Maria Celeste (navio)

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 Nota: Para o navio norte-americano, veja Mary Celeste.
Maria Celeste
   Bandeira da marinha que serviu
Construção 1944[1]
Estaleiro Kane Shipbuilding Corp.
Estados Unidos Galveston, Texas[2]
Período de serviço 1944-1954
Renomeado Y-106 (1944-1946)[2]
Estado Desmantelado
Destino Naufragou após incêndio
Características gerais
Tipo de navio Navio-tanque
Deslocamento 1.030 t
Maquinário 2 motores de 6 cilindros a diesel, 460 hp[3]
Comprimento 55,8 m
Boca 9,1 m
Calado 3,35 m
Propulsão 2 hélices
Velocidade 9 nós (16,7 km/h)
Armamento 2 canhões de 20 mm (somente até 1945)
Tripulação 23 tripulantes
Carga 1.089 m³ (capacidade total)

O Maria Celeste foi um pequeno navio cargueiro de propriedade da Companhia de Navegação São Paulo, construído em 1944. Em 16 de março de 1954, o navio foi atingido por um incêndio durante a operação de descarga de combustíveis em São Luís, Maranhão, e afundou após queimar por três dias consecutivos, deixando 16 mortos.

Histórico[editar | editar código-fonte]

O navio foi construído no estaleiro Kane Shipbuilding Corp., em Galveston, Texas. Foi terminado na segunda metade de 1944 e entregue ao Corpo de Transporte (Transportation Corps) do Exército dos Estados Unidos, com o nome Y-106.[3] No final da Segunda Guerra Mundial, foi uma das 76 embarcações que integraram o comboio NY119, transportando cargas de Nova York para Falmouth entre setembro e outubro de 1944.[4] Após o fim da guerra, em 1946, a embarcação foi vendida e chegou a Brasil, onde recebeu o nome de Maria Celeste.[2]

Incêndio[editar | editar código-fonte]

Um incêndio se iniciou na embarcação na manhã de 16 de março de 1954, quando estava ancorada para descarga próximo ao cais da Praia Grande, em São Luís, a pouco mais de 500 metros da costa. A carga consistia em 2 000 tambores de gasolina, 1 500 tambores de óleo diesel e 850 volumes de carga geral, totalizando 744,5 toneladas, e havia duas alvarengas ao lado do navio, recebendo carga deste. Não foi possível determinar a causa exata do incêndio.[5] Foi noticiado que o fogo começou quando um cilindro de gasolina foi atingido por uma faísca, que havia saído do tambor de um guindaste enguiçado. Outra versão afirma que a fagulha se originou de uma falha elétrica.[6] Segundo alguns estivadores, a faísca teria atingido gasolina derramada numa das duas alvarengas, alastrando-se para o Maria Celeste.[7]

O fogo se espalhou rapidamente pela carga inflamável, disposta no convés, atingindo também as duas alvarengas. Vendo a situação, o comandante Ornilo da Costa Monteiro ordenou que o navio fosse abandonado, pois nada mais podia ser feito. Os resgates dos tripulantes e estivadores foram feitos voluntariamente por barqueiros da cidade, já que nenhuma autoridade marítima dispunha de lanchas para esse fim em São Luís.[7] A aproximação do navio era difícil, pois as constantes explosões lançavam para o alto os tambores, que vazavam ao cair na água, criando "poças" de combustível em chamas.[1] As labaredas na embarcação e a enorme coluna de fumaça atraíram para a Praia Grande uma multidão, que assistia impotente ao acontecimento.[8]

O navio queimou continuamente por três dias, até que afundou, na manhã de 19 de março. Ao todo, o acidente matou 16 pessoas, sendo 12 estivadores e 4 tripulantes.[5] Um dos sobreviventes da tragédia foi Apolônio Melônio, cantador do Bumba-meu-boi da Floresta e uma das figuras mais importantes do folclore maranhense. Apolônio, falecido em 2015, trabalhava como estivador na época.[9] Há poucas informações a respeito da retirada dos destroços do local, mas há o registro de um cúter que afundou ao colidir com o casco submerso do navio, em 1967.[10]

Acidentes anteriores[editar | editar código-fonte]

O Maria Celeste já havia passado por dois acidentes. Na noite de 18 de agosto de 1949, a embarcação colidiu com uma pedra na Ilha da Galé, em Santa Catarina, após deixar o porto de Florianópolis. O prático havia navegado sem problemas usando como referência os faróis de Anhatomirim, Arvoredo e da Ilha de São Pedro, e deveria avistar o farol da Ilha da Galé a seguir. Porém, devido a rápidas mudanças meteorológicas, o navio acabou atingindo uma rocha na ilha, havendo entrada de água no navio. Foi constatado que havia um nevoeiro na área e que as correntes marítimas eram fortes na ocasião.[11]

Em 29 de agosto de 1952, por volta das 11h, o Maria Celeste colidiu com o navio Atlântico no canal de Setiá, na Lagoa dos Patos. O tempo estava bom e a corrente, calma, mas o canal estreito exigia manobras precisas. O piloto do Maria Celeste tentou ultrapassar o Atlântico. Após perceber que o navio Herval vinha no sentido contrário, tentou desviar, e acabou abalroando o Atlântico por bombordo, levando este a encalhar.[12]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Naufrágios - Maria Celeste». Brasil Mergulho. Consultado em 19 de novembro de 2015 
  2. a b c «Maria Celeste». Histarmar. Consultado em 10 de abril de 2016 
  3. a b NavSource. «US Army Coastal Tanker - Y-106». Consultado em 4 de janeiro de 2019 
  4. SS Arkansan. «USS SC-654». Consultado em 4 de janeiro de 2019 
  5. a b Tribunal Marítimo (1956). Anuário de Jurisprudência (PDF). [S.l.: s.n.] p. 67-68. Consultado em 19 de novembro de 2015 
  6. «Os maiores acidentes já registrados no Complexo Portuário do Maranhão». PortosMA. Consultado em 22 de novembro de 2015 
  7. a b «Ainda o sinistro do "Maria Celeste"». São Luís. O Combate (5780). 17 de março de 1954. Consultado em 19 de novembro de 2015 
  8. «Pavoroso incêndio destruiu o petroleiro "Maria Celeste"». São Luís. O Combate (5778). 16 de março de 1954. Consultado em 22 de novembro de 2015 
  9. «Mestre Apolônio lutou pela sobrevivência do bumba meu boi». G1. 3 de junho de 2015. Consultado em 19 de novembro de 2015 
  10. Tribunal Marítimo (1971). Anuário de Jurisprudência (PDF). [S.l.: s.n.] p. 13-15. Consultado em 22 de novembro de 2015 
  11. Tribunal Marítimo (1958). Anuário de Jurisprudência (PDF). [S.l.: s.n.] p. 332-333. Consultado em 22 de novembro de 2015 
  12. Tribunal Marítimo (1959). Anuário de Jurisprudência (PDF). [S.l.: s.n.] p. 43-44. Consultado em 22 de novembro de 2015