Acordo Turco-Líbio sobre a Delimitação de Fronteiras Marítimas

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Mapa do acordo de fronteira marítima turco-líbio de 2019: a area pontilhada representa o traçado das fronteiras marítimas conforme estipulado pelo acordo.

Acordo Turco-Líbio sobre a Delimitação de Fronteiras Marítimas , oficialmente intitulado "Memorando de Entendimento entre a Turquia e a Líbia sobre a Delimitação das Áreas de Jurisdição Marítima no Mediterrâneo", é um acordo entre o governo da Turquia e o Governo de União Nacional da Líbia assinado em 27 de novembro de 2019 para demarcar a fronteira marítima entre os dois países no Mar Mediterrâneo.[1]

Contexto[editar | editar código-fonte]

O presidente turco Recep Erdogan e o presidente do Conselho Presidencial do Governo de União Nacional Fayez al-Sarraj se reuniram em Istambul assinaram dois memorandos de entendimento: o primeiro sobre segurança e cooperação militar entre os dois países e o segundo sobre soberania sobre as áreas marítimas. Os memorandos de entendimento visam melhorar as relações e a cooperação entre os dois lados.[2][3]

A descoberta de vastas reservas de hidrocarbonetos na região do Mediterrâneo oriental nos anos anteriores fez a Turquia entrar em desacordos com os países costeiros: Grécia, Egito, Israel e Chipre. O acordo permitirá que Ancara reivindique seus direitos nessas áreas e ajudará e a legitimar a exploração de seus recursos.[4][5]

O acordo marítimo visa estabelecer uma zona econômica exclusiva no Mar Mediterrâneo, o que significa que os signatários podem reivindicar direitos aos recursos do leito oceânico. [6] Este foi o primeiro acordo a ser assinado entre os dois países e, portanto, introduz uma nova dinâmica na região leste do Mar Mediterrâneo. No entanto, teme-se que o acordo possa alimentar um "confronto energético" nessa região, porque é altamente controverso. [7]

Principais pontos do acordo[editar | editar código-fonte]

O acordo turco-líbio visa:[8]

  • Reforçar a segurança e a cooperação militar entre a Turquia e a Líbia;
  • Manter a segurança e proteger a soberania da Líbia e aprimorar as capacidades do governo líbio no combate ao terrorismo, migração irregular e a criminalidade;
  • Proteção dos direitos marítimos dos dois países, em conformidade com o direito internacional;
  • Soberania sobre as áreas marinhas de maneira a proteger os direitos dos dois países dentro dos limites do direito internacional;
  • Estabelecer tarefas de treinamento e educação, desenvolver uma estrutura legal e fortalecer as relações entre os exércitos turco e líbio;
  • Cooperação no intercâmbio de informações de segurança entre a Líbia e o governo turco, abrangendo todos os aspectos de segurança;

No que diz respeito a zona econômica exclusiva e a plataforma continental:

  • A Zona Econômica Exclusiva (ZEE) concede ao Estado costeiro o direito de se beneficiar dos recursos marinhos e do solo em uma área que não se estende a mais de 200 milhas náuticas (370 km) de sua costa;

Reações[editar | editar código-fonte]

O acordo gerou grande controvérsia na comunidade internacional.[9][10][11] A legitimidade e as consequências legais do acordo foram contestadas por vários países na e entre as costas marítimas turco-líbias, sendo condenado pela Grécia, Egito, Chipre, Israel, Rússia, União Europeia, Estados Unidos e Liga Árabe, além do governo rival líbio, liderado pela Câmara dos Representantes da Líbia e Khalifa Haftar, o chefe do Exército Nacional Líbio, que consideraram como uma violação do Direito Internacional Marítimo e dos Acordos de Skhirat.[12][13][14]

Os Estados Unidos consideraram esse acordo como "provocativo" e uma ameaça à estabilidade da região. [15][16]

