João Dias de Araújo

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João Dias de Araújo nasceu em Campinas (São Paulo), no dia 05 de maio de 1930. Seu nome foi escolhido em homenagem ao seu avô paterno, João Pedro Dias, responsável pelo trabalho missionário protestante no estado de Mato Grosso e pela consolidação do presbiterianismo na cidade de Cuiabá.

Após quinze anos morando na cidade de Cuiabá, sua família se mudou Caetité (Bahia), cidade situada a 654 quilômetros de Salvador.

Em 1949, mudou-se para Campinas para dar início aos seus estudos no Seminário Presbiteriano de Campinas. Durante suas, auxiliava seu pai no trabalho missionário em Caetité e nas proximidades.

Fez pós-graduação no Seminário Teológico de Princeton, sob a orientação de Richard Shaull, com quem manteve correspondência após a sua ordenação.

Na juventude, participou da União Cristã de Estudantes do Brasil (UCEB), que congregava jovens das diversas denominações para estudos bíblicos, debates e reflexões sobre a realidade nacional.

Em 1952, após concluir seus estudos, foi enviado para Wagner (Bahia), onde, auxiliado pelo pastor Jaime Wright, fundou o Instituto Bíblico Ladel, onde jovens eram preparados para prestar exames com o objetivo de ingressar nos Seminários Presbiterianos.

Após sete anos de trabalho pastoral em Wagner, foi nomeado como professor do Seminário Presbiteriano do Norte (SPN), localizado na cidade do Recife (Pernambuco), para onde se mudou em janeiro de 1960, juntamente com a sua família. No Seminário passou a ensinar Teologia Sistemática, História da Filosofia e Ética Cristã.

Em 1962:

  • propôs uma mudança no conteúdo teológico do seminário para desenvolver uma teologia aos moldes da realidade brasileira. Naquele contexto, Dias era favorável à participação ativa da Igreja na solução dos problemas sociais e econômicos do País;
  • Na Conferência do Nordeste, realizada no Recife, organizada pela Confederação Evangélica do Brasil, com o tema geral: "Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro", fez uma palestra sobre: o “Conteúdo Revolucionário do ensino de Jesus sobre o

Reino de Deus”. Discorrendo sobre a Igreja como proclamadora da soberania de Deus na História, defendeu a evangelização com uma tarefa total: "pregação e humanização", declarando que:

Uma das maiores heresias afirmadas por muitos cristãos chamados ortodoxos é que a Igreja nada tem a ver com os problemas sociais. Dizer isto é mutilar o Evangelho de Cristo e a mensagem do Reino de Deus.
A igreja tem apoiado sistemas econômicos e políticos opressores, ou silenciado pecaminosamente, diante da injustiça, da opressão do homem pelo homem.
[...] a igreja não tem sido instrumento eficaz para a prática da justiça entre os homens, antes tem sido instrumento para a injustiça... dos patrões contra empregados... para o aumento da opressão dos ricos e poderosos. Instrumento para dar apoio aos imperialismos execrandos e desumanos

.

[...] foi tanta a displicência dos cristãos, que a palavra Justiça foi arrebatada da bandeira cristã para hoje ocupar lugar de destaque na bandeira vermelha do materialismo.

Prestou assessoria bíblica e advocatícia a muitos os trabalhadores do campo, inclusive pentecostais e batistas que começavam a lutar pelos seus direitos[2].

Após o Golpe Militar de 1964, foi acusado de ensinar "teologia marxista" e brevemente preso.[3] [4]

Em 1978, em resposta às perseguições da cúpula conservadora da Igreja Presbiteriana do Brasil contra setores progressistas presbiterianos, ajudou a fundar a Federação Nacional de Igrejas Presbiterianas (FENIP), que, em 1983, passou a se chamar Igreja Presbiteriana Unida do Brasil (IPU). João Dias escreveu a letra do Hino Oficial da IPU: "Que estou fazendo se sou cristão?" (que conta com duas melodias, a original de Wilson Faustini, e uma segunda, de Décio Lauretti).

