Alegações de abuso sexual infantil na Ilha de Marajó: diferenças entre revisões

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[[Ficheiro:Mouths of amazon geocover 1990.png|miniaturadaimagem|Visão aérea da Ilha de Marajó (maior massa de terra no canto inferior direito da imagem), situada entre o [[Rio Amazonas]] no seu noroeste e a [[Baía do Marajó]] em seu sudeste]]
'''Alegações de abuso sexual infantil na Ilha de Marajó''' têm sido feitas desde 2006, quando o bispo [[José Luis Azcona Hermoso|dom José Luís Azcona]] denunciou casos de exploração sexual na região.<ref>{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/02/crimes-sexuais-existem-mas-nao-estamos-nos-piores-rankings-diz-promotora-no-marajo.shtml|titulo='Crimes sexuais existem, mas não estamos nos piores rankings', diz promotora no Marajó|data=2024-02-28|acessodata=2024-03-26|website=Folha de S.Paulo|lingua=pt-BR}}</ref><ref name=":0">{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2306200929.htm|titulo=Folha de S.Paulo - Pará: Bispo critica ação de governos contra exploração infantil - 23/06/2009|acessodata=2024-03-25|website=www1.folha.uol.com.br}}</ref><ref name=":2">{{Citar web|ultimo=Guedes|primeiro=Marcos|url=https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/rede-de-exploracao-infantil-em-ilha-de-marajo-ja-foi-tema-de-cpi-no-senado/|titulo=Rede de exploração infantil em Ilha de Marajó já foi tema de CPI no Senado|acessodata=2024-03-25|website=CNN Brasil}}</ref> Em 2005 e 2008, foram instauradas [[Comissão parlamentar de inquérito (Brasil)|comissões parlamentas de inquérito]] na [[Assembleia Legislativa do Pará]] (que durou de 2005 até 2009) e no [[Senado Federal do Brasil|Senado Federal]] (de 2008 até 2010), respectivamente, que investigaram denúncias de abuso sexual na área.<ref>{{Citar web|ultimo=Folhapress|url=https://opopular.com.br/cidades/cpi-investigou-100-mil-casos-de-crimes-sexuais-contra-criancas-e-n-o-achou-nenhum-como-o-descrito-por-damares-1.2540778|titulo=CPI investigou 100 mil casos de crimes sexuais contra crianças e não achou nenhum como o descrito por Damares|data=2022-10-13|acessodata=2024-03-26|website=O Popular|lingua=pt-br}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Notícias|primeiro=Terra Brasil|url=https://terrabrasilnoticias.com/2024/02/deputados-do-para-entram-com-pedido-de-cpi-sobre-crimes-contra-criancas-no-marajo/|titulo=Deputados do Pará entram com pedido de CPI sobre crimes contra crianças no Marajó|data=2024-02-27|acessodata=2024-03-26|website=Terra Brasil Notícias|lingua=pt-BR}}</ref><ref name=":22">{{Citar web|ultimo=Guedes|primeiro=Marcos|url=https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/rede-de-exploracao-infantil-em-ilha-de-marajo-ja-foi-tema-de-cpi-no-senado/|titulo=Rede de exploração infantil em Ilha de Marajó já foi tema de CPI no Senado|acessodata=2024-03-25|website=CNN Brasil}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://noticias.r7.com/brasilia/cpi-exploracao-sexual-infantil-ilha-do-marajo-24022024|titulo=Deputados articulam abertura de CPI para investigar exploração sexual infantil na ilha do Marajó|data=2024-02-24|acessodata=2024-03-26|website=R7.com|lingua=pt-br}}</ref>
'''Alegações de abuso sexual infantil na Ilha de Marajó''' têm sido feitas desde 2006, quando o bispo [[José Luis Azcona Hermoso|dom José Luís Azcona]] denunciou casos de exploração sexual na região.<ref>{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/02/crimes-sexuais-existem-mas-nao-estamos-nos-piores-rankings-diz-promotora-no-marajo.shtml|titulo='Crimes sexuais existem, mas não estamos nos piores rankings', diz promotora no Marajó|data=2024-02-28|acessodata=2024-03-26|website=Folha de S.Paulo|lingua=pt-BR}}</ref><ref name=":0">{{Citar web|url=https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2306200929.htm|titulo=Folha de S.Paulo - Pará: Bispo critica ação de governos contra exploração infantil - 23/06/2009|acessodata=2024-03-25|website=www1.folha.uol.com.br}}</ref><ref name=":2">{{Citar web|ultimo=Guedes|primeiro=Marcos|url=https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/rede-de-exploracao-infantil-em-ilha-de-marajo-ja-foi-tema-de-cpi-no-senado/|titulo=Rede de exploração infantil em Ilha de Marajó já foi tema de CPI no Senado|acessodata=2024-03-25|website=CNN Brasil}}</ref> Em 2005 e 2008, foram instauradas [[Comissão parlamentar de inquérito (Brasil)|comissões parlamentas de inquérito]] na [[Assembleia Legislativa do Pará]] (que durou de 2005 até 2009) e no [[Senado Federal do Brasil|Senado Federal]] (de 2008 até 2010), respectivamente, que investigaram denúncias de abuso sexual na área.<ref>{{Citar web|ultimo=Folhapress|url=https://opopular.com.br/cidades/cpi-investigou-100-mil-casos-de-crimes-sexuais-contra-criancas-e-n-o-achou-nenhum-como-o-descrito-por-damares-1.2540778|titulo=CPI investigou 100 mil casos de crimes sexuais contra crianças e não achou nenhum como o descrito por Damares|data=2022-10-13|acessodata=2024-03-26|website=O Popular|lingua=pt-br}}</ref><ref>{{Citar web|ultimo=Notícias|primeiro=Terra Brasil|url=https://terrabrasilnoticias.com/2024/02/deputados-do-para-entram-com-pedido-de-cpi-sobre-crimes-contra-criancas-no-marajo/|titulo=Deputados do Pará entram com pedido de CPI sobre crimes contra crianças no Marajó|data=2024-02-27|acessodata=2024-03-26|website=Terra Brasil Notícias|lingua=pt-BR}}</ref><ref name=":22">{{Citar web|ultimo=Guedes|primeiro=Marcos|url=https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/rede-de-exploracao-infantil-em-ilha-de-marajo-ja-foi-tema-de-cpi-no-senado/|titulo=Rede de exploração infantil em Ilha de Marajó já foi tema de CPI no Senado|acessodata=2024-03-25|website=CNN Brasil}}</ref><ref>{{Citar web|url=https://noticias.r7.com/brasilia/cpi-exploracao-sexual-infantil-ilha-do-marajo-24022024|titulo=Deputados articulam abertura de CPI para investigar exploração sexual infantil na ilha do Marajó|data=2024-02-24|acessodata=2024-03-26|website=R7.com|lingua=pt-br}}</ref>


