Sílvia Serafim Thibau

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Sílvia Serafim Thibau
Sílvia Serafim Thibau
Nascimento 27 de julho de 1902
Rio de Janeiro, Distrito Federal, Brasil
Morte 27 de abril de 1936 (33 anos)
Niterói, Distrito Federal, Brasil
Cidadania Brasil
Ocupação escritora, jornalista

Sílvia Serafim Thibau[nota 1] (Rio de Janeiro, 27 de julho de 1902 - Niterói, 27 de abril de 1936) foi uma jornalista e escritora brasileira.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Filha de Augusto Serafim, auxiliar de Oswaldo Cruz, foi casada com o médico Ernesto Thibau Júnior, e mãe de três filhos, Mauro, Claudio e Roni.

Dedicava-se à escrita jornalística e atuou em diversos periódicos, como O Jornal, Gazeta de S. Paulo e Fon-fon. Ligada às artes, Sylvia era simpatizante do socialismo e do movimento feminista[1]. Escreveu diversos ensaios sobre literatura, romance, poemas, crônicas sob pseudônimos Cinderella, Petite Source, Mariposa Doirada, dentre outros. Era uma das únicas, caso não a única, mulher com um suplemento inteiro em um grande jornal da época. Comandava o suplemento dominical Para a mulher no lar, em O Jornal, de Assis Chateaubriand.

Sua intensa produtividade literária e perfil emancipado para a época - como o desquite em 1929 - tornam Sylvia uma figura-alvo de tensões conservadoras e é amplamente noticiado pelo jornal carioca Crítica.

Crítica[editar | editar código-fonte]

O jornal Crítica aponta um suposto adultério cometido por Sylvia Serafim com o médico e cientista Manuel Dias de Abreu (1891-1962), mais tarde inventor da abreugrafia, o que não foi comprovado.[2] A matéria de capa do jornal no dia 26 de dezembro de 1929, "Entra hoje em juízo nesta capital um rumoroso pedido de desquite!"[1], sugeria que o verdadeiro motivo de seu desquite seria o adultério. Nela, Sylvia é retratada pelo ilustrador Roberto Rodrigues como se acariciada pelo médico. Sylvia havia estado na redação do jornal na noite anterior (Natal de 1929), e conversado com o próprio Roberto, que chegou a prometer que não publicaria a matéria[3].

No dia seguinte, foi até a loja Espingarda Mineira, comprou uma arma[4] e seguiu para a redação do jornal procurando por Mário Rodrigues.[5] Como Mário não estava no jornal, Sílvia atirou no filho dele, o também jornalista Roberto. No local, assistindo ao crime, estava o irmão da vítima, Nelson Rodrigues, então com 17 anos.[6][4] O crime marcaria a vida de Nelson, que posteriormente declarou que "o meu teatro não seria como é, nem eu seria como sou, se eu não tivesse sofrido na carne e na alma, se não tivesse chorado até a última lágrima de paixão o assassinato de Roberto."[7]

O processo criminal foi acompanhado por uma feroz campanha promovida pelo jornal, que chamava a ré de "literata do Mangue" e "cadela das pernas felpudas". Seu julgamento foi o primeiro no Brasil a ser transmitido ao vivo pelo rádio, e se tornou palco de uma disputa político-ideológica entre grupos conservadores/reacionários e grupos feministas/progressistas. O advogado de defesa, Clóvis Dunshee de Abranches, alegou que Sílvia havia sido caluniada.[8] Ao passo que o advogado de acusação, Max Gomes de Paiva, sugeriu que Sylvia “trocou sua condição de anjo do lar pela profissão de jornalista, para satisfação de sua vaidade”.[9]

Sylvia foi absolvida. Suicidou-se em 1936 depois de um tenente-aviador tê-la abandonado junto com o filho do casal de 3 anos.[10]

Representações[editar | editar código-fonte]

O assassinato de Roberto entrou para a memória coletiva e recebeu ampla cobertura e repercussão em diversas mídias. Nelson Rodrigues dedica diversas crônicas de seu livro O reacionário ao impacto do assassinato de seu irmão em sua vida, e Ruy Castro amplia a discussão em O anjo pornográfico. O crime de Silvia Thibau também foi encenado como um episódio do programa Linha Direta, da Rede Globo, exibido em 7 de junho de 2007. Letícia Spiller fez o papel da jornalista e Eriberto Leão representou Roberto Rodrigues.[8]

A tragédia foi contada também na peça A vida como ela é, espetáculo sobre a vida e obra de Nelson Rodrigues encenado em 2010[11], e serviu ainda de inspiração para o romance Sylvia não sabe dançar (2012), de Cristiane Lisbôa.[12]

As versões divergem em alguns pontos, tanto mais considerando as ficções.

Obras publicadas[editar | editar código-fonte]

  • Fios de prata, sinfonia da dor, 1930
  • Ramos de coral (poemas de coração de mãe), 1931
  • Manual de civilidade, 1935[13]

Notas

  1. Na grafia original, Sylvia Seraphim Thibau.

Referências

  1. «Minha bisavó matou um cara». revista piauí. Consultado em 8 de janeiro de 2023 
  2. Paixão e morte na virada do século Observatório da Imprensa, 10 de maio de 2005
  3. Desumanização feminina e sensacionalismo: o caso Sylvia Serafim - Aula 1, consultado em 16 de novembro de 2023 
  4. a b «Paixão e morte na tragédia que marcou a família de Nelson Rodrigues». Glamourama. Consultado em 23 de outubro de 2020 
  5. BARBOSA, Marialva. História cultural da imprensa Brasil - 1900-2000. Mauad Editora, 2007. Págs. 68-71
  6. Nelson Rodrigues. Almanaque Brasil
  7. «A Primeira Tragédia de Nelson Rodrigues – Linha Direta Justiça – Memória». Consultado em 28 de novembro de 2021 
  8. a b memória Globo - Rede Globo
  9. Castro, Ruy (1992). O anjo pornográfico. [S.l.: s.n.] p. 98 
  10. Paixão e morte na virada do século. Observatório da Imprensa, 10 de maio de 2005
  11. A Vida Como Ela É volta ao cartaz. Gazeta do Povo - Caderno G, 11 de agosto de 2010
  12. Filha em situações libertinosas com o próprio pai...até que ponto vai uma carícia? - Livraria da Folha
  13. Fundação Biblioteca Nacional - Catálogo antigo[ligação inativa]