João Branco Núncio

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João Branco Núncio
Nascimento 15 de fevereiro de 1901
Alcácer do Sal, Portugal
Morte 26 de janeiro de 1976
Golegã
Nacionalidade Portuguesa
Profissão Cavaleiro Tauromáquico

João Alves Branco Núncio OSEComIHComB (Alcácer do Sal, Alcácer do Sal, São Romão, Herdade das Parchanas, 15 de fevereiro de 1901Golegã, Golegã, 26 de janeiro de 1976) foi um cavaleiro tauromáquico português.[1]

Figura incontornável do toureio a cavalo, foi responsável por um processo de renovação artística na corrida portuguesa, destacando-se igualmente nas corridas de rejones em Espanha e França, onde atuou em todas as grandes praças e foi apreciado por milhares de espetadores.[2]

Biografia[editar | editar código-fonte]

João Branco Núncio nasceu em Alcácer do Sal, numa casa branca junto à de seu tio-bisavô António Caetano de Figueiredo, 1.° Visconde de Alcácer do Sal, hoje sede da Sociedade Filarmónica Visconde de Alcácer do Sal.

O seu avô paterno, Joaquim Mendes Núncio, lavrador, mudara-se da Golegã para Alcácer do Sal, no ano de 1878,[3] tendo a família prosperado no cultivo das terras férteis que aí encontraram.[2]

Terá sido também por causa do avô Joaquim que João Núncio se tornaria cavaleiro tauromáquico — o cavaleiro recordava as idas aos touros em criança, onde cedo se fascinara com as atuações vibrantes de José Casimiro; «as atuações de José Casimiro tiveram em mim uma influência enorme na resolução de ser toureiro», dirá, mais tarde, numa reportagem filmada em 1968 para a RTP.[4]

Criado no campo, muito jovem se iniciou a montar a cavalo. Aos 13 anos estreou-se como cavaleiro tauromáquico amador, na praça de toiros de Évora. No entanto, para prosseguir os estudos, afastou-se dos cavalos e dos toiros nas temporadas seguintes.[1] Regressou às lides em 1917, depois de concluído o antigo Curso Comercial, na Escola Académica de Lisboa. Nesta escola conheceu o seu amigo e futuro rival de arenas Simão da Veiga.[1]

Núncio começou a atuar em praças de província, mas o génio que revelava na arte do toureio faziam adivinhar a brilhante carreira que o cavaleiro viria a ter. A 27 de maio de 1923, na Monumental do Campo Pequeno, tomava a alternativa, tendo como padrinho António Luís Lopes, numa corrida empresariada por Patrício Cecílio.[3]

Uma semana depois foi contratado para atuar novamente no Campo Pequeno, mas fez constar do seu contrato uma cláusula em que exigia lidar apenas toiros puros, ou seja toiros que nunca tivessem sido toureados.[1] Assim, com a ajuda do seu mestre, Vitorino Froes — que já na condição de amador reclamara a reposição do toiro puro — e do seu amigo Simão da Veiga, João Núncio iniciou um processo de renovação na corrida à portuguesa, que conduziu, primeiro ao abandono e depois à proibição legal de lidar toiros corridos. A mudança viria a possibilitar uma grande evolução do espetáculo, no sentido técnico e estético, possibilitando a execução de sortes frontais; isto é a colocação frente a frente do cavalo com o touro.[5]

Apurado o sentido estético e de lide, Núncio foi também um precursor na forma de treinar as suas montadas, adaptando cada cavalo da sua quadra a uma lide específica.[1] Por fim, foi também por influência de João Núncio que os cavaleiros deixam de usar cabeleira empoada e luva branca durante as lides.[6]

Cavaleiro de estilo espetacular e figurativo, participou, ao longo da sua carreira, em mais de 1 000 corridas, enfrentou mais de 2 000 toiros e montou cerca de 60 cavalos, alcançando inúmeros êxitos.[1]

