Propulsão Alcubierre

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conceito da Propulsão de Alcubierre, mostrando as regiões de expansão e contração do espaco-tempo em torno da região central

A Propulsão de Alcubierre (ou Dobra espacial) é um modelo matemático teórico para uma forma de viagem espacial mais rápida que a luz, utilizada na série de ficção científica Jornada nas Estrelas (Brasil) ou Caminho das Estrelas (Portugal).

Em 1994, o físico mexicano Miguel Alcubierre propôs um método de alongamento do espaço em uma onda que, em teoria, poderia fazer com que o tecido do espaço à frente de uma nave espacial se contraia, enquanto que o tecido que está atrás da nave se expanda.[1] A nave se deslocaria surfando esta onda dentro de uma região conhecida como bolha de dobra, onde as características normais do tecido espaço-tempo se manteriam inalteradas. Uma vez que a nave não estaria se movendo dentro desta bolha, mas transportada junto com ela, os efeitos de dilatação do tempo previstos pela Teoria da Relatividade Especial não se aplicariam à nave, mesmo com a altíssima velocidade de deslocamento em relação ao espaço normal em volta da nave. Além disso, esse método de viagem não implica realmente deslocar-se mais rápido que a luz, uma vez que no interior da bolha, a luz continuaria a ser mais rápida que a nave.

Assim, a Propulsão Alcubierre não contradiz a alegação tradicional da relatividade que proíbe que um objeto com massa seja mais rápido que a luz. No entanto, não se conhecem métodos para criar uma bolha de dobra em uma região do espaço, ou de deixar a bolha, uma vez lá dentro, de modo a Propulsão Alcubierre continua a ser um conceito teórico.

Medida alcubierre[editar | editar código-fonte]

A Medida alcubierre define a chamada propulsão de dobra espacial. Esta é um tubo de Lorentzian que, se interpretada no contexto da relatividade geral, apresenta características parecidas com a dobra espacial de Jornada nas Estrelas: uma bolha de dobra aparece no anteriormente plano tecido do espaço-tempo e se move a velocidade superluminal de forma efetiva. Os habitantes da bolha não sentem efeitos inerciais. Os objetos dentro da bolha não viajam (localmente) mais rápida do que a luz, em vez disso, o espaço à sua volta se move para que os objetos cheguem ao seu destino mais rápido do a luz viajaria, caso a viagem se fizesse em espaço normal.[2]

Alcubierre escolheu uma forma específica para a função , mas outras formas podem exibir de forma mais clara e simples os efeitos da Propulsão de Dobra. Além disso, Alexey Bobrick e Gianni Martire afirmam que, em princípio, uma classe de dobras subluminais e esféricas podem ser construídas com base em princípios físicos atualmente conhecidos da humanidade, como a energia positiva.[3]

Matemática por trás da propulsão Alcubierre[editar | editar código-fonte]

Utilizando o formalismo 3+1 da relatividade geral, o espaço-tempo é descrito por uma foliação de uma hipersuperfície com coordenada de tempo constante. A forma geral da medida de Alcubierre é:

onde é a função que dá o intervalo de tempo adequado entre hipersuperfícies próximas, é o vetor que relaciona o deslocamento espacial em diferentes sistemas de coordenadas e hipersuperfícies e é uma métrica positiva definida em cada uma das hipersuperfícies. A forma particular do estudo de Alcubierre[1] é definida da seguinte forma:

onde

e

com e são parâmetros arbitrários. Dessa forma, o formato específico da medida de Alcubierre pode ser escrita da seguinte forma:

Com esta forma particular da medida, é possível provar que a densidade energética medida por observadores cuja velocidade é a normal à das hipersuperfícies é dada por

onde é o determinante para a medida tensor. Assim, como a densidade de energia necessária é negativa, é necessário um tipo de matéria exótica para que a viagem mais rápida que a luz possa ser alcançada.[1] A existência de matéria exótica não é teoricamente excluída, o efeito Casimir e a aceleração do Universo são indícios que apoiam a existência de tal tipo de matéria.

De qualquer forma, tudo indica que a geração e a sustentação da quantidade necessária de matéria exótica para esse tipo de viagem mais rápido que a luz é impraticável.

Alguns tem argumentado que, no contexto da relatividade geral, seria impossível construir um motor de dobra espacial sem que seja utilizada alguma matéria exótica.[4] Geralmente acredita-se que uma teoria quântica da gravidade poderá resolver esse problema.

