Dor: diferenças entre revisões

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A '''dor''' é um sentimento angustiante, muitas vezes causado por estímulos intensos ou prejudiciais, como colidir um dedo do pé, queimar um dedo, colocar álcool em um corte ou bater o "'''osso engraçado'''".<ref>The examples represent respectively the three classes of [[#Nociceptive|nociceptive pain]] - mechanical, thermal and chemical - and [[#Neuropathic|neuropathic pain]].</ref> Porque é um fenômeno complexo e subjetivo, definir a dor tem sido um desafio. A definição da Associação Internacional para o Estudo da Dor é amplamente utilizada: "A dor é uma experiência [[Sistema sensorial|sensorial]] e [[emocional]] desagradável, associada ao dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tais danos".<ref name="IASPdef">{{cite web|quote=Pain is an unpleasant sensory and emotional experience associated with actual or potential tissue damage, or described in terms of such damage|url=http://www.iasp-pain.org/Taxonomy|title=International Association for the Study of Pain: Pain Definitions|accessdate=12 Janeiro 2015|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}} Derived from {{vcite journal|first=JJ|last=Bonica|title=The need of a taxonomy|journal=Pain|volume=6|issue=3|pages=247–8|year=1979|month=June|pmid=460931|doi=10.1016/0304-3959(79)90046-0}}</ref> No diagnóstico médico, a dor é considerada como um sintoma de uma condição subjacente.
'''Dor''' é uma sensação desagradável, que varia desde desconforto leve a excruciante, associada a um processo destrutivo atual ou potencial dos [[tecido]]s que se expressa através de uma reação orgânica e/ou emocional.


A dor motiva o indivíduo a se retirar de situações prejudiciais, a proteger uma parte do corpo danificada enquanto cura e a evitar experiências semelhantes no futuro.<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/10483263|título=The neurobiology of pain : Symposium of the Northern Neurobiology Group, held at Leeds on 18 April, 1983|ultimo=England)|primeiro=Northern Neurobiology Group (Great Britain). Symposium (1983 : Leeds,|ultimo2=(William)|primeiro2=Winlow, W.|data=1984|editora=Manchester University Press|local=Manchester [Greater Manchester]|isbn=0719009960|oclc=10483263}}</ref> A maioria dos casos de dor se resolve uma vez que o estímulo nocivo é removido e o corpo curado, mas pode persistir apesar da remoção do estímulo e cicatrização aparente do corpo. Às vezes, a dor surge na ausência de qualquer estímulo, dano ou doença detectável.<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/63660744|título=The handbook of chronic pain|ultimo=Shulamith.|primeiro=Kreitler,|data=2007|editora=Nova Biomedical Books|local=New York|isbn=1600210449|oclc=63660744}}</ref>