Segundo o bispo, adolescentes brasileiras eram prostituídas em balsas do rio Tajapuru em troca de carne e óleo diesel. Ele também alegou que mulheres homossexuais aliciavam adolescentes e mulheres adultas à prostituição na área,<ref name=":42">{{Citar web|url=https://extra.globo.com/noticias/brasil/bispo-denuncia-trafico-de-humanos-pedofilia-na-ilha-do-marajo-no-para-100100.html|titulo=Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará|data=2010-03-15|acessodata=2024-03-25|website=Extra Online|lingua=pt-BR}}</ref><ref name=":12">{{Citar web|url=https://oglobo.globo.com/politica/bispo-denuncia-trafico-de-humanos-pedofilia-na-ilha-do-marajo-no-para-3039206|titulo=Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará|data=2010-03-15|acessodata=2024-03-25|website=O Globo|lingua=pt-BR}}</ref> e que mães levavam suas filhas à prostituição nas balsas do local.<ref>{{Citar web|url=https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/08/bispo-denuncia-exploracao-sexual-de-menores-na-ilha-do-marajo-pa.html|titulo=Bispo denuncia exploração sexual de menores na Ilha do Marajó (PA)|data=2015-08-18|acessodata=2024-03-26|website=Jornal Nacional|lingua=pt-br}}</ref>
Segundo o bispo, adolescentes brasileiras eram prostituídas em balsas do rio Tajapuru em troca de carne e óleo diesel. Ele também alegou que mulheres homossexuais aliciavam adolescentes e mulheres adultas à prostituição na área,<ref name=":42">{{Citar web|url=https://extra.globo.com/noticias/brasil/bispo-denuncia-trafico-de-humanos-pedofilia-na-ilha-do-marajo-no-para-100100.html|titulo=Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará|data=2010-03-15|acessodata=2024-03-25|website=Extra Online|lingua=pt-BR}}</ref><ref name=":12">{{Citar web|url=https://oglobo.globo.com/politica/bispo-denuncia-trafico-de-humanos-pedofilia-na-ilha-do-marajo-no-para-3039206|titulo=Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará|data=2010-03-15|acessodata=2024-03-25|website=O Globo|lingua=pt-BR}}</ref> e que mães levavam suas filhas à prostituição nas balsas do local.<ref>{{Citar web|url=https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/08/bispo-denuncia-exploracao-sexual-de-menores-na-ilha-do-marajo-pa.html|titulo=Bispo denuncia exploração sexual de menores na Ilha do Marajó (PA)|data=2015-08-18|acessodata=2024-03-26|website=Jornal Nacional|lingua=pt-br}}</ref> Duas reportagens da [[Folha de S.Paulo|Folha]] e do [[Fantástico]] concorreram com as acusações de prostituição infantil na região.<ref name=":0" /><ref name=":7" />


