Método direto da rigidez
O método direto da rigidez, também denominado método matricial da rigidez e método dos deslocamentos (em inglês direct stiffness method (DSM)) é um método de cálculo aplicável a estruturas hiperestáticas de barras que se comportam de forma elástica linear. Este método é adequado para realizar análise computacional de qualquer estrutura, incluindo estruturas estaticamente indeterminadas. O método matricial se baseia em estimar as componentes das relações de rigidez para resolver as forças ou os deslocamentos com uso de um computador. O método direto da rigidez é a implementação mais comum do Método dos elementos finitos (MEF). As propriedades de rigidez do material são computadas em uma única equação matricial que governa o comportamento interno da estrutura idealizada. Os dados que se desconhecem na estrutura são as forças e deslocamentos, que podem ser determinados resolvendo esta equação. O método direto da rigidez é o mais comum nos programas de cálculo de estruturas (tanto comerciais quanto livres).
O método foi originado na área da aeronáutica. Os investigadores conseguiram aproximar o comportamento estrutural das partes de um avião mediante equações simples que requeriam porém grandes tempos de computação. Com o advento dos computadores estas equações começaram a ser resolvidas de forma rápida e simples.
Introdução
[editar | editar código-fonte]O método consiste em atribuir à estrutura de barras um objeto matemático chamado matriz de rigidez, que relaciona os deslocamentos de um conjunto de pontos da estrutura, chamados nós, com as forças exteriores que é necessário aplicar para obter estes deslocamentos (as componentes desta matriz são forças generalizadas associadas a deslocamentos generalizados). A matriz de rigidez relaciona as forças nodais equivalentes e deslocamentos sobre os nó da estrutura, mediante a equação
Nesta equação são as forças nodais equivalentes associadas às forças exteriores aplicadas sobre a estrutura; são as reações hiperestáticas inicialmente desconhecidas sobre a estrutura; os deslocamentos nodais incógnitos da estrutura e é o número de graus de liberdade da estrutura.
A energia de deformação elástica também pode ser expressa em termos da matriz de rigidez mediante a relação
Do teorema de Maxwell-Betti deduz-se que a matriz de rigidez deve ser simétrica, e portanto
Fundamentação teórica
[editar | editar código-fonte]Em geral, um sólido deformável real, como qualquer meio contínuo, é um sistema físico com um número infinito de graus de liberdade. Assim, para descrever a deformação de um sólido é necessário estabelecer um campo vetorial de deslocamentos sobre cada um de seus pontos. Este campo de deslocamentos em geral não é redutível a um número finito de parâmetros, e portanto um sólido deformável de forma totalmente geral não tem um número finito de graus de liberdade.
No entanto, para barras elásticas longas (prismas mecânicos) de grande comprimento comparado com a área de sua seção transversal, o campo de deslocamentos é descrito pela curva elástica, cuja deformação pode ser reduzida a um conjunto finito de parâmetros. De forma concreta, fixados os deslocamentos e rotações das seções extremas de uma viga elástica, é completamente determinada sua forma. Assim, para uma estrutura formada por barras longas elásticas, fixados os deslocamentos dos nós, é completamente determinada sua forma deformada. Resulta assim que as estruturas de barras longas podem ser tratadas aproximadamente mediante um número finito de graus de liberdade e que podem ser calculadas resolvendo um número finito de equações algébricas. O método matricial proporciona estas equações em forma de um sistema matricial que relaciona os deslocamentos das extremidades de barras com variáveis dependentes das forças exteriores.
Isto contrasta com a situação geral dos sólidos elásticos, onde o cálculo de suas tensões internas e deformações envolve a resolução de complexos sistemas de equações diferenciais em derivadas parciais.
Descrição do método
[editar | editar código-fonte]O método matricial requer atribuir a cada barra elástica da estrutura uma matriz de rigidez, chamada matriz de rigidez do elemento. A partir do conjunto de matrizes de cada elemento, mediante uma matriz de conectividade, que estabelece a forma como cada barra é conectada com outra através dos nós, é obtida uma matriz de rigidez global, que relaciona os deslocamentos dos nós com as forças equivalentes sobre os mesmos.
Igualmente, a partir das forças aplicadas sobre cada barra se constrói o chamado vetor de forças nodais equivalentes que depende das ações externas sobre a estrutura. Junto com estas forças devem ser consideradas as possíveis reações sobre a estrutura em seus apoios (cujos valores são incógnitos).
