Medicina bizantina

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Ilustrações de aves do manuscrito bizantino Codex Aniciae Julianae.

A medicina bizantina compreende as práticas médicas disponíveis no Império Bizantino, entre 400 d.C. e 1453 d.C. A medicina bizantina foi notável pela preservação de todo o conhecimento adquirido durante a época greco-romana, e pela influência que exerceu na medicina islâmica e no renascimento da medicina Ocidental durante a Renascença.

Os médicos bizantinos geralmente registavam e normalizavam os procedimentos e informação em manuais. Os registros incluíam explicações para o diagnóstico e ilustrações técnicas. O "Compêndio Médico em Sete Livros", da autoria de Paulo de Égina, é um dos mais extensos documentos médicos sobreviventes desta época. Escrito em finais do século VII, continuou a ser usado como fonte de informação nos oitocentos anos que se seguiram.

Os registros históricos mencionam muitas vezes a existência de hospitais civis, embora a assistência médica e triagem de guerra fosse já anterior ao Império Romano. Constantinopla destaca-se como o mais relevante centro de medicina durante a Idade Média, impulsionado pela sua localização na confluência de várias rotas, poder económico e centro cultural.

Contexto[editar | editar código-fonte]

Entre os primeiros médicos bizantinos está Dioscórides, autor do manuscrito Codex Aniciae Julianae (c. 515 d.C.), para oferta à filha do imperador Olíbrio. Tal como maior parte dos médicos bizantinos, o autor teve como fontes autoridades da Antiguidade como Galeno e Hipócrates, embora os praticantes bizantinos tivessem alargado significativamente o conhecimento preservado das fontes greco-romanas. Oribásio de Pérgamo, talvez o mais prolífico compilador do conhecimento médico, muito frequentemente tomava nota de assunções médicas comuns, mas que havia sido demonstrado serem incorretas.[1] Muitas das suas obras, assim como as de outros médicos bizantinos, seriam traduzidas para latim e, eventualmente, para outras línguas durante o Iluminismo.

Entre os últimos médicos bizantinos notáveis está João Actuário, tendo vivido em Constantinopla durante o início do século XIV. A sua obra sobre a urina lançou as bases para a investigação posterior na área de urologia. No entanto, entre o fim do século XII e a queda de Constantinopla para os Turcos em 1453, pouca divulgação houve do conhecimento médico, devido em grande parte à instabilidade no seio do Império. No entanto, a medicina bizantina é extremamente importante, tanto em termos de novas descobertas feitas durante esse período (numa época de grande instabilidade na Europa Ocidental), como na preservação do conhecimento greco-romano através de compêndios, na revisão desse conhecimento e, finalmente, na sua disseminação na Itália renascentista e no mundo islâmico.

Hospitais[editar | editar código-fonte]

Bizâncio foi o primeiro império a ver prosperar instituições dedicadas em exclusivo à prática de medicina. Estas instituições eram geralmente impulsionadas por igrejas individuais ou pelo Estado, sendo semelhantes aos hospitais modernos em vários aspectos. Embora tenham existido instituições semelhantes durante a antiguidade greco-romana, eram geralmente de uso militar ou locais onde os cidadãos se podiam deslocar para morrer em tranquilidade.

O primeiro hospital foi construído por Basílio de Cesareia em finais do século IV, e embora estas instituições tenham florescido nas grandes cidades, apenas ao longo dos séculos VIII e IX é que começaram a surgir nas cidades provinciais. A medicina bizantina era baseada por completo em hospitais ou ambulatórios, que faziam parte do complexo hospitalar. Estava instituída uma hierarquia laboral, entre a qual um médico principal (archiatroi), enfermeiras profissionais (hypourgoi) e assistentes (hyperetai).

Os próprios médicos tinham extensa formação, tendo provavelmente frequentado a Universidade de Constantinopla à medida que em Bizâncio a medicina se torna um dos principais campos académicos. Apesar da proeminência dos grandes médicos da antiguidade, é na época bizantina que o estatuto da medicina enquanto ciência é bastante aperfeiçoado.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Dias, José Pedro Sousa. Homens e medicamentos Uma introdução à História da Farmácia, da Farmacologia e da Terapêutica (PDF). [S.l.]: Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Kazhdan, Alexander P (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Oxford: Oxford University Press. pp. 1327–1328. ISBN 9780195046526