Destacou-se ainda em inúmeras corridas de rejones em Espanha e em França, matando toiros a cavalo, e rivalizando nessa qualidade com figuras como Antonio Cañero ou Álvaro Domecq Díez. Manolete, com quem o cavaleiro partilhou cartel em corridas mistas (compostas por atuações a cavalo e a pé), disse um dia «Como Núncio no hay nadie!».[2]

De resto, no país vizinho, João Núncio apresentou-se nas mais prestigiadas praças e feiras tauromáquicas, desde logo na Monumental de Las Ventas, mas também na Real Maestranza de Sevilha, bem como nas praças de Barcelona, Bilbao, Santander ou Jerez de la Frontera.[2]

A 14 de junho de 1949 foi agraciado como Comendador da Ordem de Benemerência; a 5 de julho de 1963, ao celebrar 40 anos de carreira, com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada;[7] a 13 de julho de 1973 como Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.[8] Em sua homenagem, também foi atribuído o seu nome à Praça de Touros João Branco Núncio, em Alcácer do Sal.[9]

Atuou pela última vez na Praça de Touros Palha Blanco, em Vila Franca de Xira, a 21 de outubro de 1973.[3]

Além de ter sido um cavaleiro de percurso longevo e muitos sucessos artísticos, João Núncio foi também um opulento agricultor e criador de gado, dedicando-se igualmente à criação de reses bravas para o toureio, obtendo sucessos também como ganadero em arenas de Espanha e França.[3]

No período revolucionário subsequente 25 de abril de 1974, a sua Herdade de Entre-as-Matas[10] e a sua casa de habitação[11] em Alcácer, foram ocupadas, o que levou o cavaleiro já retirado a estabelecer-se na Golegã, passando a viver em casa do seu cunhado, Patrício Cecílio. Despojado dos seus bens, tentou regressar às arenas, mas acabaria por falecer no ano de 1976, nessa vila ribatejana.

Família[editar | editar código-fonte]

João Núncio foi o primeiro filho varão de Joaquim Mendes Núncio, Jr. (Alcácer do Sal, Santiago, Santa Catarina de Sitimos, 9 de Dezembro de 1873 - 28 de Outubro de 1962) e de sua mulher (Alcácer do Sal, Santiago, 4 de Agosto de 1897) Maria do Carmo Leite de Sá Branco (Alcácer do Sal, Santiago, 20 de Agosto de 1868 - Alcácer do Sal, 22 de Novembro de 1960).

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f «João Branco Núncio». Câmara Municipal de Alcácer do Sal. 7 de maio de 2010. Consultado em 27 de outubro de 2014. Arquivado do original em 17 de dezembro de 2014 
  2. a b c d «João Branco Núncio». Consultado em 13 de fevereiro de 2021 
  3. a b c d «João Branco Núncio». Alentejo Litoral. 7 de maio de 2010. Consultado em 9 de novembro de 2014 [ligação inativa]
  4. «João Branco Núncio». Consultado em 18 de abril de 2022 
  5. Fleming de Oliveira (7 de maio de 2010). «Rei D. Carlos I, Vitorino Frois, José Tanganho e Conchita Cintrón...». Fleming de Oliveira. Consultado em 27 de outubro de 2014 
  6. «HISTÓRIA DA TAUROMAQUIA - Tudo sobre a história das Touradas». www.touradas.pt. Consultado em 13 de fevereiro de 2021 
  7. «Cidadãos nacionais agraciados com Ordens Portuguesas». Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas. Consultado em 9 de novembro de 2014 
  8. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "José Alves Branco Núncio". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 16 de março de 2016 
  9. Portugal, All About. «Praça de Touros João Branco Núncio». All About Portugal (em francês). Consultado em 13 de fevereiro de 2021 
  10. Raquel Varela/ Constantino Pissarra - A reforma agrária nos campos do sul de Portugal (1975): uma revolução na revolução
  11. Morais, Jorge (1976). Alentejo saqueado. [S.l.]: Perspectivas & Realidades 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]