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Zé Peixe

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Zé Peixe
Zé Peixe
Estátua de Zé Peixe no Memorial de Sergipe
Nome completo José Martins Ribeiro Nunes
Nascimento 5 de janeiro de 1927
Aracaju-SE
Morte 26 de abril de 2012 (85 anos)
Aracaju-SE
Causa da morte Insuficiência Respiratória
Nacionalidade  Brasileiro
Progenitores Mãe: Vectúria Martins
Pai: Nicanor Nunes Ribeiro
Cônjuge Maria Augusta de Oliveira Nunes
Ocupação Prático
Prêmios Medalha Almirante Tamandaré; Grão-Mestre da Ordem do Mérito Serigy; Cidadão Sergipano do Século XX; Condecorado com Escudo em ouro do Rio Grande do Norte

José Martins Ribeiro Nunes, mais conhecido como Zé Peixe (Aracaju, 5 de janeiro de 1927 - Aracaju, 26 de abril de 2012), foi um prático brasileiro que se tornou uma figura lendária no estado de Sergipe, devido ao seu modo incomum de exercer sua atividade. Foi agraciado com diversos prêmios e homenagens, e é lembrado como uma dos sergipanos mais notórios de todos os tempos.

Por muitos anos, Zé Peixe atuou como prático conduzindo embarcações que entravam e saíam de Aracaju, pelo Rio Sergipe. O inusitado, em sua tarefa, se devia ao fato de não não necessitar de embarcação de apoio para transportá-lo até o navio. Quando havia um navio necessitando entrar na barra do Rio sergipe, ele nadava até o navio. Da mesma forma após conduzir o navio até fora da barra ele saltava e voltava para a terra nadando. Algumas vezes ele saia em uma embarcação e nadava até uma boia que sinalizava o acesso a barra de Aracaju onde aguardava as embarcações que necessitavam de seus serviços para entrar na barra.

Biografia

Nascido em Aracaju, filho de Vectúria Martins, uma professora de matemática e de Nicanor Nunes Ribeiro, um funcionário público; terceiro de uma prole de seis crianças foi criado em uma casa em frente ao rio Sergipe, na atual avenida Ivo do Prado próximo a capitania dos portos e que pertencera aos seus avós, onde viveu até sua morte. Aprendeu a nadar com seus pais, e desde a infância brincava no rio ou o atravessava a nado para pegar os frutos dos cajueiros da outra margem.

Com 11 anos já era um exímio nadador, enquanto os outros meninos iam de canoa até a praia de Atalaia, ele ia a nado. Um dia o comandante da marinha Aldo Sá Brito de Souza estava desembarcado na Capitania dos Portos pois sua âncora tinha enganchado no fundo do rio, e ao observar a destreza do garoto José Martins, o apelidou de "Zé Peixe", alcunha que se firmou.

Dos irmãos, Rita (que também ganhou o apelido "Peixe") era a única que o acompanhava nas aventuras no rio, mesmo a noite; com a desaprovação dos pais que achavam que este não era um comportamento adequado para uma menina, sempre lhes dando broncas e mesmo escondendo a roupa de banho da garota (o que nada adiantava pois iam nadar com o uniforme escolar mesmo, o qual colocavam para secar depois nos fundos da casa). Seus pais também preferiam que Zé Peixe se ativesse aos estudos e lições de casa, mas ele só queria saber de ficar na praia vendo o fluxo dos barcos e desenhando navios, ou no rio orientando os capitães sobre as mudanças dos bancos de areia de seu leito.

Fez o ginásio no Colégio Jackson de Figueiredo e concluiu o segundo grau no Colégio Tobias Barreto. Quando Completou 20 anos ingressou no serviço de Prático da Capitania dos Portos. Casou-se na década de 60, mas nunca teve filhos, e é viúvo há 25 anos da sra Maria Augusta de Oliveira Nunes.

Seu jeito vigoroso, corajoso, independente e trabalhador sempre foram vistos como exemplos de caráter e de um envelhecimento digno. Foi tema de vários jornais, revistas, livros, entrevistas e reportagens televisivas ao longo das décadas, tanto nacionais quanto internacionais. Foi uma das atrações que conduziu a tocha pan-americana em Sergipe durante os Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio, fazendo o trajeto de barco.

