Olive Schreiner
| Olive Schreiner | |
|---|---|
Olive Schreiner in 1889 in Menton | |
| Nascimento | 24 de março de 1855 Colónia do Cabo |
| Morte | 11 de dezembro de 1920 (65 anos) Cidade do Cabo |
| Cidadania | África do Sul |
| Cônjuge | Samuel Cron Cronwright |
| Irmão(ã)(s) | William Philip Schreiner |
| Ocupação | escritora, socióloga |
| Obras destacadas | The Story of an African Farm |
Olive Emilie Albertina Schreiner (Wittebergen, Colônia do Cabo, 24 de março de 1855 - Wynberg, Cidade do Cabo, 11 de dezembro de 1920) foi uma escritora, pacifista e ativista política sul-africana, cujo interesse pelos Direitos Humanos e, especialmente, pelos direitos das mulheres a fez participar de inúmeras mobilizações em prol de garantias econômicas e sociais e da igualdade entre ambos os sexos. Em 1883, publicou o que é considerado o primeiro grande romance sul-africano, The Story of an African Farm (A história de uma fazenda africana).[1]
Primeiros anos e juventude
[editar | editar código]Schreiner nasceu em 1855, filha do casal missionário Rebecca Lyndall e Gottlob Schreiner, na estação da Sociedade Missionária Wesleyana, perto de Herschel, Cabo Oriental, África do Sul, e foi a nona de doze filhos. [2] Devido a muitos fatores, ela teve uma infância difícil. Seu pai era um homem nobre e de bom temperamento, mas pouco prático, enquanto sua mãe buscou incutir em seus filhos uma educação rigorosa baseada na autodisciplina, um sistema que ela mesma havia sido forçada a seguir e respeitar em sua juventude. Olive, portanto, recebeu grande parte de sua educação de sua mãe. Um de seus irmãos, Fred, foi educado na Inglaterra e se tornou diretor de uma escola em Eastbourne.
Quando tinha seis anos, seu pai foi transferido para Healdtown, no Cabo Oriental, para assumir o comando de um instituto de ensino e treinamento local. Como acontecia com muitos de seus empreendimentos, ele não tinha qualificação para o cargo e foi demitido por não cumprir as políticas e regulamentos missionários. Assim, foi forçado, pela primeira vez, a trabalhar para sobreviver, e tento iniciar um projeto próprio. No entanto, fracassou novamente e perdeu tudo um ano, deixando sua família em extrema pobreza.
No entanto, Schreiner não permaneceu com os pais por muito tempo. Quando seu irmão Theophilus foi nomeado diretor em Cradock, em 1867, ela foi morar com ele e mais dois irmãos, pôde frequentar a escola e recebeu educação formal pela primeira vez. Apesar disso, ela não se sentia tão feliz, já que seus irmãos eram muito religiosos e ela rejeitava o cristianismo de seus pais por considerá-lo infundado, o que lhe causou muitas desavenças com a família.
Assim, quando Theo e seu irmão deixaram Cradock para tentar a sorte nas minas de diamantes do oeste de Griqualand, Olive escolheu se tornar governanta/instrutora. Enquanto trabalhava em Barkly East, conheceu Willie Bertram, que compartilhava suas ideias sobre religião e lhe emprestou um exemplar da obra do filósofo Herbert Spencer, First Principles. Este texto teve um forte impacto sobre ela porque, embora Spencer se manifestasse contra o fanatismo e as doutrinas religiosas, também defendia sua crença no 'Absoluto', algo além do conhecimento e da compreensão humanos. Essa ideologia se baseava na união da natureza e de um universo teológico, ambos adotados por Olive em sua tentativa de criar uma moralidade livre da religião organizada.

Após esse encontro, Olive viajou bastante, aceitando empregos como governanta para várias famílias e, em alguns casos, tendo que abandonar o posto devido a assédio sexual por parte de seus empregadores. Foi nessa época que conheceu um homem chamado Julius Gau, com quem teve um relacionamento em circunstâncias pouco conhecidas. Por algum motivo, o noivado não durou muito, e Olive decidiu retornar a sua família, primeiro aos seus pais e depois aos seus irmãos. Foi nessa época que ela começou a gostar de ler e a escrever com seriedade. Sua primeira obra, Undine, data dessa época.
Devido à difícil situação financeira de seus irmãos, ela precisou retomar seu antigo estilo de vida, mudando-se de uma casa para outra em várias cidades e vilarejos até retornar brevemente à casa de seus pais em 1874. Foi então que sofreu sua primeira crise de asma, que a atormentaria pelo resto da vida. Apesar disso, e como seus pais não tinham estabilidade financeira, ela foi forçada a trabalhar novamente para lhes dar sustento.