Finalmente se constrói um sistema linear de equações, para os deslocamentos e as incógnitas. O número de reações incógnitas e deslocamentos incógnitos depende do número de nós: é igual a 3N para problemas bidimensionais, e igual a 6N para um problema tridimensional. Este sistema pode ser sempre dividido em dois subsistemas de equações desacopladas tal que
- Subsistema 1. Que agrupa todas as equações lineares do sistema original que contém somente deslocamentos incógnitos.
- Subsistema 2. Que agrupa o resto das equações, e que uma vez resolvido o subsistema 1 e substituídos seus valores no subsistema 2 permite encontrar os valores das reações incógnitas.
Resolvido o subsistema 1 que dá os deslocamento, é substituído o valor destes no subsistema 2, que é trivial de resolver. Finalmente, a partir das reações, forças nodais equivalentes e deslocamentos são calculados os esforço nos nós ou uniões das barras, a partir dos quais podem ser determinados os esforços em qualquer ponto da estrutura e portanto suas tensões máximas, que permitem dimensionar adequadamente todas as seções da estrutura.
Matrizes de rigidez elementares
[editar | editar código-fonte]Para construir a matriz de rigidez da estrutura é necessário atribuir previamente a cada barra individual (elemento) uma matriz de rigidez elementar. Esta matriz depende exclusivamente de
- as condições de ligação em seus dois nós extremos
- as características da seção transversal da barra: área, momento de inércia de área e características geométricas gerais como comprimento da barra, curvatura, etc.
- número de graus de liberdade por nó, que depende de tratar-se de problemas bidimensionais ou tridimensionais.
Barra reta bidimensional com transmissão de momentos
[editar | editar código-fonte]Um nó onde se unem duas barras é denominado rígido ou engastado se o ângulo formado pelas duas barras após a deformação não muda em relação ao ângulo que formavam antes da deformação. Apesar de estarem impossibilitadas de mudar o ângulo entre as barras, as duas barras em conjunto podem rotacionar em relação ao nó, mantendo porém o ângulo formado. Para barras unidas rigidamente em seus dois extremos a matriz de rigidez elementar que representa adequadamente seu comportamento é expressa por
Sendo aqui as magnitudes geométricas (comprimento, área e momento de inércia) e o módulo de de elasticidade longitudinal (módulo de Young).
A matriz de rigidez de uma barra reta pode ser expressa abreviadamente na forma
sendo o índice de esbeltez.
Barra reta bidimensional com um nó articulado e outro rígido
[editar | editar código-fonte]Neste caso quando se impõem rotações no nó articulado não são transmitidos esforços sobre o nó não articulado. Neste caso a matriz de rigidez, usando a mesma notação da seção anterior, é expressa por
Onde foi suposto que o nó articulado é o segundo. Se fosse o primeiro, seria necessário permutar os elementos da matriz anterior para obter
Barra reta bidimensional com dois nós articulados
[editar | editar código-fonte]Posto que uma barra reta com nós articulados pode transmitir esforços somente ao longo de seu eixo, a correspondente matriz de rigidez desta barra tem componentes diferentes de zero apenas para os graus de liberdade longitudinais. Neste caso a matriz de rigidez é expressa por
Arco circular bidimensional de nós engastados
[editar | editar código-fonte]Barra reta tridimensional de nós rígidos
[editar | editar código-fonte]Uma barra reta tridimensional tem 6 graus de liberdade por nó (3 de traslação e 3 de rotação), e como a barra tem dois nós, a matriz de rigidez é uma matriz 12 x 12. Ademais, uma barra tridimensional pode transmitir torção e também flexão e esforço cortante em duas direções diferentes, esta maior complexidade de comportamento estrutural faz com que uma barra tridimensional requeira mais graus de liberdade e uma matriz de rigidez mais complexa para descrever seu comportamento. Esta matriz é composta de 3 submatrizes
As submatrizes são
As magnitudes geométricas e mecânicas associadas à barra são
- são as magnitudes geométricas: comprimento da barra e sua área transversal, momentos de área nas direções y e z e módulo de torção, respectivamente.
- são sinais relativos.