A dor é a razão mais comum para consultas médicas na maioria dos [[países desenvolvidos]].<ref>{{Citar periódico|ultimo=Debono|primeiro=David J.|ultimo2=Hoeksema|primeiro2=Laura J.|ultimo3=Hobbs|primeiro3=Raymond D.|data=2013-08-01|titulo=Caring for Patients With Chronic Pain: Pearls and Pitfalls|jornal=The Journal of the American Osteopathic Association|volume=113|numero=8|paginas=620–627|issn=0098-6151|doi=10.7556/jaoa.2013.023|url=http://jaoa.org/article.aspx?articleid=2094600}}</ref><ref>{{Citar periódico|ultimo=Turk|primeiro=Dennis C.|ultimo2=Dworkin|primeiro2=Robert H.|data=2004-06-04|titulo=What should be the core outcomes in chronic pain clinical trials?|jornal=Arthritis Res Ther|volume=6|paginas=151|issn=1478-6354|doi=10.1186/ar1196|url=https://doi.org/10.1186/ar1196}}</ref> É um sintoma importante em muitas condições médicas e pode interferir na [[qualidade de vida]] de uma pessoa e no funcionamento geral.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Breivik|primeiro=H.|ultimo2=Borchgrevink|primeiro2=P. C.|ultimo3=Allen|primeiro3=S. M.|ultimo4=Rosseland|primeiro4=L. A.|ultimo5=Romundstad|primeiro5=L.|ultimo6=Hals|primeiro6=Breivik|ultimo7=K|primeiro7=E.|ultimo8=Kvarstein|primeiro8=G.|ultimo9=Stubhaug|primeiro9=A.|data=2008-07-01|titulo=Assessment of pain|jornal=BJA: British Journal of Anaesthesia|volume=101|numero=1|paginas=17–24|issn=0007-0912|doi=10.1093/bja/aen103|url=https://academic.oup.com/bja/article/101/1/17/357820/Assessment-of-pain}}</ref> Os medicamentos para dor simples são úteis em 20% a 70% dos casos.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Moore|primeiro=R Andrew|ultimo2=Wiffen|primeiro2=Philip J|ultimo3=Derry|primeiro3=Sheena|ultimo4=Maguire|primeiro4=Terry|ultimo5=Roy|primeiro5=Yvonne M|ultimo6=Tyrrell|primeiro6=Laila|data=2015-11-04|titulo=Non-prescription (OTC) oral analgesics for acute pain - an overview of Cochrane reviews|jornal=Cochrane Database of Systematic Reviews|editora=John Wiley & Sons, Ltd|doi=10.1002/14651858.cd010794.pub2|url=http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/14651858.CD010794.pub2/abstract|idioma=en}}</ref> Fatores psicológicos como suporte social, sugestão hipnótica, excitação ou distração podem afetar significativamente a intensidade ou desagradabilidade da dor.<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/162520851|título=The social outcast : ostracism, social exclusion, rejection, and bullying|ultimo=D.|primeiro=Williams, Kipling|ultimo2=P.|primeiro2=Forgas, Joseph|ultimo3=von.|primeiro3=Hippel, William|data=2005|editora=Psychology Press|local=New York|isbn=184169424X|oclc=162520851}}</ref><ref name="Melzack_1968">{{vcite book |last=Melzack |first=R |authorlink=Ronald Melzack |last2=Casey |first2=KL |authorlink2=Kenneth L. Casey |editor-last=Kenshalo |editor-first=DR |title=The skin senses: Proceedings of the first International Symposium on the Skin Senses, held at the Florida State University in Tallahassee, Florida |pages=432 |chapter=Sensory, motivational and central control determinants of chronic pain: A new conceptual model |chapterurl=}}</ref> Em alguns argumentos apresentados em debates de [[suicídio]] ou de [[eutanásia]] assistidos por médicos, a dor tem sido usada como um argumento para permitir que as pessoas que estão doentes terminais acabem com suas vidas.<ref>{{Citar periódico|ultimo=Weyers|primeiro=Heleen|data=2006-09-01|titulo=Explaining the emergence of euthanasia law in the Netherlands: how the sociology of law can help the sociology of bioethics|jornal=Sociology of Health & Illness|volume=28|numero=6|paginas=802–816|issn=1467-9566|doi=10.1111/j.1467-9566.2006.00543.x|url=http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1467-9566.2006.00543.x/abstract|idioma=en}}</ref>

Um julgamento sobre o valor da dor é dado pelo filósofo alemão [[Friedrich Nietzsche]], que escreveu: "Somente a grande dor é o libertador final do espírito... Eu duvido que tal dor nos torne melhores, mas eu sei que isso nos faz mais profundos".<ref name="Lei2015">{{cite web|last1=Leiter|first1=Brian|title=Nietzsche's Moral and Political Philosophy|url=http://plato.stanford.edu/entries/nietzsche-moral-political/|website=The Stanford Encyclopedia of Philosophy|publisher=Metaphysics Research Lab, Stanford University|accessdate=26 Novembro 2016|date=1 Janeiro 2015|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref> Nietzsche e os filósofos influenciados por ele, assim, se opõem à avaliação inteiramente negativa da dor, ao invés disso, afirmando que "O que não me destrói, me fortalece ".<ref name=Lei2015/><ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/66527213|título=The Yale book of quotations|ultimo=R.|primeiro=Shapiro, Fred|data=2006|editora=Yale University Press|local=New Haven|isbn=0300107986|oclc=66527213}}</ref>
== Iniciação da Dor ==
== Iniciação da Dor ==
A dor é mais que uma resposta resultante da integração central de impulsos dos nervos periféricos, ativados por estímulos locais. De fato a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão real ou potencial, ou descrita em termos de tal (definição da Associação Internacional para o Estudo da Dor - IASP).
A dor é mais que uma resposta resultante da integração central de impulsos dos [[nervos periféricos]], ativados por estímulos locais. De fato a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão real ou potencial, ou descrita em termos de tal definição da Associação Internacional para o Estudo da Dor - IASP.
Distinguem-se basicamente duas categorias: A dor nociceptiva e a dor neuropática.