Apesar de existir consenso entre as autoridades sobre a presença de abusos sexuais na região, denúncias genuínas de abuso sexual na Ilha de Marajó têm se misturado com notícias falsas distribuídas por políticos e influenciadores bolsonaristas, como a ex-ministra [[Damares Alves]], e vídeos distorcidos sobre a ilha foram rotulados como falsos ou descontextualizados por agências de checagem de notícias.<ref name=":3">{{Citar web|url=https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/02/27/fake-news-e-exploracao-infantil-o-que-dizem-autoridades-sobre-caso-marajo.htm|titulo=Fake news e exploração infantil: o que dizem autoridades sobre caso Marajó|data=2024-02-27|acessodata=2024-03-26|website=UOL|lingua=pt-br}}</ref>
Apesar de existir consenso entre as autoridades sobre a presença de abusos sexuais na região, denúncias genuínas de abuso sexual na Ilha de Marajó têm se misturado com notícias falsas distribuídas por políticos e influenciadores bolsonaristas, como a ex-ministra [[Damares Alves]], e vídeos distorcidos sobre a ilha foram rotulados como falsos ou descontextualizados por agências de checagem de notícias.<ref name=":3">{{Citar web|url=https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/02/27/fake-news-e-exploracao-infantil-o-que-dizem-autoridades-sobre-caso-marajo.htm|titulo=Fake news e exploração infantil: o que dizem autoridades sobre caso Marajó|data=2024-02-27|acessodata=2024-03-26|website=UOL|lingua=pt-br}}</ref>
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=== Denúncias do bispo José Luís Azcona (2009-2015) ===
=== Denúncias do bispo José Luís Azcona (2009-2015) ===
[[Ficheiro:Ilha de Marajó (3926554584).jpg|miniaturadaimagem|265x265px|Área ribeirinha da Ilha de Marajó]]
Em 2009, o bispo dom José Luís Azcona denunciou, em suas palavras, "um imobilismo criminoso" por parte das autoridades brasileiras em frente aos casos de exploração sexual infantil na Ilha de Marajó, os quais ele havia denunciado há três anos. Uma reportagem da [[Folha de S.Paulo|Folha]] no mesmo ano mostrou meninas se prostituíndo, segundo o jornal, "pelo preço de um cachorro-quente".<ref name=":0" /> O [[Fantástico]] também realizou uma reportagem na ilha no mesmo ano.<ref name=":7">{{Citar web|url=https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/08/bispo-denuncia-exploracao-sexual-de-menores-na-ilha-do-marajo-pa.html|titulo=Bispo denuncia exploração sexual de menores na Ilha do Marajó (PA)|data=2015-08-18|acessodata=2024-03-26|website=Jornal Nacional|lingua=pt-br}}</ref>
Em 2009, o bispo dom José Luís Azcona denunciou, em suas palavras, "um imobilismo criminoso" por parte das autoridades brasileiras em frente aos casos de exploração sexual infantil na Ilha de Marajó, os quais ele havia denunciado há três anos. Uma reportagem da [[Folha de S.Paulo|Folha]] no mesmo ano mostrou meninas se prostituíndo, segundo o jornal, "pelo preço de um cachorro-quente".<ref name=":0" /> O [[Fantástico]] também realizou uma reportagem na ilha no mesmo ano, denunciando casos de exploração sexual nos rios da região.<ref name=":7">{{Citar web|url=https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/08/bispo-denuncia-exploracao-sexual-de-menores-na-ilha-do-marajo-pa.html|titulo=Bispo denuncia exploração sexual de menores na Ilha do Marajó (PA)|data=2015-08-18|acessodata=2024-03-26|website=Jornal Nacional|lingua=pt-br}}</ref>
[[Ficheiro:Ilha de Marajó (3926554584).jpg|miniaturadaimagem|265x265px|Área ribeirinha da Ilha]]
De acordo com o bispo, meninas de 12 a 16 anos, chamadas de "balseiras", faziam sexo em balsas no Rio Tajapuru em troca de carne e diesel. O bispo também disse que mulheres homossexuais aliciavam adolescentes e mulheres adultas na área,<ref name=":4">{{Citar web|url=https://extra.globo.com/noticias/brasil/bispo-denuncia-trafico-de-humanos-pedofilia-na-ilha-do-marajo-no-para-100100.html|titulo=Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará|data=2010-03-15|acessodata=2024-03-25|website=Extra Online|lingua=pt-BR}}</ref><ref name=":1">{{Citar web|url=https://oglobo.globo.com/politica/bispo-denuncia-trafico-de-humanos-pedofilia-na-ilha-do-marajo-no-para-3039206|titulo=Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará|data=2010-03-15|acessodata=2024-03-25|website=O Globo|lingua=pt-BR}}</ref> e que mães levavam suas filhas à prostituição nas balsas do local.<ref name=":7" />
De acordo com o bispo, meninas de 12 a 16 anos, chamadas de "balseiras", faziam sexo em balsas no Rio Tajapuru em troca de carne e diesel. O bispo também disse que mulheres homossexuais aliciavam adolescentes e mulheres adultas na área,<ref name=":4">{{Citar web|url=https://extra.globo.com/noticias/brasil/bispo-denuncia-trafico-de-humanos-pedofilia-na-ilha-do-marajo-no-para-100100.html|titulo=Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará|data=2010-03-15|acessodata=2024-03-25|website=Extra Online|lingua=pt-BR}}</ref><ref name=":1">{{Citar web|url=https://oglobo.globo.com/politica/bispo-denuncia-trafico-de-humanos-pedofilia-na-ilha-do-marajo-no-para-3039206|titulo=Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará|data=2010-03-15|acessodata=2024-03-25|website=O Globo|lingua=pt-BR}}</ref> e que mães levavam suas filhas à prostituição nas balsas do local.<ref name=":7" />
[[Ficheiro:Todos contra a Pedofilia (4996631189).jpg|esquerda|miniaturadaimagem|234x234px|Senador [[Magno Malta]] durante a CPI do Senado, em 2010, na qual o termo "[[pedofilia]]" foi usada como sinônimo de [[Abuso sexual de menor|abuso sexual infantil]], contra o consenso da psiquiatria<ref>{{Citar periódico |url=http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332013000200016&lng=pt&tlng=pt |título=O monstro contemporâneo: notas sobre a construção da pedofilia como "causa política" e "caso de polícia" |data=2013-12 |acessodata=2024-03-26 |periódico=Cadernos Pagu |número=41 |ultimo=Lowenkron |primeiro=Laura |paginas=303–337 |doi=10.1590/S0104-83332013000200016 |issn=0104-8333}}</ref>]]

