Secularização

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A secularização é um processo através do qual a religião perde a sua influência sobre as variadas esferas da vida social. Essa perda de influência repercute-se na diminuição do número de membros das religiões e de suas práticas, na perda do prestígio das igrejas e organizações religiosas, na influência na sociedade, na cultura, na diminuição das riquezas das instituições religiosas, e, por fim, na desvalorização das crenças e dos valores a elas associados. A partir do século XIX, houve um progressivo declínio da influência das instituições religiosas tradicionais. Este declínio verificou-se tanto na prática dos fiéis, como na dificuldade crescente em recrutar clero para o desenvolvimento e manutenção da instituição. A maior parte dos estudos versou a tentativa de compreensão deste fenômeno. Hoje, a investigação já não se centra tanto nas causas e nas razões da secularização, mas nas possibilidades da relação da modernidade com o religioso.

Descrição

A religião costumava desempenhar um papel mais importante na vida das pessoas. O que explica o declínio? A explicação é seguramente complicada. Um fator, pelo menos nos ‘países desenvolvidos’, pode ser o aumento do prestígio da ciência e o predomínio crescente da visão científica do mundo. Outro fator pode ser a menor importância da vida familiar e das tradições sociais em geral. Porém, seja qual for a causa, parece claro que, mesmo nos Estados Unidos, as pessoas e as instituições religiosas estão hoje numa posição diferente do que estavam ainda há pouco tempo. Beneficiam de uma forte posição social e política, sem dúvida, mas a religião é, hoje, uma entre muitas forças que competem pela atenção e já não define a visão da sociedade.

Por vezes, também se usa a palavra laicização para designar esse fenômeno. A palavra "laicização" tem um significado semelhante a "secularização", embora alguns autores utilizem a primeira para se referir sobretudo à questão jurídica, institucional e política da separação entre o Estado (um "Estado laico" significa um país ou nação com uma posição neutra no campo religioso) e as Igrejas e a segunda para se referir à diminuição da influência da religião na vida cotidiana das pessoas.

Tal relativização tem consequência crucial na história da Igreja, posto haver uma inversão do padrão de Cristo para o pastorado do seu rebanho. A homossexualidade, que, antes, era condenada pela Igreja, passa a fazer parte do discurso evangélico e se mistura com a própria qualificação dos bispos e diáconos. Na Europa e nos Estados Unidos, nações que estão no ápice da secularização, o pastorado homossexual é uma realidade em algumas igrejas históricas, igrejas estas que acham que é necessário uma reforma na religião cristã.  

Pós-Secularização 

O termo "pós-secular", que mimetiza e comenta os outros "pós" com os quais se alinha (o pós-moderno, o pós-industrial, o pós-materialista, o pós-comunista, o ''post-histoire'' etc.)—, foi usado pela primeira vez na Itália em 1990. Seu autor, Filippo Barbano, no prefácio que escreveu ao livro de Luigi Berzano,''Differenziazione e religione negli anni 80'' (Barbano, 1990), identifica, na pós-modernidade, entendida como crise globalizada da modernidade, o momento ideal para a reformulação das teorias sociológicas da religião, uma vez que elas seriam majoritariamente tributárias do doutrinarismo da teoria weberiana da secularização. O propósito é passar a fazer uma sociologia que reconheça a capacidade demonstrada pela religião de resistir ao ataque serrado da modernidade.

Hoje, enquanto a modernidade faz água, volta à tona, revigorada, a religião. E, junto com ela, emerge, em certos círculos de sociólogos, a demanda por uma nova sociologia da religião. Menos injusta com seu pulsante objeto. Menos preconceituosa com o sagrado, posto que a crítica radical da religião seria constitutiva da modernidade, não da pós. O novo significante— "pós-secular" pretende desdobrar a ideia de pós-moderno justamente nesta direção. Tudo se passa como se a própria "condição pós-moderna" estivesse se abrindo perante nós, sociólogos da religião, como a condição intelectual propícia ao abandono da hipótese da secularização. Que, convenhamos, é sempre uma hipótese pessimista para os religiosos, agora em fase risonha e franca de autoafirmação (Berger, 1979).

E porque Max Weber, em sua sociologia, constatou, mais do que pensou, o retraimento da religião na razão direta do avanço da modernização capitalista, Barbano ''et caterva'' não vacilam em postular explicitamente uma ruptura com Weber. Para uma sociedade dita "pós-secular", pretendem uma sociologia da religião pós-weberiana: "Esta nossa época atual, dos diferenciados ''efeitos pós-seculares'' da secularização, parece impor uma ruptura também com o ponto de vista weberiano que ligava estreitamente o desencantamento, isto é, a secularização com a modernização." 

No Brasil

No Brasil, este processo ainda está se iniciando, e os recentes movimentos pró-aborto, pró-legalização das drogas, Parada gay, bem como o Projeto de Lei Complementar 122, são sinalizadores do atual momento e mostram, assim, que o Brasil entrou na rota histórica do 'desencantamento do mundo' e da secularização de todas as esferas sociais. Há, em curso, um momento de laicização do Estado (o que é fundamental para o regime democrático), mas há também um processo social que visa a deixar a esfera religiosa à margem da discussão pública (o que, do ponto de vista do movimento da própria democracia, no que tange à diversidade de opiniões e o direito à fala, é péssimo).

Ver também

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