Santa Maria in Turri
Santa Maria in Turri era uma das quatro igrejas que ficavam ao lado do átrio da Antiga Basílica de São Pedro, onde hoje está a Praça de São Pedro, no Vaticano. As outras eram Santa Maria della Febbre, Sant'Apollinare ad Palmata e San Vincenzo Hierusalem. Todas foram demolidas para permitir a construção da nova basílica no início do século XVII, com exceção de Santa Maria della Febbre, que foi transformada em sacristia.
Nome
[editar | editar código-fonte]Além de "in Turri" ("na torre"), outros epítetos para esta igreja era, "ad Grada" ou "ad Gradus" ("nos degraus"), "ante Salvatorem" (uma referência a uma famosa imagem do Salvador nas imediações), "in Atrio" e "in Medium" (de origem obscura). Mariano Armellini acrescenta ainda "in atriano", "in terrione", "in arrano" e "in laborario", mas sem explicar seus significados.[1] Numa descrição da basílica do século VIII,[2] ela é chamada de Santa Maria quae Nova Dicitur" ("dita «a Nova»"), o que ajuda a datar a estrutura.[3]
História
[editar | editar código-fonte]Esta igreja tem sua origem numa antiga estrutura quadrada que ficava sob a torre da basílica perto da entrada para o átrio.[4] A torre foi construída, segundo o Liber Pontificalis, pelo papa Estêvão II (r. 752-757), que a "recobriu com pedaços de ouro e prata" (o que provavelmente significa que ela contava com uma decoração em mosaico nestas cores)[3] e três sinos, que serviam de alarme de segurança. A torre era também, segundo De Rossi, decorada com uma inscrição poética[5]:
“ | Stephanus referat quas venerare fores |
” |
A igreja provavelmente foi construída juntamente com a torre[3] e sua fachada coincidia com a da igreja, ou seja, com a frente do átrio[3] e com portas de bronze segundo Armellini.[1]
O papa Paulo I (r. 757–767) decorou a fachada com um mosaico que o antiquário Giacomo Grimaldi viu e registrou parcialmente. Este mesmo mosaico foi mencionado no Codex Barberini XXXIV, 50 (Fol. 153v. e 154, 154v.), no qual a igreja é referida como "Ecclesia S. Mariae in turri supra gradus anteriores scalarum veteris basilicae Vaticanae, cuius frons musivo opere ornata fuit a Sancto Paulo papa primo, qui sedit anno 757" ("A igreja de Santa Maria in Turri sobre os degraus anteriores da antiga Basílica Vaticana, a frente da qual foi adornada com um mosaico pelo papa São Paulo I, que reinava no ano de 757"[3]).
Na igreja propriamente dita havia uma inscrição dedicatória sobre o mosaico da fachada com os seguintes dizeres: "Christe tibi sit honor Paulus quod decorat opus".[3] O mosaico representava a "Ascensão de Cristo" do jeito tradicional da época, segundo o qual Cristo aparece no meio de uma grande nuvem sendo carregado por anjos. Na base da cena estavam os doze Apóstolos em um grupo, muito parecido com o mosaico da igreja inferior da Basílica de São Clemente, que foi encomendada por Paulo I. Mais tarde, a fachada foi alterada numa reforma ocorrida durante o pontificado do papa Nicolau V (r. 1447–1455), cujo nome apareceu sobre a entrada por volta de 1450.
Durante o pontificado do papa Adriano I (r. 772–795), a igreja foi chamada de S. Maria in Atrio e, durante este período, havia ali uma diaconia destinada à distribuição de esmolas.[3][1] Séculos mais tarde, um certo papa Inocêncio (provavelmente papa Inocêncio II, que consagrou muitas igrejas na cidade em seu nome em 1143) reconsagrou a igreja. Foi para comemorar este evento que uma inscrição foi escava no altar em versos leoninos, mais tarde relatada também por Grimaldi[3]:
“ | Est in honore piae domus ista sacrata Mariae |
” |
Em 8 de junho de 1555, o papa Adriano IV coroou Frederico Barbarossa imperador do Sacro Império Romano-Germânico na Antiga Basílica de São Pedro. Barbarossa seguiu em seguida até a igreja, onde ele se ajoelhou diante do papa e prometeu proteger e defender a Santa Igreja Católica.[6]
Porém, ele foi obrigado a atacar a cidade mais tarde, em 1167. Foi nesta época que um importante episódio da História da Igreja ocorreu.[6] Durante o ataque de Barbarossa à basílica, a pequena igreja se transformou num posto da defesa; apesar disto, no final, ela acabou sendo incendiada e se arruinou (em latim: penitus combusta et dissipata).[3] Muitas foram as perdas entre as obras de arte, incluindo a já mencionada imagem do Salvador: era uma cópia da imagem do Véu de Verônica que ainda está na basílica.[3] A planta da basílica, segundo Tiberio Alfarano (r. 1525–1596) mostra a igreja, mas, nesta época, ela provavelmente já estava em ruínas e abandonada.[3][7]
Seja como for, a igreja acabou sendo demolida para abrir espaço para a construção do Peter's Basilica nos século seguintes.