Inglaterra e Europa
[editar | editar código]No entanto, as ambições de Schreiner não se limitavam à escrita. Ela sempre quis ser médica, mas nunca teve dinheiro suficiente para pagar os estudos. Como resultado, optou por se tornar enfermeira, já que esse curso era gratuito. Em 1880, ela havia economizado dinheiro suficiente para viajar e então aceitou uma oferta no Royal Hospital em Edimburgo, Escócia. Em 1881, tomou um navio para Southampton, Inglaterra. Uma vez na Escócia, não conseguiu realizar seu sonho de se tornar médica, pois sua saúde frágil a impediu de continuar seus estudos e atividades práticas. A partir daquele momento, reconheceu que seu único objetivo na vida deveria ser escrever. [3]
Quando publicou Story of an African Farm en 1883, sob o pseudônio Ralph Iron, obteve um éxito inesperado muito devido à forma como tratava os assuntos do momento, desde o agnosticismo até a forma como eram tratadas as mulheres. A história de uma fazenda africana foi um sucesso imediato na Europa e na América do Norte, trazendo à autora - ainda que publicado sob pseudônimo - muitas admiradoras ilustres. O romance conta a história de uma garota em uma fazenda isolada na savana que luta por sua independência em face de convenções sociais rígidas. A originalidade do livro, o manuseio assegurado da narrativa e da descrição, o passado exótico e a expressão vigorosa de visões feministas e anticristãs sobre religião e casamento, deram-lhe notoriedade e amplo apelo.O sucesso lhe permitiu ser aceita nos círculos literários e políticos do país, ser vista como ativista pelos direitos da mulher, e foi a razão de uma de suas amizades mais importantes e duradouras, já que o conhecido sexólogo Havelock Ellis lhe enviou uma carta comentando sua obra. As relação entre eles logo passou de um debate intelectual a um forte apoio, e sua amizade durou até o final de suas vidas. Eles trocaram cartas durante os trinta e seis anos seguintes.
Eles se encontraram pessoalmente em 1884 quando ambos participaram do encontro da Organização Progressiva, un grupo de livre pensadores cuja finalidade era discutir perspectivas políticas e filosóficas. Este era um dos grupos radicais a que Ellis pertencia e Schreiner pôde entrar em contato com muitos socialistas importantes do momemto. Além da Organização Progressiva ela também participou de encontros da Comunidade da Nova Ordem (Fellowship of the New Order), e o Clube de Homens e Mulheres de Karls Pearson, onde insistiu na importância crítica da igualdade social e individual das mulheres e a necessidade de considerar homens e mulheres da mesma forma, em abordagens das relações entre os sexos.
Em 1866 deixou a Inglaterra e viajou para o continente europeu, visitando uma série de países como Suiça, França e Itália. Durante esse período sua produção literária alcançou o auge com a publicação de From Man to Man (De Hombre a hombre) e uma série de outros escritos. Também trabalhou em uma introdução à obra de Mary Wollstonecraft, A Vindication of the Rights of Women.
Volta para África do Sul
[editar | editar código]Dada a situação na Inglaterra, ela optou por regressar para seu país natal, a África do Sul, viajando para a Cidade do Cabo, em 1889. Sua volta foi pouco agradável, pois se sentia distanciada das pessoas, mas ao mesmo tempo, experimentou uma grande afinidade por sua terra. Com a intenção de criar um vínculo passou a se inteirar e participar da polítical local e produziu uma série de artigos sobre a terra e seu povo, publicados de forma póstuma, como Thoughts on South Africa (Pensamientos sobre Sudáfrica).
Sua participação na vida política do Cabo a levou a conhecer Cecil John Rhodes, importante investidor e homem de negócios inglês, com quem logo se desapontou e então escreveu uma dura alegoria satírica Trooper Peter Halket of Mashonaland. Seu desapontamento começou quando Rhodes apoiou o strop bill (literalmente, 'imposto do couro', ou 'preço da pele'), que foi um imposto, ou sanção, aplicada em função da etnia ou raça de uma pessoa, permitindo que empregados negros, ou de cor, fossem chicoteados por ofensas insignificantes.
Sua oposição ao strop bill também a levou a conhecer Samuel Cronwright, uma fazendeiro e político da região. Ambos compartilhavam a mesma ideologia referente à 'questão dos nativos' (conjunto de situações sociais e políticas referentes à colonização forçada do sul da África por inglêses e outros povos europeus), e foi uma das razões para que Olive logo se apaixonasse por ele. Durante uma breve visita à Inglatgerra em 1983, conversou com amigos sobre a ideia de casar-se, visto que esta instituição era vista como restritiva da liberdade das mulheres. Deixando suas dúvidas de lado, contrairam matrimônio um ano mais tarde e foram viver em uma granja de Cronwright.

Em 1898 mudaram-se para Johannesburgo por motivos de saúde. Olive tentou persuadir os oficiais sulafricanos a evitar a todo custo uma guerra (guerra dos bôeres) e quando não teve êxito escreveu The South African Question by an English South African (A questão sulafricana por uma anglo africana), uma tentativa de expor ao público inglês a realidade da situação. Este último esforço também foi em vão, mas ela não se deu por vencida, e durante a guerra continou defendendo os interesses dos bôeres e dos abogós, assim com seu irmão William Philip Schreiner. Durante esse período começou a revisão do 'livro do sexo' que havia começado a escreve na Inglarerra como Woman and Labour (A mulher e o trabalho), que representa sua melhor expressão a respeito do socialismo e à igualdade entre homens e mulheres.
