Igreja São Pedro dos Clérigos (Rio de Janeiro)

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Igreja São Pedro dos Clérigos
Igreja São Pedro dos Clérigos, Rio de Janeiro, antes da demolição
Igreja São Pedro dos Clérigos, antes da demolição.
Localização Rio de Janeiro

A igreja São Pedro dos Clérigos foi construída no Rio de Janeiro a partir de 1733 e, posteriormente, foi demolida para construção da Avenida Presidente Vargas.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Fundação da cidade do Rio de Janeiro, Antonio Firmino de Monteiro, 1855-1888. Ao centro é possível ver a São Pedro dos Clérigos.

A Igreja São Pedro dos Clérigos, construída em 1733 no Rio de Janeiro, é uma das igrejas pioneiras da Irmandade de São Pedro dos Clérigos construídas no Brasil. Foi pioneira também em seu projeto, sendo um dos primeiros a se afastar da influência lusitana, se aproximando de um estilo de tradição italiana.

A autoria de seu projeto é desconhecida, havendo somente especulações em torno do engenheiro Tenente-Coronel José Cardoso Ramalho e do Dr. Antônio Pereira de Sousa Calheiros. Estava localizada em um terreno na esquina das ruas São Pedro e Ourives, atualmente rua Miguel Couto.

Planta da São Pedro dos Clérigos.
Reconstituição da Igreja São Pedro dos Clérigos, Eduardo Verderame
Foto Igreja São Pedro dos Clérigos, Rio de Janeiro, antes da demolição.

Construção[editar | editar código-fonte]

Sua construção é datada de 1733, tendo sido finalizada de forma rápida, em cinco anos. A igreja tem influência do barroco e rococó, além de ser marcada pelo estilo de produção italiano visíveis na sua planta circular e capela intrincada, características que não vieram a se repetir com frequência na arquitetura brasileira. Segundo John Bury: “Embora haja uma grande distância entre as proporções pesadas da de São Pedro [dos clérigos] do Rio de Janeiro e

a harmoniosa Nossa Senhora do Rosário de Ouro Preto, etilicamente as duas igrejas, juntamente com a São Pedro dos Clérigos de Mariana, constitui um episódio isolado na história da arquitetura no Brasil”.[2]

Sofreu diversas reformas e restaurações ao longo do tempo, destacando as realizadas em: 1794-5, 1801-2, 1853 e 1856-9; e assim que foi criado a diretoria do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1937, atual IPHAN, ela foi uma das primeiras a receber o tombamento individual.

Demolição[editar | editar código-fonte]

Durante a Era Vargas, o Brasil passou por um processo de transformação, que, dentre suas príncipais pautas, incentivava a modernização. Com a falência da produção cafeeira e os reflexos da Revolução de 30, buscou-se uma nova face no campo político.

“O processo de urbanização e industrialização atinge as camadas médias e as massas urbanas, que passam a exigir participação política. As reivindicações e pressões dessas novas forças levaram à contestação do Estado oligárquico agrário, na medida em que este era incapaz de absorver suas demandas”.[3]

Nesse contexto, é pensada a criação da Avenida Presidente Vargas causando a demolição de diversas construções coloniais, dentre elas, a Igreja São Pedro dos Clérigos; houve, inclusive, um projeto que propunha substituir a parte inferior das paredes da igreja por concreto e a utilização de rolos para deslocá-la para o outro lado da avenida; esse processo já era realizado na Europa com rolos de aço, contudo, o aço estava escasso devido a guerra e sugeriu-se o uso de concreto. O projeto não foi realizado devido a fissura dos rolos concreto quando exposto aos esforços e o risco de desmoronamento da igreja durante o processo.

