Usuário(a):CorraleH/Limiar auditivo

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O limiar absoluto auditivo, ou simplesmente limiar auditivo, é o menor nível sonoro que o ouvido humano médio com audição típica pode ouvir na ausência de som ambiente. O limiar absoluto está relacionado ao som que o organismo é capaz de detectar. [1] [2] O limite absoluto não é um ponto discreto e, portanto, é classificado como o ponto em que um som provoca uma resposta em uma determinada porcentagem do tempo. Isso também é conhecido como limite auditivo.

O limiar de audição é geralmente relatado como a pressão sonora RMS de 20 micropascais, ou seja, 0 dB SPL, correspondendo a uma intensidade de som de 0,98 pW/m2 em 1 atmosfera e 25 °C C. [3] É aproximadamente o som mais baixo que um jovem com audição típica consegue detectar em 1.000 Hz. [4] O limiar de audição depende da frequência, sendo demonstrado que a sensibilidade do ouvido é melhor entre as frequências de 2 kHz e 5 kHz, [5] onde o limite é mais baixo e próximo de -9 dB SPL. [6] [7] [8]

Os limiares de audição médios são plotados de 125 a 8.000 Hz para os mais jovens (círculos vermelhos) e mais velhos (losangos pretos).

Métodos psicofísicos para medir limiares[editar | editar código-fonte]

A mensuração do limiar absoluto de audição fornece algumas informações básicas sobre nosso sistema auditivo . [4] As ferramentas usadas para coletar essas informações são chamadas de métodos psicofísicos. Por meio deles, a percepção de um estímulo físico (som) e nossa resposta psicológica ao som podem ser medidos. [9]

Existem vários métodos psicofísicos que permitem medir o limiar auditivo, sendo diversos, mas com aspectos comuns. Em primeiro lugar, o teste tem como objetivo definir o estímulo e identificar a maneira como o sujeito respondeu. O teste apresenta o som ao ouvinte e modula o nível de estímulo em um padrão predeterminado. O limiar absoluto é definido estatisticamente, geralmente como uma média de todos os limiares auditivos obtidos. [4]

Alguns procedimentos usam uma série de tentativas, com cada tentativa usando o 'paradigma "sim"/"não" de intervalo único'. Isso significa que o som pode estar presente ou ausente em um único intervalo, assim, o ouvinte deve dizer se conseguiu identificar o estímulo. Quando o intervalo não apresenta um estímulo, é chamado de "tentativa de captura". [4]

Métodos clássicos[editar | editar código-fonte]

Os métodos clássicos datam do século XIX e foram descritos pela primeira vez por Gustav Theodor Fechner em sua obra Elements of Psychophysics . [9] Cabe destaque para três métodos que são tradicionalmente usados para testar a percepção de um estímulo: o método dos limites, o método dos estímulos constantes e o método de ajuste. [4]