Descrição
[editar | editar código-fonte]O historiador Onofrio Panvinio (1529–1568) descreveu quatro oratórios ou pequenas igrejas que ainda existiam em seu tempo à volta da Antiga Basílica de São Pedro.[3] Eles foram construídos no quadripórticos que rodeia o átrio (em italiano: paradiso) do complexo. Santa Maria in Turri ficava do lado leste da entrada; à direita, no canto, Sant'Apollinare ad Palmata. Adiante destas duas, de frente para elas no pórtico imediatamente em frente da basílica, San Vincenzo Hierusalem, que ficava imediatamente à direita da esquina, e Santa Maria della Febbre, que ficava onde o antigo secretarium ficava (também chamado de Oratorium San Gregorii por causa da proximidade do túmulo de São Gregório Magno).[3]
Função
[editar | editar código-fonte]A igreja de Santa Maria in Turri é geralmente mencionada em relação com a procissão com as palmas no Domingo de Ramos, a procissão com velas na festa da Purificação e em outras ocasiões similares. Ela tinha também uma importância especial durante as coroações de imperadores do Sacro Império.[8] Durante o evento, o rei que estava prestes a ser coroado recebia o papa na praça diante dos degraus e se encaminhava para a igreja; com sua mão nos Evangelhos, ele então realizava seu juramento de fidelidade. Logo depois, no mesmo lugar, o cônego da basílica "o recebia como irmão", o que significava que ele era aceito no capítulo, e o vestia com as vestes imperiais.[3] Completada a cerimônia, eles seguiam com ele até a porta de prata da basílica sob o canto de "Petre amas me".
Ao lado da igreja de Santa Maria, o imperador construiu o "Palatinus Caroli", que era uma residência imperial. Ela foi construída durante o pontificado do papa Leão III (r. 795–816). O imperador ficava hospedado ali e realizava julgamentos no local. Otão II o utilizou como residência na cidade e, notavelmente, morreu no local.[3]
Referências
- ↑ a b c Armellini, Mariano (1891). Le chiese di Roma dal secolo IV al XIX (em italiano). Rome: Tipografia Vaticana
- ↑ De Rossi, Giovanni Battista. Inscriptiones christianae Urbis Romae (em italiano). 2. [S.l.: s.n.] p. 228
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o «I monumenti del paradiso nell'antica Basilica Vaticana: Gli oratorii del paradiso, in ispecie S. Maria in turri». Rome: Society of Jesus. Civiltà Cattolica (em italiano). LV (2): 203–208. 1904
- ↑ Raymond, Davis, ed. (1995). Liber Pontificalis – The lives of the ninth-century popes : the ancient biographies of ten popes from AD 817-891 (em inglês). Liverpool: Liverpool Univ. Press. p. 65–66. ISBN 0-85323-479-5
- ↑ De Rossi, Giovanni Battista. Inscriptiones christianae Urbis Romae (em italiano). 2. [S.l.: s.n.] p. 275
- ↑ a b Henderson, Ernest Flagg (1894). «Frederick I (Barbarossa)». A History of Germany in the Middle Ages (em inglês). [S.l.]: G. Bell & Sons. p. 246–259
- ↑ Hülsen, Christian (1927). «S. Mariae In Turri Ovvero In Turribus In Vaticano». Le chiese di Roma nel Medio Evo (em Italian). Florence: Leo S. Olschki. pp. 372–373
- ↑ Forcella, Vincenzo (1869). Iscrizioni delle chiese e d'altri edificii di Roma dal secolo 11 fino ai giorni nostri (em italiano). VI. Roma: Tip. delle scienze matematiche e fisiche. p. 20