João de Castro (historiador)

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 Nota: Para outros significados de João de Castro, veja João de Castro (desambiguação).

D. João de Castro, filho natural de D. Álvaro de Castro[1], que seguiu com D. Sebastião para a África[2], e neto do seu homónimo vice-rei da Índia D. João de Castro, foi um investigador histórico e político português do início do século XVII.

Depois de uma brilhante carreira militar no Oriente, onde também desempenhou várias missões diplomáticas, obteve vários cargos importantes tais comoː embaixador em Roma, vedor da Fazenda e membro do Conselho de Estado[1].

Mais tarde foi um dos oito fidalgos que, em 1582, foram escolhidos para acompanharem os supostos "restos mortais" de D. Sebastião do porto de Silves ao mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, onde está sepultado desde então.[3][4][5][6]

Nessa altura, por ter seguido o partido de D. António, Prior do Crato, que acabou por ser derrotado, teve que se exilar no estrangeiro e lá participou em vários conselhos de estado clandestinos[7], assim como, escreveu grande parte da sua obra. Os assuntos que abordou com mais ênfase foi o Sebastianismo e após essa fase o Quinto Império, dos quais foi um percursor. Sobre o primeiro confessa ter "inventado" a ideia de el-Rei D. Sebastião estar vivo para descredibilizar D. Filipe II de Espanha, como adversário ao direito do trono do Reino de Portugal,[8] e o segundo tema terá sido para dar alento aos portugueses no geral. Este último será depois retomado pelo Padre António Vieira.

Obras[editar | editar código-fonte]

O seu trabalho mais conhecido e estudado é a compilação «A Aurora da Quinta Monarquia (1604 - 1605)», que segundo ele próprio terá começado em "sete de Outubro de Mil, e seisçentos e quatro, nesta çidade de Paris".[9]

Foi também responsável pela primeira publicação de parte das "trovas" do sapateiro de Trancoso, Gonçalo Annes Bandarra[10].

No entanto guardam-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, da sua autoria, várias outras seguintes publicações e manuscritos[11]:

  • Discurso da vida do sempre bem vindo, e apparecido Rey Dom Sebastião nosso senhor o Encuberto desde o seu nascimento até o presente: feito, e dirigido por D. João de Castro aos tres Estados do Reyno de Portugal: comvem a saber ao da Nobreza, ao da Clerezia, e ao do povo, Paris, em 1602;
  • Ajunta ao discurso preçedente aos mesmos Estados pello mesmo autor: em a qual os advirte de como El Rey de Hespanha se ouve com El Rey D. Sebastião, depois que o teve em seu poder (…);
  • Paraphrase e Concordancia de algumas propheçias de Bandarra, Çapateiro de Trancoso, Paris, 1603; Discurso fallando com El Rey D. Sebastião;
  • Tratado Apologético contra hum libello diffamatorio que imprimiram em França çertos Portugueses com o titulo seguinte: Resposta que os tres Estados do Reyno de Portugal, a saber, Nobreza, Clerezia e Povo, mandaram a Dom João de Castro sobre hum livro que lhes dirigio, sobre a vinda e appareçimento del Rey Dom Sebastião;
  • Novas flores sobre a Paraphrase do Bandarra, com algumas retratações do Author;
  • Segundas Exposiçoens mais amplas, e com outras declaraçoens sobre o Apocalypse;
  • Declaraçoens a alguns Capitulos do Propheta Daniel, B.N.L., cód. 4379;
  • Segunda parte da Paraphrase, e Concordançia das Prophecçias e Trovas de Gonçallo Anez Bandarra Çapateyro de Trancoso: que não foram postas na primeira;
  • Tratado das Ordens: Ornamento, Honra, e Gloria de quatro Ordens, de que prophetizou o Veneravel Abbade Joaquim, em testemunho, e trofeos dos illustres merecimentos dellas, e delle;
  • O Anticristo, ou Propheçias, e Revelaçoens sobre elle;
  • Avizos Divinos, e Humanos pera os Memorandos Conquistadores da Terra da Promissão dos nossos tempos, que he todo o Universo;
  • Renovaçam do Tratado Apologetico que eu Dom João de Castro compus, contra hum livro defamatorio, que alguns Portugueses contra mim fizeram, e imprimiram, na cidade de Paris;
  • Paineis Divinos, onde se representão algums das grandes Merçês que Deos tem prometidas ao seu Povo Occidental da Igreja Romana; com algumas particularidades ja feitas por elle aos Reys de Portugal, e aos Portuguezes;
  • Tratado dos Portugueses de Veneza ou Ternario, Senario, e Novenario dos Portugueses, que em Veneza soliçitaram a liberdade d'El Rey Dom Sebastião Nosso Senhor. Com mais huma breve mençam do Senhor Dom Antonio;
  • Segundo Apparecimento del Rey D. Sebastião Nosso Senhor, dezaseisto Rey de Portugal: com a repetição Summaria do primeiro, e de toda a sua vida. Dirigido aos Tres Estados do Reyno de Portugal, a saber, ao da Clerizia, ao da Nobreza, e ao do Povo.

