Agraço

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Fabrico de Agraço. Tacuinum Sanitatis (1474).

O agraço[1] ou agraz [2] é o sumo de sabor ácido extraído da uva ainda não madura, sendo que também se dão estes dois nomes às próprias uvas, ainda verdes, com que se faz o referido sumo.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Ambos os substantivos «agraço»[3] e «agraz»[4] provêm do étimo português «agro»[5], que significa «acre; amargo», resultando da deturpação do étimo latino ācre[6], que encerra o mesmo significado.

História[editar | editar código-fonte]

Historicamente, especialmente na gastronomia medieval, mas não só, chegou a ser usado para substituir o sumo de limão ou o vinagre, em vinagretes, mostardas, na condimentação de carne ou peixe, na preparação de molhos e para desglacear.[7]

Portugal[editar | editar código-fonte]

O agraço figura em inúmeras receitas históricas portuguesas.[8] Com efeito, encontram-se várias menções a este ingrediente no primeiro Tratado de cozinha português, a «Arte de Cozinha», de 1680, escrita por Domingos Rodrigues, em inúmeras receitas, desde cozidos de carneiro com hortaliças[9]; pombos assados[10]; coelho cozido[11] ou empadas de carne. [12]

No entanto, na mesma obra, também se encontra receitas em que o agraço, em vez de figurar como tempero, assume um papel mais central no prato, por exemplo na receita de «Tortas de Agraço», uma sobremesa que usa as uvas verdes de agraço[13]:

A torta de agraço teve algum relevo e destaque na história da culinária real portuguesa, com efeito, na segunda metade do século XVIII, mais de 100 anos após a redacção da «Arte de Cozinha», era exigido e examinado aos oficiais de pasteleiro da mesa real que as soubessem fazer.[14]

O agraço continuou a gozar de considerável popularidade, mesmo depois do séc. XVII, figurando em inúmeras receitas portuguesas ao longo do séc. XVIII. Por exemplo, no Caderno de Receitas das Salésias de 1784, o agraço consta de uma receita de fricassé de abóbora.[15]

Culinária moderna[editar | editar código-fonte]

Apesar do seu lauto uso histórico, modernamente, vê-se substituído por vinho ou por variedades de vinagre, por sinal mais acessíveis.[7] Em todo o caso, continua a figurar em certas receitas tradicionais europeias e do Médio Oriente.[7]

Referências

  1. «agraço». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  2. «agraz». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  3. «agraço». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  4. «agraz». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  5. «agro». Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Infopédia 
  6. «ācre | ONLINE LATIN DICTIONARY - Latin - English». www.online-latin-dictionary.com. Consultado em 10 de abril de 2023 
  7. a b c Lafon, Bernard, ... (2005). Le verjus du Périgord ou "Le grand cuisinier" : la cuisine au verjus du Moyen âge à nos jours. Impr. Floch). [Sadirac] (Château de Belloc, 33670): Éd. Alimenthus. OCLC 470305708 
  8. Rodrigues, Domingos (1680). Arte de cozinha dividida em quatro partes, a primeira trata do modo de cozinhar varios guizados de todo o genero de carnes, e conservas, tortas, empadas, e pasteis. A segunda de peixes, mariscos, frutas, hervaa [sic], ovos, lacticinios, doces, conservas do mesmo genero. A terceira de preparar meza em todo o tempo do anno, para hospedar principes, e embaixadores. A quarta de fazer pudins, e preparar massas... Lisboa: Officina da Viuva de Lino da Silva Godinho. p. 281 
  9. Rodrigues, Domingos (1680). Arte de cozinha dividida em quatro partes, a primeira trata do modo de cozinhar varios guizados de todo o genero de carnes, e conservas, tortas, empadas, e pasteis. A segunda de peixes, mariscos, frutas, hervaa [sic], ovos, lacticinios, doces, conservas do mesmo genero. A terceira de preparar meza em todo o tempo do anno, para hospedar principes, e embaixadores. A quarta de fazer pudins, e preparar massas... Lisboa: Officina da Viuva de Lino da Silva Godinho. p. 25. «Porém se quizerem fazer o carneiro com abóbora , alfaces , bringellas , alcaxofras, ou ervilhas , lhe deitarão açafraó, e algum vinagre, e se coalhará com quatro gemas de ovos : poem-se sobre fatias , e deita-se por cima çumo de limão, ou agraço havendo-o» 
  10. Rodrigues, Domingos (1680). Arte de cozinha dividida em quatro partes, a primeira trata do modo de cozinhar varios guizados de todo o genero de carnes, e conservas, tortas, empadas, e pasteis. A segunda de peixes, mariscos, frutas, hervaa [sic], ovos, lacticinios, doces, conservas do mesmo genero. A terceira de preparar meza em todo o tempo do anno, para hospedar principes, e embaixadores. A quarta de fazer pudins, e preparar massas... Lisboa: Officina da Viuva de Lino da Silva Godinho. p. 51. «Depois que tiverem afiados os pombos se affogará hum pequeno de toucinho com huma pouca de manteiga , todas as especies, cheiros, vinho branco, hum golpe de vinagre, agraço inteiro» 
  11. Rodrigues, Domingos (1680). Arte de cozinha dividida em quatro partes, a primeira trata do modo de cozinhar varios guizados de todo o genero de carnes, e conservas, tortas, empadas, e pasteis. A segunda de peixes, mariscos, frutas, hervaa [sic], ovos, lacticinios, doces, conservas do mesmo genero. A terceira de preparar meza em todo o tempo do anno, para hospedar principes, e embaixadores. A quarta de fazer pudins, e preparar massas... Lisboa: Officina da Viuva de Lino da Silva Godinho. p. 65. como estiver affogado , lhe deitaraó dentro os coelhos partidos em pedaços, e depois de cozidos, se temperarão com todos os adubos , cominhos, limaõ, azeite ,agraço, (se o houver) ou vinagre 
  12. Rodrigues, Domingos (1680). Arte de cozinha dividida em quatro partes, a primeira trata do modo de cozinhar varios guizados de todo o genero de carnes, e conservas, tortas, empadas, e pasteis. A segunda de peixes, mariscos, frutas, hervaa [sic], ovos, lacticinios, doces, conservas do mesmo genero. A terceira de preparar meza em todo o tempo do anno, para hospedar principes, e embaixadores. A quarta de fazer pudins, e preparar massas... Lisboa: Officina da Viuva de Lino da Silva Godinho. p. 116. Deste modo se fazem empadas de frangaõs, pombos,perum, rolas, tordos, ade , lombo de vaca, ou de porco, mas com agraço ou limaõ. 
  13. Rodrigues, Domingos (1680). Arte de cozinha dividida em quatro partes, a primeira trata do modo de cozinhar varios guizados de todo o genero de carnes, e conservas, tortas, empadas, e pasteis. A segunda de peixes, mariscos, frutas, hervaa [sic], ovos, lacticinios, doces, conservas do mesmo genero. A terceira de preparar meza em todo o tempo do anno, para hospedar principes, e embaixadores. A quarta de fazer pudins, e preparar massas... Lisboa: Officina da Viuva de Lino da Silva Godinho. p. 162 
  14. Gomes, João Pedro (2016). «O ofício de pasteleiro em Portugal entre os séculos XVI e XVIII». PUC - Curitiba. Revista História Helikon. 2 (4): 78–100. Consultado em 10 de abril de 2023 
  15. Abecasis, Isabel (2015). Caderno de receitas do convento das Salésias (PDF). Lisboa: Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. 41. 117 páginas