João Pedro Marques

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João Pedro Simões Marques (Lisboa, 15 de junho de 1949) é um historiador e romancista português, especialista em História da escravatura e da sua abolição[1].

Biografia[editar | editar código-fonte]

Fez o ensino secundário no Liceu Nacional de Oeiras, tendo, depois, ingressado no curso de Engenharia no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, curso que frequentou em 1967 e 1968 mas que não prosseguiu por clara falta de vocação para a área. 

Fez o serviço militar obrigatório entre 1971 e 1974 e foi só depois disso que decidiu voltar a estudar, já não Engenharia, mas sim História. Em 1980 concluiu a sua licenciatura em História, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Iniciou, por essa altura, a sua actividade letiva como professor do ensino secundário, actividade essa que manteve até final de 1987. Durante esse período concluiu o curso de Formação de Professores na Escola Superior de Educação de Lisboa do Instituto Politécnico de Lisboa e manteve a sua atividade de investigação histórica. Dedicou-se, em particular, ao estudo do nomadismo, tendo chegado a publicar um artigo sobre a natureza do nomadismo euro-asiático na L’Homme, a prestigiada revista francesa de antropologia[2]

No final de 1987 abandonou o ensino secundário para ingressar na carreira de investigação, no Centro de Estudos Africanos e Asiáticos do Instituto de Investigação Científica Tropical, onde permaneceu até 2010. Entre 1990 e 1993 foi assistente convidado do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo lecionado a cadeira de História de África no Mestrado de História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa. Em 1999 doutorou-se em História pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Foi Presidente do Conselho Científico do Instituto de Investigação Científica Tropical, em 2007- 2008.

A entrada e permanência nesse instituto de investigação obrigou-o a mudar radicalmente a sua área de estudos, que passou a ser a História da escravatura e de outras questões coloniais com ela relacionadas. Foi nessa área de estudos que atingiu relevo e notoriedade como historiador, tanto em Portugal como no estrangeiro. Efetivamente, foi autor dos primeiros (e, até à data, únicos) estudos aprofundados sobre a forma como Portugal lidou com o problema da abolição do tráfico de escravos e da escravidão. O seu livro Os Sons do Silêncio. O Portugal de Oitocentos e a Abolição do Tráfico de Escravos foi considerado pela revista Análise Social “uma pedra angular para a História de Portugal, assim como para a de Angola e do Brasil”[3]. O livro foi traduzido para inglês, publicado em Nova Iorque e Oxford e teve um assinalável impacto entre os historiadores estrangeiros da especialidade porque veio colmatar uma grande e muito lamentada lacuna. De facto, pouco se sabia sobre a forma como Portugal, o pioneiro do tráfico transatlântico de escravos, pusera fim à sua participação nesse comércio. João Pedro Marques preencheu essa lacuna historiográfica e o seu trabalho foi elogiado no estrangeiro por um grande número de historiadores e revistas de História[4]

É autor de dezenas de artigos, recensões críticas e de oito livros sobre temas coloniais. Num desses livros, Revoltas Escravas: Mistificações e Mal-entendidos, argumentou que, ao contrário do que se pensa e geralmente se afirma, as resistências e revoltas dos escravos tiveram pouca influência na abolição da escravidão e que foi a ação dos abolicionistas ocidentais, com os ingleses em primeiro plano, que levou ao seu fim. O livro foi traduzido para língua inglesa e viria a ter assinalável repercussão na sua área de estudos, tornando-se central no debate sobre as causas que terão levado à abolição da escravidão[5]. Esse debate ainda prossegue, suscitando livros de resposta de outros historiadores[6] e estendendo-se por seminários de universidades norte-americanas[7] e europeias. [8]

Em 2010 João Pedro Marques deixou o Instituto de Investigação Científica Tropical e a carreira de investigação para se dedicar à literatura. Escreveu até ao momento oito romances (sete deles históricos), todos publicados pela Porto Editora[9].