Um ano após, foi instaurada a ''CPI da Pedofilia'' na [[Assembleia Legislativa do Pará|Assembléia Legislativa do Pará]], após a qual, segundo o bispo, os abusos não cessaram.<ref name=":4" /> Também foi instaurado, em 2010, outra CPI para investigar o caso no [[Senado Federal do Brasil|Senado Federal]].<ref name=":2" /> Após realizar suas denúncias, o bispo disse, em 2015, que foi ameaçado de morte.<ref>{{Citar web|ultimo=PA|primeiro=Do G1|url=https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2015/08/criancas-sao-vitimas-de-exploracao-sexual-na-ilha-do-marajo-no-para.html|titulo=Crianças são vítimas de exploração sexual na Ilha do Marajó, no Pará|data=2015-08-18|acessodata=2024-03-25|website=Pará|lingua=pt-br}}</ref>
Um ano após, foi instaurada a ''CPI da Pedofilia'' na [[Assembleia Legislativa do Pará|Assembléia Legislativa do Pará]], após a qual, segundo o bispo, os abusos não cessaram.<ref name=":4" /> Também foi instaurado, em 2010, outra CPI para investigar o caso no [[Senado Federal do Brasil|Senado Federal]].<ref name=":2" /> Após realizar suas denúncias, o bispo disse, em 2015, que foi ameaçado de morte.<ref>{{Citar web|ultimo=PA|primeiro=Do G1|url=https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2015/08/criancas-sao-vitimas-de-exploracao-sexual-na-ilha-do-marajo-no-para.html|titulo=Crianças são vítimas de exploração sexual na Ilha do Marajó, no Pará|data=2015-08-18|acessodata=2024-03-25|website=Pará|lingua=pt-br}}</ref>



