Saltar para o conteúdo

Sismo de Tasquente de 1966

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Sismo de Tasquente de 1966
Epicentro Tasquente, Usbequistão
41° 10' N 69° 08' E
Profundidade 3–8 km
Magnitude 5,1 [1] MW
Data 26 de abril de 1966

Hora local: 05:22:49

UTC: 25 de abril, 23:22:49

Zonas mais atingidas União Soviética, RSS Usbeque
Estragos 300 000 desalojados; destruição da maior parte de Tasquente
Vítimas 15 a 200 mortos; várias centenas de feridos
epicentro está localizado em: Uzbequistão
epicentro
Localização do epicentro no Usbequistão

O sismo de Tasquente de 1966 (em usbeque: Toshkent zilzilasi; em russo: Ташкентское землетрясение) ocorreu às 05h22min49 do dia 26 de abril de 1966 (UTC: 25 de abril, 23h22min49), com epicentro no centro da cidade de Tasquente, a capital do Usbequistão, a uma profundidade de 3 a 8 km. Provocou a destruição da maior parte dos edifícios da cidade, fez entre 15 e 200 vítimas mortais e deixou 300 000 desalojados. A seguir ao desastre, a maior parte das áreas históricas de Tasquente, que na altura era a capital da República Socialista Soviética Uzbeque, da URSS, foram demolidas e a cidade foi reconstruída como uma cidade modelo ao estilo soviético.[2][3]

A região de Tasquente é propensa a sismos — entre 1914 e 1966 há registo de 74 sismos de magnitude entre 3 e 6.[4] No século XIX a cidade foi danificada por sismos en 1866 e 1886.[5] As preocupações sobre os possíveis danos causados por sismos à cidade surgiram nas décadas de 1940 e 1950, especialmente depois de Asgabate, a capital do vizinho Turquemenistão, ter sido devastada por um sismo em 1948.[6] Antes do sismo de 1966 registou-se um aumento dos níveis de radão.[7]

O sismo correu às 05:23 horas locais (UTC+6),[8][9] a uma profundidade de 3 a 8 km,[9] com epicentro no centro da cidade.[10] Provocou extensos danos às edificações, tendo destruído cerca de 80% da cidade,[11] incluindo mais de metade da parte antiga.[12] No total foram destruídas entre 78 000[13] e 95 000 habitações.[14] As estimativas do número de desalojados variam entre 200[14][15] e 300 mil.[16]

A maior parte das habitações destruídas eram casas construídas em adobe nas áreas centrais, mais densamente povoadas.[17] A maior parte dos edifícios mais significativos de Tasquente foram também destruídos, nomeadamente mesquitas com vários séculos de idade.[18] Grande parte dos edifícios destruídos eram anteriores à Revolução Russa de 1917.[19] Um dos únicos monumentos que não foi afetado foi o Teatro Navoi, construído por prisioneiros de guerra japoneses.[20][21][22]

O número oficial de vítimas mortais é 15,[16] mas este número é possivelmente uma subestimativa devida ao hábito de secretismo soviético.[23][24] Outras fontes estimam que morreram pelo menos 200[18] pessoas, havendo até outras que vão até 5 500, 0,5% da população da cidade,[25] que na altura tinha 1,1 milhão de habitantes.[26] Houve mais 20% de mortos entre as mulheres do que entre os homens.[25]

Consequências

[editar | editar código-fonte]

Imediatamente após o desastre, importantes figuras soviéticas, incluindo o Secretário-geral do Partido Comunista Leonid Brejnev, foram a Tasquente para supervisionar os esforços de recuperação.[9] Foi empreendido um extenso programa de reconstrução, para o qual contribuíram outras repúblicas soviéticas enviando numerosos trabalhadores para ajudarem no processo de reconstrução.[26][27] A capital usbequistanesa foi reconstruída como cidade modelo soviética, com avenidas largas, com árvores de sombra plantadas, parques, praças amplas para paradas, fontes, monumentos e muitos hectares de blocos de apartamentos.[13][27] O Metro de Tasquente foi também construído nessa altura. Em 1970 tinham sido construídas cerca de 100 000 novas residências, mas muitas delas foram ocupadas pelos construtores e não pelos residentes que tinham ficado sem casa. O desenvolvimento urbano prosseguiu nos anos seguintes, aumentando o tamanho da cidade com novas urbanizações na área de Chilonzor, a nordeste e sudeste do núcleo urbano.[13]

Outras consequências do sismo foram o aumento da religiosidade, registando-se um interesse crescente no culto islâmicas,[28] e uma mudança na composição étnica da cidade, devido ao facto de muitos daqueles que foram para trabalhar na reconstrução terem permanecido em Tasquente após a conclusão das obras.[13]

Para prevenir que futuros desastres do mesmo tipo causassem impactos tão graves, em 1966 as autoridades soviéticas criaram um instituto de sismologia, encarregado de monitorizar mudanças sísmicas como as dos níveis de radão e tentar prever sismos.[29]

Em 1976 foi inaugurado um monumento em memória das vítimas sobre o local do epicentro.[8]

