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Mãe Xagui

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Carmelita Luciana Pinto
Mãe Xagui
Carmelita em seu terreiro
Nascimento 17 de março de 1929
Salvador, BA, Brasil
Morte 21 de setembro de 2021
Salvador, Bahia
Religião Candomblé Banto

Carmelita Luciana Pinto (Salvador, 17 de março de 1929 - 21 de setembro de 2021) mameto-de-inquice do candomblé representante da nação Angola Nenguá de Inquice, Terreiro Tumbanssé ou como também é conhecido Unzo Tumbancé, (não confundir com Terreiro Tumbensi), que foi tombado pelo Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal da Reparação (Semur) da Secretaria Municipal da Habitação (Sehab) de Salvador.[1]

A senhora Maria Genoveva do Bonfim, Mameto Tuenda dia Zambi (a gaúcha que se consagrou como “mãe do Angola na Bahia” e fundadora da raiz dos terreiros que carregam o nome Terreiro Tumbensi), apelidada por Maria Neném, era filha de santo do angolano Roberto Barros Reis - Tata Quimbanda Quinunga e também viria a ser a mameto-de-inquice dos senhores Manoel Rodrigues Nascimento (Cambambi) e Manoel Ciríaco de Jesus (Lundiamungongo), irmãos fundadores, em 1919 – no município de Santo Amaro da Purificação na Bahia do Terreiro Tumba Junçara. O senhor Manoel Ciríaco, Tata Lundiamungongo, foi o tata de inquice de Carmelita Luciana Pinto. Esta, por sua vez, nascida 17 de Março de 1929, em Salvador, Bahia, é filha consanguínea dos senhores Apolinário Luciano de Souza e Arcanja das Virgens (filha de santo da Mameto Maria Neném).

A senhora Carmelita, Nenguá Xagui, descendente de tal linhagem ancestral, desenha-se numa trajetória marcada por importantes revelações e delineada inteiramente pela presença dos inquices. Numa visita à senhora Maria Neném, a menina Carmelita soube que haveria uma missa designada a São Roque na casa de Manoel Ciríaco e desejou comparecer. Ao chegar, encontrou algumas filhas-de-santo do senhor Ciríaco sentadas no barracão, e também se sentou. Em seguida, ao ver dançar as filhas de santo, a menina espontaneamente repetiu o que via. No dia seguinte foi novamente à casa do senhor Manoel Ciríaco, sua mãe Arcanja não sabia que a filha estava participando da cerimônia e no terceiro dia, ainda hoje afirma: “Não me lembro como passei da casa para o Barracão”.

Carmelita foi iniciada aos sete anos de idade num barco composto por deze pessoas: duas pessoas de Caiala, uma de Dandalunda, duas de Incoce, uma de Gangazumba, duas de Lemba, duas de Bamburucema, uma de Caviungo, uma de Mutalambô, com a ressalva de que a filha de Gangazumba estava grávida de um menino que era de Zazi, logo seu barco foi de treze pessoas com a criança. Xagui foi a dijina nome espiritual trazido por Oxaguiã.

Nesse período, Xagui, que teve, na sua iniciação, ao lado do Tata Lundiamungongo, a presença da Ialorixá Mãe Bada de Oxalá (quem, da Casa Branca do Engenho Velho, transferiu-se para o Ilê Axé Opô Afonjá), entendia a religião como uma festa, pois, desde os sete anos, dançava o xirê, quando havia festas, domingo, segunda e terça, na casa de seu pai Ciríaco, assim como na casa de sua mãe Arcanja.

Também trabalhava muito carregando água na fonte, o ferro era a vapor, punha as saias na goma, fazia acarajé na pedra, ralava milho e feijão dentre outras atividades do terreiro. “Gostava muito de cantar e dançar, era a dona do pedaço”, lembra Xagui, mas não lhe passava, até então, pela cabeça a hipótese de vir a se tornar uma nenguá de inquice. Ainda com dezenove anos e doze anos de iniciada, durante uma obrigação feita para a sua mãe Arcanja, o Tateto Zaze, ao receber uma gamela entregou a ela como se lhe passasse uma responsabilidade. Ajoelhada aos pés de Zaze ela implorou-lhe para não assumir tal função: “Não, Senhor. Não se pode tirar a espada da mão do jogador”.

Após alguns anos, quando da morte de sua mãe Arcanja, feito o ritual de pós-morte, o inquice Zaze deixou, através de uma zeladora de inquice procurada pelo senhor Emetério (Tata Condiandembo) e pelo senhor Macofá, responsáveis pela efetivação do ritual, uma determinação expressa de que o Tumbancé deveria ser assumido por alguém da família que fosse filho do inquice Lembá. Esta pessoa era Xagui. Ao receber a notícia de que iria, por herança, tornar-se a Nenguá de inquice do terreiro que fora de sua mãe, Xagui não conteve as lágrimas e o espanto: “(…) não sei como não morri. Eu tive uma crise de choro e dizia: não, pelo amor de Deus, Xangô… se tinha minha irmã, tinha outros, por que eu?”. A partir de então, iniciava-se uma outra etapa da vida de Xagui (agora Nenguá Xagui) marcada por muita dificuldade e por conquistas.

Numa festa no Terreiro do Bate Folha (Manço Banduquenqué, fundado em 1916, pelo senhor Manoel Bernardino da Paixão), num curto período após ter assumido o cargo de mameto-de-inquice, um Caviungo aproximou-se dela e lhe disse: “por que chora tanto? Pare de chorar e lamentar. Aceite o que está em suas mãos”.

Com 77 anos de iniciação e 37 de sacerdócio, a Nenguá Xagui já iniciou aproximadamente 40 filhos de santo sendo que o primeiro barco de filhos foi constituído por uma pessoa de Caviungo (Nenguá Tucaji), uma de Bamburucema (Nenguá Demburê) e uma de Zaze (Cota Queuaná).

O senhor Emetério Filho (Tata Zinguê Lumbondo), do Terreiro Tumba Junçara, declarou, acerca da Nenguá Xagui: “A primeira vez em que eu a vi no Terreiro, ela, ao chegar, reverenciou uma foto de Ciríaco no barracão. Era uma fotografia, mas ela enxergou ali o seu tata de inquice. Muitos filhos ali presentes – por não a conhecerem – não entenderam. Então eu parei o cântico, pedi que ela escolhesse qualquer uma das cadeiras de Ogã para se sentar e disse: gente, esta é a Mameto Xagui. Ela é a pessoa mais velha hoje de todo o Terreiro Tumba Junçara Vão lá e peçam a bênção” (Tata Zinguê)

Mãe Xagui recebeu o Troféu Zeferina aos 77 anos,[2] e o Terreiro Tumbensi tombado pelo Patrimônio Histórico de Salvador.

Referências