Distinguem-se basicamente duas categorias: A dor nociceptiva e a dor neuropática<ref>{{Citar periódico|ultimo=Miranda|primeiro=Carla Ceres Villas|ultimo2=Junior|primeiro2=Seda|ultimo3=Franco|primeiro3=Lauro de|ultimo4=Pelloso|primeiro4=Lia Rachel Chaves do Amaral|ultimo5=Miranda|primeiro5=Carla Ceres Villas|ultimo6=Junior|primeiro6=Seda|ultimo7=Franco|primeiro7=Lauro de|ultimo8=Pelloso|primeiro8=Lia Rachel Chaves do Amaral|data=2016|titulo=Nova classificação fisiológica das dores: o atual conceito de dor neuropática|jornal=Revista Dor|volume=17|paginas=2–4|issn=1806-0013|doi=10.5935/1806-0013.20160037|url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1806-00132016000500002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt|acessadoem=}}</ref>
Na dor nociceptiva há três tipos de estímulos que podem levar

à geração dos [[Potencial de ação|potenciais de ação]] nos [[axônios]] desses nervos.
Na dor nociceptiva há três tipos de estímulos que podem levar à geração dos [[Potencial de ação|potenciais de ação]] nos [[Axónio|axônios]] desses nervos:
#Variações mecânicas ou térmicas que ativam diretamente as terminações nervosas ou receptores.
#Variações mecânicas ou térmicas que ativam diretamente as terminações nervosas ou receptores.
#Fatores químicos libertados na área da [[terminação nervosa]]. Estes incluem compostos presentes apenas em [[célula]]s íntegras, e que são libertados para o [[meio extra-celular]] aquando de lesões como os [[íon]]s [[Potássio]], [[ácido]]s.
#Fatores químicos libertados na área da [[terminação nervosa]].
#Fatores libertados pelas células [[Inflamação|inflamatórias]] como a [[bradicinina]], a [[serotonina]], a [[histamina]] e as [[enzima]]s proteolíticas.
#Fatores libertados pelas células [[Inflamação|inflamatórias]] como a [[bradicinina]], a [[serotonina]], a [[histamina]] e as [[enzima]]s proteolíticas.

==Vias da dor==
=== Vias Nervosas Periféricas da Dor ===

A via rápida ou do trato neoespinotalâmico é a mais recente evolutivamente. É iniciada por estímulos mecânicos ou térmicos principalmente. Ela utiliza neurônios de axônios rápidos (isto é de grande diâmetro), as fibras '''A-delta''' ('''12-30 metros''' por segundo). Esta é a via que produz a sensação da dor aguda e bem localizada.
O seu [[neurônio]] ocupa a [[lâmina I]] da [[Medula Espinhal]] e cruza imediatamente para o lado contrário. Aí ascende na [[substância branca]] na [[região antero-lateral]] até fazer [[sinapse]] principalmente no [[Tálamo (anatomia)|Tálamo]] (núcleos póstero-lateral-ventrais), mas também na [[formação reticular]].

A via lenta ou do tracto paleoespinotalâmico é a mais primitiva em termos evolutivos. É iniciada pelos fatores químicos. Ela utiliza axônios lentos de diâmetro reduzido e velocidades de condução de apenas 0,5 a 2&nbsp;m/s. Esta via produz dor mal localizada pelo indivíduo e contínua.
O seu neurônio ocupa a [[lâmina V]] da Medula Espinhal e ascende depois de cruzar para o lado oposto no tracto antero-lateral, às vezes não cruzando. Fazem sinapse na formação reticular, no [[colículo superior]] e na [[substância cinzenta periaqueductal]].

Se por exemplo um indivíduo sofrer um golpe, a sensação de dor imediata é a rápida, devido às forças mecânicas que estiram o [[tecido conjuntivo]] onde se localizam receptores de dor. Esta dor dura apenas um tempo muito limitado.
Mas à medida que o tecido morre e extravasa o conteúdo celular com diversas substâncias, e chegam à região danificada as células inflamatórias, a dor que permanece é a dor lenta.
O feto começa a sentir dor a partir da 28° semana.