Método de limites
No método de limites, o aplicador do teste controla o nível dos estímulos. É usado o paradigma sim/não de intervalo único, mas não há tentativas de captura.
O utiliza várias séries de estímulos descentes e ascendentes.
O teste começa com uma escala descendente, onde um estímulo é apresentado em um nível bem acima do limite esperado. Quando o sujeito responde corretamente ao estímulo, o nível de intensidade do som é diminuído em um valor específico e apresentado novamente. O mesmo padrão é repetido até que o sujeito pare de responder aos estímulos, ponto em que o teste é finalizado.
Na sequência de estímulos ascendentes, o estímulo é apresentado inicialmente bem abaixo do limiar e então gradualmente aumentado em dois decibéis (dB) até que o indivíduo demonstre uma responda.
Ficheiro:Method of limits.png
Série de estímulos descendentes e ascendentes no Método dos Limites
Como não há uma definição objetiva para 'ouvir' e 'não ouvir', o limite do limiar auditivo é determinado como o ponto médio entre o último nível audível e o primeiro nível inaudível.
O limiar absoluto de audição do sujeito é calculado como a média de todos os limiares obtidos nas escalas de estímulo ascendente e descendente apresentadas.
Entretanto, existem vários problemas relacionados ao método de limites. O primeiro é a antecipação, que pode acontecer pela consciência do paciente de que os pontos de inflexão determinam uma mudança na resposta. A antecipação produz melhores limiares ascendentes e piores limiares descendentes.
Temos também a habituação, que cria um efeito completamente oposto e ocorre quando o sujeito se condiciona a responder "sim" nas escalas de teste descendentes e/ou "não" nas escalas ascendentes. Por esse motivo, os limites tendem a aumentar para os estímulos ascendentes e diminuir nos testes descendentes.
Outro problema pode acontecer no aumento gradativo do nível de estímulo. Um aumento muito grande pode compromete a precisão do teste, pois o limite real pode estar apenas entre dois níveis de estímulo.
Cabe salientar, como o tom está sempre presente, que o "sim" é sempre a resposta correta. [4]
Método de estímulos constantes
No método de estímulos constantes, o aplicador do teste define o nível dos estímulos e os apresenta em aleatoriamente ao paciente.
Ficheiro:Method of Constant Stimuli.png
Assunto respondendo "sim" / "não" após cada apresentação
Nesse caso, não há provas baseadas em escalas de estímulos crescentes ou decrescentes.
O sujeito responde "sim" / "não" após cada apresentação.
Os estímulos são apresentados repetidamente para cada nível, de forma que, o limiar é definido como o nível de estímulo em que o indivíduo acertou no mínimo 50%. Além disso, ensaios "catch" podem ser incluídos neste método.
O método dos estímulos constantes tem várias vantagens em relação ao método dos limites. Em primeiro lugar, a ordenação aleatória dos estímulos reduz a possibilidade da resposta correta ser prevista pelo ouvinte. Em segundo lugar, como o tom pode estar ausente (tentativa de captura), a reposta "sim" nem sempre é a resposta correta. Por fim, as tentativas de captura servem para detectar a quantidade de adivinhação do ouvinte.
A principal desvantagem do método dos estímulos constantes reside no grande número de tentativas necessárias para obter os dados e, portanto, o tempo necessário para concluir o teste. [4]
Método de ajuste
O método de ajuste compartilha algumas características com o método de limites, mas difere em outras. Nesse método existem sequências de estímulos decrescentes e crescentes, e o ouvinte sabe que o estímulo está sempre presente.
Ficheiro:Method of Adjustment.png
O paciente reduz ou aumenta o nível do tom
No entanto, ao contrário do método dos limites, no método de ajuste o estímulo é controlado pelo ouvinte. O paciente reduz o nível do tom até que não possa mais ser detectado ou aumenta até que possa ser ouvido novamente.
O nível de estímulo é variado continuamente por meio de um dial ou botão regulador, e o nível de estímulo é medido pelo testador no final. O limite é calculado pela média apenas dos níveis audíveis e inaudíveis.
Além disso, o método de ajuste pode produzir vários vieses. Com o objetivo de evitar indicar sobre o nível de estímulo real, o dial ou botão não deve ser rotulado. Além da antecipação e habituação já mencionadas, a persistência do estímulo (preservação) pode influenciar no resultado do método de ajuste.
Na apresentação da escala de estímulos descendentes, o indivíduo pode continuar a reduzir o nível sonoro como se o som ainda fosse audível, embora o estímulo já esteja bem abaixo do limiar de audição real.
Em contrapartida, nas escalas ascendentes, o indivíduo pode persistir na ausência do estímulo até que o limiar de audição seja ultrapassado em certa quantidade. [10]

Métodos clássicos modificados[editar | editar código-fonte]

Métodos de escolha forçada[editar | editar código-fonte]

Nos métodos de escolha forçada, dois intervalos são apresentados a um ouvinte, um com tom e outro sem tom. O ouvinte deve decidir qual intervalo contém o tom. O número de intervalos é variável, podendo ser aumentado, de forma a dificultar a percepção pelo ouvinte, que deve ser capaz lembrar qual intervalo apresentava o tom. [4] [11]

Métodos adaptativos[editar | editar código-fonte]

Ao contrário dos métodos clássicos, nos quais o padrão para alterar os estímulos é predefinido, nos métodos adaptativos, a resposta do sujeito aos estímulos anteriores determina o nível em que um estímulo subsequente será apresentado. [12]

Métodos de escada (métodos up-down)[editar | editar código-fonte]

Ficheiro:Simple Up-Down Method.png
Série de escalas de testes descendentes e ascendentes, e pontos de flexão.

O método simples '1-down-1-up' consiste em séries de tentativas estímulos descendentes e ascendentes e, também, de pontos de viragem/flexão (reversões). O nível de estímulo aumenta se o sujeito não responde e diminui quando ocorre uma resposta.