Forças nodais
[editar | editar código-fonte]Para cada barra se define um vetor elementar de forças nodais generalizadas, que seja estaticamente equivalente às forças aplicadas sobre a barra. A dimensão do vetor de forças nodais depende da dimensionalidade da barra:
Exemplo
[editar | editar código-fonte]Para as cargas mostradas na figura o vetor de forças nodais consiste em duas forças verticais (FVd, FVi) aplicadas em cada um dos dois extremos, duas forças horizontais (FHd, FHi) aplicadas em cada um dos extremos e dois momentos (Md, Mi) aplicados em cada um dos extremos. Estas seis componentes formam o vetor de forças nodais. A força e o momento resultante destas seis componentes são estaticamente equivalentes ao sistema de forças original formado por P e q com
Cálculo de deslocamentos
[editar | editar código-fonte]Uma vez encontrada a matriz de rigidez global e o vetor de forças nodais global se constrói um sistema de equações. Este sistema tem a propriedade de poder ser decomposto em dois subsistemas de equações:
- El primero de estos sistemas relaciona únicamente los desplazamientos incógnita con algunas de las componentes del vector de fuerzas nodales global y constituye siempre un sistema compatible determinado
- El segundo subsistema contiene también las reacciones incógnita y una vez resuelto el primer subsistema es de resolución trivial.
Resolvendo o primeiro subsistema são determinados os deslocamentos incógnitos de todos os nós da estrutura. Inserindo a solução do primeiro subsistema no segundo resultam as reaçõnes.
Ilustrando o cálculo dos deslocamentos com um exemplo, consideremos a flexão no plano XY da viga reta da seção anterior, considerando uma viga biarticulada unida em suas extremidade a duas rótulas fxas
As linhas 3 e 6 contém as rotações incógnitas dos extremos da viga e consideradas em conjunto conformam o primeriro subsistema para os deslocamentos. Ignorando os termos nulos e reescrevendo em forma matricial o subsistema de equações para os deslocamentos resulta
A solução fornece os valores das rotações nas extremidades direita e esquerda sob estas cargas
Conhecidos estes valores e inseridos na matriz nas linhas 1, 2, 4 e 5, são determinados os valores das quatro reações hiperestáticas previamente desconhecidas.
Cálculo das reações
[editar | editar código-fonte]Calculados os deslocamentos e resolvendo um sistema de equações, o cálculo das reações é simples e direto
Considerando o mesmo exemplo da última seção o cálculo de reações na viga biarticulada com carga P e q resulta
Introduzindo os valores das rotações nas extremidades e multiplicando a matriz de rigidez pelo vetor de deslocamentos resulta
Isto completa o cálculo das reações.
Cálculo de esforços
[editar | editar código-fonte]O cálculo de esforços se realiza examinando em coordenadas locais das barras o esforço normal, esforço cortante, momento fletor e momento torsor em cada uma das barras, conhecidos os deslocamentos de todos os nós da estrutura. Isto pode ser realizado usando as matrizes de rigidez expressas em coordenadas locais e os deslocamentos nodais expressos também em coordenadas locais.
Referências
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Timoshenko, Stephen; Godier J.N. (1951). McGraw-Hill, ed. Theory of elasticity. [S.l.: s.n.]
- Ortiz Berrocal, Luis (1991). McGraw-Hill, ed. Resistencia de Materiales. [S.l.: s.n.] ISBN 84-7651-512-3 Verifique
|isbn=
(ajuda) - Monleón Cremades, S., Análisis de vigas, arcos, placas y láminas, Ed. UPV, 1999, ISBN 84-7721-769-6.
- Felippa, Carlos A. (2001), «A historical outline of matrix structural analysis: a play in three acts» (PDF), Computers & Structures, ISSN 0045-7949, 79 (14): 1313–1324, doi:10.1016/S0045-7949(01)00025-6, consultado em 5 de junho de 2017, cópia arquivada (PDF) em
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requer|arquivodata=
(ajuda) 🔗|título=
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redundantes (ajuda) - Felippa, Carlos A. Introduction to Finite Element Method. Fall 2001. University of Colorado. 18 Sept. 2005 <http://www.devdept.com/fem/books.php>
- Robinson, John. Structural Matrix Analysis for the Engineer. New York: John Wiley & Sons, 1966
- Rubinstein, Moshe F. Matrix Computer Analysis of Structures. New Jersey: Prentice-Hall, 1966
- McGuire, W., Gallagher, R. H., and Ziemian, R. D. Matrix Structural Analysis, 2nd Ed. New York: John Wiley & Sons, 2000.