Desdiferenciação celular: diferenças entre revisões

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Na [[biologia celular]] e do [[Desenvolvimento (biologia)|desenvolvimento]], denomina-se desdiferenciação o processo no qual uma célula adulta, já [[Diferenciação celular|diferenciada]], regride para um estágio indiferenciado, sendo capaz de originar novos tipo de células. Este fenômeno é mais comum em tecidos vegetais, no entanto já há evidências de sua ocorrência natural em alguns grupos de animais. Apesar da regressão em animais ser possível, ela é limitada, uma vez que as células animais não conseguem retornar naturalmente a estágios bem iniciais do desenvolvimento, não sendo, portanto, capazes de gerar todos os tecidos. Tanto em plantas como em animais a desdiferenciação é regulada por meio de genes do desenvolvimento. Este processo raro em animais pode também ser induzido artificialmente por meios de cultura específicos, gerando as [[Célula-tronco pluripotente induzida|células-tronco de pluripotência induzidas]] (IPSc).
Na [[biologia celular]] e do [[Desenvolvimento (biologia)|desenvolvimento]], denomina-se desdiferenciação o processo no qual uma célula adulta, já [[Diferenciação celular|diferenciada]], regride para um estágio indiferenciado, sendo capaz de originar novos tipo de células. Este fenômeno é mais comum em tecidos vegetais, no entanto já há evidências de sua ocorrência natural em alguns grupos de animais. Apesar da regressão em animais ser possível, ela é limitada, uma vez que as células animais não conseguem retornar naturalmente a estágios bem iniciais do desenvolvimento, não sendo, portanto, capazes de gerar todos os tecidos. Tanto em plantas como em animais a desdiferenciação é regulada por meio de genes do desenvolvimento. Este processo raro em animais pode também ser induzido artificialmente por meios de cultura específicos, gerando as [[Célula-tronco pluripotente induzida|células-tronco de pluripotência induzidas]] (IPSc).<ref name=":0" />


== Desdiferenciação em plantas ==
== Desdiferenciação em plantas ==
Atualmente considera-se na literatura que plantas sofrem desdiferenciação<ref>{{citar periódico|ultimo=Grafi|primeiro=G|data=2004|titulo=How cells dedifferentiate: a lesson from plants|jornal=Developmental Biology|volume=268|paginas=1-6|doi=|url=|acessadoem=}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=Sugimoto|primeiro=K|data=2011|titulo=Regeneration in plants and animals: dedifferentiation, transdifferentiation, or just differentiation?|jornal=Trends in Cell Biology|paginas=212-218|doi=|url=|acessadoem=}}</ref>. Isso se deve pela capacidade de [[totipotência]] encontrada em quase todos os tecidos vegetais adultos. Somente células que perdem seus protoplastos (como células condutoras do xilema) ou seus núcleos (como células condutoras do floema) perdem a capacidade de se desdiferenciarem.
Atualmente considera-se na literatura que plantas sofrem desdiferenciação<ref>{{citar periódico|ultimo=Grafi|primeiro=G|data=2004|titulo=How cells dedifferentiate: a lesson from plants|jornal=Developmental Biology|volume=268|paginas=1-6|doi=|url=http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0012160604000247|acessadoem=}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=Sugimoto|primeiro=K|data=2011|titulo=Regeneration in plants and animals: dedifferentiation, transdifferentiation, or just differentiation?|jornal=Trends in Cell Biology|paginas=212-218|doi=|url=http://www.its.caltech.edu/~plantlab/publications/Sugimoto_Trends_Cell_Bio_2011.pdf|acessadoem=}}</ref>. Isso se deve pela capacidade de [[totipotência]] encontrada em quase todos os tecidos vegetais adultos. Somente células que perdem seus protoplastos (como células condutoras do xilema) ou seus núcleos (como células condutoras do floema) perdem a capacidade de se desdiferenciarem.

A desdiferenciação em plantas foi inferida a partir da formação da massa celular obtida em culturas denominada calo. No entanto, atualmente há evidências de que o tecido do calo não é de fato desdiferenciado.