Antes de falecer se afastou do mar, pois sofria de Mal de Alzheimer, que o deixou limitado e restrito à sua casa onde era assistido pela família.[1] [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] [10] [11]

Praticagem

Em 1947, seu pai o fez ir até o serviço da Marinha, onde mediante concurso foi admitido como Prático do Estado lotado na Capitania dos Portos de Sergipe, profissão que exerceu por mais de meio século (naquela época a remuneração do prático era bem mais modesta).

A barra do Rio Sergipe era uma das piores entradas portuárias do país, Zé Peixe pela sua dedicação e seu conhecimento detalhado da profundidade das águas, das correntezas e da direção do vento sempre se destacou no serviço de praticagem.

Mas era seu modo peculiar de trabalhar que o fez famoso em vários meios de comunicação; quando um navio tinha que sair do porto guiado pelo prático, ele não se utilizava de um barco de apoio; subia a bordo e uma vez guiada a embarcação para o mar aberto, amarrava suas roupas e documentos na bermuda e saltava do parapeito da nave em queda livre de 17 metros até a água (prédio de 5 andares), nadava até 10 km para chegar a praia, e ainda percorria a pé outros 10 km até a sede da Capitania dos portos.

Nas chegadas dos navios ao porto, as vezes se utilizava de uma prancha para ir em busca das embarcações mais distantes e as aguardava em cima da boia de espera (a 12 km da praia) durante toda a noite ou mesmo durante todo dia, até a maré ser propícia a aproximação e ao desembarque no porto. Estes feitos eram realizados até em sua idade mais avançada, o que surpreendia tripulação e comandantes desavisados; certa vez um comandante russo ordenou que o segurassem antes do salto, pois pensou que o mesmo estava fora de si.

Várias outras situações demonstravam sua bravura na profissão, o que lhe rendeu muitas homenagens. Já aos 25 anos salvou três velejadores do Rio Grande do Norte. Quando vinha orientando uma embarcação a vela para fora da barra, a mesma virou e lançou todos os tripulantes no mar revolto; Zé Peixe e sua irmã Rita conseguiram trazer a salvo os velejadores até a praia. Outro acontecimento foi com o navio Mercury; que vindo com funcionários de uma das plataformas da Petrobras, pegou fogo em alto mar. O prático chegou ao navio em chamas em um barco de apoio, e apesar do risco de explosão, subiu a bordo e orientou a embarcação até um ponto mais seguro onde todos pudessem saltar e nadar para terra firme.

Foi agraciado com vários prêmios e medalhas: pelo salvamento da iole potiguar (barco a vela) recebeu a medalha ao mérito em ouro do Rio Grande do Norte; por seus dedicados anos de trabalho recebeu a Medalha Almirante Tamandaré (criada em 1957, homenageia instituições e pessoas que tenham prestado importante serviço na divulgação ou no fortalecimento das tradições da Marinha do Brasil); homenageado com a Medalha de Ordem do Mérito Serigy, mais alta condecoração do município de Aracaju e eleito o Cidadão Sergipano do Século XX. Em 2009, com 82 anos e já enfermo, solicita junto à Marinha seu afastamento definitivo da praticagem (Portaria N 141/DPC, 13/10/2009).

Estilo de Vida

Um homem franzino e introvertido de 1,60m de altura e 53 Kg, sempre cativante pela sua humildade, dignidade e simpatia; o prático quase nunca comia se banhava com água doce, sua dieta se baseava em pães com café pela manhã e era rica em frutas durante todo o dia. Também não fuma, nunca bebeu álcool, dormia às 20h da noite e acordava às 06h. Apesar da insistência dos pais, desde criança não tomava banho de água doce, pois vivia no mar, no entanto possuía um ritual de manter barba e cabelos sempre cortados.

Quando fora de serviço, gostava de ir cedo cuidar de seus botes atracados em frente a capitania dos portos, ir tomar banho de mar e andar de bicicleta até o mercado onde comprava frutas. A pé ou em bicicleta, só andava descalço; usava sapatos somente em ocasiões especiais ou quando ia às missas da Igreja do São José ou do Colégio Arquidiocesano.

Nunca saiu do lugar onde nasceu; a antiga casa é toda pintada de branca por fora e dentro é toda azul e muito simples; entulhada de lembranças, títulos e medalhas que juntou na vida; além de miniaturas e desenhos de barcos, e de imagens de santos católicos. Morreu na tarde de 26 de abril de 2012, vítima de insuficiência respiratória, aos 85 anos, em Aracaju.

Referências

Ligações externas


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