Física da propulsão Alcubierre[editar | editar código-fonte]

Para aqueles familiarizados com os efeitos da relatividade especial, tal como a dilatação do tempo, a métrica Alcubierre aparentemente tem alguns aspectos peculiares. Em particular, Alcubierre demonstrou que, mesmo quando a nave espacial está acelerando, ela viaja em queda livre. Em outras palavras, uma nave usando a dobra para acelerar e desacelerar estará sempre em queda livre, e a tripulação não teria nenhuma sensação de aceleração. Enormes forças gravitacionais estarão presentes junto à fronteira da bolha de dobra, devido à grande curvatura do espaço lá, mas de acordo com a especificação da medida, estas seriam muito pequenas dentro do volume ocupado pela nave.

A forma original da teoria de dobra, e as variações mais simples dela, foram escritas com o formalismo de Arnowitt, Deser e Misner, que é frequentemente utilizado em discutir a forma inicial da relatividade geral. Isto pode explicar o equívoco generalizado de que este espaço-tempo é uma solução da equação de campo relatividade geral. Métricas escritas dentro do formalismo ADM são adaptadas a uma determinada família de observadores inerciais, mas os observadores não são fisicamente distinguíveis das outras famílias. Alcubierre interpretou esta "bolha de dobra" em termos de contração do espaço à frente da bolha e expansão atrás. Mas essa interpretação pode ser ilusória,[5] uma vez que a contração e expansão atualmente se referem ao movimento relativo próximo de observadores do tipo da família ADM.

Na relatividade geral, primeiramente se especifica uma distribuição de matéria e energia de forma plausível, e em seguida se verifica a geometria do espaço-tempo associado. Mas também é possível solucionar as equações de campo de Einstein na outra direção: primeiro especificando uma medida e, em seguida, encontrando um tensor associado a ela. Foi isso que Alcubierre fez. Esta forma significa que a solução pode violar diversas condições de energia e requerer matéria exótica. A necessidade de matéria exótica leva à questão de se é realmente possível encontrar uma forma de distribuir a matéria em um espaço-tempo inicial onde não exista uma "bolha de dobra", de forma a criar essa bolha posteriormente. Mas ainda existe outro problema, de acordo com Serguei Krasnikov,[6] pode ser impossível criar a bolha sem que se force a matéria exótica a se mover mais rápido que a luz, o que implicaria na existência de táquions. Alguns métodos têm sido sugeridos para evitar o problema da movimento taquiônico, mas provavelmente iriam gerar uma singularidade nua na frente da bolha.[7][8]

Dificuldades[editar | editar código-fonte]

Construindo o caminho[editar | editar código-fonte]

Krasnikov propôs que, se a matéria taquiônica não puder ser encontrada ou usada, então uma solução poderia ser a disponibilizar grandes massas ao longo do trajeto da nave a ser posta em movimento de forma que o campo requerido seja produzido. Mas neste caso, a nave com propulsão Alcubierre não seria capaz de se deslocar à vontade pela galáxia. Ele só seria capaz de percorrer caminhos que, como uma estrada de ferro, teriam sido construídos com as infra-estruturas necessárias.

O piloto dentro da bolha é desconectado de suas paredes e não pode realizar qualquer ação fora da bolha. No entanto, seria necessário colocar os dispositivos ao longo da rota com antecedência e, uma vez que o piloto não pode fazer isso ao mesmo tempo em que viaja, as bolhas não podem ser utilizados para a primeira viagem a uma estrela distante. Em outras palavras, para viajar para a estrela Vega (que dista 26 anos-luz da Terra) primeiramente tem-se de organizar tudo para que se possa utilizar uma bolha que se desloque com velocidade superluminal. A primeira viagem levaria mais de 26 anos, já que não seria possível fazer essa viagem a uma velocidade superluminal .[6]

É preciso um para construir uma[editar | editar código-fonte]

Coule tem argumentado que esquemas como o proposto por Alcubierre não são viáveis, pois a matéria a ser colocada na estrada tem de ser previamente colocados à velocidade superluminal. Assim, de acordo com Coule, uma propulsão Alcubierre é necessária a fim de construir uma propulsão Alcubierre. Uma vez que já é provado que não existe nenhum, então a propulsão é impossível de construir, mesmo que a medida seja fisicamente significativa. Coule argumenta que uma objeção análoga será aplicável a qualquer proposta de método de construção de uma unidade Alcubierre.[8]

Problema de Natário[editar | editar código-fonte]

O matemático José Natário[9] apontou várias dificuldades.[10]

  1. Para ter a deformação no espaço necessária para esse tipo de viagem funcionar, a humanidade precisa inventar um dispositivo que produza mais energia que a Via Láctea.
  2. A energia deve ser negativa. A humanidade precisa inventar algo que possamos criar energia negativa nas quantidades necessárias para alimentar uma propulsão de dobra.
  3. Mas uma partícula, com massa negativa, reagiria à gravidade exatamente da maneira oposta às partículas de massa positiva. Em vez de a nave espacial, feita de massa normal, ser puxada em direção ao espaço onde está localizado um planeta ou estrela, ela seria afastada da massa negativa.