== Desdiferenciação em animais ==
== Desdiferenciação em animais ==
=== Platelmintos ===
=== Platelmintos ===
            Apesar de terem sido descritas inicialmente na literatura como capazes de desdiferenciarem, atualmente supõe-se que as planárias são incapazes de realizar este fato<ref name=":0">{{citar livro|título=Developmental biology|ultimo=Gilbert|primeiro=S F|editora=Sinauer Associates|ano=2014|edicao=10|local=|páginas=|acessodata=}}</ref>. O tecido de blastema, que é responsável pela sua regeneração, não surge por desdiferenciação, mas sim a partir de células-tronco pluripotentes denominadas [[neoblastos]].
            Apesar de terem sido descritas inicialmente na literatura como capazes de desdiferenciarem, atualmente supõe-se que as planárias são incapazes de realizar este fato<ref name=":0">{{citar livro|título=Developmental biology|ultimo=Gilbert|primeiro=S F|editora=Sinauer Associates|ano=2014|edicao=10|local=Sunderland, USA|páginas=328-329, 569, 571-572, 603|acessodata=}}</ref>. O tecido de blastema, que é responsável pela sua regeneração, não surge por desdiferenciação, mas sim a partir de células-tronco pluripotentes denominadas [[neoblastos]].


=== Insetos ===
=== Insetos ===
            A desdiferenciação já foi relatada em artrópodes. Em Drosophila, as células-tronco da linhagem germinativa no início de sua diferenciação podem regredir ao estágio indiferenciado novamente. Isto ocorre se elas forem submetidas ao microambiente de seu estado indiferenciado.<ref>{{citar periódico|ultimo=Matunis|primeiro=E|ultimo2=Stine|primeiro2=R|ultimo3=de Cuevas|primeiro3=M|data=2012|titulo=Recent advances in Drosophila male germline stem cell biology|jornal=Spermatogenesis|paginas=137-144|doi=|url=|acessadoem=}}</ref>
            A desdiferenciação já foi relatada em artrópodes. Em Drosophila, as células-tronco da linhagem germinativa no início de sua diferenciação podem regredir ao estágio indiferenciado novamente. Isto ocorre se elas forem submetidas ao microambiente de seu estado indiferenciado.<ref>{{citar periódico|ultimo=Matunis|primeiro=E|ultimo2=Stine|primeiro2=R|ultimo3=de Cuevas|primeiro3=M|data=2012|titulo=Recent advances in Drosophila male germline stem cell biology|jornal=Spermatogenesis|volume=2|paginas=137-144|doi=|url=http://www.tandfonline.com/doi/full/10.4161/spmg.21763?scroll=top&needAccess=true|acessadoem=}}</ref>


=== Tunicados ===
=== Tunicados ===
            Atualmente supõe-se que durante a regeneração ou o brotamento de novos indivíduos, os [[tunicados]] coloniais são capazes de desdiferenciarem seu tecido epitelial e criarem assim novos órgãos, mas a hipótese carece de mais evidências.<ref>{{citar periódico|ultimo=Kazuo|primeiro=k|ultimo2=Shigeki|primeiro2=F|data=1995|titulo=Establishment of Cell Lines from Multipotent Epithelial Sheet in the Budding Tunicate, Polyandrocarpa misakiensis|jornal=Cell Structure and Function|doi=|url=|acessadoem=}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=Kazuo|primeiro=K|data=2007|titulo=Multipotent epithelial cells in the process of regeneration and asexual reproduction in colonial tunicates|jornal=Development, Growth & Differentiation|paginas=1-11|doi=|url=|acessadoem=}}</ref>
            Atualmente supõe-se que durante a regeneração ou o brotamento de novos indivíduos, os [[tunicados]] coloniais são capazes de desdiferenciarem seu tecido epitelial e criarem assim novos órgãos, mas a hipótese carece de mais evidências.<ref>{{citar periódico|ultimo=Kazuo|primeiro=k|ultimo2=Shigeki|primeiro2=F|data=1995|titulo=Establishment of Cell Lines from Multipotent Epithelial Sheet in the Budding Tunicate, Polyandrocarpa misakiensis|jornal=Cell Structure and Function|doi=|url=|acessadoem=}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=Kazuo|primeiro=K|data=2007|titulo=Multipotent epithelial cells in the process of regeneration and asexual reproduction in colonial tunicates|jornal=Development, Growth & Differentiation|volume=50|paginas=1-11|doi=|url=http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1440-169X.2007.00972.x/full|acessadoem=}}</ref>