=== Vias Nervosas centrais ===
As sensações corporais, táteis, térmicas e dolorosas convergem para o tálamo, que funciona como um rede de interpretação sensitiva, em alguns de seus núcleos, alguns dos quais emitem projeções ao córtex cerebral, a partir do qual é possível a consciência da sensação dolorosa ou seja, este é o momento neural após o qual a dor pode ser percebida. A dor mais significativa do ponto de vista [[Terapia|terapêutico]] é quase sempre aquela que é produzida pela via lenta. A via rápida produz apenas sensações de dor localizada e de duração relativamente curta que permitem ao organismo afastar-se do agente [[nociceptivo]], mas geralmente não é causa de [[síndrome]]s em que a dor seja a principal preocupação terapêutica.
A [[dor crônica]] tem origem quando os impulsos recebidos pela via lenta são integrados na [[Formação Reticular]] do [[tronco cerebral]] e no [[Tálamo]]. Já a este nível há percepção consciente vaga da dor, como demonstrado em animais a quem foi retirado o [[córtex]].

O Tálamo envia os impulsos para o [[Córtex somatosensor]] e para o [[Giro Cingulado]]. No córtex cingulado é processada a qualidade emocional ou afetiva da dor ([[sistema límbico]]), enviando impulsos de volta para o córtex somatosensor. É aí que se originam qualidades mais precisas, como tipo de dor, localização e ansiedade emocional.

A dor tem um efeito de estimulação da maioria dos circuitos neuronais. Estes efeitos são devidos à ativação de circuitos a nível dos [[núcleos intralaminares do Tálamo]] e das formações reticulares pelos [[Axônio|axônios de tipo C]] (lentos) que aí terminam.
A ativação por estas fibras das formações reticulares leva à ativação em spray do córtex cerebral, e principalmente do [[lobo pré-central]], já que a formação reticular também é responsável pela regulação do estado de [[vigília]]. Esta estimulação traduz-se num maior estado de alerta e excitabilidade do doente que sofre de dor, principalmente se esta é [[aguda]].

== Sistemas Analgésicos ==
A intensidade com que pessoas diferentes sentem e reagem a situações semelhantes causadoras de dor é bastante variada. Esta variação deve-se não tanto a uma ativação diferente das vias da dor mas a uma facilidade diferente nos indivíduos na ativação das [[vias analgésicas naturais]]. A via analgésica principal tem 4 componentes principais de modulação para a percepção da dor, no ser humano:
# As [[áreas cinzentas periaquedutais]] e periventriculares do [[Mesencefalo]] e [[Ponte]] superior, em volta do [[aqueducto de Sylvius]] enviam axônios que secretam [[encefalina]]s, que são [[opióide]]s naturais (atuam no receptor dos opióides).
# [[Núcleos Magno da Rafe]] e Reticular Gigantocelular, localizados na ponte inferior e medula superior, recebem os axônios das áreas periaquedutais, e enviam os seus para as colunas dorsolaterais da medula espinhal, onde liberam [[serotonina]].
# Núcleos de interneurônios na medula espinhal dorsal, localizados na [[substância gelatinosa]], inibem a criação de [[Potencial de ação|potenciais de ação]] ao liberar encefalinas e [[endorfina]]s na [[sinapse]] local com os neurônios aferentes da dor.

A [[analgesia]] produzida por esta via, que é total, dura de alguns minutos a horas. A inibição do sinal dá-se principalmente a nível do segmento da medula espinhal correspondente à origem da dor, mas também a outros níveis como nos próprios núcleos reticulares e talâmicos.

Julga-se que este sistema permite uma regulação em feedback do nível da dor. A excitação excessiva da via da dor induz um aumento dos sinais analgésicos a nível talâmico reduzindo a intensidade percebida da dor.
Outras áreas do [[cérebro]], como as do [[sistema límbico]], que faz o controle emocional, também estão envolvidas em estimular ou inibir as vias analgésicas naturais. Os núcleos paraventriculares do [[hipotálamo]] estimulam as áreas periaquedutais através da liberação de β-endorfinas (opióides naturais).
Assim uma mesma lesão tecidual pode causar muito mais dor se for de causa desconhecida ou considerada pelo indivíduo como significativa, do que se for de causa conhecida ou tida por pouco perigosa.

Além desta via específica para determinados segmentos espinhais, a [[hipófise]] produz também beta-endorfinas, que são liberadas para o [[sangue]] e para todo o cérebro, e podem ter importância na diminuição das sensações dolorosas em indivíduos com síndromes sistêmicas.

== Sistema da Teoria das Comportas ==
É outro mecanismo analgésico, proposto por Melzack & Wall (1965), de importância local. A estimulação de grande número de [[Axônio|fibras aferentes Aβ]] após estímulos táteis no mesmo segmento ativa [[interneurônio]]s produtores de encefalinas, que inibem as fibras C da dor.