Da mesma forma, como no método de limites, os estímulos são ajustados em etapas pré-determinadas. Após obter entre seis a oito reversões, a primeira é descartada e o limite é definido como a média dos pontos médios das corridas restantes. Entretanto, experimentos evidenciaram que este método fornece apenas 50% de precisão. [12]
Para produzir resultados mais precisos, este método pode ser modificado, de forma a aumentar o tamanho das mudanças de tom nas execuções descendentes, por exemplo, método '2-down-1-up', métodos '3-down-1-up'. [4]

Método de rastreamento de Bekesy[editar | editar código-fonte]

O método de Bekesy contém alguns aspectos dos métodos clássicos. Bekesy desenvolveu um método no qual o nível do estímulo varia automaticamente em função de uma taxa fixa. Na execução do teste, é solicitado que o indivíduo pressionei um botão toda vez que perceber um estímulo.

Ficheiro:Bekesy's Tracking Method.png
O limite sendo rastreado pelo ouvinte
Assim que o botão é pressionado, o nível é diminuído automaticamente pelo atenuador e, em seguida, aumentado quando o botão não é pressionado. Assim, o limite pode ser rastreado pelos ouvintes e calculado como a média dos pontos médios das escalas de estímulos, conforme registrado pelo equipamento. [4]

Efeito de histerese[editar | editar código-fonte]

A histerese pode ser definida de foma resumida como "o atraso de um efeito por trás de sua causa". Ao medir os limiares de audição, o indivíduo tende a seguir um tom que é audível e com amplitude decrescente do que detectar um tom que antes era inaudível.

Isso ocorre porque as influências 'de baixo para cima', variação sonora, significam que o sujeito espera ouvir o som e, portanto, fica mais predisposto com níveis mais altos de estimulação.

A teoria de baixo para cima' explica que o ruído externo (do ambiente) e interno (por exemplo, batimento cardíaco) induz o indivíduo a responder ao som caso a relação sinal/ruído estiver acima de um certo ponto, for significante.

Na prática, isso significa que, ao medir o limiar auditivo, diminuindo em amplitude o estímulo, o ponto em que o som se torna inaudível é sempre inferior ao ponto em que ele retorna à audibilidade. Este fenômeno é conhecido como 'efeito de histerese'.

Ficheiro:Hysteresis.png
As escalas descendentes fornecem melhores limiares de audição do que as escalas ascendentes

Função psicométrica do limiar auditivo absoluto[editar | editar código-fonte]

A função psicométrica, "representa a probabilidade de resposta de um determinado ouvinte em função da magnitude da característica sonora particular que está sendo estudada". [13]

Para dar um exemplo, a função psicométrica pode ser entendida com acurva de probabilidade do indivíduo identificar um som, com isso a função psicométrica é uma representação do nível sonoro. Quando o estímulo é apresentado ao ouvinte, esperasse que o som seja classificado com audível ou inaudível. Na realidade, existe uma área cinzenta onde o ouvinte não tem certeza se realmente ouviu o som ou não, logo suas respostas são inconsistentes, resultando em uma função psicométrica.

A função psicométrica é uma função sigmoide caracterizada por formar um 's' na representação gráfica.

Faixa audível mínima vs pressão audível mínima[editar | editar código-fonte]

Dois métodos podem ser usados para medir o estímulo audível mínimo [2] e, portanto, o limiar aditivo. A faixa audível mínima pode ser mensurada com o indivíduo sendo estimulado por meio de um alto-falante. [14] O nível sonoro é medido a partir da posição da cabeça do indivíduo quando este está fora do campo sonoro. A pressão audível mínima envolve a apresentação de estímulos por meio de fones de ouvido ou sondas auditivas [1] e, também, a medição da pressão do som no canal auditivo do indivíduo usando um microfone de sonda com tamanho. Os dois métodos resultam em diferentes limites , sendo que os valores mínimos de campo audível são frequentemente encontrados de 6 a 10 dB a mais do que os limites mínimos de pressão audível. A diferença é possivelmente atribuída a:

  • audição monoaural vs binaural. Com um campo audível mínimo, ambos os ouvidos são capazes de detectar os estímulos, mas com uma pressão audível mínima, apenas um ouvido é capaz de detectar os estímulos. A audição binaural é mais sensível do que a audição monoaural;[1]
  • ruídos fisiológicos percebidos quando o ouvido é obstruído por um fone de ouvido durante as medições de pressão audível mínima. [2] Quando o ouvido está coberto, a pessoa pode ouvir ruídos corporais, como batimentos cardíacos, e podem ter um efeito de mascaramento.

O campo audível mínimo e a pressão audível mínima são importantes para calibração de instrumentos audiométricos e também ilustram como a audição humana é mais sensível na faixa de 2–5 kHz. [2]

Somatório temporal[editar | editar código-fonte]

A soma temporal é a relação entre a duração e a intensidade do estímulo dentro de um período de tempo inferior a um segundo. A sensibilidade auditiva se altera quando a duração de um som torna-se inferior a um segundo. A intensidade do limiar diminui em cerca de 10 dB quando a duração de um tom burst é aumentada de 20 para 200 ms.