=== Anfíbios ===
=== Anfíbios ===
            Há evidências da ocorrência de desdiferenciação durante a [[Regeneração (biologia)|regeneração]] de diversas espécies de salamandras, como as do gênero ''Ambystoma''. Verifica-se que durante a regeneração de membros perdidos, fibroblastos, células da cartilagem, células do osso e fibras musculares adultas sofrem desdiferenciação, formando um tecido denominado blastema. Estas células, no entanto, conservam a memória de suas origens: as células musculares, por exemplo, diferenciam-se somente em novas células musculares<ref name=":0" />. As células da blastema originadas do fibroblasto apresentam a mesma função do mesênquima, regulando a migração de outras células durante a regeneração.
            Há evidências da ocorrência de desdiferenciação durante a [[Regeneração (biologia)|regeneração]] de diversas espécies de salamandras, como as do gênero ''Ambystoma''. Verifica-se que durante a regeneração de membros perdidos, fibroblastos, células da cartilagem, células do osso e fibras musculares adultas sofrem desdiferenciação, formando um tecido denominado blastema. Estas células, no entanto, conservam a memória de suas origens: as células musculares, por exemplo, diferenciam-se somente em novas células musculares<ref name=":0" />. As células da blastema originadas do fibroblasto apresentam a mesma função do mesênquima, regulando a migração de outras células durante a regeneração.<ref>{{citar periódico|ultimo=Whited|primeiro=J|ultimo2=Tabin|primeiro2=C|data=2010|titulo=Regeneration review reprise|jornal=Journal of Biology|doi=|url=https://jbiol.biomedcentral.com/articles/10.1186/jbiol224|acessadoem=}}</ref><ref>{{citar periódico|ultimo=McCusker|primeiro=C|ultimo2=Gardiner|primeiro2=D|data=2011|titulo=The Axolotl Model for Regeneration and Aging Research: A Mini-Review|jornal=Gerontology|volume=57|numero=6|paginas=565-571|doi=|url=http://www.karger.com/Article/Abstract/323761|acessadoem=}}</ref>


=== Mamíferos ===
=== Mamíferos ===
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== Desdiferenciação de tumores ==
== Desdiferenciação de tumores ==
            Processos de desdiferenciação também foram relatados durante a formação de tumores. Alguns tumores, como o [[glioblastoma]] (GBM), podem se desdiferenciar e formar as chamadas [[células estaminais cancerígenas]] (CSC), células tumorais que possuem a propriedade de [[Célula-tronco|células-tronco]]. Considerando este fenômeno, as células estaminais cancerígenas seriam análogas às células pluripotentes induzidas (IPSc), de modo que a oncogênese é similar a reprogramação artificial. Os dois processos também são muito semelhantes quanto a regulação gênica: Ambos são regulados por fatores de Yamanaka, Nanog dentre outros.<ref>{{citar periódico|ultimo=Friedmann-Morvinski|primeiro=D|ultimo2=Verma|primeiro2=L|data=2004|titulo=Dedifferentiation and reprogramming: origins of cancer stem cells|jornal=Embo reports|doi=|url=|acessadoem=}}</ref>
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Revisão das 00h33min de 1 de abril de 2017

Na biologia celular e do desenvolvimento, denomina-se desdiferenciação o processo no qual uma célula adulta, já diferenciada, regride para um estágio indiferenciado, sendo capaz de originar novos tipo de células. Este fenômeno é mais comum em tecidos vegetais, no entanto já há evidências de sua ocorrência natural em alguns grupos de animais. Apesar da regressão em animais ser possível, ela é limitada, uma vez que as células animais não conseguem retornar naturalmente a estágios bem iniciais do desenvolvimento, não sendo, portanto, capazes de gerar todos os tecidos. Tanto em plantas como em animais a desdiferenciação é regulada por meio de genes do desenvolvimento. Este processo raro em animais pode também ser induzido artificialmente por meios de cultura específicos, gerando as células-tronco de pluripotência induzidas (IPSc).[1]

Desdiferenciação em plantas

Atualmente considera-se na literatura que plantas sofrem desdiferenciação[2][3]. Isso se deve pela capacidade de totipotência encontrada em quase todos os tecidos vegetais adultos. Somente células que perdem seus protoplastos (como células condutoras do xilema) ou seus núcleos (como células condutoras do floema) perdem a capacidade de se desdiferenciarem.