O maior problema com o conceito da dobra de Alcubierre, segundo Natário, é que "um precisa de um para fazer um". Ou seja, imagine uma aeronave supersônica viajando mais rápido que a velocidade do som. O observador não ouve a aeronave até que ela já tenha passado, porque as ondas sonoras não conseguem acompanhar a aeronave. A propulsão Alcubierre experimenta o mesmo efeito com as ondas de luz, o que significa que não há como enviar uma mensagem antes da aeronave. Para criar a geometria espaço-temporal distorcida em torno da nave, primeiro, seria necessário enviar um sinal à frente para "informar" o espaço-tempo para distorcer. Assim, para fazer a espaçonave ir mais rápido que a luz, ela precisa começar com algo que estaria indo mais rápido que a luz para poder se comunicar com o espaço a frente.

Resolvendo dificuldades[editar | editar código-fonte]

A resolução de dificuldades em criar do motor de dobra espacial é possível usando várias formas de forma separada ou integrando-as.

Uma forma possível é baseando-se nas propriedades quânticas do espaço e na Energia Negativa. Cientistas descobriram com o Efeito Casimir que duas placas no vácuo se juntam devido a pressão das partículas virtuais em volta das placas ser maior do que entre as placas, o que contrai o espaço entre as placas e expande o espaço em volta delas, e que a surge uma da força de atração entre as placas é denominada Energia Negativa e que quanto mais próximo estão as placas mais surge Energia Negativa atraindo mais forte as placas.[11][12][13] Também é possível dizer como faz Morgan Freeman em Grandes Mistérios do Universo que a força da Energia Negativa entre as placas expande o espaço em volta, ou como faz Michio Kaku indiretamente em Física do Impossível que a força da Energia Negativa atrai as placas.

Com essas informações torna possível criar o motor de dobra espacial. Para tanto bastaria aproveitar as partículas virtuais presentes no vácuo quântico e a força da Energia Negativa e Positiva que se criaria no espaço. A forma seria empurrar as partículas virtuais a frente da nave para trás, pois quando empurrasse as partículas virtuais da frente da nave para atrás da nave, a energia atrás da nave se tornaria positiva pelo aumento da quantidade de partículas virtuais e a pressão das partículas virtuais atrás da nave afastaria a nave e o planeta de partida expandindo o espaço entre eles. Já a energia na frente da nave pela retirada de partículas virtuais se tornaria negativa, fazendo oposto que a energia positiva, o que atrairia a nave e o planeta de destino um em direção ao outro contraindo o espaço entre eles. Retirar as partículas virtuais a frente da nave seria semelhante a retirar o ar e as partículas virtuais de dentro de uma sacola, onde contrai o espaço de dentro da sacola por existir pressão atmosférica fora da sacola e por diminuir a curvatura do espaço-tempo de dentro da sacola, assim retirar as partículas virtuais a frente da nave contrairia o espaço a frente da nave pelos mesmos motivos que da sacola e também como mostra o exemplo da sacola para ter espaço é necessário ter elementos físicos presentes.

Outra forma possível de criar o motor de dobra espacial foi apresentado no documentário O Universo, que consistiria em canalizar a energia de um mini-buraco negro ( que criaria uma intensa curvatura do espaço-tempo devido a sua densidade) pendurado na parte da frente da nave para contrair o espaço a frente, e utilizando a energia escura (que é responsável pela aceleração da expansão do espaço físico do Universo) para expandir o espaço atrás.