Referências

  1. a b D. João de Castro (1550-1628) : como um resistente se tornou profeta, por João Carlos Serafim, Via Spiritus, N.º 26, 2019
  2. El Ksar El-Kebir. Narrativas e história sebástica., Jacqueline Hermann, História: Questões & Debates, Curitiba, n. 45, p. 11-28, 2006. Editora UFPR, pág. 23, nota 20
  3. «Gorjão Henriques», por Nuno Gorjão Henriques e Miguel Gorjão-Henriques, 1.a Edição, 2006, Volume I, pág. 542
  4. Código Alcobacense n.º 459 (ant.º) e 126 (mod), na Biblioteca Nacional de Lisboa, refere o Conde de Almada, em Relação dos Feitos de D. Antão Dalmada, edição de 1940
  5. O préstito fúnebre que acompanhou o corpo do Rei D. Sebastião de Faro até ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, sob a direcção do vedor Francisco Barreto de Lima, era composto pelos seguintes oito fidalgos: D. Francisco de Castelo Branco, Jerónimo Moniz de Luzinhano, Diogo da Silva, Ruy Lourenço de Távora, Henrique Correia da Silva, D. Lucas de Portugal, D. Lourenço de Almada e o referido João de Castro. - Coisas Que Poucos Sabem, Henrique Salles da Fonseca, Elos Clube de Lisboa, 19 de Julho de 2011
  6. Onde morreu D. Sebastião, Marrocos ou Limoges?, por Vitor Manuel Adrião, Lusophia, 23 de Novembro de 2021
  7. D. João de Castro participou em nove Conselhos de Estado: o primeiro foi em Rueil em 1584, em que se falou sobre as condições que os «senhores de França» financiariam a armada de D. António de Meneses; o segundo foi no mesmo ano, em Paris, e sobre a mesma matéria; o terceiro, também em Paris e em 1584 – participando somente D. João de Castro e Matias Bicudo – e em que se discutiu as várias recomendações que D. António recebia para que se acomodasse a Castela; o quarto foi igualmente na mesma cidade e ano; o quinto foi no castelo de «Susinham» na Bretanha, no fim de 1584; o sexto foi feito no mesmo castelo; o sétimo foi em «Plessir do Quer»; o oitavo em «Beauvez»; o nono e último foi em Londres quando lhe pediu licença para abandonar a causa… . –El Ksar El-Kebir. Narrativas e história sebástica., Jacqueline Hermann, História: Questões & Debates, Curitiba, n. 45, p. 11-28, 2006. Editora UFPR, pág. 18, nota 63
  8. A Aurora da Quinta Monarquia (1604 - 1605), Introdução e edição: João Carlos Gonçalves Serafim, Supervisão científica: José Adriano de Freitas CarvalhoCo-edição: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória e Edições Afrontamento, Agosto de 2011, pág. 11
  9. A Aurora da Quinta Monarquia (1604 - 1605), Introdução e edição: João Carlos Gonçalves Serafim, Supervisão científica: José Adriano de Freitas CarvalhoCo-edição: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória e Edições Afrontamento, Agosto de 2011
  10. El Ksar El-Kebir. Narrativas e história sebástica., Jacqueline Hermann, História: Questões & Debates, Curitiba, n. 45, p. 11-28, 2006. Editora UFPR, pág. 23
  11. A Aurora da Quinta Monarquia (1604 - 1605), Introdução e edição: João Carlos Gonçalves Serafim, Supervisão científica: José Adriano de Freitas CarvalhoCo-edição: CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória e Edições Afrontamento, Agosto de 2011, pág. 12, nota 11

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