Segundo a União Europeia, o acordo "viola os direitos soberanos de países terceiros, não cumpre o Direito Marítimo e não pode produzir consequências legais para países terceiros". [17] Tanto Chipre quanto o Egito rejeitaram o acordo como "ilegal", enquanto a Grécia o considera "vazio" e "geograficamente absurdo", porque ignora a presença de Creta entre as costas turco-líbias. [18]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Após a assinatura do acordo, o governo líbio reconhecido pela Turquia e pela ONU viu um aumento na cooperação. Essa cooperação abrange desde os esforços de exploração turca offshore até o fornecimento de ajuda ao Governo do Acordo Nacional para a Segunda Guerra Civil Líbia.[19]

Nove meses depois, em agosto de 2020, Grécia e Egito assinaram um acordo marítimo, demarcando uma zona econômica exclusiva para direitos de perfuração de petróleo e gás, para contrariar o acordo turco-líbio. [20]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Full text of Turkey-Libya maritime agreement revealed». Nordic Monitor. 5 de dezembro de 2019 
  2. «Acordos marítimos e militares entre Turquia e Líbia geram protestos da Grécia». navalbrasil.com 
  3. Newly Aggressive Turkey Forges Alliance With Libya - Foreign Policy.
  4. «Erdogan recebe dirigente líbio, em meio a tensões no Mediterrâneo». Estado de Minas. 15 de dezembro de 2019 
  5. «A Turquia, depois de intervir na Síria, prepara tropas para a Líbia devastada pela guerra». Geonoticias. 26 de dezembro de 2019 
  6. «ANALYSIS - Strategic, legal aspects of Turkey-Libya deal». aa.com.tr. Cópia arquivada em 29 de março de 2020 
  7. Hacaoglu, Selcan; Kozok, Firat (5 de dezembro de 2019). «Turkey's Maritime Muscle Flexing Roils Eastern Mediterranean». Bloomberg 
  8. (em árabe) اتفاقية تركية ليبية من أبرز بنودها “السيادة البحرية” في المتوسط (خريطة)
  9. «Turkey gets a free pass from big powers». Gulf News. 2 de dezembro de 2019 
  10. «Greece hopes talks with Erdoğan will ease maritime frictions». The Guardian. 3 de dezembro de 2019 
  11. «Greece expels Libyan ambassador in dispute with Turkey». Washington Post. 6 de dezembro de 2019 
  12. «Cyprus, Greece and Egypt condemn Turkey-Libya deal (updated)». Cyprus Mail. 29 de Novembro de 2019 
  13. «Greece, Cyprus and Egypt outraged by Libyan-Turkish maritime border agreement amid oil-drilling row». Al Araby. 29 de Novembro de 2019 
  14. «Turkey and Libya sign maritime deal to counter Greek drilling». Middle East Eye. 28 de Novembro de 2019 
  15. «Pyatt: Turkey-Libya deal undermining regional stability». Kathimerini. 3 de dezembro de 2019 
  16. «State Department: Turkey-Libya deal on maritime borders 'provocative'». Kathimerini. 3 de dezembro de 2019 
  17. «Europe's leaders to reject Turkey-Libya maritime border deal». New Europe. 13 de dezembro de 2019 
  18. «Cyprus rallies neighbors to buck Turkey-Libya maritime deal». AP NEWS. 20 de dezembro de 2019. Cópia arquivada em 12 de fevereiro de 2020 
    * «Turkey-Libya maritime deal rattles East Mediterranean». Reuters. 25 de dezembro de 2019. Cópia arquivada em 17 de fevereiro de 2020 
    * «Turkey signs maritime boundaries deal with Libya amid exploration row». Reuters. 28 de novembro de 2019 
  19. Gurcan, Metin (31 de janeiro de 2020). «Turkey expands gas exploration efforts to Libya's offshore waters». Al-Monitor. Cópia arquivada em 1 de fevereiro de 2020 
  20. Elhennawy, Noha (6 de agosto de 2020). «Egypt, Greece sign maritime deal to counter Libya-Turkey one». AP News