Virtualmente todas as pessoas conhecem e fazem uso do mecanismo contemplado pela teoria das comportas, mesmo que de maneira inconsiente. Quem nunca instintivamente massageou um local onde, em virtude de uma pancada, estava sentindo dor? A massagem estimula as fibras aferentes Aβ, que por sua vez levam a uma analgesia no local dolorido.

== Subjectividade da Dor ==
A dor é sempre subjetiva. Cada indivíduo apreende a aplicação da palavra através de experiências relacionadas com lesões nos primeiros anos de vida. Os biologistas sabem que os estímulos causadores de dor são capazes de lesão tecidual. Assim, a dor é aquela experiência que associamos com [[lesão]] tecidual real ou potencial.

Sem dúvida é uma sensação em uma ou mais partes do organismo mas sempre é desagradável, e portanto representa uma experiência emocional. Experiências que se assemelham com a dor, por exemplo: picadas de [[inseto]]s, mas que não são desagradáveis, não devem ser rotuladas de dor. Experiências anormais desagradáveis (diestesias) também podem ser dolorosas, porém não o são necessariamente porque subjetivamente podem não apresentar as qualidades sensitivas usuais da dor.

Muitas pessoas relatam dor na ausência de lesão tecidual ou de qualquer outra causa fisiopatológica provável: geralmente isto acontece por motivos psicológicos. É impossível distinguir a sua experiência da que é devido à lesão tecidual se aceitarmos o relato subjetivo.

Caso encarem sua experiência como dor e a relatem da mesma forma que a dor causada por lesão tecidual, ela deve ser aceita como dor. Esta definição evita ligar a dor ao [[estímulo (psicologia)|estímulo]]. A atividade provocada no nociceptor e nas vias nociceptivas por um estímulo não é dor. Esta sempre representa um estado psicológico, muito embora saibamos que a dor na maioria das vezes apresenta uma causa física imediata.

A abordagem que se faz da dor, atualmente, é que ela é um fenômeno ‘biopsicossocial’ que resulta de uma combinação de fatores biológicos, psicológicos, comportamentais, sociais e culturais e não uma entidade dicotômica.

== Tipos de dor ==
A dor pode ser classificada pela duração em<ref>http://www.webmd.com/pain-management/guide/pain-types-and-classifications</ref>:
*[[Dor aguda]]: Aparece repentinamente em resposta a uma lesão e diminui em minutos ou horas.
*[[Dor crônica]]: Associado a [[doenças crônicas]], como [[osteoartrite]] ou [[fibromialgia]], pode durar dias, meses, anos ou o resto da vida e é resistente a tratamento. Pode ser ocasionada por lesão do [[sistema nervoso]].
*[[Dor irruptiva]] (do inglês ''breakthrough pain''): Durante o tratamento de uma dor crônica, aparece subitamente dor aguda de forma intensa, desconhecida e incapacitante, apesar do tratamento analgésico usual e é muito resistente a tratamento. Ocorre em 70% das dores crônicas. Frequentemente associada ao câncer.<ref>http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-00132011000200014&script=sci_arttext</ref>

== Resistência a dor ==
A respeito da terminologia referente à dor, pode-se esclarecer os seguintes aspectos:

O [[limiar de dor]] fisiológico, estável de um indivíduo para o outro, pode ser definido como o ponto ou momento em que um dado estímulo é reconhecido como doloroso. Quando se usa calor como fator de estimulação, o limiar doloroso situa-se em torno dos 44°, não só para o homem como também para diferentes mamíferos (símios, ratos).

Limiar de tolerância é o ponto em que o estímulo alcança tal intensidade que não mais pode ser aceitavelmente tolerado e, na mesma experiência, alcança os 48°. Difere do fisiológico porque varia conforme o indivíduo, em diferentes ocasiões, e é influenciado por fatores culturais e psicológicos.

Resistência à dor seria a diferença entre os dois liminares. Expressa a amplitude de uma estimulação dolorosa à qual o indivíduo pode aceitavelmente resistir. É também modificada por traços culturais e emocionais, e ao sistema límbico cabe a modulação da resposta comportamental à dor.

Para efeito de classificação médica a dor é dividida em duas categorias: as agudas, que têm duração limitadas e causas geralmente conhecidas, e as crônicas, que duram mais de três meses e têm causa desconhecida ou mal definida. Esta última categoria de dor aparece quando o mecanismo de dor não funciona adequadamente ou doenças associadas a ele tornam-se crônicas.