Demolida em 1944, a capela da igreja São Pedro dos Clérigos se manteve e seu desmonte abasteceu outras igrejas do Rio de Janeiro, além do mercado de arte. “Pudemos ver, tomos da sua cúpula, enormes cabeças de anjos acopladas a terminações de volutas, na exposição O Universo Mágico do Barroco de 1998. Querubins retirados de seu corpo fazem parte do acervo do Museu de arte Sacra de São Paulo. A imagem venerada no altar-mor, assim como a portada principal da capela, de fatura excelente, foi trasladada para a nova Igreja de São Pedro que se fez construir no Rio Comprido, no Rio de Janeiro”.[4]

Descrição[editar | editar código-fonte]

A igreja possuía planta curvilínea, além de nave oval, capelas laterais ovais, nártex ou galilé, coro e o altar-mor localizado no centro da planta. Ademais, a igreja era dotada de duas torres sineiras ambíguas e fachada arqueada; sua porta pivotante era de madeira talhada e, após sua demolição, foi colocada na igreja nova igreja do Rio Comprido.

O trabalho de talha dourada (talha rococó) feito no interior da igreja foi atribuído ao Mestre Valentim a partir de comparações com obras efetivas do artista. A igreja era marcada por sua cúpula pousada sobre a nave, ornamentada com anjos e decorações atribuídas ao apóstolo São Pedro. Exteriormente, a cúpula possuía um lanternim que abria espaço para a iluminação natural da igreja e apenas a parte superior do seu zimbório participava da volumetria externa.No altar mor, havia uma imagem de origem portuguesa do santo patrono da igreja representado em trajes pontificiais e assentado em sua cátedra[5].

Com a demolição, também foi transportada para a igreja do Rio Comprido e recebeu diversas alterações. Sobre os altares laterais, Ana Maria Monteiro fala da existência de um retábulo dedicado a São Gonçalo e outro a Nossa Senhora da Boa Hora.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

ALVIM, Sandra. Arquitetura Religiosa Colonial no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ; IPHAN, Prefitura da Cidade do Rio de Janeiro. 1999.

BAZIN, Germain. A arquitetura Religiosa Barroca no Brasil. Rio de Janeiro: Record, 1983. 2 vols.

BURY, John. Arquitetura e Arte no Brasil Colonial. IPHAN/Monumenta. Brasília, 2006.

CARVALHO, Benjamim de A. Igrejas barrocas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

CHAGAS, Daniella C. O Barroco Tardio e a Arquitetura Religiosa de Minas Gerais. IX Colóquio Luso Brasileiro de História da Arte. Belo Horizonte, 2014

CUNHA, Arnaldo M. Rio de Janeiro, Arte Colonial. Abril,2017.

IPHAN. Arquitetura dos Jesuítas no Brasil. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro, n. 5, p. 105-169, 1941.

OLIVEIRA, Myriam A. R.; JUSTINIANO, Fátima. Barroco e Rococó nas Igrejas do Rio de Janeiro. Roteiros do Patrimônio, IPHAN/Monumenta. Brasília,2006.

PEREIRA, André Luiz T. Notas Sobre o Patrimônio Artístico das Irmandades de São Pedro dos Clérigos. I Encontro de História da Arte, São Paulo, 2005.

SANTOS, Paulo F. O Barroco e o Jesuítico na Arquitetura do Brasil. Rio de Janeiro: Kosmos, 1949

Secretária das Culturas/ Arquivo da Cidade. Memória da Destruição: Rio – Uma História que Se Perdeu. Prefeitura do Rio de Janeiro, 2002.

Referências

  1. «Projeto previa deslocar igreja, mas plano não vingou por falta de garantias com preservação do patrimônio». Jornal O Globo. Consultado em 25 de abril de 2017 
  2. Grammont, Guiomar de (31 de março de 2012). Aleijadinho e o aeroplano: O paraíso barroco e a contrução do herói colonial. [S.l.]: Editora José Olympio 
  3. Tempos de Vargas: o rádio e o controle da informação; Othon Jambeiro, Amanda Mota, Andrea Ribeiro, Clarissa Amaral, Cassiano Simões, Eliane Costa, Fabiano Brito, Sandro Ferreira, Suzy dos Santo
  4. Notas Sobre o Patrimônio Artístico das Irmandades de São Pedro dos Clérigos; André Luiz Tavares Pereira
  5. Análise das Igrejas Coloniais, professora Ana Maria Monteiro

Ver também[editar | editar código-fonte]