Princípio de Cavalieri
O princípio de Cavalieri (a base do método dos indivisíveis) refere-se às seguintes duas proposições em geometria:[2][3][4]
"Dadas duas regiões planas incluídas entre um par de retas paralelas, se toda reta paralela ao par de retas e que intersecta as regiões o faz em segmentos cujos comprimentos estão sempre na mesma razão, então as áreas das regiões também estão nessa mesma razão."
E a proposição análoga para sólidos:
"Dados dois sólidos incluídos entre um par de planos paralelos, se todo plano paralelo ao par de planos e que intersecta os sólidos o faz em seções cujas áreas estão sempre na mesma razão, então os volumes dos sólidos também estão nessa mesma razão."
História
[editar | editar código-fonte]Apesar do princípio levar o nome de Cavalieri, ele já era conhecido dos gregos antigos, tendo sido utilizado por Arquimedes, que relatou que ele já tinha sido empregado ainda antes por Eudoxo e Demócrito quando calcularam o volume de um cone.[5]
Matemático italiano, Bonaventura Cavalieri, século XVI, discípulo de Galilleu, foi considerado o autor do método capaz de achar áreas e volumes de sólidos com maior facilidade.
A principal ideia é que mesmo com o formato geométrico modificado ,a não ser quando perde ou ganha massa,o volume permanecerá o mesmo, essa é a principal ideia para o Princípio de Cavalieri.
Definição
[editar | editar código-fonte]Podendo ser utilizado de forma axiomática, este princípio pode ser compreendido supondo-se dois sólidos e em um plano horizontal e um plano paralelo a , que seria , de forma que ambos os planos cortem os sólidos em secções de mesma área para cada corte dado.Pelo princípio de Cavalieri é afirmado que o volume do sólido é igual ao volume do sólido .
Considerando que os sólidos e sejam fatiados com o igual número de fatias contando, todas, a mesma altura e secções de mesma área, assim terão, aproximadamente o mesmo volume. Quanto mais fina as fatias, maior será a aproximação.
Volume do Cilindro ( Princípio de Cavalieri)
[editar | editar código-fonte]Sólidos geométricos, os cilindros e os prismas em qualquer secção feita por um plano paralelo à base, será compreendida uma figura plana congruente a base.
Suponha-se um plano paralelo ao plano que contém bases de um cilindro e paralelepípedo.O corte feito por determina em ambos os sólidos figuras congruentes às suas bases, isto é com áreas iguais.
: Corte feito pelo plano no paralelepípedo;
: Base do paralelepípedo no plano ;
:Corte feito pelo plano no cilindro;
: Base do cilindro no plano .
Sabendo que (área do paralelepípedo) = ( área do cilindro),temos que = e =. Sabendo que a base do paralelepípedo possui base igual ao do cilindro, denominada de .
Como ==, com o uso do Princípio de Cavalieri, temos que:
( Volume do paralelepípedo)= (área da base)(altura)=(volume do cilindro)
Portanto:
=
O mesmo é aplicado ao prisma:
(volume do prisma)=
Volume da Esfera (Princípio de Cavalieri)
[editar | editar código-fonte]Consideremos uma esfera de centro e raio , delimitada pelos planos e , paralelos entre si e tangentes à esfera.
Consideremos ainda o plano entre os planos e , paralelo a ambos. A intersecção entre o plano e a esfera produzirá uma secção transversal, no formato de um círculo, de centro e raio .
Denotemos por a distância entre o centro da esfera, e centro da secção transversal, .
Construamos o ponto , na intersecção da secção transversal com o plano . Ao traçarmos um segmento com extremos em e A, a medida desse segmento será igual a R. Teremos, então, o triângulo de vértices , retângulo em , com hipotenusa medindo e catetos medindo respectivamente e .
Aplicando o Teorema de Pitágoras temos que podemos reescrever como .
Por outro lado, a área da seção será dada por . Substituindo o valor de encontrado acima, temos .