== Significado Evolutivo ==
A dor é uma qualidade sensorial fundamental que alerta os indivíduos para a ocorrência de lesões teciduais, permitindo que mecanismos de defesa ou fuga sejam adotados.
Embora possa parecer estranho, a dor é um efeito extremamente necessário. É o sinal de alarme de que algum dano ou lesão está ocorrendo.

Por exemplo em certas doenças como a [[hanseníase]] podem ocorrer lesões nas terminações nervosas, tais, que a dor deixa de ser percebida. Isto faz com que com o passar do tempo ocorram lesões que podem vir a desfigurar o portador. Como o doente não sente dor, acontece por exemplo de cortar um dedo com a faca sem o perceber. Ou, em lugares onde as condições de vida são muito precárias (como nos tempos antigos eram os lugares onde os doentes eram confinados) ter-se uma parte do corpo comida por ratos.

É no fundo um estado de [[consciência]] com um tom afetivo de desagrado, às vezes muito elevado, acompanhado de reações que tendem a remover ou evadir as causas que a provocam. Ela é produzida por alterações na normalidade estrutural e funcional de alguma parte do organismo.

== História ==
[[Ficheiro:Papaver somniferum 01.jpg|direita|thumb|Bulbo da papoila do ópio]]
As civilizações antigas escreveram em placas de pedra os primeiros relatos de dor e o tratamento utilizado: pressão, [[água]], [[calor]] e [[sol]]. O homem primitivo relacionava dor ao mal, [[magia]] e [[demônios]]. O alívio da dor era responsabilidade de feiticeiros, [[shamans]] e sacerdotes, que utilizavam ervas, rituais e cerimônias no manejo.

Os [[gregos]] e [[romanos]] foram os primeiros a teorizar [[sensação]] e a ideia de que o [[cérebro]] e o [[sistema nervoso]] tivessem um papel na produção e percepção da dor. [[Aristóteles]] foi quem estabeleceu sua ligação com o [[sistema nervoso central]].

Apenas durante o [[Renascimento]], entre [[1400]] e [[1500]] que foram encontradas evidências para esta teoria. [[Leonardo Da Vinci]] e seus contemporâneos acreditavam que o cérebro era o órgão responsável pela sensação. Da Vinci também acreditava que era a [[medula espinhal]] que transmitia sensações ao cérebro.

Nos séculos XVII e XVIII, o estudo do corpo e das sensações continuou a ser uma fonte de descobrimento para os filósofos. Em [[1664]] o filósofo francês [[René Descartes]] descreveu o que hoje é conhecido como a via da dor. Descartes ilustrou como estímulos como [[fogo]], em contato com o [[pé]], viajam até o cérebro e comparou a sensação de dor com o soar de um sino.

No [[século XIX]] iniciaram-se os avanços científicos para terapia da dor. Médicos descobriram que [[ópio]], [[morfina]], [[codeína]] e [[cocaína]] poderiam ser utilizados no tratamento do quadro. Essas drogas levaram ao desenvolvimento da [[aspirina]], até hoje o [[analgésico]] mais comumente utilizado. No mesmo século, com o desenvolvimento da [[seringa hipodérmica]] a [[anestesia]] geral e local foram aperfeiçoadas e aplicadas durante cirurgias.

== Avaliação da Dor ==
A dor deve ser quantificada para um melhor tratamento, para tal existem vários instrumentos de avaliação sendo que os mais usuais são:
# Escala Visual Analógica (EVA) ''varia de 1 a 10''
# Escala Numérica
# Escala Qualitativa
# Escala de Faces
Estes instrumentos de avaliação são unidimensionais, permitindo quantificar apenas a intensidade da dor. Os mecanismos ideais de avaliação são multidimensionais, levando em conta a intensidade, localização e o sofrimento ocasionado pela experiência dolorosa. Um exemplo de método multidimensional para avaliação da dor é o questionário McGill, proposto por Melzack.
Hoje em dia e cada vez mais nos locais onde se prestam cuidados de saúde se pretende quantificar a dor de modo a sua eliminação tornando assim maior a qualidade de vida dos utentes..