A desdiferenciação em plantas foi inferida a partir da formação da massa celular obtida em culturas denominada calo. No entanto, atualmente há evidências de que o tecido do calo não é de fato desdiferenciado.

Desdiferenciação em animais

Platelmintos

            Apesar de terem sido descritas inicialmente na literatura como capazes de desdiferenciarem, atualmente supõe-se que as planárias são incapazes de realizar este fato[1]. O tecido de blastema, que é responsável pela sua regeneração, não surge por desdiferenciação, mas sim a partir de células-tronco pluripotentes denominadas neoblastos.

Insetos

            A desdiferenciação já foi relatada em artrópodes. Em Drosophila, as células-tronco da linhagem germinativa no início de sua diferenciação podem regredir ao estágio indiferenciado novamente. Isto ocorre se elas forem submetidas ao microambiente de seu estado indiferenciado.[4]

Tunicados

            Atualmente supõe-se que durante a regeneração ou o brotamento de novos indivíduos, os tunicados coloniais são capazes de desdiferenciarem seu tecido epitelial e criarem assim novos órgãos, mas a hipótese carece de mais evidências.[5][6]

Anfíbios

            Há evidências da ocorrência de desdiferenciação durante a regeneração de diversas espécies de salamandras, como as do gênero Ambystoma. Verifica-se que durante a regeneração de membros perdidos, fibroblastos, células da cartilagem, células do osso e fibras musculares adultas sofrem desdiferenciação, formando um tecido denominado blastema. Estas células, no entanto, conservam a memória de suas origens: as células musculares, por exemplo, diferenciam-se somente em novas células musculares[1]. As células da blastema originadas do fibroblasto apresentam a mesma função do mesênquima, regulando a migração de outras células durante a regeneração.[7][8]

Mamíferos

            Ainda não há evidências concretas da ocorrência natural de desdiferenciação em mamíferos, no entanto já é possível reprogramar artificialmente células em ratos, camundongos e humanos e transformá-las em células tronco induzidas.[1]

Desdiferenciação de tumores

            Processos de desdiferenciação também foram relatados durante a formação de tumores. Alguns tumores, como o glioblastoma (GBM), podem se desdiferenciar e formar as chamadas células estaminais cancerígenas (CSC), células tumorais que possuem a propriedade de células-tronco. Considerando este fenômeno, as células estaminais cancerígenas seriam análogas às células pluripotentes induzidas (IPSc), de modo que a oncogênese é similar a reprogramação artificial. Os dois processos também são muito semelhantes quanto a regulação gênica: Ambos são regulados por fatores de Yamanaka (Oct-3/4, Sox2, c-Myc e KLF4), Nanog dentre outros.[9]

  1. a b c d Gilbert, S F (2014). Developmental biology 10 ed. Sunderland, USA: Sinauer Associates. pp. 328–329, 569, 571–572, 603 
  2. Grafi, G (2004). «How cells dedifferentiate: a lesson from plants». Developmental Biology. 268: 1-6 
  3. Sugimoto, K (2011). «Regeneration in plants and animals: dedifferentiation, transdifferentiation, or just differentiation?» (PDF). Trends in Cell Biology: 212-218 
  4. Matunis, E; Stine, R; de Cuevas, M (2012). «Recent advances in Drosophila male germline stem cell biology». Spermatogenesis. 2: 137-144 
  5. Kazuo, k; Shigeki, F (1995). «Establishment of Cell Lines from Multipotent Epithelial Sheet in the Budding Tunicate, Polyandrocarpa misakiensis». Cell Structure and Function 
  6. Kazuo, K (2007). «Multipotent epithelial cells in the process of regeneration and asexual reproduction in colonial tunicates». Development, Growth & Differentiation. 50: 1-11 
  7. Whited, J; Tabin, C (2010). «Regeneration review reprise». Journal of Biology 
  8. McCusker, C; Gardiner, D (2011). «The Axolotl Model for Regeneration and Aging Research: A Mini-Review». Gerontology. 57 (6): 565-571 
  9. Friedmann-Morvinski, D; Verma, L (2004). «Dedifferentiation and reprogramming: origins of cancer stem cells». Embo reports. 15: 224-253 
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