Academia Real de Arquitetura

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A Academia Real de Arquitetura (em francês: Académie Royale d'Architecture) foi uma instituição oficial fundada por Luís XIV em Paris, em 1671, a fim de normatizar os estudos, a prática e o ensino da arquitetura na França.

Seu primeiro diretor, François Blondel, foi incumbido com a tarefa de criar um currículo, codificando os princípios do projeto clássico, de forma semelhante ao que acontecia na Academia Real de Pintura e Escultura. Também deveria disseminar o conhecimento através de duas palestras semanais. O cerne da doutrina acadêmica eram os princípios do arquiteto da Roma Antiga Vitrúvio, com alguma inspiração nos tratadistas renascentistas como Leon Battista Alberti. Seu trabalho contribuiu para disciplinar o que se percebia como excessos da arquitetura barroca, estabelecendo uma filosofia de clareza, harmonia e equilíbrio. Em seu discurso inaugural, Blondel convocou os estudantes para a missão de restaurar a arquitetura ao seu antigo esplendor, e enfatizou a necessidade de um estudo sólido e de amplo horizonte. Seu tratado teórico Cours d'Architecture (1675) foi o primeiro a ser escrito na França.[1]

Suas idéias foram corroboradas por René Ouvrard no tratado Architecture harmonique (1677), acrescentando que a Beleza deriva de um sistema claro de proporções, similar ao que era encontrado na música, insistindo ainda mais que Blondel na estrita observância das regras clássicas. O rigor da sistematização não demorou a ser atacado por um arquiteto que permanecia à margem da academia, Claude Perrault. Perrault elaborou uma nova tradução de Vitrúvio e, aproveitando passagens em que o antigo mestre louvava a liberdade de um arquiteto helenista, defendeu uma flexibilização no programa acadêmico e afirmou que sua época não seguia o mesmo gosto dos romanos, dizendo que uma aderência estrita às regras antigas impediria todo o progresso. Isso logo deu nascimento a uma prolongada polêmica entre os "antigos" e os "modernos", que se estendeu por um século inteiro. Seu irmão, Charles Perrault, que se tornou um acadêmico influente, continuou na sua linha, advogando a liberdade de criação sem a necessidade da sanção do passado. Os Perrault também foram importantes por darem início à revalorização da arquitetura gótica.[1]

A academia, contudo, norteou a grande parte das mais importantes obras realizadas nesse período e a revestiu de uma gravitas característica, submetendo os projetos a uma hierarquização rigorosa. Somente edifícios públicos e os de posse da casa real podiam ostentar toda a panóplia das ordens maiores, diferenciando-os da edificação mesmo da alta nobreza, que ficava limitada a um esquema menos imponente, com pouca variação, mas os interiores contrastavam com a austeridade externa, sendo muito luxuosos e diversificados em seus espaços. Os princípios acadêmicos foram repetidamente questionados ao longo dos anos, mas a academia pôde mostrar uma flexibilidade suficiente para absorver inovações e continuar como uma instância normativa prestigiada e influente até ser dissolvida na Revolução Francesa.[2]

Referências

  1. a b Mallgrave, Harry Francis. An Anthology from Vitruvius to 1870. Wiley-Blackwell, 2006. pp. 70-82
  2. Goode, Patrick. The Oxford companion to architecture. Oxford University Press, 2009. Volume 1, pp. 134-135

Ver também