== Ver também ==
*[[Sofrimento]]
*[[Mortificação]]
*[[Inflamação]]
*[[Anestesiologia]]
*[[Acupuntura]]
*[[Analgésico]]
*[[Anti-inflamatórios não esteroides]]

==Bibliografia==
* Bonica JJ. The management of pain. Philadelphia: Lea & Febiger, 1953:1533.
* Turk DC, Melzack R, eds. Handbook of pain assessment. New York: The Guilford Press, 1992:491.
* Ohnhaus EE, Adler R. Methodological problems in the measurement of pain: a comparison between the Verbal Rating Scale and the Visual Analogue Scale. Pain 1975;1:379–384.
* Gropen C, Sobral DC, Tosi DDT. Dor em Pacientes com Sequela de AVC. In: Gropen C, Khan P, eds. ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL. As Bases Clínicas do Diagnóstico Neurofuncional e Tratamento de Reabilitação. Brasília: Medbook Press, 2008.
* Melzack R. The McGill Pain Questionnaire: major properties and scoring methods. Pain 1975;1:277–299.
* Chapman CR, Casey KL, Dubner R, et al. Pain measurement: an overview. Pain 1985;22:1–31.

{{Referências}}
== Ligações externas ==
*[http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u15716.shtml Menino que não sente dor leva à descoberta de mutação genética]
* [http://www.anzca.edu.au/resources/books-and-publications/acutepain_update.pdf Acute Pain Medicine: Scientific Evidence (2nd ed) (2007 updated version)]
* [http://www.netmed.com.br/dor NetMed - Avaliação e Tratamento da Dor]

[[Categoria:Sistema nervoso]]
[[Categoria:Sintomas]]
[[Categoria:Dor]]

Revisão das 17h08min de 15 de setembro de 2017

Dor
Dor
Uma mulher sentindo dor enquanto tira sangue
Especialidade neurologia, cuidados de saúde primários, anestesiologia, medicina de urgência, paliativismo
Classificação e recursos externos
CID-10 R52
CID-9 338
CID-11 661232217
DiseasesDB 9503
MedlinePlus 002164
MeSH D010146
A Wikipédia não é um consultório médico. Leia o aviso médico 

A dor é um sentimento angustiante, muitas vezes causado por estímulos intensos ou prejudiciais, como colidir um dedo do pé, queimar um dedo, colocar álcool em um corte ou bater o "osso engraçado".[1] Porque é um fenômeno complexo e subjetivo, definir a dor tem sido um desafio. A definição da Associação Internacional para o Estudo da Dor é amplamente utilizada: "A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada ao dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tais danos".[2] No diagnóstico médico, a dor é considerada como um sintoma de uma condição subjacente.

A dor motiva o indivíduo a se retirar de situações prejudiciais, a proteger uma parte do corpo danificada enquanto cura e a evitar experiências semelhantes no futuro.[3] A maioria dos casos de dor se resolve uma vez que o estímulo nocivo é removido e o corpo curado, mas pode persistir apesar da remoção do estímulo e cicatrização aparente do corpo. Às vezes, a dor surge na ausência de qualquer estímulo, dano ou doença detectável.[4]

A dor é a razão mais comum para consultas médicas na maioria dos países desenvolvidos.[5][6] É um sintoma importante em muitas condições médicas e pode interferir na qualidade de vida de uma pessoa e no funcionamento geral.[7] Os medicamentos para dor simples são úteis em 20% a 70% dos casos.[8] Fatores psicológicos como suporte social, sugestão hipnótica, excitação ou distração podem afetar significativamente a intensidade ou desagradabilidade da dor.[9][10] Em alguns argumentos apresentados em debates de suicídio ou de eutanásia assistidos por médicos, a dor tem sido usada como um argumento para permitir que as pessoas que estão doentes terminais acabem com suas vidas.[11]

Um julgamento sobre o valor da dor é dado pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que escreveu: "Somente a grande dor é o libertador final do espírito... Eu duvido que tal dor nos torne melhores, mas eu sei que isso nos faz mais profundos".[12] Nietzsche e os filósofos influenciados por ele, assim, se opõem à avaliação inteiramente negativa da dor, ao invés disso, afirmando que "O que não me destrói, me fortalece ".[12][13]

Iniciação da Dor

A dor é mais que uma resposta resultante da integração central de impulsos dos nervos periféricos, ativados por estímulos locais. De fato a dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão real ou potencial, ou descrita em termos de tal definição da Associação Internacional para o Estudo da Dor - IASP.