A respeito de como criar um mini-buraco negro para contrair o espaço a frente da nave, cientistas simularam em supercomputadores colisões entre as partículas perto da velocidade da luz. As simulações que fizeram demonstraram que os buracos negros podem formar-se em energias mais baixas do que se pensava antes.[14]

Já sobre como criar a energia escura para expandir o espaço atrás, os físicos Drs. Gerald Cleaver e Richard Obousy afirmam que seria necessário manipular a 11ª dimensão para criar energia escura. Eles se baseiam na Teoria-M que afirma que existe uma dimensão de tempo e dez de espaço.[15]

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c Alcubierre, Miguel (1994). «The warp drive: hyper-fast travel within general relativity». Class. Quant. Grav. 11: L73–L77. doi:10.1088/0264-9381/11/5/001  See also the «eprint version». arXiv. Consultado em 23 de junho de 2005 , and also at iop.org
  2. S. Krasnikov (2003). «The quantum inequalities do not forbid spacetime shortcuts». Physical Review D. 67. 104013 páginas. doi:10.1103/PhysRevD.67.104013  See also the «eprint version». arXiv 
  3. Bobrick, Alexey; Martire, Gianni (20 de abril de 2021). «Introducing physical warp drives». Classical and Quantum Gravity. 38 (10). 105009 páginas. Bibcode:2021CQGra..38j5009B. ISSN 0264-9381. arXiv:2102.06824Acessível livremente. doi:10.1088/1361-6382/abdf6e 
  4. Low, Robert J. (1999). «Speed Limits in General Relativity». Class. Quant. Grav. 16: 543–549. doi:10.1088/0264-9381/16/2/016  See also the «eprint version». arXiv. Consultado em 30 de junho de 2005 
  5. Natario, Jose (2002). «Warp drive with zero expansion». Class. Quant. Grav. 19: 1157–1166. doi:10.1088/0264-9381/19/6/308  See also the «eprint». arXiv. Consultado em 23 de junho de 2005 
  6. a b S. Krasnikov (1998). «Hyper-fast travel in general relativity». Physical Review D. 57. 4760 páginas. doi:10.1103/PhysRevD.57.4760  See also the «eprint version». arXiv 
  7. Broeck, Chris Van Den, "On the (im)possibility of warpbubbles", 18 May 2000, See eprint,arXiv, retrieved 12 April 2008
  8. a b Coule, D H, "No Warp Drive", Class Quantum Grav 15, 1998, pp2523-2537, retrieved [1] Arquivado em 27 de junho de 2007, no Wayback Machine. 12 April 2008
  9. «José Natário — Departamento de Matemática — Instituto Superior Técnico». www.math.tecnico.ulisboa.pt. Consultado em 10 de julho de 2020 
  10. «Faster-than-light travel: Is warp drive really possible?». BBC Science Focus Magazine (em inglês). Consultado em 10 de julho de 2020 
  11. https://bv.fapesp.br/pt/dissertacoes-teses/82887/fluxos-e-densidades-de-energia-negativa-em-teoria-quantica-d
  12. https://books.google.com.br/books?id=VZE-DwAAQBAJ&pg=PA111&lpg=PA111&dq=energia+negativa+for%C3%A7a+de+atra%C3%A7%C3%A3o+efeito+casimir&source=bl&ots=oZgj5Bjdpw&sig=ACfU3U3RT1ZkUcdDCwI3Xn6IBJqFl9jbvw&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwj0kLm094rnAhVcG7kGHX2HDLgQ6AEwC3oECAoQAQ#v=onepage&q=energia%20negativa%20for%C3%A7a%20de%20atra%C3%A7%C3%A3o%20efeito%20casimir&f=false
  13. http://ivancamaracorrea.blogspot.com/2012/01/velocidade-de-deus.html
  14. «Mini buracos negros são mais fáceis de fazer do que se pensava (com vídeo)». www.ciencia-online.net. Consultado em 28 de abril de 2018 
  15. «Velocidade de dobra pode ser possível, dizem físicos». Site Inovação Tecnológica 
  • Lobo, Francisco S. N.; & Visser, Matt (2004). «Fundamental limitations on 'warp drive' spacetimes». Class. Quant. Grav. 21: 5871–5892. doi:10.1088/0264-9381/21/24/011  See also the «eprint». arXiv. Consultado em 23 de junho de 2005 
  • Hiscock, William A. (1997). «Quantum effects in the Alcubierre warp drive spacetime». Class. Quant. Grav. 14: L183–L188. doi:10.1088/0264-9381/14/11/002  See also the «eprint». arXiv. Consultado em 23 de junho de 2005 
  • Berry, Adrian (1999). The Giant Leap: Mankind Heads for the Stars. [S.l.]: Headline. ISBN 0-7472-7565-3  Apparently a popular book by a science writer, on space travel in general.
  • T. S. Taylor, T. C. Powell, "Current Status of Metric Engineering with Implications for the Warp Drive," AIAA-2003-4991 39th AIAA/ASME/SAE/ASEE Joint Propulsion Conference and Exhibit, Huntsville, Alabama, July 20-23, 2003

Ligações externas[editar | editar código-fonte]