Últimos anos
[editar | editar código]Os últimos anos de sua vida foram afetados por sua saúde frágil e uma sensação de marginalização e isolamento, mas continuou a contribuir para a política, opinando sobe a nova Constitução, especialmente por meio de seu trabalho Closer Union (União forte). Nessa polêmica, fez um chamado a mais direitos para as pessoas negras e para as mulheres. Também participou da formação da representação local da Liga de Emancipação das Mulheres, em 1907, sendo sua vice-presidente. Depois, recusou-se a continuar apoiando suas bases quando outras representações dessa Organização passaram a sinalizar a exclusão das mulheres negras do direito ao voto.
Quando Women and Labour foi finalmente publicado em 1911, Schreiner já estava muito doente, e à sua asma somaram-se ataques de angina. Dois anos mais tarde viajou, sem o marido, para a Inglaterra para receber melhor tratamento médico, por esse tempo já se vivia, na Europa, o início da 1a. Guerra Mundial. Foi durante sua estadia em Londres que passou a demonstrar interesse pelo pacifismo como única saída possível para a crise dos enfrentamentos bélicos que estavam acontecendo em grande parte da Europa e do Mundo. Teve oportunidade de entrar em contato com Mahatma Gandhi e começou um novo livro, cuja temática principal era a guerra e foi publicado pouco depois com o título The Dawn of Civilisation (O amanhecer da civilização). Este seria seu último trabalho, e com o final da guerra voltou para a cidade do Cabo, onde veio a falecer enquano dormia em uma pensão, em 1920, mantes de chegar em casa. Seus restos mortais foram sepultados em Kimberley e, após a morte de seu marido, seu corpo foi exumado, para ser sepultado junto a seu marido e filho, na granja conhecida como Buffelshoek, en Cradock, Cabo del Este.
Lembrada por seu livro Sonhos, no filme As sufragistas (2015), ela tinha um intelecto poderoso, pontos de vista de uma militante feministas e liberal sobre a política e a sociedade, além de uma grande vitalidade que estava um pouco prejudicada pela asma e por depressões graves. Seu irmão William Philip Schreiner foi o primeiro ministro da Colônia do Cabo de 1899 a 1902 [carece de fontes].
Trabalhos selecionados
[editar | editar código]- The Story of an African Farm, 1883 (como "Ralph Iron")
- Dreams, 1890
- Dream Life and Real Life, 1893
- The Political Situation in Cape Colony, 1895 (com S. C. Cronwright-Schreiner)
- Trooper Peter Halket of Mashonaland, 1897
- An English South African Woman's View of the Situation, uma crítica à dificuldade do Transvaal a partir da posição pró-Boer, 1899
- A Letter on the Jew, 1906
- Closer Union: a Letter on South African Union and the Principles of Government, 1909
- Woman and Labour, 1911
- Thoughts on South Africa, 1923
- Stories, Dreams and Allegories, 1923
- From Man to Man, 1926
- Undine, 1929
Acervo epistolar (correspondência)
[editar | editar código]O banco de dados Olive Schreiner Letters Online - OSLO[4] é uma coleção de mais de 5 000 cartas existentes escritas de, ou para, Schreiner. As cartas cobrem uma ampla gama de tópicos, desde a história política da África do Sul, as escritoras de 'Novas Mulheres', movimentos sociais internacionais e a teoria social feminista. A edição OSLO fornece transcrições diplomáticas completas, incluindo omissões, inserções e 'erros', extensas facilidades de pesquisa de texto completo, coleções temáticas de cartas de Schreiner, uma dramatis personae que fornece informações bibliográficas sobre os correspondentes de Schreiner e muitas outras pessoas mencionadas em suas cartas, novas coleções de cartas à medida que se tornam disponíveis, informações detalhadas sobre todas as publicações de Schreiner, incluindo revistas e jornais, bem como livros e publicações para download da equipe de pesquisa do OSLO.
Referências
[editar | editar código]- ↑ «Olive Schreiner | Victorian era, feminist, novelist | Britannica». www.britannica.com (em inglês). Consultado em 26 de outubro de 2025
- ↑ Reporter, Staff (18 de abril de 2019). «Story of an African feminist». The Mail & Guardian (em inglês). Consultado em 26 de outubro de 2025
- ↑ Aguilar, Pilar Muñoz (30 de maio de 2020). «Escritoras en el inicio del feminismo». Diario Córdoba (em espanhol). Consultado em 26 de outubro de 2025
- ↑ «Olive Schreiner Letters Online». www.oliveschreiner.org. Consultado em 14 de agosto de 2019
