Proserpina (Rossetti, Tate)

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Proserpina
Proserpina (Rossetti, Tate)
Autor Dante Gabriel Rossetti
Data 1874
Técnica Pintura a óleo sobre tela
Dimensões 125,1 cm × 61 cm 
Localização Tate Britain, Londres


Proserpina é uma pintura a óleo sobre tela do pintor e poeta inglês pré-rafaelita Dante Gabriel Rossetti datada de 1874, sendo a sétima versão do mesmo tema pelo pintor, e que se encontra actualmente na Tate Britain, em Londres.

É representada em típico estilo pré-rafaelita a deusa grega e romana Proserpina que foi castigada a viver no submundo durante o inverno. Nas mitologias grega e romana, Proserpina era filha de Ceres e foi levada para o submundo (Hades) por Plutão, que se casou com ela apesar dela estar enamorada por Adónis. Quando Ceres lhe pediu para a filha voltar para a Terra, Júpiter concordou na condição de Proserpina não comer nenhuma fruta do Hades. Mas como comeu seis grãos de romã, como castigo Proserpina foi obrigada a permanecer seis meses (inverno) por ano no Hades, podendo voltar ao mundo superior nos outros seis meses (verão).[1]

Proserpina, tal como a modelo Jane Morris, é uma mulher bela e requintada, com traços do rosto delicados, mãos finas e pele perfeitamente clara, adornada pelo cabelo negro espesso. Rossetti pintou-a num momento em que a sua saúde mental era muito precária e a sua paixão por Jane Morris estava no momento mais obsessivo.[2]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Rossetti escreveu acerca de Proserpina

Está representada num corredor sombrio do seu palácio, com o fruto fatal na sua mão. Quando está a passar, uma luz de alguma fresta que se abriu de repente projeta-se na parede atrás dela, permitindo por um momento o vislumbre do mundo superior; e ela olha furtivamente para lá, imersa em pensamentos. O queimador de incenso está ao lado dela como o atributo de uma deusa. O ramo de hera no fundo pode ser tomado como um símbolo das memórias que perduram.[3]

Incapaz de se decidir pela pintura ou pela poesia, a obra de Rossetti está impregnada da sua imaginação poética e pela interpretação pessoal das fontes literárias. O seu soneto que acompanha esta obra é um poema de saudade: "Longe de mim me sinto; e sempre sonhando" (ver o soneto a seguir), sendo uma alusão incontornável ao seu anseio de seduzir Jane justicando-se com o casamento infeliz dela com William Morris. Proserpina tinha sido presa no reino subterrâneo de Plutão por ter provado o fruto proibidoː a romã. Jane, presa pela convenção (contrato nupcial), está também a degustar o fruto proibido.[4] Há um outro significado subjacente na pintura, pois Rossetti esteve durante anos com Jane em Kelmscott Manor nos meses de verão, voltando ela para o marido William Morris no inverno, fazendo assim o paralelismo com a liberdade de Proserpina no verão.

O simbolismo nesta pintura de Rossetti indica incisivamente a situação de Proserpina, tal como a de Jane Morris, dividida esta entre o marido e pai das suas duas filhas adoradas, e o seu amante. A romã atrai a atenção, combinando a cor dos seus grãos com a dos lábios carnudos de Proserpina. A hera atrás dela, como Rossetti afirma, representa a memória que não despega e a passagem do tempo; a sombra na parede é a estada no Hades, e o reflexo da luz solar, o vislumbre da terra. O vestido, como água derramada, sugere o vaivém das marés, e o queimador de incenso representa a imortalidade do tema. Os olhos tristes de Proserpina, que são do mesmo azul frio da maior parte da pintura, olham indiretamente para o "outro" mundo. No geral, os tons escuros dominam o conjunto cromático da obra.[5]

Embora tenha inserido a data de 1874 na pintura, Rossetti trabalhou durante sete anos em oito telas diferentes antes de terminar a obra. A pintura está assinada e datada num hipotético rolo de pergaminho no canto inferior esquerdo: 'DANTE GABRIELE ROSSETTI RITRASSE NEL CAPODANNO DEL 1874' (em italiano) (Dante Gabriel Rossetti pintou no início de 1874). A moldura, desenhada por Rossetti, tem medalhões que se assemelham a uma seção de romã, refletindo a que Proserpina tem na mão.

O soneto inserido[editar | editar código-fonte]

Proserpina (1882), Rossetti, Birmingham Museum and Art Gallery. Óleo sobre tela com 78,7 cm x 39,2 cm; trata-se da oitava e última versão do tema, pintada para L. R. Valpy Esq. como cópia em escala reduzida da versão da Tate e que foi concluida em Birchington, apenas alguns dias antes da morte de Rossetti. [6]

No canto superior direito de Proserpina foi inserido pelo artista um soneto seu em italiano.[7] O mesmo soneto em inglês está inscrito na moldura:[1]

Texto original Tradução livre
Lungi è la luce che in sù questo muro
Rifrange appena, un breve istante scorta
Del rio palazzo alla soprana porta.
Lungi quei fiori d'Enna, O lido oscuro,
Dal frutto tuo fatal che omai m'è duro.
Lungi quel cielo dal tartareo manto
Che quì mi cuopre: e lungi ahi lungi ahi quanto
Le notti che saràn dai dì che furo.
Lungi da me mi sento; e ognor sognando:
Cerco e ricerco, e resto ascoltatrice; 10
E qualche cuore a qualche anima dice,

