Lavagem da bandeira

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A lavagem da bandeira (em castelhano: Lavado de bandera) é uma ação ritualística de protesto simbólico e pacífico que teve início na sexta-feira, 20 de maio de 2000, no Peru, contra o governo de Alberto Fujimori.[1][2] O significado do ritual era simbolizar a "lavagem de toda a corrupção" no país através da lavagem da bandeira nacional "suja" pelo abuso de poder exercido pelo governo Fujimori.[3][4][5] Naquele ano, a partir de maio a 24 de novembro de 2000, a lavagem da bandeira foi realizada todas as sextas-feiras na Plaza Mayor de Lima e em outras 27 cidades do país e do exterior.[6]

O ritual[editar | editar código-fonte]

Todas as sextas-feiras, a ação simbólica de protesto acontecia do meio-dia até às 15h. na Plaza Mayor de Lima e em frente ao Palácio do Governo. Dezenas de pessoas, e em alguns casos centenas, reuniam-se com uma bacia que enchiam com a água do chafariz da praça.[7] Cantavam o hino nacional, misturavam a água com sabão e introduziam a bandeira peruana para lavá-la e depois pendurá-la em um varal provisório.[6]

Posteriormente, o ritual também incorporou uniformes militares, togas de juízes e até a bandeira do Vaticano à lavagem.[5]

Contexto[editar | editar código-fonte]

Após as controversas eleições gerais no Peru em 2000, um grupo de artistas denominado Colectivo Sociedad Civil organizou uma ação de protesto todas as sextas-feiras, iniciando o ritual em 20 de maio.[8][9][10]

A lavagem da bandeira foi uma das várias manifestações cidadãs de protesto ocorridas naquele ano após as eleições de 9 de abril e 28 de maio de 2000, consideradas fraudulentas por parte da sociedade.[11] Na sequência das eleições de 9 de abril, a Asociación Civil Transparencia registrou 690 irregularidades "referentes a propaganda eleitoral, assédio de representantes e observadores e cédulas eleitorais mutiladas e marcadas".[12] Da mesma forma, a Missão de Observação Eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA), representada na época pelo político guatemalteco Eduardo Stein, chamou a atenção do Governo do Peru para melhorar o processo eleitoral após iniciar a investigação por suposta falsificação de assinaturas do partido político fujimorista Peru 2000.[13]

A lavagem da bandeira foi suspensa após seis meses de ação, em 24 de novembro, quando o processo de vacância presidencial contra Alberto Fujimori por "incapacidade moral permanente" foi concluído em 21 de novembro e a posse no dia seguinte de Valentín Paniagua como presidente transitório do Peru.[14]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Cuellar, Diana (1 de março de 2012). «Lost in the Mise-en-Scène of Latino Paradox». Third Text. 26 (2): 248–253. ISSN 0952-8822. doi:10.1080/09528822.2012.663967 
  2. «Un día como hoy se lavó la bandera peruana en símbolo a limpiar la corrupción | Nacional». Lucidez.pe (em espanhol). 18 de novembro de 2015 
  3. «Top 10 Odd Protests». Time (em inglês). 15 de dezembro de 2008. ISSN 0040-781X 
  4. «Lima under siege as anti-Fujimori protests explode». The Independent (em inglês). 29 de julho de 2000 
  5. a b «Peru's lessons in the art of anti-government dissent». Perú Reports (em inglês). 28 de abril de 2017 
  6. a b «BBC Mundo - Perú: suspenden el lavado de banderas, por ahora... - 24.11.2000». www.bbc.co.uk 
  7. Jo-Marie, Burt (2000). «The reawakening of Civil Society in Peru (NACLA report on the Americas)». ProQuest (em espanhol) 
  8. «Mónica Sánchez: ¡A lavar la bandera!». wapa.pe. 29 de julho de 2018 
  9. «Lavar la bandera, una provocación a la conciencia». América Latina en movimiento (em espanhol). 14 de agosto de 2008 
  10. Contreras, Carlos; Cueto, Marcos (2016). Últimas décadas. Noeliberalismo, tensiones y nuevos desafios (1990-2016). Col: Historia del Perú republicano (em espanhol). Lima: Editorial Septiembre. p. 27. ISBN 978-612-308-178-2 
  11. Toledo, Alejandro; Chernick, Marc; Benet, Marianne (2001). «misión posible: Returning Democracy to Peru». Georgetown Journal of International Affairs. 2 (1): 89–96. ISSN 1526-0054 
  12. «2000 | Centro de Documentación e Investigación». lum.cultura.pe 
  13. País, Ediciones El (2 de abril de 2000). «La misión de la OEA amenaza con abandonar Perú si Fujimori no mejora el proceso electoral Los seis candidatos de oposición que concurren el 9 de abril sellan una alianza de apoyo». El País (em espanhol). ISSN 1134-6582 
  14. Zileri, Diana (24 de novembro de 2000). «BBC Mundo - Perú: suspenden el lavado de banderas, por ahora... - 24.11.2000». www.bbc.co.uk. Consultado em 23 de novembro de 2020 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]