Mina de Ferragudo

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 Nota: Não confundir com a Mina Romana da Cavandela, situada igualmente no concelho de Castro Verde.
Mina de Ferragudo
Mina de Ferragudo
Operação da escolha do minério na Mina de Ferragudo, em 1943.
Nomes alternativos Mina da Herdade do Ferragudo
Construção 1875
Geografia
País Portugal Portugal
Coordenadas 37° 37' 59.2" N 8° 03' 50.6" O
Mapa
Localização do edifício em mapa dinâmico

A Mina de Ferragudo foi uma mina de manganésio no Município de Castro Verde, na região do Baixo Alentejo, em Portugal.

Descrição[editar | editar código-fonte]

A antiga exploração mineira do Ferragudo está situada numa herdade com o mesmo nome, no concelho de Castro Verde.[1] O mineral extraído era manganês, sendo a mina especialmente rica em psilomelana e pirolusite.[2] A área da mina era de 38,48 Ha.[2]

História[editar | editar código-fonte]

De acordo com os vestígios encontrados no local, o jazigo foi primeiro explorado durante a época romana.[3]

A mina foi pela primeira vez registada em 5 de Maio de 1859, por José Diogo e Felizberto José Colaço, tendo a portaria dos direitos dos descobridores legais sido publicada em 10 de Março de 1864.[4] Em Junho desse ano os direitos de mineração foram trespassados para Alonso Gomes, e em 9 de Outubro de 1865 a concessão tornou-se definitiva.[4] Alonso Gomes foi um dos principais empresários mineiros na região do Baixo Alentejo, tendo obtido mais de quarenta concessões definitivas entre as décadas de 1860 e 1880.[2] Em 1889 participou na Exposição Nacional de Indústrias Fabris com amostras de minério das suas várias explorações, incluindo a da Herdade do Ferragudo.[2] Após a sua morte em 1897, a concessão passou para os herdeiros.[2] No Catálogo Descritivo da Secção de Minas, editado em 1889, a mina de Ferragudo é classificada como «a mais importante de todas as minas de manganésio do Baixo-Alentejo, tendo iniciado a lavra em 1875».[4] Originalmente era empregue um sistema de desmonte por poços e galerias, mas na década de 1940 passou a ser de corta em céu aberto.[4] Assim, a mina chegou a formar um buraco com 55 m de comprimento por 40 m de largura e 30 m de profundidade, enquanto que os trabalhos subterrâneos alcançaram cerca de 26 m de profundidade e 150 m de extensão.[4] Na década de 1950 foram feitas várias remodelações na exploração, que chegou quase aos oitenta metros.[4]

Em Dezembro de 2008, foi organizada uma conferência sobre a indústria mineira no concelho de Castro Verde, que incluiu a participação de vários antigos operários da Mina do Ferragudo. José Daniel entrou ao serviço aos «17 ou 18 anos», tendo passado «oito anos a puxar o minério para a rua através dos guinchos. Depois, foram mais sete anos no fundo da mina. Piso 25, 50 e 80». Descreveu esta última função como «encher as vagonas, levar ao poço e mandar para a rua. Encher à pá e empurrar». Já Miguel Marques entrou na mina com apenas oito anos de idade, onde o seu pai já trabalhava como encarregado, tendo explicado como se movia e trabalhava nos poços e galerias: «íamos ao fundo da mina no Ferragudo, a cerca de 80 metros, sem levar gasómetro nem nada. Quando descíamos só se via a luzinha dos gasómetros por entre nuvens imensas de poeiras. Os mineiros, lá ao fundo, andaram anos e anos a engolir pó. Até que se descobriram os martelos perfuradores a injecção de água». Segundo o seu irmão António, a operação do Ferragudo «não era uma indústria mineira, era uma extracção de minérios. Era tudo muito rudimentar. O minério era extraído com um guincho, não havia máquinas, e havia um motor eléctrico para fazer funcionar esses guinchos. Havia uns poços com 20/30 metros, e umas galerias do século passado que eram entivadas. Aquele trabalho era muito duro e praticamente feito a braços. A perfuração era feita uns guilhos e uma maceta até cerca de uns 1, 1,15 m de profundidade. Depois colocavam-se os explosivos, detonava-se e tirava-se o minério. Até aos anos 50 era tudo muito rudimentar e duro». Outro operário, António Marques, esteve na mina durante cerca de 22 anos, até à década de 1970. Entrou como serralheiro, e saiu como encarregado, posição em que substituiu o seu pai, tendo passado igualmente pelas divisões de topografia e de desenho. Explicou que o principal produto da mina era o óxido de manganês, que era depois transportado para «as fábricas de vidro da Marinha Grande e para a Urgeiriça, onde se extraía urânio.». Relatou igualmente que no início ganhava «100 escudos por semana e no final do mês ainda recebia mais 10 ou 12 escudos com o pago (economias do mês)». Segundo os operários, não se verificaram quaisquer acidentes na mina, embora António Marques tenha testemunhado a ocorrência de três mortes.[5]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Bloco/Castro Verde pela liberdade de circulação nos caminhos rurais». Bloco de Esquerda. 20 de Maio de 2008. Consultado em 16 de Junho de 2021 
  2. a b c d e MENEZES, Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de (Janeiro de 2015). «Alonso Gomes & C.ª: A actividade mineira e a navegação a vapor entre Mértola e Vila Real de Santo António e entre Lisboa e os portos do Algarve» (PDF). Cadernos Barão de Arede. Centro de Estudos de Genealogia e Heráldica Barão de Arêde Coelho. p. 7, 18, 51. Consultado em 16 de Junho de 2021 
  3. «Mina de Ferragudo». Portal do Arqueólogo. Direcção Geral do Património Cultural. Consultado em 16 de Junho de 2021 
  4. a b c d e f «Minas de outros tempos» (PDF). O Campaniço (79). Castro Verde: Câmara Municipal de Castro Verde. Dezembro de 2008. p. 9. Consultado em 16 de Junho de 2021 
  5. REGO, Miguel (Dezembro de 2008). «Histórias de minas e mineiros» (PDF). O Campaniço (79). Castro Verde: Câmara Municipal de Castro Verde. p. 8. Consultado em 16 de Junho de 2021 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]


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