Homeostética

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A Homeostética ou Movimento Homeostético é um movimento artístico surgido em Lisboa no início dos anos 80 na sequência do movimento neo-canibal e do esforço para criar uma revista com esse nome.

símbolo da exposição "Continentes"

História[editar | editar código-fonte]

Composto inicialmente por Manuel João Vieira, Pedro Portugal, Ivo, Pedro Proença e Xana, que frequentavam então a escola de Belas Artes de Lisboa, estreou-se em 26 de Maio de 1983 com a 1ª Exposição Homeostética, com um manifesto, um hino, uma banda sonora (Concerto para máquina de lavar a loiça e pandeireta) e a revista/fanzine Filhos de Àtila, da qual saíram durante a exposição dois números. ‎

Seguiram-se-lhe no ano seguinte as exposições "Um Labrego em Nova Iorque" e "Se em Portimão Houvesse Baleias". Em 1985 Fernando Brito mostra interesse em participar neste movimento e em continuar a publicação dos Filhos de Átila, empenhando-se no design de um número 3 (que nunca viria a saír) e colaborando com Pedro Proença e Manuel Vieira na criação de manifestos, mitos e personagens (Budonga, o Zigurat invertido, La Dame aux Escargots, Les Fréres Hitler, Luís Mendonça, etc).

Em Janeiro de 1986 é formalmente iniciado (através de um espezinhamento ritual) durante a exposição Educação Espartana, em Coimbra, uma exposição com características neo-conceptuais, e com uma atitute paródica para com os clichês revolucionários. Em Fevereiro alguns dos Homeostéticos expõe em Amesterdão na Rietveld Academie e em Outubro as mitologias e anseios destes artistas culminam na exposição Continentes, composta por 5 quadros de 10m x 2,5m e algumas esculturas monumentais de Xana, e que constituíu uma homenagem ao agitador cultural José Ernesto de Sousa. Nos pressupostos dessa exposição está a fórmula 6=0, e que o Universo é um Cubo. Durante a inauguração acturam os Ena Pá 2000 ("o braço musical da Homeostética", segundo alguns críticos) e foram criadas peças de design de Moda e de Equipamento destinados ao evento (a secretária Adamastor de Filipe Alarcão e roupa dos Pérolas a Porcos).

A exposição Continentes marcou um indeterminado e inacabado fim do grupo, que prosseguiu sobre outras designações - X-homeostéticos (Cócós & Porkys), Fundição I e II, Ases da Paleta, Gabinete de Altos Estudos Estéticos, Brito no Poste, etc. Em 2001, a candidatura de Manuel João Vieira à Presidência da República mobiliza boa parte dos homeostéticos, conseguindo recolher a quase totalide das assinaturas exigidas para o acto eleitoral.

Em Julho de 2003 voltam a expôr juntos na casa das Artes em Tavira e em Julho de 2004, depois de uma série de congressos preparatórios, faz-se uma retrospectiva do grupo no Museu de Serralves no Porto com tanques à porta(chaimites que participaram na revolução portuguesa de 25 de Abril), uma churrascada monumental, megafones repetindo palavras de ordem nos jardins e outros eventos, (performances, concertos, debates, etc.). Esta exposição foi prolongada em associação com o Museu de Serralves na Universidade de Aveiro. Em Novembro de 2008, comemorando 25 anos de Homeostetica, estreou-se o filme 6=0 de Bruno Almeida na Doc Lisboa,onde obteve uma Menção de Honra.