Revisão das 04h10min de 26 de março de 2024

Visão aérea da Ilha de Marajó (maior massa de terra no canto inferior direito da imagem), situada entre o Rio Amazonas no seu noroeste e a Baía do Marajó em seu sudeste

Alegações de abuso sexual infantil na Ilha de Marajó têm sido feitas desde 2006, quando o bispo dom José Luís Azcona denunciou casos de exploração sexual na região.[1][2][3] Em 2005 e 2008, foram instauradas comissões parlamentas de inquérito na Assembleia Legislativa do Pará (que durou de 2005 até 2009) e no Senado Federal (de 2008 até 2010), respectivamente, que investigaram denúncias de abuso sexual na área.[4][5][6][7]

Segundo o bispo, adolescentes brasileiras eram prostituídas em balsas do rio Tajapuru em troca de carne e óleo diesel. Ele também alegou que mulheres homossexuais aliciavam adolescentes e mulheres adultas à prostituição na área,[8][9] e que mães levavam suas filhas à prostituição nas balsas do local.[10] Duas reportagens da Folha e do Fantástico concorreram com as acusações de prostituição infantil na região.[2][11]

Apesar de existir consenso entre as autoridades sobre a presença de abusos sexuais na região, denúncias genuínas de abuso sexual na Ilha de Marajó têm se misturado com notícias falsas distribuídas por políticos e influenciadores bolsonaristas, como a ex-ministra Damares Alves, e vídeos distorcidos sobre a ilha foram rotulados como falsos ou descontextualizados por agências de checagem de notícias.[12]

História

Denúncias do bispo José Luís Azcona (2009-2015)

Área ribeirinha da Ilha de Marajó

Em 2009, o bispo dom José Luís Azcona denunciou, em suas palavras, "um imobilismo criminoso" por parte das autoridades brasileiras em frente aos casos de exploração sexual infantil na Ilha de Marajó, os quais ele havia denunciado há três anos. Uma reportagem da Folha no mesmo ano mostrou meninas se prostituíndo, segundo o jornal, "pelo preço de um cachorro-quente".[2] O Fantástico também realizou uma reportagem na ilha no mesmo ano, denunciando casos de exploração sexual nos rios da região.[11] De acordo com o bispo, meninas de 12 a 16 anos, chamadas de "balseiras", faziam sexo em balsas no Rio Tajapuru em troca de carne e diesel. O bispo também disse que mulheres homossexuais aliciavam adolescentes e mulheres adultas na área,[13][14] e que mães levavam suas filhas à prostituição nas balsas do local.[11]

Senador Magno Malta durante a CPI do Senado, em 2010, na qual o termo "pedofilia" foi usada como sinônimo de abuso sexual infantil, contra o consenso da psiquiatria[15]

Um ano após, foi instaurada a CPI da Pedofilia na Assembléia Legislativa do Pará, após a qual, segundo o bispo, os abusos não cessaram.[13] Também foi instaurado, em 2010, outra CPI para investigar o caso no Senado Federal.[3] Após realizar suas denúncias, o bispo disse, em 2015, que foi ameaçado de morte.[16]

Alegações de Damares Alves (2020-2023)

Em 2020, a ministra Damares Alves alegou em um culto em Goiânia a presença de tráfico sexual de crianças na Ilha de Marajó. Após o Ministério Público Federal pedir provas à senadora, ela disse que suas denúncias se baseavam em relatos e não em provas. O Ministério acusou, então, a senadora de propagar fake news e exigiu uma retratação pública e uma indenização de cinco milhões de reais à Ilha.[3]