(Di cui mi giunge il suon da quando in quando,

Continuamente insieme sospirando,)—
“Oimè per te, Proserpina infelice!”
De longe é a luz que nesta parede
Se reflete apenas, um breve instante,
Que do rio pela porta do palácio passou.
Longe as flores de Enna,[8] ó lido escuro,
Do teu fruto fatal que agora tão me é duro.
Longe qual céu de manto escuro
Tal como o meu coração, e ai longe, ai tão longe
As noites que serão dos dias que foram.
Longe de mim me sinto; e sempre sonhando
Procuro e volto a procurar, e fico à espera;
E qualquer coração a qualquer alma diz,
(Dos quais me chegam o som de tempos em tempos,
Continuamente juntos suspirando,) -
"Ai de ti, infeliz Proserpina!"
Proserpina (1880), Rossetti. Pastel com 120 × 56 cm; em coleção particular.

História[editar | editar código-fonte]

Monna Rosa (Rossetti)Mnemosyne (Rossetti)The Blessed DamozelProserpineVeronica VeroneseLady Lilith
Seis pinturas de Rossetti estavam na parede do salão de Leyland em 1892, sendo Proserpina a quarta a contar da esquerda.[9] (Clique no quadro da esquerda para abrir o artigo de Monna Rosa.)

Rossetti começou a trabalhar nesta obra em 1871 e pintou pelo menos oito versões diferentes, a última completada apenas em 1882, o ano da sua morte, tendo as primeiras versões sido encomendadas por Charles A. Howell. A pintura objecto deste artigo é a chamada sétima versão e foi encomendada por Frederick Richards Leyland, que está agora na Tate Gallery, estando a última versão, muito semelhante à da Tate, no Birmingham Museum and Art Gallery.[10][11][12]

Leyland encomendou a Rossetti dezoito pinturas, sem contar com as encomendas não satisfeitas. Logo após a entrega da pintura, Leyland e Rossetti pensaram na hipótese de um tríptico de Rossetti, que acabou por ser formado com Mnemosine, The Blessed Damozel e Proserpine.[13] Três outras pinturas de Rossetti foram colocadas no salão da residência de Leyland (imagem abaixo) às quais este apelidava de "encantadoras."[9]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b Riggs, Terry (1998). «Proserpine 1874». Tate Collection. Consultado em 3 de Junho de 2016 
  2. V. Surtees, Dante Gabriel Rossetti 1828–1882. The Paintings and Drawings, Clarendon Press (1971), I, pp.131–4
  3. W. E. Fredeman (ed.), The correspondence of Dante Gabriel Rossetti, 7 Vols., Brewer (2002–8).
  4. Ver crítica em The Victorian Web, e também em [1].
  5. Parris, L. (ed.), The Pre-Raphaelites, Catálogo de exposição, Tate Gallery (1984), pp.231–2.
  6. Nota sobre a obra no BM&AG, http://www.bmagic.org.uk/objects/1927P7
  7. http://www.rossettiarchive.org/docs/s233.rap.html
  8. Local onde, segundo a mitologia, Plutão teria raptado Proserpina
  9. a b Waking Dreams, p. 26 (figure 5).
  10. McGann, Jerome (editor) (2005). «Proserpine, 1872». Rossetti Archive. Institute for Advanced Technology in the Humanities, University of Virginia. Consultado em 3 de Junho de 2016 
  11. McGann, Jerome (editor) (2005). «Proserpine (oil replica, eighth version), 1882». Rossetti Archive. Institute for Advanced Technology in the Humanities, University of Virginia. Consultado em 3 de Junho de 2016 
  12. «Oil Painting – Proserpine». Birmingham Museums and Art Gallery. Consultado em 3 de Junho de 2016 
  13. Waking Dreams, p. 204.

Fontes[editar | editar código-fonte]

  • Wildman, Stephen; Laurel Bradley; Deborah Cherry; John Christian; David B. Elliott; Betty Elzea; Margaretta Fredrick; Caroline Hannah; Jan Marsh; Gayle Seymour (2004). Waking Dreams, the Art of the Pre-Raphaelites from the Delaware Art Museum. [S.l.]: Art Services International. 395 páginas 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Ash, Russell. (1995) Dante Gabriel Rossetti. London: Pavilion Books.
  • Doughty, Oswald (1949) A Victorian Romantic: Dante Gabriel Rossetti London: Frederick Muller.
  • Fredeman, William E. (ed.) (2002–08) The correspondence of Dante Gabriel Rossetti. 7 Vols., Brewer, Cambridge.
  • Hilto, Timoth (1970). The Pre-Raphelites. London: Thames and Hudson, New York: Abrams.
  • Parris, Leslie (ed.) (1984). The Pre-Raphaelites, exhibition catalogue, London: Tate Gallery.
  • Surtees, Virginia. (1971) Dante Gabriel Rossetti. 2 vols. Oxford: Clarendon Press.
  • Todd, Pamela (2001). Pre-Raphaelites at Home, New York: Watson-Giptill Publications.
  • Treuherz, Julian, Prettejohn, Elizabeth, e Becker, Edwin (2003). Dante Gabriel Rossetti. London: Thames & Hudson.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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