Notas e referências

[editar | editar código-fonte]
  1. Bindi, D.; Abdrakhmatov, K.; Parolai, S.; Mucciarelli, M.; Grünthald, G.; Ischukf, A.; Mikhailova, N.; Zschau, J. (2012), «Seismic hazard assessment in Central Asia: Outcomes from a site approach», Soil Dynamics and Earthquake Engineering (em inglês), 37: 7, doi:10.1016/j.soildyn.2012.01.016 
  2. Cowan, Janice (2006), A Spy's Wife: The Moscow Memoirs of a Canadian who Witnessed the End of the Cold War, ISBN 978-1-55028-931-2 (em inglês), James Lorimer & Company, p. 74 
  3. Schwartz, Stephen (2008), The Other Islam: Sufism and the Road to Global Harmony, ISBN 978-0-385-52665-4 (em inglês), Crown Publishing Group, p. 222 
  4. Bubis, I.I. (setembro de 1966), «Engineering analysis of the aftereffects of the Tashkent earthquake, April 26, 1966», Soil Mechanics and Foundation Engineering (em inglês), 3 (5): 339–344, doi:10.1007/BF01706148 
  5. Adle, Chahryar (2005), History of Civilizations of Central Asia: Towards the contemporary period : from the mid-nineteenth to the end of the twentieth century, ISBN 9789231039850 (em inglês), UNESCO, p. 830 
  6. Stronski, Paul (2010), Tashkent: Forging a Soviet City, 1930–1966, ISBN 978-0-8229-7389-8 (em inglês), University of Pittsburgh Press, pp. 159–160 
  7. Cothern, C.Richard (1987), «Environmental Radon», ISBN 978-0-306-42707-7, Environmental Science Research (em inglês), 35 
  8. a b Lovell-Hoare, Sophie (2013), Uzbekistan, ISBN 978-1-84162-461-7 (em inglês), Bradt Travel Guides, p. 100 
  9. a b c Agrawal, Premendra (2012), Silent Assassins Jan11,1966, ISBN 9789350878453 (em inglês), Agrawal Overseas, p. 291 
  10. Shoumatoff, Nicholas (2000), Around the Roof of the World, ISBN 978-0-472-08669-6 (em inglês), University of Michigan Press, p. 186 
  11. Christensen, Anna (22 de janeiro de 1984), «New Old collide in Tashkent», Deseret News (em inglês) 
  12. United Nations. Economic and Social Commission for Asia and the Pacific (2003), The Ground Beneath Our Feet: A Factor in Urban Planning, Volume 14 of Atlas of urban geology, ISBN 9789211201543 (em inglês), United Nations Publications, p. 110 
  13. a b c d Sadikov, A C; Akramob, Z. M.; Bazarbaev, A.; Mirzlaev, T.M.; Adilov, S. R.; Baimukhamedov, X. N. (1984), Ташкент Географический Атлас [Atlas Geográfico de Tasquente] (em russo), Moscovo, pp. 60, 64 
  14. a b Ruthven, Malise (2004), Historical Atlas of Islam, ISBN 978-0-674-01385-8 (em inglês), Harvard University Press, p. 145 
  15. Bunich, Igor (2004), НЛО: Операция "Троянский конь" [OVNI: "Operação Cavalo de Tróia"], ISBN 9789211201543 (em russo), Olma Media Group, p. 182 
  16. a b Schmemann, Serge (21 de março de 1984), «Big tremor rocks Central Asia area», The New York Times4 (em inglês) 
  17. Nurtaev Bakhtiar (199), Damage for buildings of different type (em inglês), Instituto de Geologia e Geofísica da Academia de Ciências do Usbequistão 
  18. a b Rall, Ted (2006), Silk Road to Ruin: Is Central Asia the New Middle East?, ISBN 978-1-56163-454-5 (em inglês), NBM, p. 141 
  19. Science Journal (em inglês), 4: 74, 1968 
  20. Katsumi Akai『Okayama zatsugaku nōto』Kibitoshuppan 2000 p. 118-121
  21. Award Ceremony and Celebration for the Monodzukuri Nippon (Japan's Manufacturing) Grand Award (em inglês), Primeiro-ministro do Japão e seu Gabinete 
  22. Japan-Uzbekistan Relations (em inglês), Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão 
  23. Hutchings, Ramond (1988), Soviet Secrecy and Non-secrecy, ISBN 978-0-389-20754-2 (em inglês), Rowman & Littlefield, p. 70 
  24. Huxley, Michael (1973), The Geographical Magazine (em inglês), 46: 411 
  25. a b Stoltman, Joseph (2007), International Perspectives on Natural Disasters: Occurrence, Mitigation, and Consequences: Occurrence, Mitigation, and Consequences, Volume 21 of Advances in natural and technological hazards research, ISBN 978-1-4020-2851-9 (em inglês), Springer Science & Business Media, p. 435 
  26. a b Roscoe Wright, James (1971), Industrialized Building in the Soviet Union: (a Report of the U.S. Delegation to the U.S.S.R.), ISBN 9789211201543 (em inglês), U.S. Government Printing Office, p. 15 
  27. a b Hanks, Reuel (2005), Central Asia: A Global Studies Handbook, ISBN 978-1-85109-656-5 (em inglês), ABC-CLIO, p. 32 
  28. Ramet, Sabina (1989), Religion and Nationalism in Soviet and East European Politics, ISBN 978-0-8223-0891-1 (em inglês), Duke University Press, p. 205 
  29. Lee, William (2003), International Handbook of Earthquake & Engineering Seismology, Part 2, Volume 81, Part 2 of International Geophysics, ISBN 978-0-08-048923-0 (em inglês), Academic Press, p. 1465 

Leitura complementar

[editar | editar código-fonte]
  • Raab, Nigel (2014), «The Tashkent Earthquake of 1966: The Advantages and Disadvantages of a Natural Tragedy», Jahrbücher für Geschichte Osteuropas, 62 (2): 273–294, JSTOR 43819634