, romance, Gallimard, 1990, prix Médicis
  • Le Silence des passions, romance, Gallimard, 1994, prix Valery-Larbaud
  • Madame Arnoul, novela, Gallimard, 1995, prix Maurice-Genevoix, prix Albert-Camus, prix du Livre Inter
  • Long séjour, novela, Gallimard, 1998, prix Jean-Freustié 1998[15]
  • Corse (Le Seuil, 2000), em colaboração com o fotógrafo Raymond Depardon : texto sobre a Córsega e sobre seu pai (em sequência a Long séjour).
  • Renée Camps, novela, Gallimard, 2001
  • Tout est passé si vite, romance, Gallimard, 2003, grand prix du roman de l'Académie française
  • Les Dollars des sables, romance, Gallimard, 2006, adapté au cinéma (2015) par Laura Amelia Guzmán et Israel Cárdenas, avec l’actrice américaine Géraldine Chaplin
  • Montecristi, romance, Gallimard, 2009
  • La Montagne, novela, Gallimard, 2012, Premio Marcel-Pagnol, prix Méditerranée[16], Prix François Mauriac
  • Indétectable, romance, Gallimard, 2014

Premiações[editar | editar código-fonte]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

  1. Madame Arnoul (1995) tem como cenário a cidade de Batna, no momento em que se precipita na Guerra da Argélia, e La Montagne (2012) retraça o assassinato de seis dentre seus jovens colegas durante a guerra pela independência do país. Christian Authier escreve, nas páginas do jornal Le Figaro de 22/03/2012: "Os leitores de Jean-Noël Pancrazi sabem da maneira pela qual seus anos de juventude argelina e o exílio moldaram sua existência, tal como testemunha o comovente Madame Arnoul. Com La Montagne, ele expõe um pouco mais as feridas sofridas há meio século. »
  2. Programa televisivo Bibliothèque Médicis no canal do Senado (Public Sénat), conduzido por Jean-Pierre Elkabbach em 22/06/2012, co participação de Jean-Noël Pancrazi: « L'Algérie : l'Algérie et nous ! ».
  3. Foi o escritor e diplomata François-Régis Bastide quem decide publicar o primeiro romance de Jean-Noël Pancrazi.
  4. http://www.gallimard.fr/Contributeurs/Jean-Noel-Pancrazi
  5. « O prêmio Médicis consacra a AIDS como tema literário », Paris Match, 13/12/1990, em entrevista conduzida por Colette Porlier
  6. Jean Chalon, « Médicis : Jean-Noël Pancrazi », Le Figaro, 27 novembre 1990, p. 36
  7. Jean-Pierre Tison, « La nostalgie d'une autre Algérie », L’Express, 01/03/1995.
  8. Entrevista de Jean-Noël Pancrazi em Territoires intimes (filme de Renaud Donche, apresentado pelo canal de televisão France 3 Corse, 19/09/2013).
  9. Les Dollars des sables foi adaptado para o cinema na República Dominicana, com roteiro e direção dos cineastas Laura Amelia Guzmán e Israel Cárdenas, e atuação da atriz norte-americana Géraldine Chaplin.
  10. France-Info, em entrevista com Jean-Noël Pancrazi conduzida por Philippe Vallet, no programa "Le livre du jour" (13/08/2012), sobre o romance La Montagne. O jornal L'Humanité (7/06/2012) traz também uma crônica literária de Jean-Claude Lebrun, intitulada : « De sang et de laine trouée La Montagne, de Jean-Noël Pancrazi ».
  11. Le Point (28/02/14) traz a matéria « Errances africaines » ; La Provence (02/03/2014) publica « Jean-Noël Pancrazi ne veut pas oublier Mady », de Jérôme Garcin.
  12. O jornal Libération (24/04/2000) publica a crítica « La Corse, paysages intérieurs », de Annick Peigne-Giuly, sobre o livro Corse, com texto de Jean-Noël Pancrazi e fotografias de de Raymond Depardon. France-culture (16/04/04) apresenta "Corse".
  13. Página eletrônica sobre Jean-Noël Pancrazi, no portal do Prêmio Renaudot.
  14. O filme « Jean-Noël Pancrazi, territoires intimes » (2013) pode ser consultado no Youtube.
  15. Artigo no jornal Libération (5/03/1998)
  16. L’Express / AFP (20/06/2012) publica este artigo de Pierre Andrieu: « Le prix Méditerranée 2012 à Jean-Noël Pancrazi et Antonio Muñoz Molina »,