Se bem que no período anterior a 2010 João Pedro Marques já tivesse escrito em jornais e revistas, foi sobretudo a partir de 2010 que essa atividade se tornou mais frequente, sendo (ou tendo sido) colaborador regular de vários jornais, entre os quais o Público [10], o Diário de Notícias[11] e o Observador.

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

É pai da humorista, guionista e comunicadora Joana Marques.[12][13] e de Vasco Baptista Marques, filósofo de formação e crítico de cinema do jornal Expresso.

Livros[editar | editar código-fonte]

Historiografia[editar | editar código-fonte]

  • Os Sons do Silêncio. O Portugal de Oitocentos e a Abolição do Tráfico de Escravos, Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa, 1999.
  • Portugal e a Escravatura dos Africanos, Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa, 2004.
  • The Sounds of Silence. Nineteenth-century Portugal and the Abolition of the Slave Trade, Berghahn Books, New York e Oxford, 2006.
  • Revoltas Escravas: Mistificações e Mal-Entendidos, Guerra e Paz, Lisboa, 2006.
  • Sá da Bandeira e o Fim da Escravidão. Vitória da Moral, Desforra do Interesse, Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa, 2008.
  • Who Abolished Slavery? Slave Revolts and Abolitionism. A Debate with João Pedro Marques, editado por Seymour Drescher e P. C. Emmer, Berghahn Books, New York e Oxford, 2010 (em co-autoria com os outros participantes no debate).
  • Escravatura. Perguntas e Respostas, Guerra e Paz, Lisboa, 2017.
  • Combates Pela Verdade. Portugal e os Escravos, Guerra e Paz, Lisboa, 2020.
  • Revoltas Escravas. Mistificações e Mal-Entendidos, Guerra e Paz, Lisboa, 2022 (nova versão, revista e actualizada do livro de 2006)
  • Descobrimentos e Outras Ideias Politicamente Incorrectas, Guerra e Paz, Lisboa, 2023.

Literatura[editar | editar código-fonte]

  • Os Dias da Febre, Porto Editora, Lisboa, 2010.
  • Uma Fazenda em África, Porto Editora, Lisboa, 2012.
  • O Estranho Caso de Sebastião Moncada, Porto Editora, Lisboa, 2014.
  • Do Outro Lado do Mar, Porto Editora, Lisboa, 2015.
  • Vento de Espanha, Porto Editora, Lisboa, 2017.
  • A Aluna Americana, Porto Editora, Lisboa, 2019.
  • O Prazer de Guiar, Porto Editora, Lisboa, 2021.
  • Até ao Fim da Terra, Porto Editora, Lisboa, 2023.

Referências

  1. Seymouros Drescher e Pieterna C.sua Emme [1], Berghahn Books, 2010
  2. João Pedro Marques, [2], L’Homme,1988
  3. René Pélissier, [3], Análise Social, Primavera-Verão 2001
  4. [4], Berghahn Books, 2006
  5. Seymour Drescher e Pieter C. Emmer (editores), “Who Abolished Slavery? Slave Revolts and Abolitionism. A Debate with João Pedro Marques”, Berghahn Books, 2010
  6. William Skidmore, [5], Reviews in History, Fevereiro 2016
  7. [6], Universidade da Florida, 2012
  8. [7][ligação inativa], Instituto de Genève, 2015
  9. [8], Porto Editora
  10. João Pedro Marques, [9], Público, 29 de Novembro de 2014
  11. João Pedro Marques, [10], Diário de Notícias, 18 de Outubro de 2016
  12. «A minha filha Joana... 28 anos a fazer-me rir 🙂 e a fazer-me crescer.». Facebook. 16 de abril de 2014. Consultado em 27 de março de 2023 
  13. Petiz, Joana (26 de maio de 2018). «"Politicamente corretos e extrema-esquerda querem tirar brilho ao que foi bom nos Descobrimentos"». Diário de Notícias. Consultado em 14 de junho de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]