Termo homeostética[editar | editar código-fonte]

Homeostética é um termo inventado em 1982 por Pedro Portugal a partir da leitura do primeiro volume do Método de Edgar Morin, em que as ideias sistémicas e científicas da complexidade são abordadas. A associação a outros termos como homeopatia e homeostase é assim natural, inserindo-se numa bio-lógica de auto-regulação e de interactividade generalizada. A autonomia da arte relativamente à physis (ao perpétuo eclodir) é absurda. Nos primeiros documentos que se destinavam à publicação da revista Homeostética, datados de Fevereiro/Março de 1982 fala-se de "hipercomplexidade", de "artephysis": "A artephysis é uma pretensão genésica, caosgenética e cosmogenética, é a superestrutura que cede o lugar à poliestrutura, é a civilização que passa a focos civilizacionais interactuantes, é a individualização colectiva processada a um nível multiforme e hiper-complexo, e não a individualização uniformizadora e separadora." (in diário de um neo-canibal). Este contexto é aliado a uma atitude "dadaísta de 5ª geração" (Manuel Vieira), a um "hiperdadaísmo voluntáriamente fracassado" (Pedro Proença) e a um ar do tempo (moda da mudança paradigmas, pós-modernismo, etc.) em que um termo é mais a multiplicidade das suas definições e posições do que um conceito estanque. Ou então é a sua capacidade de suscitar performances, como por exemplo: "festas homeofrenéticas".

Mais recentemente Rodrigo Sousa refere-se ao "homoios" de homeostética como algo de importância capital, porque assim sendo, a homeostética é algo "que se parece com a estética", logo, que se parece com a arte, sendo uma fraude relativamente aos mecanismos de legitimação da arte e da estética. Este pressuposto não só suspende todo o desejo de legitimação como considera hipócrita a Arte nas suas manias legitimizadoras, sobretudo as vindas da Estética ("a estética, bem intencionada, é metafísica do mercado").

A Homeostética não se propõe nem acabar com a arte, nem sabotá-la, nem denunciar algo, mas pura e simplesmente viver a vida conscientemente, no mais nobre e no mais sórdido, praticando algo que é tão baixo ou elevado quanto a arte, confundindo-se por vezes com esta, de forma a poder sobreviver, ou distanciando-se por vezes paródicamente, sabendo que é muito mais importante a participação na artephysis do que na art-world.

Manifestos Homeostéticos[editar | editar código-fonte]

O Movimento Homeostético praticou com assiduidade a tradição modernista dos manifestos como momentos de tomada de consciência e de incentivação a novas práticas. Nas primeiras manifestações começaram por ser uma prática pública, mas depressa se tornaram elementos clandestinos de excitação e de tomada de consciência. Nos três anos antes do "fim" foram produzidas cerca de três dezenas de manifestos.

Teoria Homeostética[editar | editar código-fonte]

Dentro do próprio "movimento" alguns de seus participantes recusam a pretensão teórica, considerando-a como uma produção quase exclusiva de Pedro Proença e que em nada afecta as suas produções artísticas. Para Proença a teoria é construída com contributos de todos (inclusive de Xana e de Ivo) e os textos de Portugal, Vieira e Brito, por exemplo, ainda que divergentes nas atitudes contribuem para um clima que desagua por exemplo nas noções de Post-paradoxal, Infracriptográfico e Transmenipeico, e por fim, na fórmula 6=0 (e no triângulo Métis/Kairos/Enthousiasmous). Mas como foi referido anteriormente, a noção de Homeostética ao parecer-se com a estética acarreta consigo o de "homeoteorias" (coisas que se parecem com teorias), sendo estas igualmente uma prática pseudo-artística ("é uma pseudo-arte pseudo-conceptual!").

Literatura Homeostética[editar | editar código-fonte]

Há uma vasta literatura homeostética, da poesia sonora ("Walking around Serra da Estrela") às cartas do Capitão Nemo, passando por narrativas, teatro, etc. Há quase sempre algo de desconcertante e de banda desenhada - o sentimental alterna com o cómico, o saturniano com a onomatopeia, desaguando o irónico no slogan e vice-versa.

Representantes do início do movimento[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • 6=0, Fundação de Serralves/Asa 2004
  • MELO, Alexandre, Artes Plásticas em Portugal, 1998
  • BRITO, Maria Clara ; Os Anos 80 nas artes plásticas em Portugal (Tese de Mestrado)
  • VIEIRA, Manuel, Só me Demito se For Eleito – Artes Mágicas, 2004

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Ver Também[editar | editar código-fonte]

Ícone de esboço Este artigo sobre arte ou história da arte é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.