Ildacilde do Prado Lameu

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Ildacilde do Prado Lameu
Ildacilde do Prado Lameu
Cidadania Brasil

Ildacilde do Prado Lameu (Divino, 1947 - Duque de Caxias, 9 de março de 2005), também conhecida como Dona Ilda, Ilda Furacão ou Ilda do Facão, foi uma líder comunitária e agricultora que atuou no bairro Capivari, periferia do município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro. Foi a fundadora do grupo Justiceiras do Capivari[1].

Dona Ilda nasceu no município de Divino, em Minas Gerais, no ano de 1947. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1959. Conheceu o bairro de Capivari em 1968, quando seus pais adotivos, que moravam em Copacabana, compraram uma chácara na região. Mudou-se definitivamente para a Baixada Fluminense apenas em 1980, no entanto, seu empenho em melhorar a situação da região tem início já nos anos 60.

O aparecimento constante de cadáveres próximos às casas de pessoas moradoras do Capivari marca o início da atuação de Dona Ilda em uma luta constante contra a violência. Segundo entrevista concedida ao pesquisador Linderval Augusto Monteiro, Dona Ilda relata que os cadáveres relacionavam-se com a atuação de esquadrões da morte ligados às ações exterminadoras das polícias cariocas, que auxiliavam a repressão política dos governos militares existentes no Brasil no contexto de Ditadura civil-militar.

Buscando melhorar as condições de vida no bairro, e conscientizar seus vizinhos e vizinhas, Dona Ilda os (as) incentiva com discursos desafiadores de crítica ao bairro e a governantes. Além disso, ela própria se empenha em atividades como capinar as ruas, abrir valas de esgoto, comprar entulho que era utilizado para diminuir os buracos das ruas e permitir a entrada de veículos, distribuir sopa para pessoas desempregadas no quintal de sua casa, acolher e “resolver” casos de violência e levar os mais graves para polícia exigindo uma ação por parte dos policias.

Era descrita por vizinhos e vizinhas como “uma mulher que luta e resolve tudo quanto é tipo de assunto e não tem medo de nada”, “mãe de todo mundo”, “pessoa mais importante do Capivari”[1].

Dona Ilda acreditava que os problemas do bairro, em parte, eram causados pela pouca ocupação do espaço naquele momento. Ela passa então a incentivar que pessoas dispostas a ocupar e cultivar aquela área invadam as propriedades com o objetivo de poderem ter como se sustentar.

O plano surtiu efeito e o bairro do Capivari aumentou vastamente sua população nos últimos anos da década de 90. Com o aumento da população outros problemas chegaram, dentre eles, os casos de violência contra mulheres e crianças.

O surgimento do grupo "Justiceiras do Capivari"[2][editar | editar código-fonte]

Com sucessivos casos de estupro e outros tipos de violência contra a mulher na região do Capivari [2], Dona Ilda decide mobilizar as mulheres da vizinhança para a criação de um grupo que cuidaria da segurança de mulheres e crianças. Surge então o grupo "Justiceiras do Capivari" em 1998. O surgimento do grupo marca substancialmente as suas ações de Dona Ilda no bairro, que passa a ter como principal preocupação o combate à violência contra a mulher. As atividades do grupo iam desde abrir caminho no meio do matagal, acompanhar mulheres e crianças até a escola e pontos de ônibus no caminho de volta para casa, até "capturar" agressores e estuprados da região e levá-los para polícia. As mulheres andavam armadas com enxadas, foices e facões e mantinham os rostos cobertos por lenços.

Durante o período em que o grupo atuou na região (1998 - 2005) os casos de violência contra a mulher diminuíram, tendo quase chegado a zero.[1]

Conflito local e assassinato

Com o crescimento da população na Baixada Fluminense alguns grupos ligados ao tráfico de drogas ocuparam a região. Dona Ilda mantinha uma relação amistosa com os novos moradores e moradoras, mas não aceitava que o tráfico agisse próximo às escolas do bairro. Com isso, iniciou-se uma disputa de território que culminou com o assassinato da líder comunitária[3]. Dona Ilda foi morta no portão de sua casa com 4 tiros. "Índia", chefe do tráfico na favela "Vai-quem-quer", teria sido a mandante do crime[1].

Tinha como sonho de infância o desejo de ser atriz de televisão. Dona Ilda chegou a ser figurante da TV Globo, fato que ela rememorava com um misto de orgulho e decepção.[1]

As Justiceiras de Capivari: Dinamismo popular e cidadania em uma periferia fluminense. Revista História e Imagem.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e Linderval Augusto Monteiro (Abril de 2007). «As Justiceiras de Capivari: dinamismo popular e cidadania em uma periferia fluminense» (PDF). Revista História e imagem. Consultado em 15 de março de 2015. Arquivado do original (PDF) em 24 de setembro de 2015 
  2. a b Paola, Steffania (2015). Justiceiras do Capivari em Vocabulário político para processos estéticos (Org. Cristina Ribas) (PDF). [S.l.: s.n.] p. 201, 202, 203. ISBN 9788566593037 
  3. Gustavo de Almeida (27 de março de 2005). «O último vôo de um beija-flor». Jornal do Brasil. Consultado em 15 de março de 2015