Missa de São Gregório

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Missa de São Gregório.
Antes de 1480. Por Diego de la Cruz, atualmente no Museu Nacional de Arte da Catalunha, em Barcelona.

Missa de São Gregório é um tema da arte católica romana que apareceu pela primeira vez no final da Idade Média perdurou até a época da Contra-Reforma. Nas imagens, o papa Gregório I (c. 540-604) aparece rezando a missa quando uma visão de Cristo como "Varão de Dores" aparece no altar na frende dele respondendo às orações do papa que pedia um sinal para convencer um cético sobre a doutrina da transubstanciação.

História do evento e a imagem[editar | editar código-fonte]

A primeira versão da história apareceu na biografia de Gregório composta por Paulo, o Diácono no século VIII e foi repetida no século IX pela versão de João, o Diácono. Nela, o papa está rezando a missa quando uma das mulheres presentes começa a rir na hora da comunhão, afirmando a um companheiro que não conseguia acreditar que o pão era Cristo, pois ela mesmo o havia assado. Gregório rezou pedindo um sinal e a hóstia se transformou num dedo sangrando[1]

Na popular compilação de hagiografias do século XIII chamada "Lenda Dourada", a história reaparece, mas outras versões inflaram a lenda com outras narrativas e o dedo transformou-se numa visão de Cristo sobre o altar e a mulher cética, num diácono.

A história quase não apareceu na arte até o Jubileu de 1350,[2] quando peregrinos que foram a Roma viram um ícone bizantino chamado "Imago Pietatis" na Basílica de Santa Cruz de Jerusalém, uma imagem que alegava-se ter sido feita na época da visão e que seria uma representação real do que foi visto.[3] Nela, a figura de Cristo era típica dos precursores bizantinos do "Varão de Dores", com meio corpo, braços cruzados e a cabeça pensa para o lado esquerdo do observador. De acordo com Gertrud Schiller e os acadêmicos alemães que ela cita, a imagem se perdeu, mas é conhecida por conta das muitas cópias, incluindo um ícone em micromosaico bizantino de cerca de 1300 em Santa Cruz de Jerusalém.[4] Esta imagem parece ter gozado, talvez apenas a princípio para o Jubileu, de uma indulgência papal de 14 000 anos para orações feitas em sua presença. Esta forma da imagem, convertida na forma padrão ocidental do "Varão das Dores", elevando-se de uma caixa parecida com um túmulo no altar e com as "Arma Christi" à sua volta, tornou-se o padrão por toda a Europa[5] e popularizou-se imensamente, especialmente a norte dos Alpes, em peças de altar, iluminuras e em outros meios. A forte conexão da imagem com as indulgências também se manteve e escapou, em grande medida, de qualquer controle papal. Houve um novo Jubileu em 1500 e os anos seguintes e anteriores a ele demonstram a popularidade da imagem.[6] Ela aparecia nos livros de horas, geralmente no início das Horas da Cruz ou dos Salmos Penitenciais.[7]

A "Missa de São Gregório" é um dos muitos exemplos nos quais imagens andachtsbilder, destacadas dos ciclos da Paixão, como o "Varão de Dores", pretendiam estimular uma intensa meditação pessoal, foram trabalhadas em composições monumentais para serem exibidas de forma proeminente. O diácono ("o cético") é invariavelmente mostrado e, em composições maiores, há geralmente uma multidão de cardeais, presentes e fieis, geralmente com um retrato de doador incluído. Algumas vezes, o cálice no altar está sendo preenchido com sangue vertendo das chagas do flanco de Cristo. A cabeça pensa para a esquerda do mosaico em Roma aparece muitas vezes, mas de formas modificadas. Às vezes, Cristo aparece de corpo inteiro e algumas vezes aparece subindo no altar em versões posteriores.

Havia diversas gravuras que eram geralmente copiadas por artistas, principalmente dez diferentes gravuras sobre o tema de Israhel van Meckenem e uma xilogravura de Albrecht Dürer de 1511. A maioria incluía indulgências impressas, geralmente não autorizadas.[8] A mais antiga pintura de penas asteca é uma "Missa" de 1539 e a próxima é uma das gravuras de indulgências de van Meckenem.[9]

Galeria[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Rubin, 121–122
  2. Um afresco mais antigo de Ugolino di Prete Ilario num ciclo de 1357 a 1363 dedicado à história da Eucarista na "Capela do Cabo" da Catedral de Orvieto foi restaurado, mas evidentemente jamais mostrou o "Varão de Dores" na visão
  3. Parshall, 58. Para uma cronologia ligeiramente diferente, veja Pattison, 150
  4. Schiller, II, 199. O original parece ter estado em Roma até o século XII (Schiller). Para o ícone que agora está lá, veja Treasures of Heaven
  5. Rubin, 122 and Shestack, 214
  6. Parshall, 58
  7. Kamerick, 169
  8. Field, 22–-230
  9. Pierce, 95–98, veja Shestack, 214 para a gravura em questão.
  10. Pierce, 96

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Missa de São Gregório
  • Field, Richard, Fifteenth Century Woodcuts and Metalcuts, National Gallery of Art, Washington (Catalogue), Washington, 1965
  • Kamerick, Kathleen; Popular Piety and Art in the late Middle Ages: Image Worship and Idolatry in England, 1350–1500, Palgrave Macmillan, 2002, ISBN 0-312-29312-7, ISBN 978-0-312-29312-3, Google books
  • Parshall, Peter, in David Landau & Peter Parshall, The Renaissance Print, Yale, 1996, ISBN 0-300-06883-2
  • Pattison George, in W. J. Hankey, Douglas Hedley (eds),Deconstructing Radical Orthodoxy: Postmodern Theology, Rhetoric, and Truth, Ashgate Publishing, Ltd., 2005, ISBN 0-7546-5398-6, ISBN 978-0-7546-5398-1. Google books
  • Pierce, Donna et al.; Painting a New World: Mexican Art and Life, 1521–1821, University of Texas Press, 2004, ISBN 0-914738-49-6, ISBN 978-0-914738-49-7 Google books
  • Rubin, Miri, Corpus Christi: The Eucharist in Late Medieval Culture, pp. 120–122, 308–310, Cambridge University Press, 1992, ISBN 0-521-43805-5, ISBN 978-0-521-43805-6 Google books
  • Schiller, Gertrud, Iconography of Christian Art, Vol. II, 1972 (English trans from German), Lund Humphries, London, ISBN 0-85331-324-5
  • Shestack, Alan; Fifteenth Century Engravings of Northern Europe; 1967, National Gallery of Art, Washington (Catalogue), LOC 67-29080
  • Hans Belting, Das Bild und sein Publikum im Mittelalter: Form und Funktion früher Bildtafeln der Passion, Berlin: Mann, 1981 (also in English)

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

  • «Grande coleção de imagens, principalmente iluminuras» 🔗 (em inglês). biblical-art.com