O Princípio de Cavalieri garante que se fatiarmos um sólido geométrico em várias posições transversais e deslocá-las ou reordená-las, ainda assim, o volume total dessas fatias seria igual ao volume desse sólido.
Consideremos então o sólido geométrico, formado por dois cones, unidos pelos vértices, denominado clepsidra, também conhecida como ampulheta, com o raio de suas bases igual a . Sendo essa clepsidra delimitada pelos planos e , a altura de cada cone será igual ao raio da esfera, ou seja, .
Note que a clepsidra será intersectada pelo plano , e a secção transversal será um círculo de raio . A área da secção da pode ser obtida por .
Como a altura do cone e o raio de sua base são iguais a , na clepsidra, podemos utilizar a semelhança de triângulos, para deduzir que está para , assim como está par a, ou seja,
.
Daí temos que .
Entretanto, o Princípio de Cavaliere só pode ser aplicado a secções transversais que apresentem a mesma área, o que não é o caso.
Construindo, entretanto, um cilindro de altura e base de raio em torno da clepsidra, podemos utilizar a anti-clepsidra, que trata-se do que resta do cilindro ao retirarmos a clepsidra de seu interior.
Observe que a seção transversal produzida pela interseção do plano com o cilindro terá seu raio medindo .
Então a área da secção transversal da anti-clepsidra, que denotaremos por poderá ser obtida pela área do da secção transversal do cilindro, subtraindo-se a secção transversal da clepsidra.
Logo, temos . Colocando em evidência, temos que .
Observe que temos , isto é, as áreas das secções transversais da anti-clepsidra e da esfera tem medidas iguais, então podemos utilizar o Princípio de Cavalieri, para encontrar o volume da esfera.
O volume da esfera será igual ao volume da anti-clepsidra, conforme nos garante Cavalieri, e o volume da anti-clepsidra pode ser obtido a partir dos volumes de dois sólidos cujas fórmulas são conhecidas: o cilindro e o cone.
O Volume do cilindro em questão e dado por e o volume de cada cone dado por .
Assim, o volume da anti-clepsidra, ou seja, o volume da esfera, pode ser obtido, pelo volume do cilindro, subtraindo-se o volume da clepsidra (2 vezes o volume do cone).
Então, temos
.
Portanto, utilizando o Princípio de Cavalieri, conseguimos deduzir que o volume da esfera é dado por , como pretendíamos.
Geogebra e o princípio de Cavalieri
[editar | editar código-fonte]Na plataforma do Geogebra.org é possível obter diversos materiais para simulação do princípio de Cavalieri, além das diversas atividades disponíveis para consultas e estudos.
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ The Garden of Archimedes: A Museum for Mathematics – Squaring methods from antiquity to the Seventeenth Century.
- ↑ N. Bourbaki. Elements of the History of Mathematics. [S.l.]: Springer Science & Business Media. p. 179. ISBN 978-3-540-64767-6
- ↑ John Lane Bell. The Continuous and the Infinitesimal in Mathematics and Philosophy. [S.l.]: Polimetrica s.a.s. p. 69. ISBN 978-88-7699-015-1
- ↑ Margaret E. Baron. The Origins of the Infinitesimal Calculus. [S.l.]: Courier Dover Publications. p. 126. ISBN 978-0-486-49544-6
- ↑ Tom Apostol (31 de janeiro de 2013). New Horizons in Geometry. [S.l.]: MAA. p. 139. ISBN 978-0-88385-354-2
Leitura adicional
[editar | editar código-fonte]- Andersen, Kirsti. "Cavalieri's Method of Indivisibles", Archive for History of Exact Sciences, 31 (1985), pp. 291–367.
- Lam, Lay-Yong; Shen, Kangsheng. "The Chinese concept of Cavalieri's principle and its applications", Historia Mathematica, 12 (1985), N. 3, pp. 219–228.
- Malet, Antoni (1996). From Indivisibles to Infinitesimals: Studies on Seventeenth-Century Mathematizations of Infinitely Small Quantities. [S.l.]: Universitat Autònoma de Barcelona. ISBN 978-84-490-0520-6