Por exemplo, suponha que o som mais baixo que um indivíduo pode ouvir seja 16 dB SPL se o som for apresentado com a duração de 200 ms. Por outro lado, se o mesmo som for apresentado por uma duração de 20 ms, o som mais baixo audível pelo sobe para 26 dB SPL. Assim, se um sinal for reduzido em dez vezes, o nível desse sinal deve ser aumentado em até 10 dB para ser audível pelo indivíduo.

O ouvido funciona como um detector de energia que faz uma amostragem da quantidade de energia percebida em um determinado período de tempo. De forma, que uma quantidade mínima de energia é necessária dentro de um período de tempo para atingir o limiar auditivo. Isso pode ser feito usando uma intensidade mais alta por menos tempo ou usando uma intensidade mais baixa por mais tempo. A sensibilidade ao som melhora com o aumento da duração do sinal até cerca de 200 a 300 ms, depois disso o limite permanece constante. [2]

Portanto, a membrana timpânica serve como um sensor de pressão sonora, semelhante ao funcionamento de um microfone, mas sem a sensibilidade à intensidade do som.

Veja também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  [[Categoria:Acústica]] [[Categoria:Saúde]] [[Categoria:Fonoaudiologia]] [[Categoria:Audiologia]]

  1. a b c Durrant J D., Lovrinic J H. 1984. Bases of Hearing Sciences. Second Edition. United States of America: Williams & Wilkins
  2. a b c d e Gelfand S A., 2004. Hearing an Introduction to Psychological and Physiological Acoustics. Fourth edition. United States of America: Marcel Dekker
  3. RMS sound pressure can be converted to plane wave sound intensity using , where ρ is the density of air and is the speed of sound
  4. a b c d e f g h i j Gelfand, S A., 1990. Hearing: An introduction to psychological and physiological acoustics. 2nd edition. New York and Basel: Marcel Dekker, Inc.
  5. Johnson, Keith (2015). Acoustic and Auditory Phonetics third ed. [S.l.]: Wiley-Blackwell 
  6. Jones, Pete R (November 20, 2014). «What's the quietest sound a human can hear?» (PDF). University College London. Consultado em 16 de março de 2016. On the other hand, you can also see in Figure 1 that our hearing is slightly more sensitive to frequencies just above 1 kHz, where thresholds can be as low as −9 dBSPL!  Verifique data em: |data= (ajuda)
  7. Feilding, Charles. «Lecture 007 Hearing II». College of Santa Fe Auditory Theory. Consultado em 17 de março de 2016. Cópia arquivada em 7 de maio de 2016. The peak sensitivities shown in this figure are equivalent to a sound pressure amplitude in the sound wave of 10 μPa or: about -6 dB(SPL). Note that this is for monaural listening to a sound presented at the front of the listener. For sounds presented on the listening side of the head there is a rise in peak sensitivity of about 6 dB [−12 dB SPL] due to the increase in pressure caused by reflection from the head. 
  8. Montgomery, Christopher. «24/192 Music Downloads ...and why they make no sense». xiph.org. Consultado em 17 de março de 2016. Cópia arquivada em 14 de março de 2016. The very quietest perceptible sound is about -8dbSPL 
  9. a b Hirsh I J.,1952. "The Measurement of Hearing". United States of America: McGraw-Hill.
  10. Hirsh I J.,Watson C S., 1996. Auditory Psychophysics and Perception. Annu. Rev. Psychol. 47: 461–84. Available to download from: http://arjournals.annualreviews.org/doi/pdf/10.1146/annurev.psych.47.1.461 . Accessed 1 March 2007.
  11. Miller et al., 2002. "Nonparametric relationships between single-interval and two-interval forced-choice tasks in the theory of signal detectability". Journal of Mathematical Psychology archive. 46:4;383–417. Available from: http://portal.acm.org/citation.cfm?id=634580. Accessed 1 March 2007.
  12. a b Levitt H., 1971. "Transformed up-down methods in psychoacoustics". J. Acoust. Soc. Amer. 49, 467–477. Available to download from: http://scitation.aip.org/getabs/servlet/GetabsServlet?prog=normal&id=JASMAN00004900002B000467000001&idtype=cvips&gifs=yes. (Accessed 1 March 2007).
  13. Arlinger, S. 1991. Manual of Practical Audiometry: Volume 2 (Practical Aspects of Audiology). Chichester: Whurr Publishers.
  14. Kidd G. 2002. Psychoacoustics IN Handbook of Clinical Audiology. Fifth Edition.