Distinguem-se basicamente duas categorias: A dor nociceptiva e a dor neuropática[14]

Na dor nociceptiva há três tipos de estímulos que podem levar à geração dos potenciais de ação nos axônios desses nervos:

  1. Variações mecânicas ou térmicas que ativam diretamente as terminações nervosas ou receptores.
  2. Fatores químicos libertados na área da terminação nervosa.
  3. Fatores libertados pelas células inflamatórias como a bradicinina, a serotonina, a histamina e as enzimas proteolíticas.
  1. The examples represent respectively the three classes of nociceptive pain - mechanical, thermal and chemical - and neuropathic pain.
  2. «International Association for the Study of Pain: Pain Definitions». Consultado em 12 Janeiro 2015. Pain is an unpleasant sensory and emotional experience associated with actual or potential tissue damage, or described in terms of such damage  Derived from The need of a taxonomy. Pain. 1979;6(3):247–8. doi:10.1016/0304-3959(79)90046-0. PMID 460931.
  3. England), Northern Neurobiology Group (Great Britain). Symposium (1983 : Leeds,; (William), Winlow, W. (1984). The neurobiology of pain : Symposium of the Northern Neurobiology Group, held at Leeds on 18 April, 1983. Manchester [Greater Manchester]: Manchester University Press. ISBN 0719009960. OCLC 10483263 
  4. Shulamith., Kreitler, (2007). The handbook of chronic pain. New York: Nova Biomedical Books. ISBN 1600210449. OCLC 63660744 
  5. Debono, David J.; Hoeksema, Laura J.; Hobbs, Raymond D. (1 de agosto de 2013). «Caring for Patients With Chronic Pain: Pearls and Pitfalls». The Journal of the American Osteopathic Association. 113 (8): 620–627. ISSN 0098-6151. doi:10.7556/jaoa.2013.023 
  6. Turk, Dennis C.; Dworkin, Robert H. (4 de junho de 2004). «What should be the core outcomes in chronic pain clinical trials?». Arthritis Res Ther. 6. 151 páginas. ISSN 1478-6354. doi:10.1186/ar1196 
  7. Breivik, H.; Borchgrevink, P. C.; Allen, S. M.; Rosseland, L. A.; Romundstad, L.; Hals, Breivik; K, E.; Kvarstein, G.; Stubhaug, A. (1 de julho de 2008). «Assessment of pain». BJA: British Journal of Anaesthesia. 101 (1): 17–24. ISSN 0007-0912. doi:10.1093/bja/aen103 
  8. Moore, R Andrew; Wiffen, Philip J; Derry, Sheena; Maguire, Terry; Roy, Yvonne M; Tyrrell, Laila (4 de novembro de 2015). «Non-prescription (OTC) oral analgesics for acute pain - an overview of Cochrane reviews». John Wiley & Sons, Ltd. Cochrane Database of Systematic Reviews (em inglês). doi:10.1002/14651858.cd010794.pub2 
  9. D., Williams, Kipling; P., Forgas, Joseph; von., Hippel, William (2005). The social outcast : ostracism, social exclusion, rejection, and bullying. New York: Psychology Press. ISBN 184169424X. OCLC 162520851 
  10. The skin senses: Proceedings of the first International Symposium on the Skin Senses, held at the Florida State University in Tallahassee, Florida. Sensory, motivational and central control determinants of chronic pain: A new conceptual model. p. 432.
  11. Weyers, Heleen (1 de setembro de 2006). «Explaining the emergence of euthanasia law in the Netherlands: how the sociology of law can help the sociology of bioethics». Sociology of Health & Illness (em inglês). 28 (6): 802–816. ISSN 1467-9566. doi:10.1111/j.1467-9566.2006.00543.x 
  12. a b Leiter, Brian (1 Janeiro 2015). «Nietzsche's Moral and Political Philosophy». The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Metaphysics Research Lab, Stanford University. Consultado em 26 Novembro 2016 
  13. R., Shapiro, Fred (2006). The Yale book of quotations. New Haven: Yale University Press. ISBN 0300107986. OCLC 66527213 
  14. Miranda, Carla Ceres Villas; Junior, Seda; Franco, Lauro de; Pelloso, Lia Rachel Chaves do Amaral; Miranda, Carla Ceres Villas; Junior, Seda; Franco, Lauro de; Pelloso, Lia Rachel Chaves do Amaral (2016). «Nova classificação fisiológica das dores: o atual conceito de dor neuropática». Revista Dor. 17: 2–4. ISSN 1806-0013. doi:10.5935/1806-0013.20160037