Foi colaborador de organismos ecumênicos mundiais, tais como Conselho Mundial de Igrejas[5] Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas (CMI),[6] Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI),[7] Aliança de Igrejas Presbiterianas e Reformadas da América Latina (AIPRAL)[8] e Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).[9].

Entre 1984 e 1994 foi pastor da IPU em Feira de Santana (Bahia), onde também foi professor no Seminário Teológico Batista do Nordeste.

Em 1991, participou de uma Comitiva Ecumênica recebida pelo Papa João Paulo II, durante sua visita à Bahia.

Foi colaborador da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE) e de organismos ecumênicos como o Conselho Mundial de Igrejas, a Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas (CMI), Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI), a Aliança de Igrejas a Presbiterianas e Reformadas da América Latina (AIPRAL) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).

Faleceu às 14 horas, do dia 9 de fevereiro de 2014, um domingo. Ele sofria de um câncer de próstata, que voltou com força por causa da ausência dos cuidados pertinentes em função da dedicação exclusiva à sua amada esposa Ithamar, que faleceu pouco antes dele, em setembro de 2013, depois de mais de 60 anos de um feliz matrimônio. Todos os seus filhos e noras estavam com ele em Feira de Santana, na Bahia, onde ele estava internado no Hospital Dom Pedro, Seu sepultamento ocorreu no dia seguinte, lá mesmo em Feira de Santana, a cidade onde viveu, e a qual amou e serviu por muitos anos.

Produção[editar | editar código-fonte]

Dentre os livros publicados encontra-se A Inquisição Sem Fogueiras,[10] Sê Cristão Hoje[11] e o hino Que estou fazendo se sou cristão?, que aparece na última edição do Hinário para o Culto Cristão, da Convenção Batista Brasileira (nº 552) e em outros hinários. O hino, que pode ser cantado com duas melodias, uma escrita pelo maestro João Wilson Faustini e outra composta por Décio Emerique Lauretti, foi publicado em 1967, período conturbado da política nacional. Tornou-se um dos marcos da comunidade evangélica progressista brasileira, por ressaltar o compromisso dos cristãos contra a desigualdade social, injustiça e miséria. O hino inicia perguntando Que estou fazendo se sou cristão?, Se Cristo deu-me o seu perdão! Há muitos pobres sem lar, sem pão. e conclui após vários versos: Que a injustiça é contra Deus; E a vil miséria insulta aos céus!

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. A trajetória de João Dias de Araújo em tempo de ditadura: do Seminário Presbiteriano do Norte à Justiça do Trabalho, disponível na internet.
  2. ECUMENISMO E MOVIMENTOS SOCIAIS: A TRAJETÓRIA DE JOÃO DIAS DE ARAÚJO, acesso em 11/04/2021.
  3. JULIÃO E SILVA, Paulo (1982). O alinhamento protestante ao Golpe Militar e a repressão aos “crentes subversivos”. Rio de Janeiro, Brasil: História e-história, Grupo de Pesquisa Arqueologia Histórica da Unicamp. ISBN ISSN 1807-1783 Verifique |isbn= (ajuda). Consultado em 26 de fevereiro de 2011 
  4. «Que Estou Fazendo Se Sou Cristão?». Ultimato (298). Viçosa, Minas Gerais: Editora Ultimato. Janeiro–fevereiro de 2006. pp. capa. Consultado em 26 de fevereiro de 2011 
  5. «World Council of Churches Official Website» (em inglês). Consultado em 25 de setembro de 2011 
  6. «CMI Official Website» (em inglês). Consultado em 25 de setembro de 2011 
  7. «Site da Regional Brasil do Conselho Latino-Americano de Igrejas». Consultado em 25 de setembro de 2011 
  8. «Aipral» (em espanhol). Consultado em 25 de setembro de 2011 
  9. «Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil Website». Consultado em 25 de setembro de 2011 
  10. DIAS DE ARAÚJO, João (1982). A Inquisição Sem Fogueiras: vinte anos de história da Igreja Presbiteriana do Brasil (1954-1974) 2 ed. Rio de Janeiro, Brasil: Editorial ISER 
  11. DIAS DE ARAÚJO, João (1982). Sê Cristão Hoje 1 ed. Recife, Brasil: Editora da Igreja Presbiteriana Unida