Dois anos depois, a então ex-ministra e senadora alegou em um culto religioso ter imagens de crianças brasileiras da Ilha de Marajó com "seus dentinhos são arrancados para elas não morderem no sexo oral", que "comem comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal". Em seguida, três senadores petistas protocolaram uma ação no Ministério Público Federal para investigar a omissão da senadora frente os crimes supostamente documentados.[17] O Ministério Público Federal apurou o caso e não encontrou nenhuma prova das alegações de Damares Alves.[18]

Após a música Evangelho de Fariseus (2024)

Em fevereiro de 2024, a cantora Aymeê estreou a música Evangelho de Fariseus durante o reality show brasileiro Dom Reality. A música, que denunciava abusos sexuais na ilha, foi promovida nas redes sociais por diversos famosos, incluindo a Rafa Kalimann, Juliette e o ex-BBB Eliezer. Durante a apresentação, a cantora disse que a ilha tinha "pedofilia em nível hard" e que "criancinhas de 6 e 7 anos saem numa canoa e se prostituem no barco por cinco reais".[19][20]

Após a música ser publicada, o advogado-geral da união Jorge Messias acionou a Procuradoria Nacional da União de Defesa da Democracia para atuar contra redes de desinformação sobre a Ilha de Marajó.[19]

Em março, o ex-deputado estadual Arthur do Val publicou o vídeo entitulado "Fui a Marajó e fiquei chocado com o que vi".[21] O vídeo mostrava o deputado marcando um encontro entre duas adolescentes para produzir um flagrante. A legalidade da investigação do ex-deputado foi questionada pelo Ministério dos Direitos Humanos, que denunciou o vídeo ao Ministério Público de Pará. Ao ser questionada, a Polícia Civil do Pará negou ter coordenado qualquer operação conjunta com o youtuber.[22]

Desinformação

Em 2024, um vídeo veiculado na internet alegava mostrar crianças sendo salvas do tráfico sexual da Ilha de Marajó. O vídeo, na verdade, foi filmado no Uzbequistão.[18] Outro vídeo, gravado originalmente no Mato Grosso do Sul, alegava falsamente mostrar um homem beijando uma criança na Ilha.[12]

Referências

  1. «'Crimes sexuais existem, mas não estamos nos piores rankings', diz promotora no Marajó». Folha de S.Paulo. 28 de fevereiro de 2024. Consultado em 26 de março de 2024 
  2. a b c «Folha de S.Paulo - Pará: Bispo critica ação de governos contra exploração infantil - 23/06/2009». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 25 de março de 2024 
  3. a b c Guedes, Marcos. «Rede de exploração infantil em Ilha de Marajó já foi tema de CPI no Senado». CNN Brasil. Consultado em 25 de março de 2024 
  4. Folhapress (13 de outubro de 2022). «CPI investigou 100 mil casos de crimes sexuais contra crianças e não achou nenhum como o descrito por Damares». O Popular. Consultado em 26 de março de 2024 
  5. Notícias, Terra Brasil (27 de fevereiro de 2024). «Deputados do Pará entram com pedido de CPI sobre crimes contra crianças no Marajó». Terra Brasil Notícias. Consultado em 26 de março de 2024 
  6. Guedes, Marcos. «Rede de exploração infantil em Ilha de Marajó já foi tema de CPI no Senado». CNN Brasil. Consultado em 25 de março de 2024 
  7. «Deputados articulam abertura de CPI para investigar exploração sexual infantil na ilha do Marajó». R7.com. 24 de fevereiro de 2024. Consultado em 26 de março de 2024 
  8. «Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará». Extra Online. 15 de março de 2010. Consultado em 25 de março de 2024 
  9. «Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará». O Globo. 15 de março de 2010. Consultado em 25 de março de 2024 
  10. «Bispo denuncia exploração sexual de menores na Ilha do Marajó (PA)». Jornal Nacional. 18 de agosto de 2015. Consultado em 26 de março de 2024 
  11. a b c «Bispo denuncia exploração sexual de menores na Ilha do Marajó (PA)». Jornal Nacional. 18 de agosto de 2015. Consultado em 26 de março de 2024 
  12. a b «Fake news e exploração infantil: o que dizem autoridades sobre caso Marajó». UOL. 27 de fevereiro de 2024. Consultado em 26 de março de 2024 
  13. a b «Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará». Extra Online. 15 de março de 2010. Consultado em 25 de março de 2024 
  14. «Bispo denuncia tráfico de humanos e pedofilia na Ilha do Marajó, no Pará». O Globo. 15 de março de 2010. Consultado em 25 de março de 2024 
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